FOREWORD
When a monk takes monastic vows, he is given a rosary—which is termed his 'spiritual sword' —and he is instructed to practise the Jesus Prayer day and night.
On entering the monastery I was zealous to follow this instruc¬tion, and I was guided in this by my staretz, Father A., who con¬tinually solved the perplexities I encountered in the practice of this prayer. After the death of my staretz, to solve my difficulties I was forced to have recourse to the writings of wise Fathers. Drawing out of these writings all that was essential concerning the Jesus Prayer, I used to write it all down in my notebook, and so in the course of time collected an anthology on prayer.
The material of the anthology grew from year to year and this is why the subjects in it are not in a strict systematic order and sequence. Its purpose was to be of personal help to me as a book
of reference.
Now the idea has come to me to publish this book of reference or anthology, in the hope that it may be of help to others also who look for guidance in perfecting their inner spiritual life. The wise counsels of the Holy Fathers and of ascetics of the present day, which are quoted here, may assist them in their good in¬tentions.
If this book contains many repetitions of the same themes, this is because of my sincere desire to impress them deeply on the mind of the reader. After all, everything in it, representing as it does the deeply felt convictions of spiritual men, should be of the most vital interest. Their teaching is particularly needed in our times when one observes everywhere a severe dearth of effort in the domain of the spiritual life.
Thus our purpose in publishing this anthology is simply to explain, by all kinds of varied means and frequent repetitions, how the Jesus Prayer should be practised, and so to make clear how much all of us need this prayer and how necessary it is in our work of spiritually serving God. In a word, we seek to remind our contemporaries—both monks and all lay people striving for the salvation of their souls—of the instructions left by die Holy Fathers concerning inner work and struggle with the passions. We are all the more anxious to do this because, as Bishop Ignatii says, people mostly have 'a very dim and confused idea of the Jesus Prayer. Some who regard themselves—and are regarded by others—as endowed with good spiritual judgement, fear this prayer as a kind of infection, giving as the reason for their fear the danger of illusion which is supposed inevitably to accompany the practice of the Jesus Prayer. So they shun it themselves and advise others to do likewise.' Further on, Bishop Ignatii says: 'The original author of this theory is, in my opinion, the devil, who hates the Name of the Lord Jesus Christ since it robs him of all power. He trembles at this all-powerful Name and has therefore defamed it before many Christians, in order to make them reject this fiery weapon, fearsome to the enemy but a saving grace to men.'
For this reason the compiler felt a pressing need to collect all the necessary material for casting further light upon the per¬plexities of this spiritual task. The compiler, not daring even to presume that he has achieved Inner Prayer, has not ventured to contribute anything of his own, but has simply brought forth from the treasury of the works of the Holy Fathers their wise counsels concerning unceasing prayer. These are as necessary to all who are zealous of their salvation as air is needful to breathing.
The present anthology concerning die task of Inner Prayer contains some 400 passages from Holy Fathers and from ascetics of the present day, with detailed instructions from wise men experienced in the work of prayer.
Valamo. 17 July 1936 Igumen Chariton
PREFÁCIO
Quando um monge faz os votos monásticos, a ele é dado um rosário – que é denominado como sua ‘espada espiritual’ – e ele é instruído a praticar a Oração de Jesus dia e noite.
Ao entrar no monastério eu estava zeloso de seguir esta instrução, e fui guiado nisto pelo meu stárets , Padre A., que continuamente dissolvia as perplexidades que eu encontrava na prática desta prece. Depois da morte do meu stárets, para resolver minhas dificuldades fui forçado a recorrer aos escritos dos sábios Padres. Extraindo destes escritos tudo o que era essencial com relação à Oração de Jesus, costumava escrevê-lo inteiramente no meu caderno de anotações, e assim no decorrer do tempo coletei uma antologia sobre a prece.
O material da antologia cresceu de ano em ano e esta é a razão pela qual os temas dela não estão em uma estrita e sistemática ordem e seqüência. Seu propósito foi ser aquele de uma ajuda pessoal para mim como um livro de referência.
Agora me surgiu a idéia de publicar este livro de referência ou antologia, na esperança que ele possa ser de algum auxílio a outros que também procuram por instrução no aperfeiçoamento de suas vidas espirituais interiores. Os sábios conselhos dos Santos Padres e dos ascéticos dos dias atuais, que aqui são citados, podem ajudá-los nas suas boas intenções.
Se este livro contém muitas repetições dos mesmos temas, isto é por causa do meu sincero desejo de imprensá-los profundamente na mente do leitor. Afinal, tudo o que está nele, uma vez que representa as profundas convicções de homens espirituais, deveriam ser do maior interesse vital. Seus ensinamentos são particularmente necessários em nossos tempos quando se observa em toda parte uma severa escassez de esforço no domínio da vida spiritual.
Portanto, nosso propósito em publicar esta antologia é simplesmente explicar, através de toda espécie dos mais variados meios e freqüentes repetições, como a Oração de Jesus deveria ser praticada, e assim tornar claro o quanto todos nós necessitamos desta oração e quão necessária ela é em nosso trabalho de espiritualidade a serviço de Deus. Em uma palavra, buscamos lembrar nossos contemporâneos – tanto os monges como todas as pessoas leigas que se esforçam pela salvação de suas almas – das instruções deixadas pelos Santos Padres em relação ao trabalho interno e a luta com as paixões. Estamos todos muito desejosos de fazer isto porque, como Bishop Ignatii diz, “a maioria das pessoas tem uma idéia muito turva e confusa da Oração de Jesus. Alguns que consideram a si próprios – e são considerados por outros – como dotados com bom julgamento espiritual, temem esta prece como uma espécie de infecção, dando como a razão do temor deles o perigo da ilusão que se supõe inevitavelmente acompanhar a prática da Oração de Jesus. Assim eles a evitam e aconselham outros a fazerem o mesmo”. Mais adiante, Bishop Ignatii diz: “O autor original desta teoria é, em minha opinião, o diabo, que odeia o Nome do Senhor Jesus Cristo já que ele rouba todos os seus poderes. Ele treme diante deste Nome todo-poderoso e assim o difamou diante de muitos Cristãos, para que eles rejeitassem esta poderosa arma; terrível para o inimigo, mas uma graça salvadora aos homens.”
Por esta razão o compilador sentiu uma necessidade premente de coletar todo o material necessário para jogar uma ulterior luz sobre as perplexidades desta meta espiritual. O compilador, não ousando a presunção de que ele tenha alcançado a Oração Interior, não se aventurou a contribuir com nada de si próprio, mas simplesmente extraiu do tesouro das obras dos Santos Padres seus sábios conselhos no que diz respeito a oração incessante. Estes são tão necessários para todos aqueles que são zelosos pela própria salvação como o ar é necessário para a respiração.
A presente antologia que diz respeito à meta da Oração Interior contém umas 400 passagens dos Santos Padres e de ascéticos dos dias atuais, que detalharam instruções de sábios homens experimentados no trabalho da prece.
Valamo. 17 de Julho de 1936. Igumen Chariton
CHAPTER I
THE INNER CLOSET OF THE HEART
by St. Dimitri of Rostov
Enter into thy closet and shut the door (p.43)
There are many among you who have no knowledge of the inner work required of the man who would hold God in remembrance. Nor do such people even understand what remembrance of God means, or know anything about spiritual prayer, for they imagine that the only right way of praying is to use such prayers as are to be found in Church books. As for secret communion with God in the heart, they know nothing of this, nor of the profit that comes from it, nor do they ever taste its spiritual sweetness. Those who only hear about spiritual meditation and prayer and have no direct knowledge of it are like men blind from birth, who hear about the sunshine without ever knowing what it really is. Through this ignorance they lose many spiritual blessings, and are slow in arriving at the virtues which make for the fulfilment of God's good pleasure. Therefore some idea of inner training and spiritual prayer is given here for the instruction of beginners, so that those who wish, with God's help, can start to learn the rudiments.
Inner spiritual training begins with these words of Christ, 'When thou prayest, enter into thy closet, and when thou hast shut thy door, pray to thy Father which is in secret' (Matt. vi. 6).
CAPÍTULO I
O QUARTO INTERNO DO CORAÇÃO
por St. Dimitri de Rostov
Entre em teu quarto e feche a porta.
Existem muitos entre vocês que não têm conhecimento do trabalho interior requerido do homem que sustentaria Deus na lembrança. Tais pessoas nem mesmo entendem o que a lembrança de Deus significa, ou nem mesmo sabem qualquer coisa sobre a oração espiritual, pois elas imaginam que a única maneira correta de orar é utilizando as orações que são encontradas nos livros da Igreja. Quanto à secreta comunhão com Deus no coração, elas nada sabem a respeito, nem do benefício que vem desta, nem mesmo saborearam sua doçura espiritual. Aqueles que apenas ouvem sobre a meditação e a oração espiritual e não têm direto conhecimento dela são como homens cegos de nascimento, que ouvem sobre o nascer do sol sem nunca saber o que ele realmente é. Através desta ignorância eles perdem muitas bênçãos espirituais, e são vagarosos em chegar às virtudes que se dirigem ao cumprimento da boa vontade de Deus. Deste modo é dada aqui alguma noção do treinamento interior e da oração espiritual para a instrução de iniciantes, de modo que aqueles que desejem, com a ajuda de Deus, possam iniciar a aprender os rudimentos.
O treinamento espiritual interior inicia-se com estas palavras de Cristo: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora a teu Pai que está lá, no segredo.” (Mat. VI. 6).
The duality of man and the two kinds of prayer (p.44)
Man is dual: exterior and interior, flesh and spirit. The outer man is visible, of the flesh; but the inner man is invisible, spiritual—or what the Apostle Peter terms ‘... the hidden man of the heart, which is not corruptible, ... a meek and quiet spirit’ (1 Pet. iii. 4). And St. Paul refers to this duality when he says: ‘But though our outward man perish, yet the inward is renewed’ (2 Cor. iv. 16). Here the Apostle speaks clearly about the outer and inner man. The outer man is composed of many members, but the inner man comes to perfection through his mind—by attention to himself, by fear of the Lord, and by the grace of God. The works of the outer man are visible, but those of the inner man are invisible, according to the Psalmist: 'the inner man and the heart are very deep' (Ps. lxiii. 7: Septuagint). And St. Paul the Apostle also says: 'For what man knoweth the things of a man, save the spirit of man which is in him?' (I Cor. ii.11). Only He who tests the innermost hearts and the inward parts knows all the secrets of the inner man.
Training, then, must also be twofold, outer and inner: outer in reading books, inner in thoughts of God; outer in love of wisdom, inner in love of God; outer in words, inner in prayer; outer in keenness of intellect, inner in warmth of spirit; outer in technique, inner in vision. The exterior mind is ‘puffed up’ (I Cor. viii. 1), the inner humbles itself; the exterior is full of curiosity, desiring to know all, the inner pays attention to itself and desires nothing other than to know God, speaking to Him as David spoke when he said, 'My heart hath talked with thee: "Seek ye my face"; "Thy face Lord will I seek'" (Ps. xxvi. 8. Sept.). And also 'Like as the hart desireth the water brooks, so longeth my soul after thee, O God’ (Ps. xli. 2. Sept.).
Prayer is likewise twofold, exterior and inner. There is prayer made openly, and there is secret prayer; prayer with others and solitary prayer; prayer undertaken as a duty and prayer voluntarily offered. Prayer as duty, performed openly according to the Church rules, In company with others, has its own times: the Midnight Office, Matins, the Hours, the Liturgy, Vespers and Compline. These prayers, to which people are called by bells, are a suitable tribute to the King of Heaven which must be paid every day. Voluntary prayer which is in secret, on the other hand, has no fixed time, being made whenever you wish, without bidding, simply when the spirit moves you. The first, in other words the prayer of the Church, has an established number of Psalms, troparia, canons, and other hymns, together with rites performed by the priest: but the other kind of prayer— secret and voluntary—since it has no definite time, is also not limited to a definite number of prayers: everyone prays as he wishes, sometimes briefly, sometimes at length. The first kind is performed aloud by the lips and voice, the second only in spirit. The first is performed standing, the second, not only standing or walking, but also lying down, in a word, always— whenever you happen to raise your mind to God. The first, made in company with others, is performed in church, or on some special occasion in a house where several people are gathered together; but the second is performed when you are alone in the shut closet, according to the word of the Lord: 'When thou prayest, enter into thy closet, and when thou hast shut thy door, pray to thy Father which is in secret' (Matt. vi. 6).
The closet also is twofold, outer and inner, material and spiritual: the material place is of wood or stone, the spiritual closet is the heart or mind: St. Theophylact interprets this phrase as meaning secret thought or inner vision. Therefore the material closet remains always fixed in the same place, but the spiritual one you carry about within you wherever you go. Wherever man is, his heart is always with him, and so, having collected his thoughts inside his heart, he can shut himself in and pray to God in secret, whether he be talking or listening, whether among few people or many. Inner prayer, if it comes to a man's spirit when he is with other people, demands no use of lips or of books, no movement of the tongue or sound of the voice: and the same is true even when you are alone. All that is necessary is to raise your mind to God, and descend deep into yourself, and this can be done everywhere.
The material closet of a man who is silent embraces only the man himself, but the inner spiritual closet also holds God and all the Kingdom of Heaven, according to the Gospel words of Christ Himself: "The kingdom of God is within you' (Luke xvii. 21). Explaining this text, St. Makarios of Egypt writes: "The heart is a small vessel, but all things are contained in it; God is there, the angels are there, and there also is life and the King¬dom, the heavenly cities and the treasures of grace.'
Man needs to enclose himself in the inner closet of his heart more often than he need go to church: and collecting all his thoughts there, he must place his mind before God, praying to Him in secret with all warmth of spirit and with living faith. At the same time he must also learn to turn his thoughts to God in such a manner as to be able to grow into a perfect man.
A dualidade do homem e os dois tipos de prece.
O homem é dual: exterior e interior, carne e espírito. O homem exterior é visível, da carne; mas o homem interior é invisível, espiritual – ou como o Apóstolo Pedro define ‘... o homem oculto no íntimo do coração, isto é, na incorruptibilidade de espírito manso e tranqüilo.’ (I Ped. iii. 4). E São Paulo se refere a esta dualidade quando diz: ‘Embora em nós, o homem exterior vá caminhando para a sua ruína, o homem interior se renova dia a dia’ (II Cor. iv. 16). Aqui o Apóstolo fala claramente sobre o homem exterior e o interior. O homem exterior é composto de muitos membros, mas o homem interior chega à perfeição através de sua mente – pela atenção a si mesmo, por temor do Senhor, e pela graça de Deus. Os trabalhos do homem exterior são visíveis, mas aqueles do homem interior são invisíveis, de acordo com o Salmista: “o homem interior e o coração são muito profundos”. (Sl. lxiii.7: Septuagint) E São Paulo o Apóstolo também disse: “Quem, pois, dentre os homens conhece o que é do homem senão o espírito do homem que nele está?” (I Cor. ii. 11). Somente Aquele que experimenta os corações mais profundos e as partes internas conhece todos os segredos do homem interior.
O treinamento, então, deve também ser duplicado, externo e interno: externo na leitura de livros, interno nos pensamentos de Deus; externo no amor da sabedoria, interno no amor de Deus; externo em palavras, interno em oração; externo na sutileza do intelecto, interno no calor do espírito; externo na técnica, interno na visão. A mente exterior é ‘inchada’ (I Cor. viii. 1), a interna torna-se humilde; a exterior é cheio de curiosidade, desejando conhecer tudo, a interna presta atenção a si mesma e nada deseja além de conhecer Deus, falando a Ele como David falou quando disse: “Meu coração diz a teu respeito: ‘Procura sua face!’ É tua face, Senhor, que eu procuro” (Sl xxvii. 8) E também “Como a corça bramindo por águas correntes, assim minha alma brame por ti, ó meu Deus!” (Sl xlii. 2)
A oração é dupla também, exterior e interior. Existe a oração feita abertamente, e existe a oração secreta; oração com outros e a oração solitária; a oração realizada como um dever e a oração voluntariamente oferecida. A oração como dever, efetuada abertamente, de acordo com as regras da Igreja, em companhia de outros, tem seus próprios horários: o Ofício da Meia-Noite, Matinas, as Horas, a Liturgia, Vésperas e Completa. Estas orações, para as quais as pessoas são chamadas por sinos, são um tributo adequado para o Rei do Céu que deve ser pago todos os dias. A oração voluntária que é feita em segredo, por outro lado, não tem hora fixa, sendo feita quando quer que você queira, sem comando, simplesmente quando o espírito o move. O primeiro, em outras palavras: a prece da Igreja; tem um número estabelecido de Salmos, troparia, cânones e outros hinos juntos com ritos executados pelo sacerdote: mas o outro tipo de prece – secreta e voluntária – desde que não possui horário definido, também não está limitada a um número definido de orações: cada um ora como quer, algumas vezes brevemente, algumas vezes longamente. O primeiro tipo é executado pelos lábios e voz, o segundo somente em espírito. O primeiro é efetuado em pé, o segundo, não só de pé ou sentado, mas também deitado, em uma palavra, sempre – quando quer que lhe ocorra de elevar sua mente a Deus. O primeiro, feito em companhia com outros, é efetuado na igreja, ou em alguma ocasião especial em uma casa onde muitas pessoas se reúnem juntas; mas o Segundo é executado quando você está fechado e sozinho no quarto de acordo com a palavra do Senhor: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora a teu Pai que está lá, no segredo.” (Mat. VI. 6).
O quarto também é duplicado, externo e interno, material e espiritual: o lugar material é de madeira ou pedra, o quarto espiritual é o coração ou a mente: S. Theophylact interpreta esta frase como sendo o pensamento secreto ou a visão interna. Portanto, o quarto material permanece sempre fixo no mesmo lugar, mas o espiritual você o carrega dentro de si para onde quer que você vá. Onde quer que o homem esteja seu coração está sempre com ele, e assim, tendo recolhido seus pensamentos dentro do seu coração, ele pode fechar-se dentro e orar a Deus em segredo, quer ele esteja conversando ou ouvindo, quer ele esteja entre poucas ou muitas pessoas. Oração interna, se ela vem ao espírito do homem quando ele está com outras pessoas, não requer a utilização dos lábios ou de livros, nenhum movimento da língua ou som da voz: e o mesmo é verdadeiro quando você está sozinho. Tudo aquilo que é necessário é elevar sua mente a Deus, e descer profundamente em si mesmo, e isto pode ser feito em todos os lugares.
O quarto material de um homem que é silencioso inclui somente o próprio homem, mas o quarto espiritual interior também contem Deus e todo o Reino do Céu, de acordo com as Próprias palavras de Cristo no Evangelho: “O reino de Deus está dentro de vós”. (Lucas xvii. 21). Explicando este texto, S. Macário do Egito escreve: “O coração é um pequeno vaso, mas todas as coisas estão contidas nele; Deus está lá, os anjos estão lá, e lá também está a vida e o Reino, as cidades celestiais e os tesouros da graça.”
O homem precisa fechar-se no quarto interno de seu coração mais freqüentemente que necessita ir à igreja: e recolhendo todos os seus pensamentos lá, ele deve colocar sua mente diante de Deus, orando a Ele em segredo com todo calor do espírito e com fé viva. Ao mesmo tempo ele deve também aprender a direcionar seus pensamentos a Deus de tal modo a ser capaz de se transformar em um homem perfeito.
Loving union with God.
First of all it must be understood that it is the duty of all Christians—especially of those whose calling dedicates them to the spiritual life—to strive always and in every way to be united with God, their creator, lover, benefactor, and their supreme good, by whom and for whom they were created. This is because the centre and the final purpose of the soul, which God created, must be God Himself alone, and nothing else—God from whom the soul has received its life and its nature, and for whom it must eternally live. For all visible things on earth which are lovable and desirable—riches, glory, wife, children, in a word everything of this world that is beautiful, sweet, and attractive—belong not to the soul but only to the body, and being temporary, will pass away as quickly as a shadow. But the soul, being eternal by its nature, can attain eternal rest only in the Eternal God: He is its highest good, more perfect than all beauty, sweetness, and loveli¬ness, and He is its natural home, whence it came and whither it must return. For as the flesh coming from the earth returns to the earth, so the soul coming from God returns to God and dwells with Him. For the soul was created by God in order to dwell with Him for ever; therefore in this temporary life we must diligently seek union with God, in order to be accounted worthy to be with Him and in Him eternally in the future life.
No unity with God is possible except by an exceedingly great love. This we can see from the story of the woman in the Gospel, who was a sinner: God in His great mercy granted her the forgiveness of her sins and a firm union with Him, 'for she loved much' (Luke vii. 47). He loves those who love Him, He cleaves to those who cleave to Him, gives Himself to those who seek Him, and abundantly grants fullness of joy to those who desire to enjoy His love.
To kindle in his heart such a divine love, to unite with God in an inseparable union of love, it is necessary for a man to pray often, raising the mind to Him. For as a flame increases when it is constantly fed, so prayer, made often, with the mind dwelling ever more deeply in God, arouses divine love in the heart. And the heart, set on fire, will warm all the inner man, will enlighten and teach him, revealing to him all its unknown and hidden wis¬dom, and making him like a flaming seraph, always standing before God within his spirit, always looking at Him within his mind, and drawing from this vision the sweetness of spiritual joy.
Amável união com Deus.
Antes de tudo deve ser compreendido que é o dever de todos os Cristãos – especialmente aqueles cuja vocação os faz dedicar à vida espiritual – lutar sempre e em todas as maneiras para estar unido com Deus, seu criador, amante, benfeitor, e o seu supremo bem, por quem e para que, eles foram criados. Isto é porque o centro e o propósito final da alma, que Deus criou, deve ser Deus Ele Próprio, e nada mais – Deus de quem a alma recebeu sua vida e sua natureza, e para quem ela deve eternamente viver. Pois todas as coisas visíveis na terra que são adoráveis e desejáveis – riquezas, glória, esposa, crianças, em uma palavra tudo deste mundo que é belo, doce e atrativo – não pertence à alma, mas somente ao corpo, e sendo temporário, passará tão rapidamente como uma sombra. Mas a alma, sendo eterna por sua própria natureza, pode obter descanso eterno somente no Deus Eterno: Ele é seu mais alto bem, mais perfeito que todas as belezas, doçuras, e graciosidades, e Ele é seu lar natural, de onde ela veio e para onde deve retornar. Pois assim como a carne vinda da terra retorna para a terra, assim a alma vinda de Deus retorna a Deus e mora com Ele. Pois a alma foi criada por Deus para que habite com Ele para sempre; portanto nesta vida temporária devemos diligentemente buscar a união com Deus, para ser considerado digno de estar com Ele e Nele eternamente na vida futura.
Nenhuma unidade com Deus é possível exceto por um amor extremamente grande. Isto nós podemos ver na história, nos Evangelhos, da mulher que era uma pecadora: Deus em sua grande compaixão concedeu-lhe o perdão de seus pecados e uma firme união com Ele, “porque ela demonstrou muito amor” (Lucas vii. 47). Ele ama aqueles que O amam, Ele abre caminho para aqueles que se agarram a ele, dá Si mesmo àqueles que O buscam, e abundantemente concede plenitude de alegria para aqueles que desejam desfrutar Seu amor.
Para acender em seu coração tal amor divino, para unir-se a Deus em uma inseparável união de amor, é necessário para um homem orar freqüentemente, elevando a mente até Ele. Pois assim como uma chama aumenta quando é constantemente alimentada, assim a oração, feita freqüentemente, com a mente habitando cada vez mais profundamente em Deus, desperta o amor divino no coração. E o coração, em chamas, aquecerá o homem interno, irá iluminá-lo e ensiná-lo, revelando a ele toda sua desconhecida e oculta sabedoria, e tornando-o como um serafim em chamas, sempre de pé diante de Deus dentro de seu espírito, sempre olhando para Ele dentro de sua mente, e extraindo desta visão a doçura da felicidade espiritual.
Prayer said by the lips without the attention of the mind is nothing.
We should do well to apply to ourselves the words of St. Paul to the Corinthians. What use is it to you, O Corinthians (so he writes), if you pray only with the voice, while your mind pays no attention to the prayer but dreams about something else? What profit is there if the tongue says much but the mind does not think about what is said, even if you pronounce very many words? What profit is there if you should sing in full voice, and with all the strength of your lungs, while your mind does not stand before God and does not see Him, but wanders away in thought to some other place? Such a prayer will bring you no profit. It will not be heard by God but will remain fruitless. Well did St. Cyprian judge when he said: 'How can you expect to be heard by God, when you do not hear yourself? How do you expect God to remember you when you pray, if you do not remember yourself?"
A Oração dita pelos lábios sem a atenção da mente não é nada.
Nós faríamos bem ao aplicar a nós mesmos as palavras de S. Paulo aos Coríntios. Qual é a utilidade para vocês, oh Coríntios (assim ele escreve), se oram somente com a voz, enquanto suas mentes não prestam nenhuma atenção à oração, mas sonham sobre alguma outra coisa? Que benefício há se a língua muito diz, mas a mente não pensa sobre o que é dito, mesmo se vocês pronunciam muitíssimas palavras? Que benefício há se vocês tivessem que cantar em plena voz, e com toda a força de seus pulmões, enquanto suas mentes não estivessem diante de Deus e não O vissem, mas vagassem por aí em pensamento para algum outro lugar? Uma oração assim não lhes trará nenhum benefício. Não será ouvida por Deus, mas permanecerá infrutífera. Bem julgou S. Cipriano quando disse: “Como você pode esperar ser ouvido por Deus, quando você não se ouve? Como esperar que Deus se lembre de você quando você ora, se você não se lembra de você mesmo?
Prayer should be short, but often repeated
From those who have experience in raising their mind to God, I learned that, in the case of prayer made by the mind from the heart, a short prayer, often repeated, is warmer and more useful than a long one. Lengthy prayer is also very useful, but only for those who are reaching perfection, not for beginners. During lengthy prayer, the mind of the inexperienced cannot stand long before God, but is generally overcome by its own weakness and mutability, and drawn away by external things, so that warmth of the spirit quickly cools down. Such prayer is no longer prayer, but only disturbance of the mind, because of the thoughts wandering hither and thither: which happens both during prayers and psalms recited in church, and also during the rule of prayers for the cell, which takes a long time. Short yet frequent prayer, on the other hand, has more stability, because the mind, immersed for a short time in God, can perform it with greater warmth. Therefore the Lord also says: 'When ye pray, use not vain repetitions' (Matt vi. 7), for it is not for your prolixity that you will be heard. And St. John of the Ladder also teaches: 'Do not try to use many words, lest your mind become distracted by the search for words. Because of one short sentence, the Publican received the mercy of God, and one brief affirmation of belief saved the Robber. An excessive multitude of words in prayer disperses the mind in dreams, while one word or a short sentence helps to collect the mind.
But someone may ask: 'Why did the Apostle say in the Epistle to the Thessalonians, "Pray without ceasing"? (I Thess. v. 17). Usually in the Holy Scriptures, the word 'always' is used in the sense of 'often', for instance, "The priests went always into the first tabernacle, accomplishing the service for God' (Heb. ix. 6) : this means that the priests went into the first tabernacle at certain fixed hours, not that they went there unceasingly by day and by night ; they went often, but not uninterruptedly. Even if the priests were all the time in church, keeping alight the fire which came from heaven, and adding fuel to it so that it should not go out, they were not doing this all at the same time, but by turns, as we see from St. Zacharias: 'He executed the priest's office before God in the order of his course' (Luke i. 8). One should think in the same way about prayer, which the Apostle ordains to be done unceasingly, for it is impossible for man to remain in prayer day and night without interruption. After all, time is also needed for other things, for necessary cares in the administration of one's house; we need time for working, time for talking, time for eating and drinking, time for rest and sleep. How is it possible to pray unceasingly except by praying often? But oft-repeated prayer may be considered unceasing prayer.
Consequently do not let your oft-repeated but short prayer be expanded into too many words. This is what the Holy Fathers also advise. In his commentary on the Gospel of St. Matthew (vi. 7), St. Theophylact states, 'You should not make long prayers, for it is better to pray little but often.' And St. John Chrysostom, in his commentary on St. Paul's Epistles, observes, 'Whoever says too much in prayer, does not pray, but indulges in idle talk.' St. Theophylact also says in his interpretation of Matthew vi. 6: 'Superfluous words are idle talk." The Apostle said well, 'I had rather speak five words with my understanding . . . than ten thousand words in an unknown tongue' (I Cor. xiv. 19): that is, it is better for me to pray to God briefly but with attention, than to pronounce innumerable words without atten¬tion, vainly filling the air with noise.
There is also another sense in which the Apostle's words must be interpreted. 'Pray without ceasing' (I Thess. v. 17) must be taken in the sense of prayer performed by the mind: whatever a man is doing, the mind can always be directed towards God, and in this way it can pray to Him unceasingly.
Therefore begin now, O my soul, little by little, the course of training set out for you, begin in the name of the Lord, accord¬ing to the Apostle's instruction: 'And whatsoever ye do in word or deed, do all in the name of the Lord Jesus' (Col. iii. 17). Do all, he means, not primarily for your own profit, even spiritual, but for the glory of God; and so in all your words, deeds and thoughts, the Name of the Lord Jesus Christ, our Saviour, will be glorified.
But before you start, explain to yourself briefly what prayer is.
Prayer is turning the mind and thoughts towards God. To pray means to stand before God with the mind, mentally to gaze unswervingly at Him, and to converse with Him in reverent fear and hope.
And so collect all your thoughts: laying aside all outer worldly cares, direct your mind towards God, concentrating it wholly upon Him.
A oração deveria ser curta, mas freqüentemente repetida.
Daqueles que têm experiência em elevar suas mentes a Deus, eu aprendi que, no caso da oração feita pela mente vinda do coração, uma prece curta, freqüentemente repetida, é mais calorosa e mais útil do que uma longa. A oração longa também é muito útil, mas somente para aqueles que estão atingindo a perfeição, não para os iniciantes. Durante a oração longa, a mente do inexperiente não pode ficar muito tempo diante de Deus, mas é geralmente dominada pela sua própria fraqueza e mutabilidade, e impelida à deriva por coisas externas, de modo que aquele calor do espírito rapidamente se esfria. Tal oração não é mais uma oração, mas somente distúrbio mental, por causa dos pensamentos que vagam de lá para cá: isto acontece tanto durante os salmos recitados na igreja, como também durante a regra das orações para a cela, o que toma um longo tempo. A prece curta, mas freqüente, por outro lado, tem mais estabilidade, porque a mente, imersa por um curto tempo em Deus, pode executá-la com maior calor. Por isso o Senhor também diz: “Nas vossas orações não useis de vãs repetições” (Mat. vi. 7), pois não é pela sua prolixidade que você será ouvido. E S. João da Escada também ensina: “Não tente usar muitas palavras para que sua mente não se torne distraída pela busca delas. Pois de uma curta sentença, o Publicano recebeu a misericórdia de Deus, e uma breve afirmação de crença salvou o Ladrão. Uma excessiva multidão de palavras na oração dispersa a mente em sonhos, enquanto uma única ou curta sentença ajuda a recolher a mente”.
Mas alguém pode perguntar: “Por que o apóstolo diz na Epístola aos Tessalonicences: ‘Orai sem cessar’? (I Tess. V. 17). Usualmente nas Sagradas Escrituras, a palavra ‘sempre’ é usada no sentido de ‘freqüente’, por exemplo: “Os sacerdotes sempre iam à primeira tenda, para realizar o serviço a Deus” (Hb. ix. 6): isto significa que os sacerdotes iam à primeira tenda em certas horas fixadas, não que eles iam lá incessantemente de dia e de noite; eles iam freqüentemente, mas não ininterruptamente. Mesmo se os sacerdotes fossem todo o tempo na igreja, manter aceso o fogo que vem do céu, e adicionando óleo a ele de modo que ele não apagasse, eles não estariam fazendo isto todos no mesmo momento, mas por turnos, como vemos de S. Zacarias: “Ele desempenhou as funções sacerdotais diante de Deus, no turno de sua classe.” (Lucas i. 8). Dever-se-ia pensar na mesma maneira em relação à oração, a qual o Apóstolo ordena ser feita incessantemente, pois é impossível para o homem permanecer na oração dia e noite sem interrupção. Afinal, o tempo é também necessário para as outras coisas, para os necessários cuidados na administração da própria casa; nós precisamos de tempo para trabalhar, tempo para conversar, tempo para comer e beber; tempo para descansar e dormir. Como é possível orar incessantemente exceto através da oração freqüente? Mas a oração freqüentemente-repetida pode ser considerada oração incessante.
Conseqüentemente não permita que sua freqüentemente-repetida mas curta oração se expanda em muitas palavras. Isto é o que os Santos Padres também aconselharam. Em seu comentário sobre o Evangelho de S. Mateus (vi. 7), S. Theophylact atesta: “Você não deveria fazer longas preces, pois é melhor orar curto e freqüentemente.” E S. Crisóstomo no seu comentário sobre as Epístolas de S. Paulo, observa: “Quem quer que fale demasiadamente na oração não ora, mas favorece a conversa indolente.” S. Theophylact também diz em sua interpretação de Mateus vi. 6: “Palavras supérfluas são conversa indolente.” O Apostólo disse bem: “Prefiro dizer cinco palavras com minha inteligência ... a dizer dez mil palavras em línguas.” (I Cor. xiv. 19): isto é, é melhor para mim orar a Deus brevemente mas com atenção, do que pronunciar inumeráveis palavras sem atenção, preenchendo em vão o ar com ruído.
Há também outro sentido no qual as palavras do Apóstolo devem ser interpretadas. “Ore sem cessar” (I Tess. v. 17) deve ser tomado no sentido de uma oração executada pela mente: seja lá aquilo que um homem esteja fazendo, a mente pode sempre ser dirigida a Deus, e desta maneira ela pode orar a Ele incessantemente.
Portanto, inicie agora, oh minha alma, pouco a pouco, a trajetória de treinamento que lhe foi apresentada, comece em nome do Senhor, de acordo com a instrução do Apóstolo: “E tudo o que fizerdes de palavra ou ação, fazei-o em nome do senhor Jesus.” (Col. iii. 17). Faça tudo, diz ele, primariamente não para seu próprio benefício, mesmo espiritual, mas para a glória de Deus; e assim em todas as suas palavras, ações e pensamentos, o Nome do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador, será glorificado.
Mas antes que você inicie, explique brevemente a si mesmo o que é a oração. Orar é dirigir a mente e os pensamentos em direção a Deus. Orar significa permanecer diante de Deus com a mente, olhar mentalmente para Ele de modo inabalável, e conversar com Ele com reverente medo e esperança.
E assim recolhendo todos os seus pensamentos: pondo de lado todos os externos e mundanos cuidados, dirija sua mente em direção a Deus concentrando-a inteiramente sobre ele.
Querido Luiz Andrade, muitíssimo obrigado pelo serviço prestado... Vasculhei a net pra encontrar esse precioso livro, e justamente aqui vim, direcionado, não sei se pelo Google ou pelo Paráclito... Que diligência a tua de digitar capítulo por capítulo! Obviamente, a oração é uma coisa que deve ser praticada. Mas esse livro é uma importante ferramenta nesse percurso, pois ele nos educa para esse singelo ato de relacionamento com Deus. Um mapa não te leva ao teu destino, mas mostra o percurso... Esse livro presta-se a essa singela missão. Fui ateu durante um período da minha vida. Mas quando fiz o meu encontro com Deus (justamente navegando em meu interior à fonte do meu Ser), me apaixonei pela face de Cristo que está dentro de nossos corações. Sou estudante de Medicina, mas estudo todas as áreas do saber por conta própria, pois sou apaixonado pelo conhecimento. Faço poesia, onde dou vazão às minhas viagens interiores. Para mim, a poesia não deixa de ser uma oração. Alias, todo ato criativo, pois este brota do Espírito. Sendo assim, quero te agradecer, por este maravilhoso livro postado em seu blog. Espero que possamos estabelecer amizade.
ResponderExcluirUm grande abraço. Que Deus te ilumine!