domingo, 31 de outubro de 2010

A Arte da Prece - Uma Antologia Ortodoxa. (Capítulo III - ii) A Oração Incessante

A ARTE DA PRECE





Uma Antologia Ortodoxa

compilada pelo





Hegúmeno Chariton de Valamo









CAPÍTULO III





A ORAÇÃO DE JESUS por vários autores



















(ii) A ORAÇÃO INCESSANTE



O caminho para a oração incessante



Alguns pensamentos divinos chegam mais perto do coração do que outros. Se assim ocorrer, depois que você terminou suas preces, continue a insistir com tal pensamento e permaneça alimentando-o. Este é o caminho para a oração incessante.



TEÓFAN O RECLUSO



The way to unceasing prayer (p.80)



Some godly thoughts come nearer the heart than others. Should this be so, after you have finished your prayers, continue to dwell on such a thought and remain feeding on it. This is the way to unceasing prayer.



THEOPHAN THE RECLUSE



A oração incessante sem palavras



Elevar a mente para o Senhor, e dizer com contrição: “Senhor, tenha piedade! Senhor, conceda Tua benção! Senhor, ajude-me!” – isto é clamar em oração a Deus. Mas se o sentimento em direção a Deus nasceu e vive em seu coração, então você possuirá a oração incessante, muito embora seus lábios não mais recitem palavras e seu corpo não esteja, externamente, em uma postura de prece.



TEÓFAN, O RECLUSO



Unceasing prayer without words (p.80)



To raise up the mind towards the Lord, and to say with contrition: 'Lord, have mercy! Lord, grant Thy blessing! Lord, help!'—this is to cry out in prayer to God. But if feeling towards God is born and lives in your heart, then you will possess unceasing prayer, even though your lips recite no words and your body is not outwardly in a posture of prayer.



THEOPHAN THE RECLUSE



Ore em todos os momentos e em todos os lugares



‘Com orações e súplicas de toda a sorte, orai em todo tempo, no Espírito. ’ (Ef. vi. 18)

Falando da necessidade de orar, o Apóstolo indica aqui como devemos orar para sermos ouvidos. Ore, ele diz, ‘com orações e súplicas de toda a sorte’, em outras palavras, muito ardentemente, com dor no coração e com um anseio abrasador em direção a Deus. E ore, ele diz, ‘sempre’, a qualquer momento; com isto ele urge para que oremos persistente e incansavelmente. A oração não deve ser simplesmente uma ocupação para certas ocasiões, mas um permanente estado do espírito. Certifique-se, diz S. João Crisóstomo, que você não limita sua oração meramente a certa parte do dia. Volte-se para a oração a qualquer momento, como o Apóstolo diz em outro lugar: “Orai sem cessar” (I Tess. V. 17). Em terceiro lugar, Paulo nos fala para orar ‘no espírito’: em outras palavras a oração não deve ser somente externa, mas também interna, uma atividade da mente no coração. Nisto reside a essência da oração, que é a elevação da mente e do coração a Deus.

Os Santos Padres fazem uma distinção, entretanto, entre a oração da mente no coração e a oração motivada pelo Espírito. A primeira é a ação consciente da prece do homem, mas a segunda chega ao homem; e embora esteja ciente dela, trabalha por si mesmo independentemente dos seus esforços. Esta segunda espécie de oração, motivada pelo Espírito, não é algo que se possa recomendar para que as pessoas pratiquem, porque não está em nosso poder alcançá-la. Nós podemos desejá-la, buscá-la, e recebê-la com gratidão, mas não podemos chegar a ela toda vez que se queira. Não obstante, naqueles que estão purificados, a oração é mais geralmente motivada pelo Espírito. Portanto, devemos supor que o Apóstolo refere-se à oração da mente no coração quando ele diz: “Orai no espírito.” Pode-se adicionar: ore com a mente no coração com o desejo de obter a oração motivada pelo Espírito. Tal oração sustenta a alma conscientemente diante da face do Deus sempre-presente. Atraindo o raio divino para si mesma, e refletindo este mesmo raio de si mesma, a alma dispersa os inimigos. Pode ser dito com certeza que nenhum demônio pode aproximar-se de uma alma em tal estado. Somente deste modo podemos orar em qualquer momento, em qualquer lugar.



TEÓFAN, O RECLUSO



Pray at all times and in all places (p.80)



'Praying always with all prayer and supplication in the spirit’ (Eph. vi. 18).

Speaking of the necessity of prayer, the Apostle indicates here how we must pray in order to be heard. Pray, he says, 'with all prayer and supplication', in other words, very ardently, with pain in the heart and a burning striving towards God. And pray, he says, 'always', at any time; by this he urges us to pray persistently and indefatigably. Prayer must not be simply an occupation for a certain time, but a permanent state of the spirit. Make sure, says St. John Chrysostom, that you do not limit your prayer merely to a particular part of the day. Turn to prayer at any time, as the Apostle says in another place: 'Pray without ceasing' (I Thess. v. 17). Thirdly, Paul tells us to pray ‘in the spirit’: in other words prayer must be not only outward, but also inner, an activity of the mind in the heart. In this lies the essence of prayer, which is the raising of the mind and heart towards God.

The Holy Fathers make a distinction, however, between prayer of the mind in the heart and prayer moved by the Spirit. The first is the conscious action of the praying man, but the second comes to a man; and although he is aware of it, it works by itself independently of his efforts. This second kind of prayer, moved by the Spirit, is not something that we can recommend people to practise, because it does not lie in our power to achieve it. We can desire it, seek it, and receive it gratefully, but we cannot arrive at it whenever we want to. But in those who are purified, prayer is most generally moved by the Spirit. Therefore we must suppose that the Apostle refers to prayer of the mind in the heart when he says: 'Pray in the spirit.' One can add, pray with the mind in the heart with the desire of attaining to prayer moved by the Spirit. Such a prayer holds the soul consciously before the face of the ever-present God. Attracting the divine ray towards itself, and reflecting this same ray from itself, it disperses the enemies. One can say with certainty that no devils can draw near to the soul in such a state. Only in this way can we pray at any time, in any place.



THEOPHAN THE RECLUSE



O segredo da oração incessante – amor



‘Orai sem cessar’, S. Paulo escreve aos Tessalonicenses (I Tess. V. 17). E em outras epístolas, ele ordena: ‘Orando sempre com súplicas de toda sorte no espírito’ (Ef. vi. 18), ‘perseverai na oração, vigilantes na mesma’ (Col. iv. 2), ‘assíduos na oração’ (Rom. xii. 12). Também o Salvador, Ele próprio, ensinou a necessidade da constância e da persistência na oração, na parábola da viúva importuna que venceu o juiz iníquo pela persistência dos seus apelos (Lucas xviii. 1-8). Fica claro daí que a oração incessante não é uma prescrição acidental, mas uma característica essencial do espírito Cristão. A vida de um Cristão, de acordo com o Apóstolo, ‘está oculta com Cristo em Deus’, (Col. iii. 3). Assim o Cristão deve viver em Deus continuamente, com atenção e sentimento: fazer isso é orar incessantemente. Também nos ensinaram que todo Cristão é ‘o templo de Deus’, no qual ‘habita o Espírito de Deus’ (I Cor. iii. 16; vi. 19; Rom. viii. 9). É este ‘Espírito’, sempre nele presente e requerente, que ora dentro dele ‘com gemidos inefáveis que não podem ser proferidos’ (Rom. Viii. 26), e assim ensina-o a como orar sem cessar.

A primeiríssima ação da graça de Deus, quando o pecador retorna a Deus, manifesta-se fazendo com que sua mente e seu coração curvem-se a Deus. Quando mais tarde, depois do arrependimento e da dedicação de sua vida a Deus, a graça de Deus, que agiu de fora, desce sobre ele e permanece em seu interior através dos sacramentos, então, o movimento da mente e do coração a Deus, que é a essência da prece, também se tornará imutável e permanente nele. Esta mudança torna-se evidente em diferentes graus, e como qualquer outro dom, deve ser renovado. Ele é atualizado de acordo com sua espécie: pelo esforço da oração e especialmente pela prática atenta e paciente das preces da Igreja. Ore sem cessar, esforce-se na oração, e você obterá a oração incessante que agirá por si mesma no coração sem um esforço especial.

Fica claro para qualquer um que o conselho do Apóstolo não é realizado por meramente se praticar aquelas estabelecidas orações de horas marcadas, mas requer uma caminhada permanente diante de Deus, uma dedicação de todas as atividades Àquele que tudo vê e é onipresente, um apelo sempre-fervoroso ao céu com a mente no coração. Toda a vida, em todas as suas manifestações, deve ser permeada pela oração. Mas seu segredo é o amor pelo Senhor. Como a noiva, que amando o noivo, não se separa dele em lembranças e sentimentos, assim a alma, unida com Deus no amor, permanece constantemente com Ele, dirigindo apelos calorosos a Ele a partir do coração. ‘Aquele que se une ao Senhor, constitui com ele um só espírito. ’ (I Cor. vi. 17).



TEÓFAN, O RECLUSO



The secret of unceasing prayer—love (p.81)



'Pray without ceasing', St. Paul writes to the Thessalonians (I Thess. v. 17). And in other epistles, he commands: ‘Praying always with all supplication in the spirit’ (Eph. vi. 18), 'continue in prayer and watch in the same' (Col. iv. 2), 'continuing instant in prayer' (Rom. xii. 12). Also the Saviour Himself teaches the need for constancy and persistency in prayer, in the parable about the importunate widow, who won over the unrighteous judge by the persistency of her appeals (Luke xviii. 1—8). It is clear from this that unceasing prayer is not an accidental prescription, but the essential characteristic of the Christian spirit. The life of a Christian, according to the Apostle, 'is hid with Christ in God' (Col. iii. 3). So the Christian must live in God continuously, with attention and feeling: to do this is to pray without ceasing. We are also taught that every Christian is 'the temple of God', in which 'dwelleth the Spirit of God' (I Cor. iii. 16; vi. 19; Rom. viii. 9). It is this 'Spirit', always present and pleading in him, that prays within him 'with groanings that cannot be uttered' (Rom. viii. 26), and so teaches him how to pray without ceasing.

The very first action of God's grace in the turning of the sinner to God manifests itself by the bending of his mind and heart towards God. When later, after repentance and dedication of his life to God, the grace of God which acted from without descends on him and remains within him through the sacraments, then the turning of the mind and heart to God, which is the essence of prayer, will also become unchangeable and permanent in him. This turning is made evident in different degrees, and like any other gift, must be renewed. It is refreshed according to its kind: by the effort of prayer and especially by patient and attentive practice of Church prayers. Pray without ceasing, exert yourself in prayer, and you will achieve incessant prayer, which will act of itself in the heart without special effort.

It is clear to everyone that the advice of the Apostle is not carried out merely by the practice of established prayers at certain set hours, but requires a permanent walking before God, a dedication of all one's activities to Him who is all-seeing and omnipresent, an ever-fervent appeal to heaven with the mind in the heart. The whole of life, in all its manifestations, must be permeated by prayer. But its secret is love for the Lord. As the bride, loving the bridegroom, is not separated from him in remembrance and feeling, so the soul, united with God in love, remains in constancy with Him, directing warm appeals to Him from the heart. 'He that is joined unto the Lord is one spirit' (I Cor. vi. 17).



THEOPHAN THE RECLUSE



A prática dos Apóstolos



Eu lembro que S. Basílio, o Grande solucionou a questão de como os Apóstolos puderam orar sem cessar, desta maneira: em tudo que faziam, respondeu, eles pensavam em Deus e viviam em constante devoção a Ele. Este estado espiritual era a oração incessante deles.



TEÓFAN, O RECLUSO



The practice of the Apostles (p.83)



I remember that St. Basil the Great solved the question how the Apostles could pray without ceasing, in this way: in everything they did, he replied, they thought of God and lived in constant devotion to Him. This spiritual state was their unceasing prayer.



THEOPHAN THE RECLUSE



A oração incessante como uma atitude implícita



Você lamenta que a Oração de Jesus não seja incessante, que você não a recita constantemente. Mas uma repetição constante não é requerida. O que é requerido é uma constante vivacidade em Deus – uma vivacidade que está presente quando você fala, lê, olha ou examina algo. Mas desde que você já está praticando a Oração de Jesus na maneira correta, continue como você está fazendo agora, e no devido tempo a oração irá ampliar seu alcance.



TEÓFAN, O RECLUSO



Unceasing prayer as an implicit attitude (p.83)



You regret that the Jesus Prayer is not unceasing, that you do not recite it constantly. But constant repetition is not required. What is required is a constant aliveness to God— an aliveness present when you talk, read, watch, or examine something. But since you are already practising the Jesus Prayer in the correct manner, continue as you are doing now, and in due course the prayer will widen its scope.



THEOPHAN THE RECLUSE



Sempre de pé diante de Deus com reverência



Nós podemos algumas vezes passar todo o tempo, que a regra nos reserva a oração, recitando um salmo, compondo nossa própria oração a partir de cada verso. Novamente, podemos passar todo o tempo dado pela regra, recitando a Oração de Jesus com prostrações. Também podemos fazer um pouco de cada uma destas coisas. O que Deus pede é o coração (Prov. xxiii. 26); e é suficiente que se esteja de pé diante Dele com reverência. Estar sempre de pé diante de Deus com reverência é a oração incessante: tal é a sua exata descrição; e neste sentido a regra da oração é somente o combustível para o fogo, ou o fornecimento de madeira a um fogão à lenha.



TEÓFAN, O RECLUSO



Standing always before God with reverence (p.83)



We can sometimes spend all the time set aside for prayer by the rule in reciting one psalm, composing our own prayer from each verse. Again, we can sometimes spend all the time allotted by the rule in reciting the Jesus Prayer with prostrations. We can also do a little of each of these things. What God asks for is the heart (Prov. xxiii. 26); and it is enough that it should stand before Him with reverence. Standing always before God with reverence is unceasing prayer: such is its exact description; and in this regard the rule of prayer is only fuel for the fire, or the throwing of wood into a stove.



THEOPHAN THE RECLUSE



Os frutos da oração incessante.



Através da oração incessante o asceta obtém real pobreza espiritual: aprendendo a pedir incessantemente pela ajuda de Deus, ele gradualmente perde a certeza de si mesmo. Se ele realiza algo de bem sucedido, ele vê nisso não o seu próprio sucesso; mas a piedade de Deus pela qual ele orou, a Deus, incessantemente. A oração incessante conduz a aquisição da fé, porque aquele que ora sem cessar começa gradualmente a sentir a presença de Deus. Este sentimento, pouco a pouco, cresce e aumenta a tal grau que o olho espiritual vê Deus em Sua Providência de modo mais claro que o olho físico vê os objetos materiais no mundo; e então o coração conhece, por experiência imediata, a presença de Deus. Aquele que viu Deus desta maneira e sentiu Sua presença assim, não pode deixar de acreditar Nele com uma fé viva, que a seguir se mostrará em ações.

A oração incessante supera o mal através da esperança em Deus, ela conduz o homem à sacra simplicidade, liberando sua mente do hábito da diversidade no pensamento e da imaginação de planos para si e seus vizinhos; mantendo-o sempre em escassez e humildade de pensamentos. Disto se compõe seu treinamento. Aquele que ora sem cessar gradualmente perde o hábito de divagar em pensamentos, de distrair-se, de se preencher com vãs preocupações, e mais profundamente este treinamento em santidade e humildade entra na alma e se enraíza nela, mais ele perde estes hábitos da mente. Finalmente, ele torna-se como uma criança, como se ordena nos Evangelhos, e dele se faz um tolo por amor de Cristo, isto é, ele perde a falsa razão do mundo, e recebe de Deus a compreensão espiritual.

Através da oração incessante, a curiosidade, a desconfiança, e a suspeita são destruídas, e por esta razão outras pessoas começam a ver o bem em nossos olhos. Por tal empenho do coração a favor delas, nasce o amor da espécie humana. Aquele que ora sem cessar habita constantemente no Senhor, conhece o Senhor como Deus, adquire temor Dele, através do temor entra em pureza, e através da pureza em amor divino. O amor de Deus preenche-o com os dons do Espírito, do qual ele é o templo.



BISBO IGNATTI



The fruits of unceasing prayer (p.84)



Through unceasing prayer the ascetic attains true spiritual poverty: learning to ask unceasingly for God's help, he gradually loses trust in himself. If he does something successfully, he sees in it not his own success but God's mercy, for which he prays to God unceasingly. Unceasing prayer leads to the acquisition of faith, because he who prays unceasingly begins gradually to feel the presence of God. This feeling little by little grows and increases to such a degree that the spiritual eye sees God in His Providence more clearly than the physical eye sees material objects in the world; and then the heart knows by immediate experience the presence of God. He who has seen God in such a manner and has felt His presence thus, cannot fail to believe in Him with a living faith, which will be shown forth in deeds.

Unceasing prayer overcomes evil through hope in God, it leads a man into a holy simplicity, weaning his mind from its habit of diversity in thought, and from devising plans about himself and his neighbours, keeping him always in scantiness and humility of thoughts. This composes his training. He who prays ceaselessly gradually loses the habit of wandering thoughts, of distraction, of being filled with vain worries, and the more deeply this training in holiness and humility enters the soul and takes root in it, the more he loses these habits of mind. Finally he becomes as a child, as he is commanded in the Gospel, and is made a fool for Christ's sake, that is, he loses the false reason of the world, and receives from God a spiritual understanding.

By unceasing prayer curiosity, mistrustfulness and suspicion are destroyed, and because of this other people begin to seem good in our eyes. From such a mortgage of the heart in their favour, love of mankind is born. He who prays without ceasing dwells constantly in the Lord, knows the Lord as God, acquires fear of Him, by fear enters into purity, and by purity into divine love. The love of God fills him with the gifts of the Spirit, whose temple he is.



BISHOP IGNATII



Eu coloquei o Senhor sempre diante de mim



Pela graça de Deus chega-se a uma oração que é só do coração, a oração espiritual, vivificada no coração pelo Espírito Santo. Aquele que ora é consciente dela, embora não seja ele que executa a prece, pois ela segue dentro dele por si mesma. Tal prece é a característica do perfeito. Mas a oração que é acessível a qualquer um, e que é requerida de todos, é a oração na qual o pensamento e o sentimento estão sempre unidos com as palavras.

Há também outra espécie de oração, que é chamada de permanência diante de Deus, quando aquele que ora está totalmente concentrado dentro do seu coração e mentalmente contempla Deus, presente para ele, dentro dele. Ao mesmo tempo ele experimenta os sentimentos que correspondem a tal estado: temor de Deus e reverente admiração por Ele em toda sua grandeza; fé e esperança, amor e entrega a Sua vontade; contrição e prontidão para qualquer sacrifício. Tal estado vem àquele que está profundamente absorvido na usual prece da palavra, mente, e coração. Aquele que assim ora por um longo tempo e no modo apropriado irá desfrutar de tal estado mais e mais freqüentemente até que ele finalmente possa se tornar permanente: então pode-se chamá-lo de caminhada diante de Deus, e isto se constitui como a oração incessante. S. David estava neste estado quando ele deu testemunho de si próprio: “Tenho sempre o Senhor na minha presença; com ele à minha direita, não vacilarei” (Sl. xvi. 8)



TEÓFAN, O RECLUSO



I have set the Lord always before me (p.85)



By the grace of God there comes a prayer of the heart alone, spiritual prayer, quickened in the heart by the Holy Spirit. He who prays is conscious of it, although it is not he who makes the prayer, for it goes on within him by itself. Such prayer is the attribute of the perfect. But the prayer which is accessible to everyone and which is required from all, is prayer in which thought and feeling are always united with the words.

There is also another kind of prayer, which is called standing before God, when he who prays is wholly concentrated within his heart and mentally contemplates God, present to him and within him. At the same time he experiences the feelings corresponding to such a state—fear of God and worshipful admiration of Him in all his greatness; faith and hope; love and surrender to His will; contrition and readiness for every sacrifice. Such a state comes to one deeply absorbed in ordinary prayer of word, mind, and heart. He who prays thus for a long time and in the proper way will enjoy such a state more and more frequently until it may finally become permanent: then it can be called walking before God, and it constitutes unceasing prayer. St. David was in this state when he testified of himself: "I have set the Lord always before me; for he is on my right hand, therefore I shall not be shaken' (Ps. xv. 8. Sept.).



THEOPHAN THE RECLUSE



A oração que repete a si mesma



Freqüentemente acontece que nenhuma atividade interna ocorre numa pessoa durante o cumprimento dos seus deveres externos, de modo que sua vida permanece sem alma. Como podemos evitar isto? Em cada um dos nossos deveres um coração temeroso a Deus deve ser acrescentado, um coração constantemente permeado pelo pensamento de Deus; e esta será a porta através da qual a alma entrará na vida ativa. Todos os esforços devem ser dirigidos ao pensamento incessante de Deus, através da constante ciência de Sua presença: “Buscai o Senhor... Buscai sempre sua face” (Sl. cv. 4) É sobre esta base que a sobriedade e a oração interna repousam.

Deus está em todo lugar: cuide que seus pensamentos também estejam sempre com Deus. Como isto pode ser feito? Os pensamentos atropelam-se uns aos outros como um enxame de mosquitos, e as emoções seguem os pensamentos. Para fazer com que os pensamentos se mantivessem em uma única coisa, os Padres acostumaram-se à repetição continua de uma curta prece, e, através deste hábito de continua repetição, esta pequena prece unia-se à língua de tal modo que repetia a si mesma por conta própria. Desta maneira o pensamento deles unia-se à oração e, através da oração, à constante lembrança de Deus. Uma vez que este hábito tenha sido adquirido, a oração nos sustenta na lembrança de Deus, e a lembrança de Deus nos sustenta na oração; elas mutuamente apóiam-se uma a outra. Aqui, então, está um modo para caminhar diante de Deus.

A oração interna começa quando estabelecemos nossa atenção no coração, e do coração oferecemos a oração a Deus. A atividade espiritual se inicia quando permanecemos com atenção no coração na recordação do Senhor, rejeitando todos os outros pensamentos que tentam entrar.



TEÓFAN, O RECLUSO



Prayer that repeats itself (p.85)



It often happens that no inner activity occupies a person during the fulfilment of outward duties, so that his life remains soulless. How can we avoid this? Into every duty a God-fearing heart must be put, a heart constantly permeated by the thought of God; and this will be the door through which the soul will enter into active life. All endeavour must be directed towards the ceaseless thought of God, towards the constant awareness of His presence: 'Seek the Lord . . . Seek his face constantly' (Ps. civ. 4. Sept.) It is on this basis that sobriety and inner prayer rest.

God is everywhere: see that your thoughts too are always with God. How can this be done? Thoughts jostle one another like swarming gnats, and emotions follow on the thoughts. In order to make their thought hold to one thing, the Fathers used to accustom themselves to the continual repetition of a short prayer, and from this habit of constant repetition this small prayer clung to the tongue in such a way that it repeated itself of its own accord. In this manner their thought clung to the prayer and, through the prayer, to the constant remembrance of God. Once this habit has been acquired, the prayer holds us in the remembrance of God, and the remembrance of God holds us in prayer; they mutually support each other. Here, then, is a way of walking before God.

Inner prayer begins when we establish our attention in the heart, and from the heart offer prayer to God. Spiritual activity starts when we stand with attention in the heart in recollection of the Lord, rejecting every other thought that tries to enter in.



THEOPHAN THE RECLUSE



Oh meu Deus, que severidade há aqui.



A principal regra monástica é permanecer constantemente com Deus na mente e no coração, isto é, orar incessantemente. Para manter esta tarefa iluminada e quente, definidas preces são criadas – o ciclo de serviços diários executados na igreja, e certas regras de oração para a cela. Mas a coisa principal é possuir um constante sentimento por Deus. É este sentimento que nos dá poder na vida espiritual, mantendo nosso coração quente. É este sentimento que se constitui como nossa regra. Tanto quanto este sentimento está lá, todas outras regras são substituídas por ele. Se ele está ausente, nenhuma quantidade de enérgicas leituras pode substituí-lo. As orações se destinam a alimentar este sentimento, e se elas fracassam em fazê-lo elas não são de nenhuma utilidade: elas são apenas trabalho que não produz fruto – como uma vestimenta exterior sem nenhum corpo dentro ou como um corpo que não tem alma. Oh meu Deus, que severidade há aqui! Mas não é possível descrever as coisas exceto como elas são.



TEÓFAN, O RECLUSO



O my God, what severity is here (p.86)



The principal monastic rule is to remain constantly with God in mind and heart, that is, to pray unceasingly. To keep this endeavour alight and warm, definite prayers are laid down—the cycle of daily services performed in church, and certain rules of prayer for the cell. But the chief thing is to possess a constant feeling for God. It is this feeling that gives us power in the spiritual life, keeping our heart warm. It is this feeling that constitutes our rule. So long as this feeling is there, all other rules are replaced by it. If it is absent, no amount of strenuous reading can take its place. Prayers are meant to feed this feeling, and if they fail to do so they are no use: they are only labour that bears no fruit—like an outer garment with no body inside or like a body that has no soul. O my God, what severity is here! But one cannot describe things except as they are.



THEOPHAN THE RECLUSE



Um mandamento dirigido a todos



Que ninguém pense, meus caros Cristãos, que somente padres e monges precisam orar sem cessar, e não os homens leigos. Não, não: todo Cristão sem exceção deve permanecer sempre em oração. Gregório o Teólogo ensina a todos os Cristãos que o Nome de Deus deve ser lembrado em oração tão freqüentemente quanto se respira.

Quando o Apóstolo nos ordena a “Orar sem cessar” (I Tess. v. 17), ele quer dizer que devemos orar internamente com nossa mente: e isto é algo que sempre podemos fazer. Pois, quando estamos envolvidos no trabalho manual e quando caminhamos ou sentamos, quando comemos ou bebemos, sempre podemos orar internamente e praticar a oração da mente, oração real, que agrada a Deus. Vamos trabalhar com nosso corpo e orar com nossa alma. Deixe o nosso homem exterior executar o trabalho físico, e deixe o homem interior consagrar-se inteira e completamente ao serviço de Deus e nunca esmorecer no trabalho espiritual da oração interna. Isto também é ordenado por Jesus, o homem-Deus, quando Ele diz nos Evangelhos: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora a teu Pai que está lá, no segredo.” (Mat. vi. 6). O quarto da alma é o corpo, as portas são os cinco sentidos corporais. A alma entra em seu quarto quando a mente não divaga aqui e ali sobre coisas mundanas, mas permanece dentro do nosso coração. Nossos sentidos se fecham, e assim permanecem, quando não permitimos que eles se prendam a coisas visíveis e externas; e desta maneira nossa mente fica livre de todos os seus apegos mundanos, e através da sua oração secreta e interna fica unida com Deus nosso Pai.



Atribuído a S. GREGÓRIO PALAMAS



A command addressed to all (p.87)



Let no-one think, my fellow Christians, that only priests and monks need to pray without ceasing, and not laymen. No, no: every Christian without exception ought to dwell always in prayer. Gregory the Theologian teaches all Christians that the Name of God must be remembered in prayer as often as one draws breath.

When the Apostle commanded us to 'Pray without ceasing" (I Thess. v. 17), he meant that we must pray inwardly with our mind: and this is something that we can do always. For when we are engaged in manual labour and when we walk or sit down, when we eat or when we drink, we can always pray inwardly and practise prayer of the mind, true prayer, pleasing to God. Let us work with our body and pray with our soul. Let our outer man perform physical work, and let the inner man be consecrated wholly and completely to the service of God and never flag in the spiritual work of inner prayer. This is also commanded by Jesus, the God-man, when He says in the Holy Gospel: 'But thou, when thou prayest, enter into thy closet, and when thou hast shut thy door, pray to thy Father which is in secret' (Matt, vi. 6). The closet of the soul is the body, the doors are the five bodily senses. The soul enters its closet when the mind does not wander hither and thither over worldly things, but remains within our heart. Our senses are closed and remain so, when we do not allow them to cling to outward and visible things; and in this way our mind remains free from all worldly attachment, and by its secret and inward prayer is united with God our Father.



Attributed to ST. GREGORY PALAMAS




S. Basílio, o Grande (c. 330-79), Arcebispo de Cesareia na Capadócia (Ásia Menor). Amigo de S. Gregóro o Teólogo, um irmão mais velho de S. Gregório de Nissa: estes três juntos eram conhecidos como os Padres Capadocianos, e seus escritos exerceram uma influência formativa sobre a teologia Ortodoxa.


S. Gregório o Teólogo, geralmente conhecido no ocidente como Gregório de Naztanzus (319-389): um dos três Padres Capadocianos. Como Bispo de Constantinopla, ele presidiu o segundo Conselho Ecumênico, ocorrido naquela cidade em 381. Um orador brilhante, ele é especialmente lembrado por seus sermões e homílias.

Teólogo no movimento Hesicasta. Sua doutrina de oração e ensinamento com respeito a Luz Divina foi duramente atacado durante sua vida, mas foram confirmados pelos dois Conselhos (Constantinopla: 1341, 1351) e assim veio a ser aceito pela Igreja Ortodoxa como um todo.

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