quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A Arte da Prece - Uma Antologia Ortodoxa. (Capítulo II - ii) Graus da Oração



(ii) GRAUS DA ORAÇÃO






Três graus da oração (p.63)



Nós podemos distinguir três estágios.

1. O hábito da prece oral comum, na igreja e em casa.

2. A união dos pensamentos e sentimentos devocionais com a mente e o coração.

3. A oração incessante.



A Oração de Jesus pode ir tanto com o primeiro como com o segundo estágio, mas seu lugar real é com a oração incessante. A principal condição para o sucesso na oração é a purificação do coração das suas paixões, e de todo apego às coisas sensuais. Sem isto, a oração permanecerá todo o tempo no primeiro grau, ou, aquele oral. Quanto mais o coração for purificado mais a prece oral se tornará a oração da mente no coração. E quando o coração tornar-se muito puro, então a oração incessante será estabelecida. Como isto pode ser feito? Na igreja, siga o serviço e retenha os pensamentos e sentimentos que você experimentar lá. Em casa, desperte em si mesmo o pensamento e o sentimento da oração e os mantenha em sua alma com a ajuda da Oração de Jesus.


Three degrees of prayer (p.63)
 

We may distinguish three stages:

1. The habit of ordinary oral prayer in church and at home.

2. The union of prayerful thoughts and feelings with the mind

and heart.

3. Unceasing prayer.

The Jesus Prayer may go with both of the first two, but its real place is with unceasing prayer. The principal condition for success in prayer is the purification of the heart from passions, and from every attachment to things sensual. Without this, prayer will remain all the time in the first or oral degree. The more the heart is purified, the more oral prayer will become prayer of the mind in the heart, and when the heart becomes quite pure, then unceasing prayer will be established. How can this be done? In church, follow the service and retain the thoughts and feelings which you experience there. At home, awake in yourself the thought and feeling of prayer, and maintain them in your soul with the help of the Jesus Prayer.



Distinções ulteriores

A oração tem vários graus. De início, ela é somente a oração da palavra falada, mas a partir daí deve tornar-se oração da mente e do coração, o que a aquece e a mantém. Mais tarde, a oração da mente-no-coração ganha sua independência: tornando-se algumas vezes ativa, estimulada por seu próprio esforço, e algumas vezes auto-motivada, concedida como uma dádiva. A oração como uma dádiva é o mesmo que uma atração interna em direção a Deus, que se desenvolve a partir desta. Mais tarde, quando o estado da alma sob a influência desta atração se torna constante, a oração da mente no coração se tornará incessantemente ativa. Todas as atrações temporárias iniciais são, agora, transformadas em estados de contemplação; e é neste ponto que a oração contemplativa começa. O estado de contemplação é a prisão da mente e da completa visão por um objeto espiritual tão poderoso que todas as coisas externas são esquecidas, e ficam inteiramente ausentes da consciência. A mente e a consciência tornam-se tão completamente imersas no objeto contemplado que é como se nós não mais as possuíssemos.

 
Further distinctions (p.64)

Prayer has various degrees. At first it is only the prayer of the spoken word, but with this must go prayer of the mind and heart, warming it and maintaining it. Later, mind-in-heart prayer gains its independence: becoming sometimes active, stimulated by one's own efforts, and sometimes self-moving, bestowed as a gift. Prayer as a gift is the same as inward attraction towards God, and develops from it. Later on, when the state of the soul under the influence of this attraction becomes constant, mind-in-heart prayer will be active unceasingly. All earlier temporary attractions now become transformed into states of contemplation; and it is at this point that contemplative prayer begins. The state of contemplation is a captivity of the mind and of the entire vision by a spiritual object so overpowering that all outward things are forgotten, and wholly absent from the consciousness. The mind and consciousness become so completely immersed in the object contemplated that it is as though we no longer pos¬sess them.

 
Oração executada pelo homem, oração dada por Deus, oração de êxtase

 

Há a oração que o homem, ele mesmo, faz; e há a oração que Deus, Ele mesmo, dá àquele que ora (I Reis ii. 9: Sept.). Quem não conhece a primeira? E você deve conhecer a segunda, ao menos em seu princípio. Qualquer um que deseje aproximar-se do Senhor irá inicialmente aproximar-se Dele pela oração. Ele começa a ir à igreja e a orar em casa, com ou sem a ajuda de um livro de preces. Mas os pensamentos continuam fugindo. Ele não pode tratar de controlá-los. Contudo, mais ele empenha-se em orar, mais os pensamentos irão se acalmar e se iniciará uma oração mais pura. Mas a atmosfera da alma não fica purificada até que uma pequena chama espiritual seja acesa na alma. Esta chama é o trabalho da graça de Deus; não uma graça especial, mas uma comum a todos. Esta chama aparece quando um homem obteve certa medida de limpidez na ordem moral geral de sua vida. Quando esta pequena chama é acesa, ou um calor permanente se forma no coração, o fermento dos pensamentos é silenciado. Essa mesma coisa que acontece na alma aconteceu à mulher com hemorragia: “E logo se lhe estancou a hemorragia” (Lucas viii. 44). Neste estado, a oração mais ou menos se aproxima da permanência; e para isto a Oração de Jesus serve como um intermediário. Este é o limite no qual a oração executada pelo homem pode erguer-se. Eu acho que isto está bastante claro para você.

Mais adiante, neste estado, outra espécie de oração pode ser dada, uma que chega ao homem ao invés de ser executada por ele. O espírito da oração vem sobre o homem e o conduz nas profundezas do coração, como se ele fosse tomado pelas mãos e fosse, forçosamente, levado de um quarto para outro. A alma é aqui aprisionada por uma força invasora, e é mantida voluntariamente dentro, tanto quanto este irresistível poder da oração ainda exerça grande influência sobre ele. Eu conheço dois graus de tal invasão. No primeiro, a alma vê tudo e é consciente de si mesma e do seu ambiente exterior; ela pode raciocinar e governar a si própria, ela pode até mesmo destruir este estado se ela assim desejar. Isto também deveria estar claro para você.

Mas os Santos Padres, e especialmente S. Isaac, o Sírio, mencionam um segundo grau desta oração que é dada ou desce sobre um homem. Issac considera que esta oração, que ele chama de êxtase ou arrebatamento, é superior do que aquela descrita acima. Aqui também, o espírito da oração vem sobre um homem, mas a alma, arrebatada por ele, passa a tal estado de contemplação que ela esquece o seu ambiente exterior, pára de raciocinar, e somente contempla; e não tem nenhum poder de controlar a si mesma ou romper-se deste estado. Você se lembra de como os Santos Padres escreveram sobre alguém que começou a orar antes da sua refeição noturna e voltou a si somente na manhã seguinte. Esta é a oração do arrebatamento ou contemplação. Com alguns, ela foi acompanhada por iluminação das suas faces, por luz ao redor deles, com outros, por levitação. São Paulo o Apóstolo estava neste estado quando ele foi levado até o Paraíso. E os Santos Profetas também estava no mesmo estado de êxtase quando o Espírito os levou.

Olhe com espanto para a grande misericórdia de Deus verso a nós pecadores: um pequeno esforço e quão grande é o resultado. Com justeza podemos dizer para aqueles que labutam: trabalhe nisto, pois aquilo que busca é de real valor.


Prayer performed by man, prayer given by God, prayer of ecstasy (p.65)

 
There is prayer which man himself makes; and there is prayer which God Himself gives to him who prays (I Kings ii. 9: Sept.). Who is there who does not know the first? And you must also know the second, at least in its inception. Anyone wishing to approach the Lord will first approach Him by prayer. He begins to go to church and to pray at home, with the help of a prayer book or without. But thoughts keep running away. He cannot manage to control them. All the same, the more he strives to pray, the more thoughts will quieten down, and the purer prayer will become. But the atmosphere of the soul is not purified until a small spiritual flame is kindled in the soul. This flame is the work of the grace of God; not a special grace, but one common to all. This flame appears when a man has attained a certain measure of purity in the general moral order of his life. When this small flame is kindled, or a permanent warmth is formed in the heart, the ferment of thoughts is stilled. The same thing happens in the soul as happened to the woman with an issue of blood: 'Her blood stanched' (Luke viii. 44). In this state, prayer more or less approaches permanency; and for this the Jesus Prayer serves as an intermediary. This is the limit to which prayer performed by man himself can rise. I think that this is very clear to you.

Further on in this state, another kind of prayer may be given, which comes to man instead of being performed by him. The spirit of prayer comes upon man and drives him into the depths of the heart, as if he were token by the hand and forcibly led from one room to another. The soul is here taken captive by an invading force, and is kept willingly within, as long as this overwhelm¬ing power of prayer still holds sway over it. I know two degrees of such invasion. In the first, the soul sees everything and is conscious of itself and of its outer surroundings; it can reason and govern itself, it can even destroy this state if it so desires. This too, should be clear to you.

But the Holy Fathers, and especially St. Isaac the Syrian, mention a second degree of prayer which is given to or descends upon a man. Isaac considers that this prayer, which he calls ecstasy or ravishment, is higher than that described above. Here too, the spirit of prayer comes upon a man; but the soul, carried away by it, passes into such a state of contemplation that it forgets its outer surroundings, ceases to reason, and only con¬templates; and it has no power to control itself or to break from this state. You remember how the Holy Fathers write of someone who began to pray before his evening meal and came to himself only next morning. This is the prayer of ravishment or contem¬plation. With some it has been accompanied by illumination of their faces, by light around them, with others by levitation. St. Paul the Apostle was in this state when he was carried up into Paradise. And the Holy Prophets also were in the same state of ecstasy when the Spirit bore them away.

Gaze in wonder at the great mercy of God towards us sinners: a little effort and how great is the result. Rightly may we say to those who labour: Work on, for what you seek is of true value.

 
Três tipos de oração: dos lábios, da mente, do coração

Você provavelmente ouviu estas palavras: prece oral, prece mental, prece do coração; você pode também ter ouvido discussões sobre cada uma delas separadamente. Qual é a causa desta divisão da prece em partes? Acontece que algumas vezes através da nossa negligência a língua recita as sagradas palavras da oração, mas a mente vagueia em algum outro lugar: ou a mente entende as palavras da oração, mas o coração não responde a elas com o sentimento. No primeiro caso a prece é somente oral, e não é de fato prece, no segundo, a prece mental se junta à oral, mas esta oração é ainda imperfeita e incompleta. A oração completa e real ocorre somente quando a prece da palavra e do pensamento é acompanhada pela prece do sentimento. A oração interna ou espiritual ocorre quando aquele que ora, depois de juntar sua mente dentro do coração, de lá dirige sua prece a Deus em palavras não mais orais mas silenciosas: glorificando-O e dando graças, confessando seus pecados com contrição diante de Deus, e pedindo a Ele as bênçãos espirituais e físicas que se necessita. Você deve orar não somente com palavras, mas com a mente; e não só com a mente mas com o coração, de modo que a mente compreende e vê claramente o que é dito em palavras, e o coração tem o sentimento daquilo que a mente está pensando. Todos eles juntos e combinados constituem a prece real, e se algum deles está ausente a sua prece ou não é perfeita ou não é, de fato, uma prece.



Three types of prayer: of the lips, of the mind, of the heart (p.66)

You have probably heard such words as: oral prayer, mental prayer, prayer of the heart; you may also have heard discussions about each of them separately. What is the cause of this division of prayer into parts? Because it happens that sometimes through our negligence the tongue recites the holy words of prayer, but the mind wanders elsewhere: or the mind understands the words of the prayer, but the heart does not respond to them by feeling. In the first case prayer is only oral, and is not prayer at all, in the second, mental prayer joins the oral, but this prayer is still im¬perfect and incomplete. Complete and real prayer comes only when the prayer of word and thought is joined by prayer of feeling. Spiritual or inner prayer comes when he who prays, after gathering his mind within his heart, from there directs his prayer to God in words no longer oral but silent: glorifying Him and giving thanks, confessing his sins with contrition before God, and asking from Him the spiritual and physical blessings that he needs. You must pray not only with words but with the mind, and not only with the mind but with the heart, so that the mind understands and sees clearly what is said in words, and the heart feels what the mind is thinking. All these combined together constitute real prayer, and if any of them are absent your prayer is either not perfect, or is not prayer at all.



O fogo da prece e o Paraíso na alma

Quando a oração interior ganha força, então ela controlará a prece oral, adquirindo controle sobre a prece externa e até a absorvendo. Como resultado, o zelo da oração pegará fogo, pois então o Paraíso estará na alma. Se você contenta-se só com a prece exterior, você pode esfriar-se no trabalho da oração, mesmo se a pratique com atenção e entendimento. A principal coisa na prece é um coração com sentimento.



The fire of prayer and Paradise in the soul (p.67)

When inner prayer gains power, then it will control oral prayer, gaining dominion over external prayer and even absorb¬ing it. As a result, the zeal of prayer will take fire, because then Paradise will be in the soul. If you content yourself with exterior prayer alone, you may cool in the work of prayer, even if you practise it with attention and understanding. The principal thing in prayer is a feeling heart.



Confine sua mente dentro das palavras da prece

Eu já lhe falei mais de uma vez sobre como este trabalho é para ser feito. Você não deve permitir que seus pensamentos vagueiem aleatoriamente, mas tão logo eles fujam, você deve imediatamente trazê-los de volta, censurando a si mesmo, lamentando e deplorando este vaguear da mente. S. João da Escada diz isto: “Você deve fazer um grande esforço para confinar sua mente dentro das palavras da prece”.



Confine your mind within the words of prayer (p.67)

I have already spoken more than once about how this work is to be done. You must not allow your thoughts to wander at random, but as soon as they run away, you must immediately bring them back, reproaching yourself, regretting and deploring this straying of the mind. St. John of the Ladder says of this, 'You must make a great effort to confine your mind within the words of prayer'.



Oração da imaginação, da mente, do coração

Ao passarmos de fora para dentro, nós, primeiro, encontramos as forças da imaginação e da fantasia. Muitas pessoas param aqui, não percebendo que elas devem, imediatamente, passar além deste primeiro estágio: pois se trabalhamos, principalmente, através da nossa imaginação e fantasia, nós não estamos ainda orando corretamente. Este é, portanto, o primeiro método incorreto de oração. O segundo estágio no caminho para dentro é representado pela razão, intelecto, e mente, e, em geral, pelo poder do pensamento e do raciocínio pertencente à alma. Também não devemos nos demorar aqui, mas seguir adiante: e coletando junto todo este poder racional, devemos descer para o coração. Se nos demorarmos aqui, ficaremos envolvidos com um segundo método incorreto de oração, cuja característica principal é que a mente permanece na cabeça, desejando por si mesma dirigir e governar todas as coisas na alma. Nada vem destes esforços: a mente vai atrás de todas as coisas, mas não pode dominar nenhuma, e sofre apenas derrotas. Esta fraqueza da qual nossa mente sofre é plenamente descrita por S. Simeão o Novo Teólogo . Esta segunda maneira de orar pode ser denominada, apropriadamente, de ‘mente-na-cabeça’, em contraste com a terceira maneira, que é a ‘mente-no-coração’. Neste segundo estágio da oração, enquanto que esta fermentação mental ocorre na cabeça, o coração segue seu próprio caminho: ninguém vigia sobre ele, e assim ele é invadido pelas preocupações e pelas paixões, e somente com grande dificuldade vem a si novamente.

A este relato sobre a segunda maneira de orar, eu adicionaria umas poucas palavras da introdução aos textos de Gregório do Sinai escritas pelo stárets Basil , um monge de grande hábito , companheiro e amigo de Paissy Velichkovsky. Tendo citado Simeão o Novo Teólogo, stárets Basil complementa: “Como você pode querer manter a mente intacta meramente protegendo as suas sensações externas, quando seus pensamentos, por eles mesmos, fluem em diferentes direções e rodopiam em torno de coisas materiais? É essencial para a mente, na hora da oração, retirar-se o mais rapidamente possível para o coração e permanecer lá, surda e muda para todos os pensamentos. Quem quer que se afaste somente externamente do ver, ouvir e falar; obtém pouco resultado. Encerre sua mente na cela interior do coração, e então você gozará o repouso dos maus pensamentos; e experimentará a felicidade espiritual que é provocada pela oração interior e a atenção do coração.

S. Hesíquio diz: “Nossa mente não pode derrotar os sonhos maus por ela mesma; e nunca permita que ela espere ser capaz de assim fazer. Acautele-se, portanto, não pense desmesuradamente de si mesmo como a velha nação de Israel, para que você também não seja entregue nas mãos dos inimigos invisíveis. Quando o Deus de toda a criação libertou Israel dos egípcios, os Israelitas fundiram uma imagem para ser o protetor deles. Você deveria entender essa imagem fundida como sendo nossa fraqueza mental: quando ela evoca Jesus Cristo contra os espíritos do mal, facilmente os expulsa; mas quando em sua insensatez confia plenamente em si mesma, ela experimenta uma repentina e dolorosa queda.



Prayer of the imagination, of the mind, of the heart (p.68)

As we pass from without to within, we first encounter the powers of imagination and fantasy. Many people stop here, not realizing that they must immediately pass beyond this first stage: for if we work chiefly through our imagination and fantasy , we are not yet praying in the correct way. This, then, is the first incorrect method of prayer. The second stage on the way within is represented by the reason, intellect, and mind, and in general by the rational and thinking power of the soul. Nor must we linger here, but pass on: and gathering this rational power together, we must descend into the heart. If we linger, we shall become involved in a second incorrect method of prayer, whose characteristic feature is that the mind remains in the head, wishing by itself to direct and govern everything in the soul. Nothing comes of these efforts: the mind pursues everything, but cannot dominate anything, and only undergoes defeats. This feebleness from which our mind suffers is described very fully by St. Simeon the New Theologian . This second way of prayer can appropriately be termed 'mind-in-the-head', in contrast to the third way, which is 'mind-in-the-heart'. At this second stage, while this mental fermentation takes place in the head, the heart goes its own way; nobody watches over it, and so it is invaded by cares and passions, and only with great difficulty comes to itself again.

To this account of the second way of prayer, I would add a few words from the introduction to the writings of Gregory of Sinai written by the staretz Basil , monk of the great habit companion and friend of Paissy Velichkovsky. Having quoted Simeon the New Theologian, staretz Basil adds: “How can you hope to keep the mind intact merely by guarding your exterior sensations, when your thoughts by themselves stream in different directions and whirl towards material things? It is essential for the mind, in the hour of prayer, to withdraw as quickly as possible into the heart and to stand there, deaf and mute to all thoughts. Whoever withdraws only outwardly from seeing, hearing, and speaking, obtains little result. Enclose your mind in the inner cell of the heart, and then you will enjoy rest from evil thoughts; and you will experience the spiritual joy which is brought by inner prayer and attention of the heart.”

St. Hesychioss says: “Our mind cannot defeat evil dreams by itself alone; and let it never hope to do so. Take heed, therefore, not to think highly of yourself like the old Israel, lest you also be delivered up to our invisible enemies. When the God of all creation delivered Israel from the Egyptians, the Israelites fashioned a molten image to be their helper. By the molten image you should understand our feeble mind: when it invokes Jesus Christ against the spirits of wickedness, it drives them away easily; but when in its folly it trusts wholly to itself, it experiences a sudden and grievous downfall.”



O desejo e o anseio por Deus

O que acontece à alma quando nós desejamos orar muito, ou quando somos atraídos à oração, e como deveríamos nos comportar?

Todos experimentam este desejo em maior ou menor grau na medida em que prosseguem no caminho da vida Cristã, uma vez que começaram a buscar Deus através de um esforço pessoal, até que finalmente alcançaram suas metas: uma viva comunhão com Ele. Eles também o experimentam mesmo depois de ter atingido este objetivo. É um estado que se parece com aquele de um homem mergulhado em reflexão profunda, retirado dentro de si mesmo, concentrado em sua alma, não prestando atenção ao ambiente externo, às pessoas, coisas e eventos. Mas quando um homem está mergulhado em reflexão é a mente que está trabalhando, enquanto que aqui é o coração. Quando o anseio por Deus vem, a alma é recolhida dentro de si mesma, e permanece diante da face de Deus. Além disso, ou derrama diante Dele suas esperanças e os sofrimentos do seu coração, como Ana, a mãe de Samuel; ou O glorifica, como a Santíssima Virgem Maria; ou, ainda, permanece maravilhado diante Dele, como o Aposto Paulo freqüentemente fez. Aqui todas as ações pessoais, pensamentos, e intenções cessam; e tudo que é externo se afasta da nossa atenção. A alma por si mesma não deseja estar ocupada com qualquer coisa alheia. Isto pode acontecer na igreja ou durante a regra da oração, ou durante a leitura ou a meditação, e mesmo durante ocupações externas ou na companhia de outros. Mas em nenhum caso isto depende da nossa vontade. Aquele que uma vez tenha experimentado este anseio pode lembrar-se dele e desejar sua repetição, ele pode esforçar-se nesta direção, mas ele mesmo nunca o atrairá através do seu próprio empenho: ele acontece por si mesmo.

Somente uma coisa depende do nosso livre arbítrio – quando este estado ocorrer, não se permita destruí-lo, mas tome o máximo cuidado, de modo a dar a ele a plena oportunidade de permanecer dentro de você tanto quanto possível.



Desire and longing for God (p.70)

What happens to the soul when we greatly desire to pray, or when we are drawn to prayer, and how should we behave?

Everyone experiences this desire in greater or lesser degree as they proceed on the path of the Christian life, once they have begun to seek God by personal effort, until they finally reach their goal of a living communion with Him. They also experience it after having attained to this goal. It is a state resembling that of a man plunged in deep thought, withdrawn within himself, concentrated in his soul, paying no attention to external surround¬ings, to people, things, and events. But when a man is plunged in thought it is the mind which is at work, whereas here it is the heart. When the longing for God comes, the soul is collected within itself, and stands before the face of God, and either pours out before Him its hopes and the sufferings of its heart, like Hannah, the mother of Samuel; or glorifies Him, like the most holy Virgin Mary; or stands before Him in wonder, as the Apostle Paul often stood. Here all personal actions, thoughts, and inten¬tions cease; and everything external departs from the attention. The soul itself does not wish to be occupied with anything extraneous. This may happen in church or during the rule of prayer, or during reading or meditation, and even during some exterior occupations or in company. But in no case does it depend on your will. He who has once experienced this longing may remember it and desire its repetition, he may strive to¬wards it, but he himself will never attract it by his own exertion: it comes of itself.

Only one thing depends on our free will—when this state of longing comes, do not allow yourself to destroy it, but take the utmost care, so as to give it full opportunity to remain within you as long as possible.



Dois tipos de oração interior

A oração interior significa pôr-se de pé com a mente no coração diante de Deus vivendo simplesmente em Sua presença, ou expressando súplica, agradecimento, e glorificação. Nós devemos adquirir o hábito de sempre estar em comunhão com Deus, sem qualquer imagem, qualquer processo de raciocínio, qualquer perceptível movimento de pensamento. Tal é a verdadeira expressão da oração. A essência da oração interior, ou o pôr-se de pé diante de Deus com a mente no coração, consiste precisamente nisto.

A oração interior compreende dois estados, um ativo, quando o homem, ele mesmo, esforça-se pela oração, e o outro auto-impelido, quando a oração existe e age por si mesma. Este último acontece quando somos puxados adiante involuntariamente, mas o primeiro deve ser um constante objeto de empenho. Embora em si mesmo tal empenho não seja bem sucedido porque nossos pensamentos estão sempre se dispersando, ainda assim, como prova do nosso desejo e esforço para obter a oração incessante, ele atrairá a misericórdia do Senhor; e por este trabalho Deus completará nossos corações, de tempos em tempos, com aquele irresistível impulso através do qual a oração espiritual revela-se em sua verdadeira forma.



Two kinds of inner prayer (p.70)

Inner prayer means standing with the mind in the heart before God, either simply living in His presence, or expressing supplication, thanksgiving, and glorification. We must acquire the habit of always being in communion with God, without any image, any process of reasoning, any perceptible movement of thought. Such is the true expression of prayer. The essence of inner prayer, or standing before God with the mind in the heart, consists precisely in this.

Inner prayer consists of two states, one strenuous, when man himself strives for it, and the other self-impelled, when prayer exists and acts on its own. This last happens when we are drawn along involuntarily, but the first must be a constant object of endeavour. Although in itself such endeavour will not be successful because our thoughts are always being dispersed, yet as proof of our desire and effort to attain unceasing prayer, it will attract the mercy of the Lord; and because of this work God fills our heart from time to time with that compelling impulse through which spiritual prayer reveals itself in its true form.



Orações ‘auto-motivadas’

No caso das orações ‘auto-motivadas’, quando o espírito da oração vem sobre um homem, não temos nenhum poder de escolha sobre qual forma de oração nos será dada; elas são diferentes córregos de uma única e mesma graça. Mas, de fato, estas orações ‘auto-motivadas’ são de duas espécies. Numa delas o homem tem o poder de obedecer ou desobedecer a este espírito; ele pode favorecê-lo ou contrariá-lo. Na outra espécie ele não tem o poder de fazer nada, mas é conduzido para a oração e mantido nela por uma força externa a ele próprio, que não deixa a ele nenhuma liberdade para agir diferentemente. Esta completa ausência de escolha ocorre somente nesta última espécie de oração. Em relação a todas as outras espécies a escolha é possível.



'Self-moving' prayers (p.71)

In the case of 'self-moving' prayers, when the spirit of prayer comes on a man, we have no power to choose which form of prayer shall be given to us; they are different streams of one and the same grace. But these 'self-moving' prayers are in fact of two kinds. In one kind the man has the power of obedience or of disobedience to this spirit; he can help it or can thwart it. In the other kind he has no power to do anything, but is driven into prayer and kept in it by a force outside himself, which leaves him no freedom to act differently. Thus complete absence of choice occurs only in this last kind of prayer. As regards all other kinds choice is possible.







Oração do Espírito



“Mas o próprio Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis.” (Rom. Viii. 26).

Isto será fácil de compreender se pudermos relacioná-lo a algo que aconteceu em nossa própria experiência. O Espírito move-se em nós na oração que vem por si mesma. Normalmente oramos usando ou um livro de preces ou nossas próprias palavras. A oração pode ser acompanhada por sentimentos e suspiros, mas não podemos alcançá-los em nós deliberadamente. Junto com estes sentimentos e suspiros, algumas vezes, acontece que a autêntica inspiração para orar chega por si mesma forçando-nos a orar, não nos dando paz até que a oração esteja completamente entornada. Isto, ou algo similar, é o que o Apóstolo descreve. O conteúdo de tal oração raramente pode ser bem definido, mas quase sempre é inspirado pela rendição à vontade divina, e pela completa confiança na conduta de Deus, que é quem sabe melhor do que nós aquilo que é bom para o nosso ser interno e externo, que é quem deseja isto para nós com maior força do que desejamos para nós mesmos, e que é quem está pronto para nos dar tudo aquilo que é bom e colocar tudo em ordem para nós – na medida em que nós mesmos não opomos resistência. Todas as orações que nos chegaram através dos Santos Padres possuem esta origem e são movidas pelo Espírito: está é a razão pela qual permanecem tão definidamente efetivas.



Prayer of the Spirit (p.71)



'But the Spirit itself maketh intercession for us with groanings which cannot be uttered' (Rom. viii. 26).

This will be easier to understand if we can relate it to some¬thing that happens in our own experience. The Spirit moves in us in the prayer which comes by itself. Usually we pray using either a prayer book or our own words. Prayer may be accompanied by feelings and sighings, but we cannot arouse them within our¬selves deliberately. Besides these feelings and sighings, it some¬times happens that the very inspiration to pray comes by itself, forcing us to pray and giving no peace until prayer is completely poured out. This, or something similar, is what the Apostle describes. The content of such a prayer can seldom be clearly defined, but it is almost always inspired by surrender to the divine will, and by complete trust in the guidance of God, who knows better than we do what is good for our inner and outer being, who desires this for us more strongly than we do for ourselves, and who is ready to give us all that is good and to set all in order for us—as long as we ourselves do not put up a resistance. All prayers by the Holy Fathers which have come down to us are of this origin and are moved by the Spirit: that is why they remain so permanently effective.





A aproximação à prece contemplativa



Na oração puramente contemplativa, palavras e pensamentos, desaparecem, não por nosso próprio desejo, mas pela própria concordância deles. A oração da mente modifica-se em oração do coração, ou melhor, na oração da mente no coração: seu aparecimento coincide com o nascimento de um calor no coração. Daqui por diante no curso normal da vida espiritual não existe outra oração. Esta oração, tomando profundas raízes no coração, pode ser sem palavras ou pensamentos: pode consistir apenas de uma permanência diante de Deus, numa abertura do coração para Ele em reverência e amor. É um estado no qual se fica irresistivelmente atraído para dentro para pôr-se de pé diante de Deus em oração. Mas tudo isto ainda não é a verdadeira oração contemplativa, que sendo o mais alto estado de oração, aparece de tempos em tempos nos eleitos de Deus.



The approach to contemplative prayer (p.72)



In purely contemplative prayer, words and thoughts themselves disappear, not by our own wish, but of their own accord. Prayer of the mind changes into prayer of the heart, or rather into prayer of the mind in the heart: its appearance coincides with the birth of warmth in the heart. From now on in the usual course of spiritual life there is no other prayer. This prayer, taking deep root in the heart, may be without words or thought: it may consist only in a standing before God, in an opening of the heart to Him in reverence and love. It is a state of being irresisti¬bly drawn within to stand before God in prayer; or it is the visita¬tion of the spirit of prayer. But all this is not yet true contemplative prayer, which is prayer's highest state, appearing from time to time in God's elect.



Oração ativa e oração contemplativa



A ação da prece no coração pode ser duplicada. Algumas vezes a mente reage primeiro, abrindo caminho ao Senhor numa incessante lembrança Dele no coração; algumas vezes é a prece, ela mesma, que age, quando é movida pelo fogo da felicidade e atrai a mente ao coração, mantendo-a lá em invocação ao Senhor Jesus numa reverente permanência diante Dele. O primeiro tipo de prece requer esforço, o segundo trabalha por si mesmo. No primeiro caso, quando o cabresto das paixões é afrouxado, a ação da prece começa a desobstruir-se através do cumprimento dos mandamentos e do calor do coração, como conseqüência de uma vigorosa invocação do Senhor Jesus. No segundo caso, o Espírito atrai a mente em direção ao coração e a estabelece ali, nas profundezas, impedindo-a de realizar suas habituais divagações. Neste caso não é mais como o prisioneiro que é sequestrado de Jerusalém para Assíria, mas, ao contrário, é um recém-chegado que vem da Babilônia a Sião, clamando junto com o profeta: “A ti, ó Deus, confiança e louvor em Sião! E a ti se pagará o voto em Jerusalém.” (Sl. lxiv. 2. sept.). Destes dois tipos de prece, às vezes, surge uma mente ativa, às vezes, uma contemplativa. A mente ativa derrota as paixões com o auxílio de Deus. A mente contemplativa vê Deus tanto quanto isto é possível para o homem.



Active and contemplative prayer (p.72)



The action of prayer in the heart may be twofold. Sometimes the mind reacts first, by cleaving to the Lord in unceasing remembrance of Him in the heart; sometimes it is the prayer itself that acts, when it is moved by the fire of joy and attracts the mind into the heart, holding it there in invocation of the Lord Jesus and in reverent standing before Him. The first kind of prayer requires effort, the second works by itself. In the first case, when the grip of passions is lessened, the action of the prayer begins to open out through fulfilment of commandments and warmth of heart, as a consequence of a strenuous invocation of the Lord Jesus. In the second case, the Spirit attracts the mind towards the heart and establishes it there in the depths, holding it from its usual wandering. In that case it is no longer like a prisoner who is taken away from Jerusalem into Assyria, but on the contrary it is a home-comer from Babylon to Zion, calling with the prophet: 'Thou, O God, art praised in Zion, and unto thee shall the vow be performed in Jerusalem' (Ps. Ixiv. 2. Sept.). Out of these two kinds of prayer there comes some¬times an active mind, sometimes a contemplative one. The active mind defeats the passions with the help of God. The contemplative mind sees God, in so far as this is possible for man.





A jornada interna da mente e do coração



Aquele que se arrependeu viaja para o Senhor. O caminho até Deus é uma jornada interna realizada na mente e no coração. É, portanto, necessário sintonizar os pensamentos da mente e a disposição do coração de modo que o espírito do homem sempre esteja com o Senhor, como se unido com Ele. Aquele que está assim sintonizado é constantemente iluminado pela luz interna, e recebe em si mesmo os raios do resplendor espiritual (como diz Teodoreto), como Moisés, cuja face foi glorificada no Monte porque ele estava iluminado por Deus. David se refere a isto: “A luz da tua aprovação, oh Senhor, foi vertida sobre nós.” (Sl. Iv. 6). O meio pelo qual este estado pode ser obtido é através da oração da mente feita no coração. Somente quando esta é formada a visão da mente se tornará clara, e o espírito, contemplando Deus claramente, receberá Dele o poder para ver e afastar tudo aquilo que poderia envergonhá-lo diante de Deus.

Contudo, existem muitos que esperam se aproximar de Deus, meramente, através de atos e palavras externas. Eles vivem nesta expectativa, mas nunca a efetivam, pois não seguem o caminho correto. Para tais pessoas fazemos o seguinte apelo: aproxime-se de Deus com a mente e o coração e você será iluminado e não mais será derrotado pelo inimigo, que neste momento – a despeito de toda a sua boa conduta externa – constantemente lhe subjuga e lhe faz envergonhar pelos seus pensamentos e pelos sentimentos do seu coração. Aproximar-se de Deus em sua mente e coração lhe dará poder sobre todos os movimentos da alma, e o poder para envergonhar o inimigo, sempre que ele tentar envergonhar você.



The inner journey of the mind and heart

He who has repented travels towards the Lord. The way to God is an inner journey accomplished in the mind and heart. It is necessary so to attune the thoughts of the mind and the disposition of the heart that the spirit of man will always be with the Lord, as if joined with Him. He who is thus attuned is con¬stantly enlightened by inner light, and receives in himself the rays of spiritual radiance (as Theodoret says), like Moses, whose face was glorified on the Mount because he was illumined by God. David refers to this, "The light of thy countenance, O Lord, has been marked upon us' (Ps. iv. 7. Sept.). The means whereby this state can be achieved is prayer of the mind made in the heart. Only when this takes shape will the sight of the mind become clear, and the spirit, beholding God clearly, will receive from Him the power to see and drive away everything which could put it to shame before God.

Yet there are many who expect to approach God merely by outer words and deeds. They live in expectation, but they never come near; for they do not follow the right way. To such we make this appeal: approach God with the mind and heart and you will be enlightened and will no longer be defeated by the enemy, who at present—despite all your external correctness— constantly overcomes you and puts you to shame in your thoughts and in the feelings of your heart. Drawing near to God in your mind and heart will give you power over all other movements of the soul, and power to put the enemy to shame whenever he attempts to shame you.





Ore como se começasse a orar pela primeira vez



Você nunca deve considerar qualquer trabalho espiritual como firmemente estabelecido, e isto é especialmente verdadeiro para a oração; por isto, sempre ore como se começasse pela primeira vez. Quando fazemos algo pela primeira vez, nos achegamos com frescor e com um recém nascido entusiasmo. Se ao iniciar a orar você sempre abordasse a tarefa como se ainda nunca tivesse orado apropriadamente, e somente agora, pela primeira vez, desejasse assim fazê-la, você sempre orará com um zelo fresco e vivo. E tudo irá bem.

Se você não é bem sucedido em sua oração, não espere ter sucesso em nenhuma outra coisa. É a raiz de tudo.



Pray as if beginning prayer for the first time

You must never regard any spiritual work as firmly established, and this is especially true of prayer; but always pray as if beginning for the first time. When we do a thing for the first time, we come to it fresh and with a new-born enthusiasm. If, when starting to pray, you always approach it as though you had never yet prayed properly, and only now for the first time wished to do so, you will always pray with a fresh and lively zeal. And all will go well.

If you are not successful in your prayer, do not expect success in anything. It is the root of all.

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