quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O mais importante trabalho que um lutador espiritual pode fazer é entrar dentro do coração e ali lutar contra Satanás; odiar e repelir os pensamentos que ele inspira e travar uma guerra contra ele.
S. MACÁRIO DO EGITO

A ARTE DA PRECE

Uma Antologia Ortodoxa

compilada pelo

Hegúmeno Chariton de Valamo

Caro Amigo,

Sempre é tempo de passarmos do estudo à ação, da leitura à prática real; tanto na nossa dimensão interna como na externa.

A ação e a prática real, empreendidas com sinceridade, simplesmente revelam o quanto ainda nos enganamos procurando um responsável externo para as nossas aflições e problemas.

Os Santos Padres definem isso com o termo 'prelest' que significa: ilusão. O Bispo Ignatii diz que 'prelest' é a corrupção da natureza humana através da aceitação, pelo homem, de miragens tomadas como verdade. Estar em 'prelest' é estar em um estado de engano e ilusão, aceitando um erro como realidade.

Um verdadeiro lutador espiritual não possui inimigos externos porque localizou e dissolveu, em si, a fonte de toda a miséria humana.

Por esse motivo, a partir desta semana, daremos seqüência à nossa jornada com o capítulo VI de 'A Arte da Prece': A Guerra com as Paixões.

De fato, a partir desse momento iremos intercalar os capítulos III e IV, respectivamente, "A Oração de Jesus" e "Os Frutos da Prece"; com todo o material do capítulo VI que ora é apresentado no arquivo anexo em seu primeiro ítem.

Assim, ao mesmo tempo em que mantemos nossa leitura e prática naquilo que nos aproxima de nós mesmos e, conseqüentemente, de Deus, isto é: a oração; começaremos a leitura e o estudo sobre aquilo que nos afasta de nós mesmos e de Deus, isto é: as paixões.

O primeiro ítem desse capítulo é extenso e merece ser lido e relido com calma e paciência. O exercício de conectar o conteúdo dos textos com as imagens selecionadas e postas no início de cada um deles pode auxiliar você, caso seja necessário, no processo de plena assimilação - não só intelectual mas também emocional - deste precioso conhecimento que nos foi deixado pelos Santos Padres.

Segue abaixo mais uma pequena seleção de: 'A Guerra com as Paixões'.

Que seja tão útil a você como tem sido a mim.

Agradeço pela sua calorosa atenção.

Boa leitura.

Abraços, Luiz




 Santa Maria e Menino Jesus – Caravaggio - 1606





Guerra da mente e guerra da ação

A guerra com as paixões que de nós é requerida é, essencialmente, uma guerra da mente. Somos bem sucedidos nela ao negar todo sustento às paixões, matando-as de fome. Mas há também a guerra da ação, que consiste em empreender e executar aquilo que é diametralmente oposto às nossas paixões. Por exemplo, para conquistar a avareza deveríamos doar dinheiro livremente; para lutar contra o orgulho deveríamos escolher algumas ocupações degradantes; para superar o desejo por divertimentos deveríamos ficar em casa, e assim por diante. É verdade que este método, utilizado por si mesmo, não conduz diretamente à meta; pois quando reprimida a paixão força o caminho interiormente, ou se retira só para dar lugar a outra paixão. Mas quando este esforço ativo é unido com aquele interior, os dois juntos tornam-se rapidamente capazes de superar qualquer espécie de ataque apaixonado.

TEÓFAN, O RECLUSO



Guerra interna e oposição ativa


Se a guerra é conduzida somente internamente ela expulsa a paixão da consciência do homem; mas a paixão ainda permanece viva, embora não em evidência. Mas uma oposição ativa apunhala esta serpente diretamente na cabeça. Isto não significa que a guerra interna deva ser abandonada. Deve permanecer constante; de outro modo todo o esforço pode não produzir fruto e nossa inclinação em direção as paixões pode até crescer ao invés de decrescer. Se abandonarmos a guerra interior, veremos que, na medida em que lutamos com uma paixão, uma outra chega e nos fere. Por exemplo: expelimos a gula através do jejum, e então a vaidade ocupa o lugar. Se falharmos em dar a devida atenção à guerra interna, nenhum esforço, por mais extenuante, produzirá qualquer fruto. Guerra interna acoplada com oposição ativa às paixões ataca tanto de dentro como de fora, e assim as destrói tão rapidamente quanto um exército inimigo é destruído quando cercado e atacado pela frente e pela retaguarda.
TEÓFAN, O RECLUSO









Impureza e inocência


Tome como regra nunca, voluntariamente, encorajar qualquer pensamento, sentimento ou desejo apaixonado; mas afastá-los com aversão no momento em que você os notar. Então, você sempre estará inocente diante de Deus e de sua consciência. Você ainda terá a impureza das paixões em si, mas você também terá a inocência.
TEÓFAN, O RECLUSO






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