O mais importante trabalho que um lutador espiritual pode fazer é entrar dentro do coração e ali lutar contra Satanás; odiar e repelir os pensamentos que ele inspira e travar uma guerra contra ele.
S. MACÁRIO DO EGITO
A ARTE DA PRECE
Uma Antologia Ortodoxa
compilada pelo
Hegúmeno Chariton de Valamo
Caro Amigo,
Sempre é tempo de passarmos do estudo à ação, da leitura à prática real; tanto na nossa dimensão interna como na externa.
A ação e a prática real, empreendidas com sinceridade, simplesmente revelam o quanto ainda nos enganamos procurando um responsável externo para as nossas aflições e problemas.
Os Santos Padres definem isso com o termo 'prelest' que significa: ilusão. O Bispo Ignatii diz que 'prelest' é a corrupção da natureza humana através da aceitação, pelo homem, de miragens tomadas como verdade. Estar em 'prelest' é estar em um estado de engano e ilusão, aceitando um erro como realidade.
Um verdadeiro lutador espiritual não possui inimigos externos porque localizou e dissolveu, em si, a fonte de toda a miséria humana.
Por esse motivo, a partir desta semana, daremos seqüência à nossa jornada com o capítulo VI de 'A Arte da Prece': A Guerra com as Paixões.
De fato, a partir desse momento iremos intercalar os capítulos III e IV, respectivamente, "A Oração de Jesus" e "Os Frutos da Prece"; com todo o material do capítulo VI que ora é apresentado no arquivo anexo em seu primeiro ítem.
Assim, ao mesmo tempo em que mantemos nossa leitura e prática naquilo que nos aproxima de nós mesmos e, conseqüentemente, de Deus, isto é: a oração; começaremos a leitura e o estudo sobre aquilo que nos afasta de nós mesmos e de Deus, isto é: as paixões.
O primeiro ítem desse capítulo é extenso e merece ser lido e relido com calma e paciência. O exercício de conectar o conteúdo dos textos com as imagens selecionadas e postas no início de cada um deles pode auxiliar você, caso seja necessário, no processo de plena assimilação - não só intelectual mas também emocional - deste precioso conhecimento que nos foi deixado pelos Santos Padres.
Segue abaixo mais uma pequena seleção de: 'A Guerra com as Paixões'.
Que seja tão útil a você como tem sido a mim.
Agradeço pela sua calorosa atenção.
Boa leitura.
Abraços, Luiz
Santa Maria e Menino Jesus – Caravaggio - 1606
Guerra da mente e guerra da ação
A guerra com as paixões que de nós é requerida é, essencialmente, uma guerra da mente. Somos bem sucedidos nela ao negar todo sustento às paixões, matando-as de fome. Mas há também a guerra da ação, que consiste em empreender e executar aquilo que é diametralmente oposto às nossas paixões. Por exemplo, para conquistar a avareza deveríamos doar dinheiro livremente; para lutar contra o orgulho deveríamos escolher algumas ocupações degradantes; para superar o desejo por divertimentos deveríamos ficar em casa, e assim por diante. É verdade que este método, utilizado por si mesmo, não conduz diretamente à meta; pois quando reprimida a paixão força o caminho interiormente, ou se retira só para dar lugar a outra paixão. Mas quando este esforço ativo é unido com aquele interior, os dois juntos tornam-se rapidamente capazes de superar qualquer espécie de ataque apaixonado.
TEÓFAN, O RECLUSO
Guerra interna e oposição ativa
Se a guerra é conduzida somente internamente ela expulsa a paixão da consciência do homem; mas a paixão ainda permanece viva, embora não em evidência. Mas uma oposição ativa apunhala esta serpente diretamente na cabeça. Isto não significa que a guerra interna deva ser abandonada. Deve permanecer constante; de outro modo todo o esforço pode não produzir fruto e nossa inclinação em direção as paixões pode até crescer ao invés de decrescer. Se abandonarmos a guerra interior, veremos que, na medida em que lutamos com uma paixão, uma outra chega e nos fere. Por exemplo: expelimos a gula através do jejum, e então a vaidade ocupa o lugar. Se falharmos em dar a devida atenção à guerra interna, nenhum esforço, por mais extenuante, produzirá qualquer fruto. Guerra interna acoplada com oposição ativa às paixões ataca tanto de dentro como de fora, e assim as destrói tão rapidamente quanto um exército inimigo é destruído quando cercado e atacado pela frente e pela retaguarda.
TEÓFAN, O RECLUSO
Impureza e inocência
Tome como regra nunca, voluntariamente, encorajar qualquer pensamento, sentimento ou desejo apaixonado; mas afastá-los com aversão no momento em que você os notar. Então, você sempre estará inocente diante de Deus e de sua consciência. Você ainda terá a impureza das paixões em si, mas você também terá a inocência.
TEÓFAN, O RECLUSO
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