domingo, 31 de outubro de 2010

A Arte da Prece - Uma Antologia Ortodoxa. (Capítulo III - ii) A Oração Incessante

A ARTE DA PRECE





Uma Antologia Ortodoxa

compilada pelo





Hegúmeno Chariton de Valamo









CAPÍTULO III





A ORAÇÃO DE JESUS por vários autores



















(ii) A ORAÇÃO INCESSANTE



O caminho para a oração incessante



Alguns pensamentos divinos chegam mais perto do coração do que outros. Se assim ocorrer, depois que você terminou suas preces, continue a insistir com tal pensamento e permaneça alimentando-o. Este é o caminho para a oração incessante.



TEÓFAN O RECLUSO



The way to unceasing prayer (p.80)



Some godly thoughts come nearer the heart than others. Should this be so, after you have finished your prayers, continue to dwell on such a thought and remain feeding on it. This is the way to unceasing prayer.



THEOPHAN THE RECLUSE



A oração incessante sem palavras



Elevar a mente para o Senhor, e dizer com contrição: “Senhor, tenha piedade! Senhor, conceda Tua benção! Senhor, ajude-me!” – isto é clamar em oração a Deus. Mas se o sentimento em direção a Deus nasceu e vive em seu coração, então você possuirá a oração incessante, muito embora seus lábios não mais recitem palavras e seu corpo não esteja, externamente, em uma postura de prece.



TEÓFAN, O RECLUSO



Unceasing prayer without words (p.80)



To raise up the mind towards the Lord, and to say with contrition: 'Lord, have mercy! Lord, grant Thy blessing! Lord, help!'—this is to cry out in prayer to God. But if feeling towards God is born and lives in your heart, then you will possess unceasing prayer, even though your lips recite no words and your body is not outwardly in a posture of prayer.



THEOPHAN THE RECLUSE



Ore em todos os momentos e em todos os lugares



‘Com orações e súplicas de toda a sorte, orai em todo tempo, no Espírito. ’ (Ef. vi. 18)

Falando da necessidade de orar, o Apóstolo indica aqui como devemos orar para sermos ouvidos. Ore, ele diz, ‘com orações e súplicas de toda a sorte’, em outras palavras, muito ardentemente, com dor no coração e com um anseio abrasador em direção a Deus. E ore, ele diz, ‘sempre’, a qualquer momento; com isto ele urge para que oremos persistente e incansavelmente. A oração não deve ser simplesmente uma ocupação para certas ocasiões, mas um permanente estado do espírito. Certifique-se, diz S. João Crisóstomo, que você não limita sua oração meramente a certa parte do dia. Volte-se para a oração a qualquer momento, como o Apóstolo diz em outro lugar: “Orai sem cessar” (I Tess. V. 17). Em terceiro lugar, Paulo nos fala para orar ‘no espírito’: em outras palavras a oração não deve ser somente externa, mas também interna, uma atividade da mente no coração. Nisto reside a essência da oração, que é a elevação da mente e do coração a Deus.

Os Santos Padres fazem uma distinção, entretanto, entre a oração da mente no coração e a oração motivada pelo Espírito. A primeira é a ação consciente da prece do homem, mas a segunda chega ao homem; e embora esteja ciente dela, trabalha por si mesmo independentemente dos seus esforços. Esta segunda espécie de oração, motivada pelo Espírito, não é algo que se possa recomendar para que as pessoas pratiquem, porque não está em nosso poder alcançá-la. Nós podemos desejá-la, buscá-la, e recebê-la com gratidão, mas não podemos chegar a ela toda vez que se queira. Não obstante, naqueles que estão purificados, a oração é mais geralmente motivada pelo Espírito. Portanto, devemos supor que o Apóstolo refere-se à oração da mente no coração quando ele diz: “Orai no espírito.” Pode-se adicionar: ore com a mente no coração com o desejo de obter a oração motivada pelo Espírito. Tal oração sustenta a alma conscientemente diante da face do Deus sempre-presente. Atraindo o raio divino para si mesma, e refletindo este mesmo raio de si mesma, a alma dispersa os inimigos. Pode ser dito com certeza que nenhum demônio pode aproximar-se de uma alma em tal estado. Somente deste modo podemos orar em qualquer momento, em qualquer lugar.



TEÓFAN, O RECLUSO



Pray at all times and in all places (p.80)



'Praying always with all prayer and supplication in the spirit’ (Eph. vi. 18).

Speaking of the necessity of prayer, the Apostle indicates here how we must pray in order to be heard. Pray, he says, 'with all prayer and supplication', in other words, very ardently, with pain in the heart and a burning striving towards God. And pray, he says, 'always', at any time; by this he urges us to pray persistently and indefatigably. Prayer must not be simply an occupation for a certain time, but a permanent state of the spirit. Make sure, says St. John Chrysostom, that you do not limit your prayer merely to a particular part of the day. Turn to prayer at any time, as the Apostle says in another place: 'Pray without ceasing' (I Thess. v. 17). Thirdly, Paul tells us to pray ‘in the spirit’: in other words prayer must be not only outward, but also inner, an activity of the mind in the heart. In this lies the essence of prayer, which is the raising of the mind and heart towards God.

The Holy Fathers make a distinction, however, between prayer of the mind in the heart and prayer moved by the Spirit. The first is the conscious action of the praying man, but the second comes to a man; and although he is aware of it, it works by itself independently of his efforts. This second kind of prayer, moved by the Spirit, is not something that we can recommend people to practise, because it does not lie in our power to achieve it. We can desire it, seek it, and receive it gratefully, but we cannot arrive at it whenever we want to. But in those who are purified, prayer is most generally moved by the Spirit. Therefore we must suppose that the Apostle refers to prayer of the mind in the heart when he says: 'Pray in the spirit.' One can add, pray with the mind in the heart with the desire of attaining to prayer moved by the Spirit. Such a prayer holds the soul consciously before the face of the ever-present God. Attracting the divine ray towards itself, and reflecting this same ray from itself, it disperses the enemies. One can say with certainty that no devils can draw near to the soul in such a state. Only in this way can we pray at any time, in any place.



THEOPHAN THE RECLUSE



O segredo da oração incessante – amor



‘Orai sem cessar’, S. Paulo escreve aos Tessalonicenses (I Tess. V. 17). E em outras epístolas, ele ordena: ‘Orando sempre com súplicas de toda sorte no espírito’ (Ef. vi. 18), ‘perseverai na oração, vigilantes na mesma’ (Col. iv. 2), ‘assíduos na oração’ (Rom. xii. 12). Também o Salvador, Ele próprio, ensinou a necessidade da constância e da persistência na oração, na parábola da viúva importuna que venceu o juiz iníquo pela persistência dos seus apelos (Lucas xviii. 1-8). Fica claro daí que a oração incessante não é uma prescrição acidental, mas uma característica essencial do espírito Cristão. A vida de um Cristão, de acordo com o Apóstolo, ‘está oculta com Cristo em Deus’, (Col. iii. 3). Assim o Cristão deve viver em Deus continuamente, com atenção e sentimento: fazer isso é orar incessantemente. Também nos ensinaram que todo Cristão é ‘o templo de Deus’, no qual ‘habita o Espírito de Deus’ (I Cor. iii. 16; vi. 19; Rom. viii. 9). É este ‘Espírito’, sempre nele presente e requerente, que ora dentro dele ‘com gemidos inefáveis que não podem ser proferidos’ (Rom. Viii. 26), e assim ensina-o a como orar sem cessar.

A primeiríssima ação da graça de Deus, quando o pecador retorna a Deus, manifesta-se fazendo com que sua mente e seu coração curvem-se a Deus. Quando mais tarde, depois do arrependimento e da dedicação de sua vida a Deus, a graça de Deus, que agiu de fora, desce sobre ele e permanece em seu interior através dos sacramentos, então, o movimento da mente e do coração a Deus, que é a essência da prece, também se tornará imutável e permanente nele. Esta mudança torna-se evidente em diferentes graus, e como qualquer outro dom, deve ser renovado. Ele é atualizado de acordo com sua espécie: pelo esforço da oração e especialmente pela prática atenta e paciente das preces da Igreja. Ore sem cessar, esforce-se na oração, e você obterá a oração incessante que agirá por si mesma no coração sem um esforço especial.

Fica claro para qualquer um que o conselho do Apóstolo não é realizado por meramente se praticar aquelas estabelecidas orações de horas marcadas, mas requer uma caminhada permanente diante de Deus, uma dedicação de todas as atividades Àquele que tudo vê e é onipresente, um apelo sempre-fervoroso ao céu com a mente no coração. Toda a vida, em todas as suas manifestações, deve ser permeada pela oração. Mas seu segredo é o amor pelo Senhor. Como a noiva, que amando o noivo, não se separa dele em lembranças e sentimentos, assim a alma, unida com Deus no amor, permanece constantemente com Ele, dirigindo apelos calorosos a Ele a partir do coração. ‘Aquele que se une ao Senhor, constitui com ele um só espírito. ’ (I Cor. vi. 17).



TEÓFAN, O RECLUSO



The secret of unceasing prayer—love (p.81)



'Pray without ceasing', St. Paul writes to the Thessalonians (I Thess. v. 17). And in other epistles, he commands: ‘Praying always with all supplication in the spirit’ (Eph. vi. 18), 'continue in prayer and watch in the same' (Col. iv. 2), 'continuing instant in prayer' (Rom. xii. 12). Also the Saviour Himself teaches the need for constancy and persistency in prayer, in the parable about the importunate widow, who won over the unrighteous judge by the persistency of her appeals (Luke xviii. 1—8). It is clear from this that unceasing prayer is not an accidental prescription, but the essential characteristic of the Christian spirit. The life of a Christian, according to the Apostle, 'is hid with Christ in God' (Col. iii. 3). So the Christian must live in God continuously, with attention and feeling: to do this is to pray without ceasing. We are also taught that every Christian is 'the temple of God', in which 'dwelleth the Spirit of God' (I Cor. iii. 16; vi. 19; Rom. viii. 9). It is this 'Spirit', always present and pleading in him, that prays within him 'with groanings that cannot be uttered' (Rom. viii. 26), and so teaches him how to pray without ceasing.

The very first action of God's grace in the turning of the sinner to God manifests itself by the bending of his mind and heart towards God. When later, after repentance and dedication of his life to God, the grace of God which acted from without descends on him and remains within him through the sacraments, then the turning of the mind and heart to God, which is the essence of prayer, will also become unchangeable and permanent in him. This turning is made evident in different degrees, and like any other gift, must be renewed. It is refreshed according to its kind: by the effort of prayer and especially by patient and attentive practice of Church prayers. Pray without ceasing, exert yourself in prayer, and you will achieve incessant prayer, which will act of itself in the heart without special effort.

It is clear to everyone that the advice of the Apostle is not carried out merely by the practice of established prayers at certain set hours, but requires a permanent walking before God, a dedication of all one's activities to Him who is all-seeing and omnipresent, an ever-fervent appeal to heaven with the mind in the heart. The whole of life, in all its manifestations, must be permeated by prayer. But its secret is love for the Lord. As the bride, loving the bridegroom, is not separated from him in remembrance and feeling, so the soul, united with God in love, remains in constancy with Him, directing warm appeals to Him from the heart. 'He that is joined unto the Lord is one spirit' (I Cor. vi. 17).



THEOPHAN THE RECLUSE



A prática dos Apóstolos



Eu lembro que S. Basílio, o Grande solucionou a questão de como os Apóstolos puderam orar sem cessar, desta maneira: em tudo que faziam, respondeu, eles pensavam em Deus e viviam em constante devoção a Ele. Este estado espiritual era a oração incessante deles.



TEÓFAN, O RECLUSO



The practice of the Apostles (p.83)



I remember that St. Basil the Great solved the question how the Apostles could pray without ceasing, in this way: in everything they did, he replied, they thought of God and lived in constant devotion to Him. This spiritual state was their unceasing prayer.



THEOPHAN THE RECLUSE



A oração incessante como uma atitude implícita



Você lamenta que a Oração de Jesus não seja incessante, que você não a recita constantemente. Mas uma repetição constante não é requerida. O que é requerido é uma constante vivacidade em Deus – uma vivacidade que está presente quando você fala, lê, olha ou examina algo. Mas desde que você já está praticando a Oração de Jesus na maneira correta, continue como você está fazendo agora, e no devido tempo a oração irá ampliar seu alcance.



TEÓFAN, O RECLUSO



Unceasing prayer as an implicit attitude (p.83)



You regret that the Jesus Prayer is not unceasing, that you do not recite it constantly. But constant repetition is not required. What is required is a constant aliveness to God— an aliveness present when you talk, read, watch, or examine something. But since you are already practising the Jesus Prayer in the correct manner, continue as you are doing now, and in due course the prayer will widen its scope.



THEOPHAN THE RECLUSE



Sempre de pé diante de Deus com reverência



Nós podemos algumas vezes passar todo o tempo, que a regra nos reserva a oração, recitando um salmo, compondo nossa própria oração a partir de cada verso. Novamente, podemos passar todo o tempo dado pela regra, recitando a Oração de Jesus com prostrações. Também podemos fazer um pouco de cada uma destas coisas. O que Deus pede é o coração (Prov. xxiii. 26); e é suficiente que se esteja de pé diante Dele com reverência. Estar sempre de pé diante de Deus com reverência é a oração incessante: tal é a sua exata descrição; e neste sentido a regra da oração é somente o combustível para o fogo, ou o fornecimento de madeira a um fogão à lenha.



TEÓFAN, O RECLUSO



Standing always before God with reverence (p.83)



We can sometimes spend all the time set aside for prayer by the rule in reciting one psalm, composing our own prayer from each verse. Again, we can sometimes spend all the time allotted by the rule in reciting the Jesus Prayer with prostrations. We can also do a little of each of these things. What God asks for is the heart (Prov. xxiii. 26); and it is enough that it should stand before Him with reverence. Standing always before God with reverence is unceasing prayer: such is its exact description; and in this regard the rule of prayer is only fuel for the fire, or the throwing of wood into a stove.



THEOPHAN THE RECLUSE



Os frutos da oração incessante.



Através da oração incessante o asceta obtém real pobreza espiritual: aprendendo a pedir incessantemente pela ajuda de Deus, ele gradualmente perde a certeza de si mesmo. Se ele realiza algo de bem sucedido, ele vê nisso não o seu próprio sucesso; mas a piedade de Deus pela qual ele orou, a Deus, incessantemente. A oração incessante conduz a aquisição da fé, porque aquele que ora sem cessar começa gradualmente a sentir a presença de Deus. Este sentimento, pouco a pouco, cresce e aumenta a tal grau que o olho espiritual vê Deus em Sua Providência de modo mais claro que o olho físico vê os objetos materiais no mundo; e então o coração conhece, por experiência imediata, a presença de Deus. Aquele que viu Deus desta maneira e sentiu Sua presença assim, não pode deixar de acreditar Nele com uma fé viva, que a seguir se mostrará em ações.

A oração incessante supera o mal através da esperança em Deus, ela conduz o homem à sacra simplicidade, liberando sua mente do hábito da diversidade no pensamento e da imaginação de planos para si e seus vizinhos; mantendo-o sempre em escassez e humildade de pensamentos. Disto se compõe seu treinamento. Aquele que ora sem cessar gradualmente perde o hábito de divagar em pensamentos, de distrair-se, de se preencher com vãs preocupações, e mais profundamente este treinamento em santidade e humildade entra na alma e se enraíza nela, mais ele perde estes hábitos da mente. Finalmente, ele torna-se como uma criança, como se ordena nos Evangelhos, e dele se faz um tolo por amor de Cristo, isto é, ele perde a falsa razão do mundo, e recebe de Deus a compreensão espiritual.

Através da oração incessante, a curiosidade, a desconfiança, e a suspeita são destruídas, e por esta razão outras pessoas começam a ver o bem em nossos olhos. Por tal empenho do coração a favor delas, nasce o amor da espécie humana. Aquele que ora sem cessar habita constantemente no Senhor, conhece o Senhor como Deus, adquire temor Dele, através do temor entra em pureza, e através da pureza em amor divino. O amor de Deus preenche-o com os dons do Espírito, do qual ele é o templo.



BISBO IGNATTI



The fruits of unceasing prayer (p.84)



Through unceasing prayer the ascetic attains true spiritual poverty: learning to ask unceasingly for God's help, he gradually loses trust in himself. If he does something successfully, he sees in it not his own success but God's mercy, for which he prays to God unceasingly. Unceasing prayer leads to the acquisition of faith, because he who prays unceasingly begins gradually to feel the presence of God. This feeling little by little grows and increases to such a degree that the spiritual eye sees God in His Providence more clearly than the physical eye sees material objects in the world; and then the heart knows by immediate experience the presence of God. He who has seen God in such a manner and has felt His presence thus, cannot fail to believe in Him with a living faith, which will be shown forth in deeds.

Unceasing prayer overcomes evil through hope in God, it leads a man into a holy simplicity, weaning his mind from its habit of diversity in thought, and from devising plans about himself and his neighbours, keeping him always in scantiness and humility of thoughts. This composes his training. He who prays ceaselessly gradually loses the habit of wandering thoughts, of distraction, of being filled with vain worries, and the more deeply this training in holiness and humility enters the soul and takes root in it, the more he loses these habits of mind. Finally he becomes as a child, as he is commanded in the Gospel, and is made a fool for Christ's sake, that is, he loses the false reason of the world, and receives from God a spiritual understanding.

By unceasing prayer curiosity, mistrustfulness and suspicion are destroyed, and because of this other people begin to seem good in our eyes. From such a mortgage of the heart in their favour, love of mankind is born. He who prays without ceasing dwells constantly in the Lord, knows the Lord as God, acquires fear of Him, by fear enters into purity, and by purity into divine love. The love of God fills him with the gifts of the Spirit, whose temple he is.



BISHOP IGNATII



Eu coloquei o Senhor sempre diante de mim



Pela graça de Deus chega-se a uma oração que é só do coração, a oração espiritual, vivificada no coração pelo Espírito Santo. Aquele que ora é consciente dela, embora não seja ele que executa a prece, pois ela segue dentro dele por si mesma. Tal prece é a característica do perfeito. Mas a oração que é acessível a qualquer um, e que é requerida de todos, é a oração na qual o pensamento e o sentimento estão sempre unidos com as palavras.

Há também outra espécie de oração, que é chamada de permanência diante de Deus, quando aquele que ora está totalmente concentrado dentro do seu coração e mentalmente contempla Deus, presente para ele, dentro dele. Ao mesmo tempo ele experimenta os sentimentos que correspondem a tal estado: temor de Deus e reverente admiração por Ele em toda sua grandeza; fé e esperança, amor e entrega a Sua vontade; contrição e prontidão para qualquer sacrifício. Tal estado vem àquele que está profundamente absorvido na usual prece da palavra, mente, e coração. Aquele que assim ora por um longo tempo e no modo apropriado irá desfrutar de tal estado mais e mais freqüentemente até que ele finalmente possa se tornar permanente: então pode-se chamá-lo de caminhada diante de Deus, e isto se constitui como a oração incessante. S. David estava neste estado quando ele deu testemunho de si próprio: “Tenho sempre o Senhor na minha presença; com ele à minha direita, não vacilarei” (Sl. xvi. 8)



TEÓFAN, O RECLUSO



I have set the Lord always before me (p.85)



By the grace of God there comes a prayer of the heart alone, spiritual prayer, quickened in the heart by the Holy Spirit. He who prays is conscious of it, although it is not he who makes the prayer, for it goes on within him by itself. Such prayer is the attribute of the perfect. But the prayer which is accessible to everyone and which is required from all, is prayer in which thought and feeling are always united with the words.

There is also another kind of prayer, which is called standing before God, when he who prays is wholly concentrated within his heart and mentally contemplates God, present to him and within him. At the same time he experiences the feelings corresponding to such a state—fear of God and worshipful admiration of Him in all his greatness; faith and hope; love and surrender to His will; contrition and readiness for every sacrifice. Such a state comes to one deeply absorbed in ordinary prayer of word, mind, and heart. He who prays thus for a long time and in the proper way will enjoy such a state more and more frequently until it may finally become permanent: then it can be called walking before God, and it constitutes unceasing prayer. St. David was in this state when he testified of himself: "I have set the Lord always before me; for he is on my right hand, therefore I shall not be shaken' (Ps. xv. 8. Sept.).



THEOPHAN THE RECLUSE



A oração que repete a si mesma



Freqüentemente acontece que nenhuma atividade interna ocorre numa pessoa durante o cumprimento dos seus deveres externos, de modo que sua vida permanece sem alma. Como podemos evitar isto? Em cada um dos nossos deveres um coração temeroso a Deus deve ser acrescentado, um coração constantemente permeado pelo pensamento de Deus; e esta será a porta através da qual a alma entrará na vida ativa. Todos os esforços devem ser dirigidos ao pensamento incessante de Deus, através da constante ciência de Sua presença: “Buscai o Senhor... Buscai sempre sua face” (Sl. cv. 4) É sobre esta base que a sobriedade e a oração interna repousam.

Deus está em todo lugar: cuide que seus pensamentos também estejam sempre com Deus. Como isto pode ser feito? Os pensamentos atropelam-se uns aos outros como um enxame de mosquitos, e as emoções seguem os pensamentos. Para fazer com que os pensamentos se mantivessem em uma única coisa, os Padres acostumaram-se à repetição continua de uma curta prece, e, através deste hábito de continua repetição, esta pequena prece unia-se à língua de tal modo que repetia a si mesma por conta própria. Desta maneira o pensamento deles unia-se à oração e, através da oração, à constante lembrança de Deus. Uma vez que este hábito tenha sido adquirido, a oração nos sustenta na lembrança de Deus, e a lembrança de Deus nos sustenta na oração; elas mutuamente apóiam-se uma a outra. Aqui, então, está um modo para caminhar diante de Deus.

A oração interna começa quando estabelecemos nossa atenção no coração, e do coração oferecemos a oração a Deus. A atividade espiritual se inicia quando permanecemos com atenção no coração na recordação do Senhor, rejeitando todos os outros pensamentos que tentam entrar.



TEÓFAN, O RECLUSO



Prayer that repeats itself (p.85)



It often happens that no inner activity occupies a person during the fulfilment of outward duties, so that his life remains soulless. How can we avoid this? Into every duty a God-fearing heart must be put, a heart constantly permeated by the thought of God; and this will be the door through which the soul will enter into active life. All endeavour must be directed towards the ceaseless thought of God, towards the constant awareness of His presence: 'Seek the Lord . . . Seek his face constantly' (Ps. civ. 4. Sept.) It is on this basis that sobriety and inner prayer rest.

God is everywhere: see that your thoughts too are always with God. How can this be done? Thoughts jostle one another like swarming gnats, and emotions follow on the thoughts. In order to make their thought hold to one thing, the Fathers used to accustom themselves to the continual repetition of a short prayer, and from this habit of constant repetition this small prayer clung to the tongue in such a way that it repeated itself of its own accord. In this manner their thought clung to the prayer and, through the prayer, to the constant remembrance of God. Once this habit has been acquired, the prayer holds us in the remembrance of God, and the remembrance of God holds us in prayer; they mutually support each other. Here, then, is a way of walking before God.

Inner prayer begins when we establish our attention in the heart, and from the heart offer prayer to God. Spiritual activity starts when we stand with attention in the heart in recollection of the Lord, rejecting every other thought that tries to enter in.



THEOPHAN THE RECLUSE



Oh meu Deus, que severidade há aqui.



A principal regra monástica é permanecer constantemente com Deus na mente e no coração, isto é, orar incessantemente. Para manter esta tarefa iluminada e quente, definidas preces são criadas – o ciclo de serviços diários executados na igreja, e certas regras de oração para a cela. Mas a coisa principal é possuir um constante sentimento por Deus. É este sentimento que nos dá poder na vida espiritual, mantendo nosso coração quente. É este sentimento que se constitui como nossa regra. Tanto quanto este sentimento está lá, todas outras regras são substituídas por ele. Se ele está ausente, nenhuma quantidade de enérgicas leituras pode substituí-lo. As orações se destinam a alimentar este sentimento, e se elas fracassam em fazê-lo elas não são de nenhuma utilidade: elas são apenas trabalho que não produz fruto – como uma vestimenta exterior sem nenhum corpo dentro ou como um corpo que não tem alma. Oh meu Deus, que severidade há aqui! Mas não é possível descrever as coisas exceto como elas são.



TEÓFAN, O RECLUSO



O my God, what severity is here (p.86)



The principal monastic rule is to remain constantly with God in mind and heart, that is, to pray unceasingly. To keep this endeavour alight and warm, definite prayers are laid down—the cycle of daily services performed in church, and certain rules of prayer for the cell. But the chief thing is to possess a constant feeling for God. It is this feeling that gives us power in the spiritual life, keeping our heart warm. It is this feeling that constitutes our rule. So long as this feeling is there, all other rules are replaced by it. If it is absent, no amount of strenuous reading can take its place. Prayers are meant to feed this feeling, and if they fail to do so they are no use: they are only labour that bears no fruit—like an outer garment with no body inside or like a body that has no soul. O my God, what severity is here! But one cannot describe things except as they are.



THEOPHAN THE RECLUSE



Um mandamento dirigido a todos



Que ninguém pense, meus caros Cristãos, que somente padres e monges precisam orar sem cessar, e não os homens leigos. Não, não: todo Cristão sem exceção deve permanecer sempre em oração. Gregório o Teólogo ensina a todos os Cristãos que o Nome de Deus deve ser lembrado em oração tão freqüentemente quanto se respira.

Quando o Apóstolo nos ordena a “Orar sem cessar” (I Tess. v. 17), ele quer dizer que devemos orar internamente com nossa mente: e isto é algo que sempre podemos fazer. Pois, quando estamos envolvidos no trabalho manual e quando caminhamos ou sentamos, quando comemos ou bebemos, sempre podemos orar internamente e praticar a oração da mente, oração real, que agrada a Deus. Vamos trabalhar com nosso corpo e orar com nossa alma. Deixe o nosso homem exterior executar o trabalho físico, e deixe o homem interior consagrar-se inteira e completamente ao serviço de Deus e nunca esmorecer no trabalho espiritual da oração interna. Isto também é ordenado por Jesus, o homem-Deus, quando Ele diz nos Evangelhos: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora a teu Pai que está lá, no segredo.” (Mat. vi. 6). O quarto da alma é o corpo, as portas são os cinco sentidos corporais. A alma entra em seu quarto quando a mente não divaga aqui e ali sobre coisas mundanas, mas permanece dentro do nosso coração. Nossos sentidos se fecham, e assim permanecem, quando não permitimos que eles se prendam a coisas visíveis e externas; e desta maneira nossa mente fica livre de todos os seus apegos mundanos, e através da sua oração secreta e interna fica unida com Deus nosso Pai.



Atribuído a S. GREGÓRIO PALAMAS



A command addressed to all (p.87)



Let no-one think, my fellow Christians, that only priests and monks need to pray without ceasing, and not laymen. No, no: every Christian without exception ought to dwell always in prayer. Gregory the Theologian teaches all Christians that the Name of God must be remembered in prayer as often as one draws breath.

When the Apostle commanded us to 'Pray without ceasing" (I Thess. v. 17), he meant that we must pray inwardly with our mind: and this is something that we can do always. For when we are engaged in manual labour and when we walk or sit down, when we eat or when we drink, we can always pray inwardly and practise prayer of the mind, true prayer, pleasing to God. Let us work with our body and pray with our soul. Let our outer man perform physical work, and let the inner man be consecrated wholly and completely to the service of God and never flag in the spiritual work of inner prayer. This is also commanded by Jesus, the God-man, when He says in the Holy Gospel: 'But thou, when thou prayest, enter into thy closet, and when thou hast shut thy door, pray to thy Father which is in secret' (Matt, vi. 6). The closet of the soul is the body, the doors are the five bodily senses. The soul enters its closet when the mind does not wander hither and thither over worldly things, but remains within our heart. Our senses are closed and remain so, when we do not allow them to cling to outward and visible things; and in this way our mind remains free from all worldly attachment, and by its secret and inward prayer is united with God our Father.



Attributed to ST. GREGORY PALAMAS




S. Basílio, o Grande (c. 330-79), Arcebispo de Cesareia na Capadócia (Ásia Menor). Amigo de S. Gregóro o Teólogo, um irmão mais velho de S. Gregório de Nissa: estes três juntos eram conhecidos como os Padres Capadocianos, e seus escritos exerceram uma influência formativa sobre a teologia Ortodoxa.


S. Gregório o Teólogo, geralmente conhecido no ocidente como Gregório de Naztanzus (319-389): um dos três Padres Capadocianos. Como Bispo de Constantinopla, ele presidiu o segundo Conselho Ecumênico, ocorrido naquela cidade em 381. Um orador brilhante, ele é especialmente lembrado por seus sermões e homílias.

Teólogo no movimento Hesicasta. Sua doutrina de oração e ensinamento com respeito a Luz Divina foi duramente atacado durante sua vida, mas foram confirmados pelos dois Conselhos (Constantinopla: 1341, 1351) e assim veio a ser aceito pela Igreja Ortodoxa como um todo.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O mais importante trabalho que um lutador espiritual pode fazer é entrar dentro do coração e ali lutar contra Satanás; odiar e repelir os pensamentos que ele inspira e travar uma guerra contra ele.
S. MACÁRIO DO EGITO

A ARTE DA PRECE

Uma Antologia Ortodoxa

compilada pelo

Hegúmeno Chariton de Valamo

Caro Amigo,

Sempre é tempo de passarmos do estudo à ação, da leitura à prática real; tanto na nossa dimensão interna como na externa.

A ação e a prática real, empreendidas com sinceridade, simplesmente revelam o quanto ainda nos enganamos procurando um responsável externo para as nossas aflições e problemas.

Os Santos Padres definem isso com o termo 'prelest' que significa: ilusão. O Bispo Ignatii diz que 'prelest' é a corrupção da natureza humana através da aceitação, pelo homem, de miragens tomadas como verdade. Estar em 'prelest' é estar em um estado de engano e ilusão, aceitando um erro como realidade.

Um verdadeiro lutador espiritual não possui inimigos externos porque localizou e dissolveu, em si, a fonte de toda a miséria humana.

Por esse motivo, a partir desta semana, daremos seqüência à nossa jornada com o capítulo VI de 'A Arte da Prece': A Guerra com as Paixões.

De fato, a partir desse momento iremos intercalar os capítulos III e IV, respectivamente, "A Oração de Jesus" e "Os Frutos da Prece"; com todo o material do capítulo VI que ora é apresentado no arquivo anexo em seu primeiro ítem.

Assim, ao mesmo tempo em que mantemos nossa leitura e prática naquilo que nos aproxima de nós mesmos e, conseqüentemente, de Deus, isto é: a oração; começaremos a leitura e o estudo sobre aquilo que nos afasta de nós mesmos e de Deus, isto é: as paixões.

O primeiro ítem desse capítulo é extenso e merece ser lido e relido com calma e paciência. O exercício de conectar o conteúdo dos textos com as imagens selecionadas e postas no início de cada um deles pode auxiliar você, caso seja necessário, no processo de plena assimilação - não só intelectual mas também emocional - deste precioso conhecimento que nos foi deixado pelos Santos Padres.

Segue abaixo mais uma pequena seleção de: 'A Guerra com as Paixões'.

Que seja tão útil a você como tem sido a mim.

Agradeço pela sua calorosa atenção.

Boa leitura.

Abraços, Luiz




 Santa Maria e Menino Jesus – Caravaggio - 1606





Guerra da mente e guerra da ação

A guerra com as paixões que de nós é requerida é, essencialmente, uma guerra da mente. Somos bem sucedidos nela ao negar todo sustento às paixões, matando-as de fome. Mas há também a guerra da ação, que consiste em empreender e executar aquilo que é diametralmente oposto às nossas paixões. Por exemplo, para conquistar a avareza deveríamos doar dinheiro livremente; para lutar contra o orgulho deveríamos escolher algumas ocupações degradantes; para superar o desejo por divertimentos deveríamos ficar em casa, e assim por diante. É verdade que este método, utilizado por si mesmo, não conduz diretamente à meta; pois quando reprimida a paixão força o caminho interiormente, ou se retira só para dar lugar a outra paixão. Mas quando este esforço ativo é unido com aquele interior, os dois juntos tornam-se rapidamente capazes de superar qualquer espécie de ataque apaixonado.

TEÓFAN, O RECLUSO



Guerra interna e oposição ativa


Se a guerra é conduzida somente internamente ela expulsa a paixão da consciência do homem; mas a paixão ainda permanece viva, embora não em evidência. Mas uma oposição ativa apunhala esta serpente diretamente na cabeça. Isto não significa que a guerra interna deva ser abandonada. Deve permanecer constante; de outro modo todo o esforço pode não produzir fruto e nossa inclinação em direção as paixões pode até crescer ao invés de decrescer. Se abandonarmos a guerra interior, veremos que, na medida em que lutamos com uma paixão, uma outra chega e nos fere. Por exemplo: expelimos a gula através do jejum, e então a vaidade ocupa o lugar. Se falharmos em dar a devida atenção à guerra interna, nenhum esforço, por mais extenuante, produzirá qualquer fruto. Guerra interna acoplada com oposição ativa às paixões ataca tanto de dentro como de fora, e assim as destrói tão rapidamente quanto um exército inimigo é destruído quando cercado e atacado pela frente e pela retaguarda.
TEÓFAN, O RECLUSO









Impureza e inocência


Tome como regra nunca, voluntariamente, encorajar qualquer pensamento, sentimento ou desejo apaixonado; mas afastá-los com aversão no momento em que você os notar. Então, você sempre estará inocente diante de Deus e de sua consciência. Você ainda terá a impureza das paixões em si, mas você também terá a inocência.
TEÓFAN, O RECLUSO






terça-feira, 26 de outubro de 2010

A Arte da Prece - Uma Antologia Ortodoxa. (Capítulo VI - i) Guerra com as paixões.



CAPÍTULO VI

GUERRA COM AS PAIXÕES



(i) GUERRA COM AS PAIXÕES de vários autores



Um remédio que cura todas as paixões



Devemos saber que a constante invocação do Nome de Deus é um remédio que cura não somente todas as paixões mas também seus efeitos. Como um médico aplica um curativo ou uma pomada na ferida do paciente, e eles produzem efeito embora o paciente ele próprio não saiba como isto acontece, assim o Nome de Deus, quando invocado, mata todas as paixões, embora não saibamos como.

S. BARSANÓFIOS E JOÃO



A medicine which cures all the passions (p.199)



We must know that the constant invocation of the Name of God is a medicine which cures not only all the passions but also their effects. As a physician applies a cure or a poultice to the patient's wound, and these take effect though the patient himself does not know how this happens, so the Name of God when invoked kills all passions, although we do not know how.

STS. BARSANOUPHIOS AND JOHN







Foge para o refúgio no Nome



Meu irmão, as paixões são aflições; e assim o Senhor não nos excomunga por causa delas, mas ele diz: “invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” (Sl. l 15.) Portanto, quando assaltado por qualquer tipo de paixão, não há nada mais útil do que invocar o Nome de Deus. Tudo o que podemos fazer, fraco como somos, é fugir para o refúgio no Nome de Jesus. Pois as paixões, sendo demônios, recuam se este Nome é invocado.

STS. BARSANOUPHIOS AND JOHN



Flee for refuge to the Name (p.199)



My brother, the passions are afflictions; and so the Lord does not excommunicate us because of them, but He says: 'Call upon me in the time of affliction; and I will deliver thee, and thou shalt glorify me' (Ps. xlix. 15. Sept.). Therefore, when beset by any kind of passion, there is nothing more useful than to call upon the Name of God. All we can do, weak as we are, is to flee for refuge to the Name of Jesus. For the passions, being demons, retreat if this Name is invoked.

STS. BARSANOUPHIOS AND JOHN





Os quatro degraus da escada



Lembre-se do sábio ensinamento de S. João da Escada. Ele descreve o caminho da nossa ascensão a Deus na forma de uma escada com quatro degraus. Algumas pessoas, diz ele, domam suas paixões; outras cantam, isto é, oram com seus lábios; um terceiro grupo pratica a oração interior; finalmente um quarto eleva-se para ter visões. Aqueles que querem subir por estes quatro degraus não podem começar do topo, mas devem começar de baixo; eles devem pisar no primeiro degrau e subir ao segundo, então ao terceiro, e finalmente ao quarto. Por esta escada todos podem subir ao céu. Primeiro você deve trabalhar em domar e reduzir as paixões; então praticar a salmodia – em outras palavras, obter o hábito da prece oral; depois disto, praticar a oração interior; e assim, por ultimo, alcançar a fase na qual é possível ascender a visões. O primeiro degrau é o trabalho do noviço; o Segundo é o trabalho daqueles que estão progredindo; o terceiro, daqueles que progrediram ao final; e o quarto é reservado para aqueles que obtiveram perfeição.

TEÓFAN, O RECLUSO



The four steps of the ladder (p.200)



Remember the wise teaching of St. John of the Ladder. He describes the way of our ascension to God in the form of a ladder with four steps. Some people, he says, tame their passions; others sing, that is, pray with their lips; the third practise inner prayer; finally the fourth rise to seeing visions. Those who want to ascend these four steps cannot begin from the top, but must start from the bottom; they must step onto the first rung and so ascend to the second, then to the third, and finally to the fourth. By this ladder everyone can ascend to heaven. First you must work on taming and reducing passions; then practise psalmody—in other words, attain the habit of oral prayer; after this, practise inner prayer; and so at last reach the step from which it is possible to ascend to visions. The first is the work of the novice; the sec¬ond is the work of those who are progressing; the third, of those who have progressed to the end; and the fourth is reserved for those who have achieved perfection.

THEOPHAN THE RECLUSE



Somente um modo de começar – domando as paixões



Há apenas um modo de começar: e é através do domínio das paixões. Estas não podem ser trazidas sob o controle da alma exceto através da guarda do coração e pela atenção. Aqueles, portanto, que passam através de todos estes estágios na devida ordem, cada um no seu próprio tempo, podem, quando o coração é purificado das paixões, devotar a si próprios inteira e plenamente à salmodia, e lutar contra os pensamentos; e eles podem olhar para o céu com seus olhos físicos ou contemplá-lo com os olhos espirituais da alma, orando corretamente com pureza e verdade.

TEÓFAN, O RECLUSO



Only one way to begin—by taming the passions (p.200)



There is only one way to begin: and that is by taming passions. These cannot be brought under control in the soul except by guarding the heart and by attention. Those, therefore, who pass through all these stages in due order, each in its own time, can, when the heart is cleansed from passions, devote themselves entirely and wholly to psalmody, and to fighting against thoughts; and they can look up towards heaven with their physical eyes or contemplate it with the spiritual eyes of the soul, praying aright in purity and truth.

THEOPHAN THE RECLUSE



Os três gigantes espirituais



Se você deseja obter vitória sobre as paixões, entre dentro de si mesmo através da oração e da ajuda de Deus; então descenda às profundezas do seu coração e lá rastreie estes três poderosos gigantes – esquecimento, preguiça, e ignorância. São estes três que animam as fileiras dos nossos adversários espirituais: sustentadas por estes três, todas as outras paixões, retornando ao coração, agem, vivem, e ganham força nas almas auto-indulgentes e desinstruídas. Mas se através de grande atenção e persistência da mente, e com ajuda do alto, você encontrar aqueles gigantes maus que passam despercebidos a muitos, você poderá facilmente afastá-los com as armas da justiça – com a lembança do que é bom, com a ânsia que impulsiona a alma a salvação, e com o conhecimento que vem do céu.

S. MARCO, O MONGE



The three spiritual giants (p.200)



If you wish to gain victory over the passions, enter within yourself through prayer and God's help; then descend into the depths of your heart and there track down these three powerful giants—forgetfulness, laziness, and ignorance. It is these three who uphold the ranks of our spiritual adversaries: supported by these three, all the other passions, returning to the heart, act, live, and gain strength in self-indulgent and uninstructed souls. But if by means of great attention and persistence of mind, and with help from above, you find those evil giants that are unbeknown to many, you will easily drive them away with the weapons of righteousness—with the remembrance of what is good, with the eagerness that spurs the soul to salvation, and with knowledge from heaven.

ST. MARK THE MONK





Ladrões espirituais



Assim como ladrões não atacam despreocupadamente um lugar onde eles vêem armas reais armadas contra eles, assim aquele que enxertou a oração em seu coração não é facilmente assaltados pelos ladrões da mente.

S. MARCO, O MONGE

Spiritual thieves (p.201)



Just as thieves do not lightly attack a place where they see royal weapons prepared against them, so he who has grafted prayer into his heart is not easily robbed by the thieves of the mind.

ST. MARK THE MONK







Combatendo Satanás no coração



O mais importante trabalho que um lutador spiritual pode fazer é entrar dentro do coração e ali lutar contra Satanás; odiar e repelir os pensamentos que ele inspira e travar uma guerra contra ele.

S. MACÁRIO DO EGITO



Fighting Satan in the heart (p.201)



The most important work that a spiritual wrestler can do, is to enter within the heart, there to fight Satan; to hate and repel the thoughts that he inspires and to wage war upon him.

ST. MAKARIOS OF EGYPT



Exílio e restauração



Depois de render ao homem um exílio do Paraíso, através de sua falta, de modo a excomungá-lo de Deus, o diabo com seus demônios obtiveram acesso ao poder de raciocínio de todo homem, de modo a agitá-lo mentalmente dia e noite, em algumas pessoas mais, em outras menos, e em outras ainda, num grau muito grande. E a única maneira de proteger-se do diabo é pela constante lembrança de Deus: esta lembrança deve ser impressa no coração pelo poder da Cruz, de modo a tornar a mente firme e inabalável. Esta é a meta para a qual todos os nossos esforços na vida espiritual interior estão direcionados. Todo Cristão é chamado a seguir este caminho, e se ele viaja, ao invés, em outra direção, ele se esforça em vão. Qualquer homem que tem Deus dentro de si também se submete a toda variedade de exercícios espirituais com este mesmo propósito em vista: através de voluntária abnegação de si próprio ele empenha-se a invocar a graça de Deus todo misericordioso, de modo que Deus possa restaurar nele sua condição anterior, firmando a marca de Cristo em sua mente: como disse o Apóstolo: “Meus filhos, por quem sofro de novo as dores do parto, até que Cristo seja formado em vós” (Gál. iv. 19).

S. SIMEÃO, O NOVO TEÓLOGO



Exile and restoration (p. 201)



After rendering man an exile from Paradise, through his trespass, and so excommunicating him from God, the devil with his demons acquired access to the reasoning power of every man, so as to sway it mentally by day and night, in some people more, in others less, and in yet others, to a very great degree. And the only way to protect oneself against the devil is by constant remembrance of God: this remembrance must be imprinted in the heart by the power of the Cross, thus rendering the mind firm and unyielding. This is the aim at which all our efforts in the inner spiritual life are directed. Every Christian is called to follow this path, and if he travels instead in another direction, he strives in vain. Any man who has God within him also undertakes all the varied spiritual exercises with this same purpose in view: by means of voluntary self-denial he strives to call down the bounty of the all-merciful God, that God may restore to him his former status, setting the imprint of Christ in his mind; as the Apostle says: 'My little children, of whom I travail in birth again until Christ be formed in you' (Gal. iv. 19).

ST. SIMEON THE NEW THEOLOGIAN



A proteção das virtudes



Aquele que está sempre em casa dentro de seu coração é um estranho para todos os prazeres desta vida. Ele caminha no Espírito, e assim nada sabe das luxúrias da carne. Todos os estratagemas dos demônios contra tal homem permanecem inefetivos, pois ele faz seu caminho sob a proteção das virtudes, que ficam como guardiões fazendo a vigília sobre a cidade da pureza.



ST. DIADOCHOS OF PHOTIKE



The protection of the virtues (p. 202)



He who is always at home within his own heart is a stranger to all the pleasures of this life. He walks in the Spirit, and so knows nothing of the lusts of the flesh. All the wiles of the demons against such a man remain ineffective, for he makes his way under the protection of the virtues, which stand as gatekeepers keep¬ing guard over the city of purity.



ST. DIADOCHOS OF PHOTIKE



Separação de Deus e suas conseqüências



Se nosso espírito tivesse que separar-se de Deus, então o poder de autodeterminação, dado ao homem por Deus, também seria retirado de nós. Então, um homem não poderia mais controlar seja as inclinações da alma, seja as necessidades do seu corpo, ou ainda os contatos externos. Então, ele ficaria despedaçado em fragmentos pelos desejos da sua alma, seu corpo, e pela vaidade da vida exterior, embora todas estas coisas no nível superficial pareçam contribuir para seu próprio prazer e felicidade. Compare estes dois estados de vida e você verá que no primeiro, o homem vive plenamente dentro de si diante de Deus, e que no segundo o homem está inteiramente fora de si, esquecendo-se de Deus. Este segundo estado de vida torna-se muito pior pela entrada das paixões que, enraizadas no ego, penetram por toda alma e corpo, e dão uma perversa direção a tudo que ali está, uma direção que não é construtiva mas destrutiva, levando um homem para longe do caminho do Espírito e do temor a Deus, postando-o contra sua consciência. Neste modo, o homem torna-se ainda mais superficial que antes.



TEÓFAN, O RECLUSO



Separation from God and its consequences (p.202)



If our spirit should sever itself from God, then the power of self-determination given to man by God will be also taken away from us. Then a man can no longer master either the inclinations of the soul, or the needs of his body, or outside contacts. Then he will be torn asunder by the desires of his soul and body and by the vanity of exterior life, although all these things on the superficial level seem to contribute to his own pleasure and happiness. Compare these two states of life and you will see that in the first, man lives wholly within himself before God, and that in the second man is wholly outside himself, forgetting God. This second state of life is made much worse by the entering in of passions which take root in the ego and pene¬trate all the soul and body, and give an evil direction to all that is there, a direction that is not constructive but destructive, turning a man away from the path of the Spirit and the fear of God, setting him against his conscience. In this way the man becomes still more superficial than before.



THEOPHAN THE RECLUSE



Impiedade e implacabilidade sobre nós mesmos



Ao dedicar-se a uma entrega de oração a Deus e Sua graça, desafie cada uma das coisas que incitam você a pecar e tente afastar seu coração delas, dirigindo-o para o lado oposto. Deste modo elas serão desenraizadas do seu coração e a violência delas irá diminuir. Nesta tarefa dê espaço livre para o seu poder de discernimento e conduza seu coração nesta vigília.

Esta luta contra as forças do mal é absolutamente essencial se quisermos quebrar com nossa própria inclinação. É necessário ir trabalhando em nós mesmos deste modo até que, ao invés de auto-piedade, nasça em nós uma impiedade e implacabilidade sobre nós mesmos, um desejo de sofrer, de torturar a nós mesmos, de cansar nossos corpos e almas. Isto deve continuar até que, ao invés de tentar agradar aos homens, formemos um sentimento de repulsão contra os maus hábitos e más associações – até que formemos uma resistência hostil e feroz contra elas, ao mesmo tempo em que nos submetemos a todas as injustiças e depreciações que os homens nos impõem. É necessário ir trabalhando até que nosso exclusivo apetite por coisas materiais, sensoriais, e visíveis desapareça completamente e seja substituído por um sentimento de desgosto por tais coisas; e, ao invés, comecemos a nos atrever a buscar somente por aquilo que é espiritual, puro, e divino. Em vez de limitação terrena – a limitação da vida e da felicidade exclusiva a esta terra – o coração vem a ser preenchido com uma sensação de não ser mais que um peregrino nesta terra, cujo todo desejo é pelo seu lar celestial.



TEÓFAN, O RECLUSO



Merciless and ruthless towards ourselves (p. 203)



Giving yourself in prayerful surrender to God and His grace, call out each of the things that incite you to sin and try to turn your heart away from them, directing it towards their opposite. In this way they will be uprooted from the heart and their violence will subside. In this task give free scope to your power of discernment and lead your heart in its wake.

This struggle against the forces of evil is absolutely essential if we are to break our own will. It is necessary to go on working on ourselves in this way until, instead of self-pity, there is born in us mercilessness and ruthlessness towards ourselves, a desire to suffer, to torture ourselves, to tire out our soul and body. This must be continued until, instead of trying to please men, we form a feeling of repulsion against all bad habits and connec¬tions—until we form a hostile and fierce resistance against them, at the same time submitting ourselves to all the wrongs and disparagements which men inflict upon us. It is necessary to go on working until our appetite exclusively for things material, sensory, and visible disappears completely, and is replaced by a feeling of disgust for such things; and instead we begin to durst and to search only for what is spiritual, pure, and divine. Instead of earthliness—the limitation of life and happiness solely to this earth—the heart comes to be filled with a sense of being but a pilgrim on earth, whose whole longing is for his heavenly home.

THEOPHAN THE RECLUSE





Eu me erguerei e seguirei adiante

Depois do despertar inicial através da graça, o primeiro passo pertence ao livre arbítrio do homem. Exercitando este livre arbítrio, ele viaja para dentro de si em três maneiras. Primeiro, sua vontade inclina-se para o bem e o escolhe. Segundo, ela remove obstáculos: para romper com os laços que o atam ao pecado, ela bane de seu coração a ato-piedade, o desejo de agradar aos homens, as inclinações em direção a coisas sensoriais e terrenas, e em seu lugar ela desperta a impetuosidade consigo mesmo, ausência de desejo por coisas dos sentidos, aceitação de todo tipo de desgraça. Ela o faz sentir que seu verdadeiro lar é o mundo que virá, enquanto que aqui ele é somente um viajante e exilado. Em terceiro, o livre arbítrio é inspirado a começar de uma vez por todas no caminho correto, não permitindo nenhuma auto-indulgência, e fazendo com que o homem mantenha-se constantemente em alerta.

Desta maneira tudo se acalma na alma. Estimulado pela graça, o homem livra-se de todos os grilhões, e com completa prontidão diz a si mesmo: Eu me erguerei e seguirei adiante.

A partir deste momento outro movimento inicia-se na alma – um movimento em direção a Deus. Tendo dominado a si mesmo pela compreensão dos motivos de todas as suas inclinações, ganhando assim liberdade interior, ele deve agora sacrificar-se inteiramente a Deus. No entanto, somente metade do trabalho foi, até aqui, realizado.



TEÓFAN, O RECLUSO





I will rise up and go forth (p.204)



After the initial awakening by grace, the first step belongs to man's free will. Exercising this free will, he journeys into himself in three ways. First, his will inclines towards good and chooses it. Secondly, it removes obstacles: in order to disrupt the ties which bind him to sin, it banishes from his heart self-pity, the desire to please men, the inclination towards things sensory and earthy, and in their stead it stirs up mercilessness to himself, absence of desire for things of the senses, acceptance of every kind of disgrace. It makes him feel that his true home lies in the world to come, whereas here he is but a wanderer and an exile. Thirdly, free will is inspired to start at once on the right path, permitting no self-indulgence, and making man hold himself constantly on the alert.

In this way everything calms down in the soul. Incited by grace, the man is freed from all shackles, and with complete readiness says to himself: I will rise up and go forth.

From this moment another movement starts in the soul—a movement towards God. Having mastered himself by understanding the motives of all his inclinations, thus regaining inner freedom, he must now sacrifice the whole of himself to God. Yet only half of the work has so far been achieved.

THEOPHAN THE RECLUSE



Nossa campanha contra as paixões



Do momento em que seu coração começa a pegar fogo com o calor divino sua transformação interna começará apropriadamente. Esta delicada chama irá, no tempo, consumir e derreter tudo dentro de você, ela começará e continuará a espiritualizar seu ser à plenitude. De fato, até que essa chama comece a queimar, não haverá espiritualização, a despeito de todos os seus esforços para obtê-la. Assim a criação de sua primeira centelha é tudo que importa no momento, para este fim certifique-se de dirigir todos os seus esforços. Mas você deve perceber que esta ignição não pode ocorrer em você enquanto as paixões ainda estão fortes e vigorosas, muito embora elas possam, de fato, não estarem sendo satisfeitas. As paixões são a humidade na lenha do seu ser, e madeira molhada não entra em combustão. Não há outra coisa a ser feita que não seja trazer madeira seca de fora e acendê-la, deixando que as suas chamas sequem a madeira molhada, até que esta, por sua vez, fique suficientemente seca para, lentamente, pegar fogo. E assim, pouco a pouco, a combustão da madeira seca dispersará a humidade e se espalhará, até que toda a madeira esteja envolta em chamas.

Todos os poderes da alma e as atividades do corpo são o combustível do nosso ser, mas na medida em que o homem não presta atenção a si mesmo tudo isto fica saturado e torna-se inefetivo pela empapada humidade das suas paixões. Até que as paixões sejam expulses, elas, obstinadamente, resistem ao fogo espiritual. As paixões penetram tanto na alma quanto no corpo, e subjugam até mesmo o próprio espírito do homem, sua consciência e liberdade; e desta maneira elas chegam a dominá-lo inteiramente. Como elas são aliadas com os demônios, através delas os demônios também dominam o homem, embora ele, falsamente, imagina que é seu próprio mestre.

Transmitido pela graça de Deus, o espírito é o primeiro a soltar a si mesmo destas correntes. Preenchido com o temor a Deus e sob a influência da graça, o espírito rompe com cada um dos elos com a paixão, e arrependendo-se do passado, decide firmemente, daqui por diante, agradar só a Deus em todas as coisas, viver somente para Ele, caminhar de acordo com Seus mandamentos. Com a ajuda da graça de Deus, o espírito é capaz de permanecer firme nesta decisão, banindo as paixões da alma e do corpo, e espiritualizando tudo dentro de si.

E agora em você também, o espírito libertou-se dos vínculos que o mantinham preso. Você está de pé ao lado de Deus, conscientemente e por deliberada escolha. Seu desejo é pertencer a Deus e só a Ele agradar, e isto é a escora da sua atividade espiritual. Mas enquanto o seu espírito foi reestabelecido em sua correta liberdade, a alma e o corpo ainda estão sob a agitação das paixões e delas sofrem violências. Você tem que, agora, armar-se contra as suas paixões e conquistá-las. Expulse-as da sua alma e do seu corpo. Esta luta contra as paixões é inevitável, pois elas não vão ceder de bom grado a posse ilegal delas sobre o nosso ser.

A recordação de Deus é a vida do espírito. Ela excita o seu zelo em agradar a Deus, e torna inabalável sua decisão de pertencer a Ele. É, eu repito, a escora da vida espiritual; e é, eu adicionaria, a base para a sua campanha contra toda paixão que invade o coração.

TEÓFAN, O RECLUSO



Our campaign against the passions (p.204)



From the moment when your heart starts to be kindled with divine warmth your inner transformation will properly begin. This slight flame will in time consume and melt everything within you, it will begin and continue to spiritualize your being to the full. Indeed, until this flame starts to burn, there will be no spiritualization, in spite of all your strivings to achieve it. Thus the engendering of its first flicker is all that matters at this moment, and to this end be sure to direct all your efforts. But you must realize that this kindling cannot take place in you while the passions are still strong and vigorous, even though they may not in fact be indulged. Passions are the dampness in the fuel of your being, and damp wood does not burn. There is nothing else to be done except to bring in dry wood from outside and light this, allowing the flames from it to dry out the damp wood, until this in its turn is dry enough to begin slowly o catch alight. And so little by little the burning of the dry wood will disperse the dampness and will spread, until all the wood is enveloped in flames.

All the powers of the soul and activities of the body are the fuel of our being, but so long as man does not pay heed to himself these are all saturated and rendered ineffective by the soggy dampness of his passions. Until the passions are driven out, they obstinately resist spiritual fire. Passions penetrate into both the soul and the body, and overpower even man's spirit itself, his consciousness and freedom; and in this manner they come to dominate him entirely. As they are in league with devils, through them the devils also dominate man, although he falsely imagines that he is his own master.

Delivered by the grace of God, the spirit is the first to tear itself out of these fetters. Filled with the fear of God and under the influence of grace, the spirit breaks every bond with passion, and repenting of the past, firmly resolves henceforward to please God alone in everything, to live only for Him, to walk according to His commandments. With the help of the grace of God, the spirit is able to stand firm in this resolution, banishing passions from the soul and body, and spiritualizing all within itself.

And now in you too, the spirit has been liberated from the bonds which held it. You are standing on the side of God, con¬sciously and by deliberate choice. Your desire is to belong to God and to please Him alone, and this is the mainstay of your spiritual activity. But while your spirit has been re-established in its rightful freedom, the soul and body are still under the sway of passions and suffer violence from them. You have now to arm yourself against your passions and to conquer them. Drive them out of your soul and body. This struggle against the passions is unavoidable, for they will not willingly yield up their illegal possession of your being.

Recollection of God is the life of the spirit. It fires your zeal to please God, and makes unshakeable your decision to belong to Him. It is, I repeat, the mainstay of the spiritual life; and it is, I will add, the base for your campaign against every passion that invades the heart.

THEOPHAN THE RECLUSE





Como o inimigo nos ataca através de outras pessoas



Derrotado no próprio coração, o inimigo tem seus próprios métodos de nos atacar através de influências externas. Vou evidenciar os casos principais. Suponha que alguém, tendo aprendido a sabedoria, não permiti a si mesmo ser minimamente agitado por pensamentos ou impulsos que possuem a aparência de estarem corretos, mas imediatamente os corta, seguindo ou seu próprio poder de discernimento ou o conselho de homens experimentados, e age desta maneira com tal resolução que parece não haver nenhuma possibilidade de surpreendê-lo por este método: o inimigo, então, deixa de lado esta estratégia, e começa a agir vindo do lado de fora através de pessoas que pode usar. Então chegam saudações aduladoras, calúnias, perseguições e desagrados de todos os tipos. É para isto que você deve manter ambos os olhos abertos, algo que você deve antever e entender. Evitar isto completamente não está em nosso poder, mas está em nosso poder ser mais inteligente do que o inimigo. A coisa principal é suportar tudo enquanto ainda se preserva inviolado, em nossos corações, um sentimento de amor e paz. Nosso protetor é o Senhor. Deveríamos suplicar a Ele para trazer paz aos nossos corações e, se isto é Sua vontade, endireitar também as coisas externas. Da nossa parte não devemos nos esquecer de onde vem a tempestade e por quem ela é provocada, nem devemos dirigir nosso sentimento de hostilidade para as pessoas, mas para aquele que, estando por detrás, as encoraja e coordena todo o caso.

TEÓFAN, O RECLUSO



How the enemy attacks us through other people (p.206)



Defeated in the heart itself, the enemy has his own methods of attacking us through external influences. I shall point out the chief instances. Suppose that someone, having learnt wisdom, does not allow himself to be lightly swayed-by thoughts and im¬pulses which have the appearance of being right, but immediately cuts them off, following either his own power of discernment or the advice of more experienced men, and acts in this way with such resolution that there seems to be no possibility of catching him by this method: the enemy then drops this trick, and begins to act from the outside through people he can use. Then come flattering compliments, calumnies, persecutions and unpleasantnesses of all kinds. It is for this that you must keep both eyes open, this that you must foresee and understand. To prevent this alto¬gether does not lie in our power, but it does lie in our power to be more intelligent than the enemy. The chief thing is to endure everything while still preserving, unbroken in our hearts, a sense of love and peace. Our helper is the Lord. We should beg Him to bring peace to our heart and, if this is His will, to put external things right as well. On our part we must not forget where the storm comes from and by whom it is raised, nor should we direct our feeling of enmity towards people, but towards him who, standing behind, encourages them and directs the whole affair.

THEOPHAN THE RECLUSE





Como preservar dentro de você a paz de Deus



Se você sentiu que sua mente chegou a ser uma com a alma e o corpo, que você não está mais cortado em pedaços pelo pecado, mas tornou-se algo unificado e pleno, que a bendita paz de Cristo está respirando em você, então cuide deste presente de Deus com todo cuidado possível. Faça com que a oração e a leitura de livros religiosos sejam sua principal ocupação; dê aos outros trabalhos apenas uma importância secundária, seja frio em relação a atividades mundanas, e se possível afaste-se de todas elas. A paz sagrada, refinada como a respiração do Espírito Sagrado, é imediatamente removida da alma que se comporta com descuido em sua presença; a alma, que carece de reverência, prova deslealdade saciando-se no pecado, e permite-se crescer negligente. Junto com a paz de Cristo, a oração com a graça-concedida é igualmente removida da alma indolente: então as paixões a invadem como bestas famintas, e começam a atormentar a vítima que se entregou a elas, deixada a si própria por Deus que se afastou dela. Se você abarrotar-se com comida, ou mais ainda com bebida, a paz de Deus cessará de agir em você. Se você ficar com raiva, perderá está paz por muito tempo. Se permitir tornar-se irreverente, o Espírito Santo não mais trabalhará dentro de você. Se começar a amar algo mundano, se ficar contaminado por um apaixonado apego por certo objeto ou conhecimento, ou por certa especial ligação com alguma pessoa, a paz sagrada certamente será removida de você. Se permitir-se ter prazer em pensamentos impuros, a paz o deixará por um longo tempo, porque ela não tolera o cheiro fétido do pecado – e especialmente dos pecados da luxúria e da vaidade. Você procurará por esta paz e não a encontrará; chorará a sua perda; mas ela não prestará atenção às suas lágrimas, para que você possa aprender a dar o devido valor ao presente divino, e protegê-lo com cuidado e reverência apropriados.

Odeie tudo aquilo que lhe derrube na distração ou no pecado. Crucifixe a si mesmo na cruz dos mandamentos Evangélicos; mantenha-se sempre pregado nela. Rejeite todos os pensamentos e desejos pecaminosos com coragem e vigilância; jogue fora cuidados mundanos; tente viver o Evangelho através da diligente prática de todos os seus mandamentos. Quando orar, crucifixe a si mesmo, ainda uma vez, na cruz da prece. Ponha de lado todas as memórias que possam surgir durante a prece, por mais importantes sejam. Não teologize, não seja levado longe ao seguir idéias originais, brilhantes e poderosas que, repentinamente, possam ocorrer a você. Silêncio sagrado, que é induzido na mente no momento da oração pelo sentido da grandeza de Deus, fala de Deus mais profundamente e mais eloqüentemente que quaisquer palavras humanas. “Se orar verdadeiramente” dizem os Padre, “você é um teólogo.”

BISPO IGNATII



How to preserve within you the peace of God (p.207)



If you have felt that your mind has come to be at one with the soul and body, that you are no longer cut into pieces by sin but are something unified and whole, that the hallowed peace of Christ is breathing in you, then watch over this gift of God with all possible care. Let prayer and the reading of religious books be your principal occupation; give to other works only a secondary importance, be cold towards earthly activities, and if possible eschew them altogether. Sacred peace, fine as the breath of the Holy Spirit, immediately withdraws from the soul which behaves carelessly in its presence; the soul which lacks reverence, proves disloyal by indulging in sin, and permits itself to grow negligent. Together with the peace of Christ, grace-given prayer withdraws likewise from the unworthy soul: then the passions invade it like hungry beasts, and begin to torment the victim who has given himself to them, and who has been left to himself by God, who has withdrawn from him. If you become surfeited with food, or still more with drink, the peace of God will cease to act in you. If you are angry, you will lose this peace for a long while. If you allow yourself to become irreverent, the Holy Spirit will no longer work within you. If you begin to love something earthly, if you become infected by a passionate attachment to some object or skill, or by a special liking for some person, holy peace will certainly withdraw from you. If you allow yourself to take pleasure in impure thoughts, peace will leave you for a long time, because it does not tolerate the evil stench of sin—and especially the sins of lust and vanity. You will seek this peace and find it not; you will weep for its loss; but it will pay no attention to your tears, that so you may learn to give due value to the divine gift, and to guard it with proper care and reverence.

Hate everything that draws you down into distraction or sin. Crucify yourself on the cross of the Gospel commandments; keep yourself always nailed to it. Rebuff all sinful thoughts and wishes with courage and vigilance; cast away earthly cares; try to live the Gospel by zealously fulfilling all its commandments. When you pray, once more crucify yourself on the cross of prayer. Push aside all the memories, however important they may be, which come to you during prayer: ignore every one of them. Do not theologize, do not be carried away by following up brilliant, original, and powerful ideas which suddenly occur to you. Sacred silence, which is induced in the mind at the time of prayer by a sense of God's greatness, speaks of God more profoundly and more eloquently than any human words. 'If you pray truly,' said the Fathers, 'you are a theologian.'

BISHOP IGNATII



Os perigos da saciedade.

Fuja da saciedade – o estado quando o coração diz ardilosamente para si mesmo: Basta! Eu não necessito nada mais; eu trabalhei duro, eu estabeleci ordem em mim mesmo, agora posso permitir-me um pequeno descanso. Foi dito sobre Israel: “Ficaste gordo, robusto, corpulento” (Deut. 32,15). Que outro contentamento havia para buscar? Mas qual foi o resultado? “Rejeitou o Deus”. No seu contexto original este verso se refere à saciedade física e à satisfação com as próprias condições externas. Mas é igualmente aplicável à saciedade espiritual e à satisfação com o próprio estado interior. O resultado é o mesmo – um abandono de Deus. Quando há suficiente de tudo, por que orar a Deus e pensar Nele? Embora auto-satisfeitas as pessoas não atingem este estado de uma única vez, o germe dele já está nelas. O efeito direto da saciedade é o enfraquecimento da atenção e a permissão de isenções para si mesmo. Quem quer que permita isto começará deslizar morro abaixo como um homem em uma ladeira escorregadia. Este é o perigo. Portanto vigie!

THEOPHAN, O RECLUSO.



The dangers of satiety

Flee from satiety—the state when the heart says cunningly to itself: Enough! I need nothing more; I have worked hard, I have established order in myself, now I can allow myself a little rest. It was said about Israel, 'Thou art waxen fat, thou art grown thick, thou art covered with fatness'- (Deut. xxxii. ij). What more contentment was there to seek for ? But what was the result? 'He forsook God.' In its original context this verse refers to physical satiety and to satisfaction with one's external con¬ditions. But it is equally applicable to spiritual satiety and to satisfaction with one's inner state. The result is the same— a forsaking of God. When there is enough of everything, why pray to God and think of Him ? Although self-satisfied people do not reach this stage all at once, the germ of it is in them already. The direct effect of satiety is weakening of attention and allowing of exemptions to oneself. Whoever permits this will begin to slide downhill like a man on a slippery slope. This is the danger. So watch!



THEOPHAN THE RECLUSE





O mal da “troika”



A mim parece que, a todo o momento, você está colocando os outros sob julgamento e condenando-os em sua alma. Olhe cuidadosamente. Mesmo se isto apenas acontece de tempos em tempos e não é um estado permanente da mente, traz considerável dano. Alta opinião de nós mesmos dá origem a duas coisas: sopramos nossa própria corneta e censuramos aos outros. Estes três compõem o mal da ‘troika’ que nos leva, em alta velocidade, a perdição. Nós devemos desatrelar estes três cavalos espirituosos e livrarmo-nos deles. E então o resultado será que quanto mais devagar se vai, mais longe se chega. Por favor, observe-se mais cuidadosamente.

O trabalho físico é uma coisa boa; o mesmo trabalho feito como parte da sua obediência monástica é um trabalho de santidade. Permita que a memória de Deus nunca deixe seu coração. Deveríamos ver o Senhor diante de nós assim como vemos a luz; e em nosso coração deveríamos nos prostrar diante Dele num espírito de humildade e contrição. Virá, então, um sóbrio temor.

É uma coisa boa quando alguém o repreende: regozije-se se isto acontece. É ruim quando todas as pessoas ao seu redor lhe exaltam e ninguém está lhe dizendo a verdade. Não leva muito tempo para que esta cilada lhe enrede. Em tais momentos não ajuda que você considere-se como um santo, e comece a censurar todos ao seu redor.

Possa o Senhor lhe dar força para fazer o que é correto. Tome cuidado para não cair no caminho daqueles que seguem adiante, friamente, com correto comportamento externo, mas que carecem dos sentimentos internos que santificam um homem e atraem a graça de Deus. No entanto, isto irá acontecer tão logo você ceda à sua alta estima sobre si mesmo e à auto-satisfação, que são sinais de vaidade.



TEÓFAN, O RECLUSO



The evil 'troika' (p.208)



It seems to me that at every moment you are putting others on trial and passing judgement on them in your soul. Look care¬fully. Even if this only happens from time to time and is not a permanent state of mind, it brings considerable harm. High opinion of ourselves gives rise to two things: blowing our own trumpet and censuring others. These three make up the evil 'troika' which drives us full speed to perdition. We must un¬harness these spirited horses and get rid of them. And then the result will be that the slower you drive, the further you go. Please watch yourself more carefully.

Physical labour is a good thing; the same labour done as part of your monastic obedience is a work of sanctity. Let memory of God never leave your heart. We should see the Lord before us just as we see the light; and in our heart we should prostrate ourselves before Him in a spirit of humility and contrition. A sobering fear will come.

It is a good thing when someone rebukes you: rejoice if this happens. It is a bad thing when people all round you are praising you and no one is telling you the truth. It does not take long for this snare to entangle you. At such times you cannot help considering yourself a saint, and starting to censure all those around you.

May the Lord give you strength to do what is right. Take care not to fall into the way of those who walk coldly along with correct outward behaviour, yet lack the inner feelings which sanctify a man and attract the grace of God. Yet this will happen as soon as you give in to high opinion of yourself and to self-satisfaction, which are marks of vanity.



THEOPHAN THE RECLUSE





Julgando os outros



Nós temos que discriminar entre diferentes tipos de julgamento. O pecado começa quando iniciamos a desprezar uma pessoa em nosso coração por causa de alguma falta que ela tenha cometido. É possível julgar, pura e simplesmente, sem trazer uma sentença contra a pessoa que julgamos. E se, ao mesmo tempo, sentimos compaixão em nosso coração pela pessoa em falta, sinceramente desejando seu aperfeiçoamento de vida e orando para que ela possa fazer melhor no futuro, então não haveria pecado no julgamento mas, ao contrário, julgá-la seria mais um ato de amor como é possível no caso. O pecado do julgamento está mais no coração do que nos lábios. Falar sobre uma determinada coisa pode ser um pecado ou não, dependendo sobre o sentimento com o qual as palavras são ditas. O sentimento dá ao discurso o seu caráter. Mas é melhor evitar qualquer tipo de julgamento, por temor de tornar-se inquisidor; em outras palavras, é melhor não chegar muito perto do fogo e da fuligem para não se queimar nem se sujar. Faríamos melhor ao dirigir nossa censura e crítica contra nós mesmos.



TEÓFAN, O RECLUSO



Judging others (p.209



We have to discriminate between different kinds of judging. Sin begins when we start to despise a person in our heart because of some fault which he has committed. It is possible to judge quite simply, without bringing in a verdict against the person we judge. And if at the same time we feel pity in our heart for the person at fault, sincerely desiring his amendment of life and praying that he may do better in future, then there will be no sin in judging but, on the contrary, to judge him would be as much an act of love as is possible in such a case. The sin of judging is more in the heart than on the lips. Talking about a particular thing may be a sin or not, depending upon the feeling with which the words are said. Feeling gives the speech its character. But it is best to refrain from any kind of judging, for fear of becoming censorious; in other words, it is best not to come too close to the fire and the soot so as not to be burned and blackened. We should do better to direct our censure and criticism against ourselves.



THEOPHAN THE RECLUSE



Sua própria morte e o funeral de outras pessoas



Para evitar que seus pensamentos divaguem você deve conquistar um sentimento de estar constantemente com Deus no coração. Então não haverá lugar para pensamentos alheios. Para parar de condenar os outros, você deve se tornar profundamente consciente da sua grande pecaminosidade e ofender-se com ela, entristecido por sua alma como se ela estivesse morta. Como alguém disse: Com sua própria morte em casa você não irá perturbar-se sobre o funeral de outras pessoas.

TEÓFAN, O RECLUSO



Your own dead and other people's funerals (p. 210)



In order to prevent your thoughts from wandering, you should acquire a feeling of being constantly with God in the heart. Then there will be no room for alien thoughts. To stop condemn¬ing others you should become deeply conscious of your own sin-fulness and grieve over it, mourning for your soul as if it were dead. As someone said: With your own dead in the house you will not trouble about other people's funerals.

THEOPHAN THE RECLUSE



Um ladrão interno em conspiração com ladrões de fora



Eles dizem que a vaidade é um ladrão interno em conspiração com ladrões de fora. Ele abre as portas e janelas para os outros; eles entram e causam grande estrago dentro. Quem sabe? Pode ser que o tempo obscuro que você experimentou e que o deixou tão logo orou seja um ardil do inimigo para gerar pensamentos vaidosos – para fazê-lo dizer para si mesmo: “Como sou bom na oração! No momento que eu orei todos os demônios fugiram!” Acautele-se: se pensamentos vaidosos lhe ocorrem depois da oração, isto mostra que o inimigo está tentando excitar seu orgulho.



TEÓFAN, O RECLUSO



An inner thief in collusion with thieves outside (p.210)



They say that vanity is an inner thief who is in collusion with thieves outside. He opens the doors and windows to them; they enter and cause great devastation within. Who knows? Maybe the time of darkness which you have experienced and which left you as soon as you prayed is a ruse of the enemy to engender thoughts of vanity—to make you say to yourself, “How good I am at prayer! The moment I prayed all the devils ran away!” Take heed: if thoughts of vanity come to you after prayer, this shows that the enemy is trying to fan your pride.

THEOPHAN THE RECLUSE



As chamas da raiva e o fogo do inferno



“Não se ponha o sol sobre a vossa ira: nem deis lugar ao diabo” (Ef. iv. 26-27).

O diabo não tem acesso à alma, se a alma ela mesma não acolhe as paixões. Num tal estado ela é transparente e o diabo não pode vê-la. Mas quando ela admite o movimento de uma paixão e consente este movimento, ela fica escurecida e o diabo a vê. Atrevidamente ele se aproxima e assume o controle dela. Duas más paixões, principalmente, perturbam a alma – luxúria e irritabilidade. Quando o diabo trata de aprisionar uma pessoa através da luxúria, ele a deixa sozinha em suas agitações: o diabo não a atormenta mais, exceto talvez para perturbá-la um pouco com a raiva. Mas se um homem não cede à luxúria, o diabo apressa-se a incitar a raiva nele, e reúne em torno dele uma quantidade de coisas irritantes. Um homem que falha em discernir as artimanhas do diabo se permite ficar aborrecido com tudo, permitindo que a raiva o domine, e assim ele “dá lugar ao diabo”. Mas um homem que reprime cada surto de raiva resiste ao diabo e o repele, e não dá lugar a ele dentro de si mesmo. A raiva “dá lugar ao diabo”, tão logo seja considerada como algo justo e satisfazê-la seja sentido como lícito. Então, o inimigo imediatamente entra na alma e começa a sugerir pensamentos, cada um mais irritante que o outro. O homem principia a estar em chamas com a raiva como se estivesse em meio ao fogo. Este é o fogo do inferno; mas o pobre homem acha que ele está queimando com o zelo pela sua integridade, quando nunca há qualquer integridade na cólera (Tiago i. 20). Esta é a forma de ilusão peculiar a cólera, assim como há outra forma de ilusão peculiar à luxúria. Um homem que rapidamente supera a cólera dispersa esta ilusão e assim repele o diabo como se por um forte golpe no peito. Existe alguém que, depois de ter extinguido sua raiva e analisado todo o evento em boa fé, não perceba que havia algo errado na base da sua irritação? Mas o inimigo transforma o erro num sentido de honra por si mesmo e o acumula numa tal montanha que parece que o mundo inteiro se despedaçaria se nossa indignação não fosse satisfeita.

Você diz que não pode ajudar sendo rancoroso e hostil? Muito bem então, seja hostil – mas na direção do diabo, não na direção do seu irmão. Deus nos deu a cólera como uma espada para perfurar o diabo – não para dirigi-la para os nossos próprios corpos. Então, apunhale-o com ela, até o cabo da espada; pressione o cabo tanto quanto queira, e nunca o ceda, mas use também outra espada. Isto pode ser obtido quando nos tornamos gentis e amáveis com todos os outros. “Deixe-me perder meu dinheiro, deixe-me destruir minha honra e glória – meu fraternal companheiro é mais precioso para mim que eu próprio.” Assim, vamos falar uns com os outros, e não vamos ferir nossa própria natureza para ganhar dinheiro e fama.



TEÓFAN O RECLUSO



The flames of anger and the fire of hell (p.211)



'Let not the sun go down upon your wrath: neither give place to the devil' (Eph. iv. 26-27).

The devil has no access to the soul, if the soul itself harbours no passions. In such a state it is transparent and the devil cannot see it. But when it admits the movement of a passion and consents to this movement, it becomes darkened and the devil sees it. He approaches it boldly and assumes control over it. Two evil passions principally trouble the soul — lust and irritability. When the devil manages to captivate someone through lust, he leaves him alone in its turmoils: the devil does not bother him any more, except perhaps to disturb him a little with anger. But if a man does not give in to lust, the devil hastens to incite him to anger, and gathers round him a quantity of irritating things. A man who fails to discern the devil's wiles allows himself to become annoyed at everything, permitting anger to master him, and so he 'gives place to the devil'. But a man who stifles every upsurge of anger resists the devil and repels him, and gives no place to him within himself. Anger 'gives place to the devil', as soon as it is regarded as something just and its satisfaction is felt to be lawful. Then the enemy immediately enters the soul and begins to suggest thoughts, each more irritating than the last. The man starts to be aflame with anger as though he were on fire. This is the fire of hell ; but the poor man thinks that he is burning with zeal for righteousness, whereas, there is never any righteousness in wrath (James i. 20). This is the form of illusion peculiar to wrath, just as there is another form of illusion peculiar to lust. A man who speedily overcomes wrath disperses this illusion and thus repels the devil as though by a strong blow in the chest. Is there anyone who, after extinguishing his anger and analysing the whole business in good faith, does not find that there was something wrong at the basis of his irritation? But the enemy changes the wrong into a sense of self-righteousness and builds it up into such a mountain that it seems as though the whole world would go to pieces if our indignation is not satisfied.

You say that you cannot help being resentful and hostile? Very well then, be hostile—but towards the devil, not towards your brother. God gave us wrath as a sword to pierce the devil— not to drive into our own bodies. Stab him with it, then, right up to the hilt; press the hilt in as well if you like, and never pull it out, but drive another sword in as well. This we shall achieve by becoming gentle and kind towards each other. 'Let me lose my money, let me destroy my honour and glory—my fellow-member is more precious to me than myself.' Let us speak thus to each other, and let us not injure our own nature in order to gain money or fame.



THEOPHAN THE RECLUSE





Nunca vale a pena perder a calma



Em face disso, não há nada no mundo sobre o qual valha a pena perder nossa paciência; pois o que é mais valioso do que a alma e sua paz? Esta paz é destruída pela raiva. Quando um homem está com raiva, ele assume o papel de um caluniador e sopra as chamas até um grande incêndio, exagerando, em sua imaginação, a ofensa do outro. A razão para tudo isto é que ele não mantém sua atenção virada para si mesmo – e assim tais sentimentos doentios irrompem. No fundo do coração nós abraçamos nosso direito de julgar e punir os outros por seus pecados, ao invés de nós mesmos. Isso é tudo o que há ali. Se um homem visse a si mesmo como um pecador, estando claramente consciente do pecado, a raiva estaria longe dele.



TEÓFAN, O RECLUSO



It is never worth while to lose your temper (p.212)



On the face of it, there is nothing at all in the world over which it is worth losing our temper; for what is more valuable than the soul and its peace? This peace is destroyed by anger. When a man is angry, he assumes the role of a slanderer and fans the flames into a great blaze, in his imagination magnifying the offence of another. The reason for all this is that he does not keep his atten¬tion turned on himself—and so ill-feeling bursts out. Deep in the heart we cling to our right to judge and punish others for their sins, instead of ourselves. That is all there is to it. If a man saw himself as a sinner, being vividly conscious of all the conse¬quences of sin, anger would be far from him.



THEOPHAN THE RECLUSE





Extinguindo todos os sentimentos de raiva



Não pronunciar uma única palavra colérica é uma grande conquista, que se faz possível pela ausência de irascibilidade no coração. A irascibilidade é extinta, como uma centelha, pela submissão a vontade de Deus. Nós reconhecemos que Deus permite que as tribulações ocorram para nos testar e assim demonstrar a força da nossa virtude; e isto ajuda-nos a preservar, em tais casos, nossa serenidade, pois acreditamos que Deus Ele Mesmo está nós observando num tal momento.

Sua idéia de que as pessoas que trazem problemas possam ser instrumentos do inimigo é correta. Assim, toda vez que alguém causar problemas a você, sempre assuma que o demônio está por detrás deles, excitando-os e sugerindo atos e palavras ofensivos às suas mentes.

TEÓFAN, O RECLUSO



Extinguishing all feelings of anger (p.212)



Not to utter a single angry word is a great achievement, which is made possible by the absence of irascibility in the heart. Irascibility is extinguished, like a spark, by surrender to God's will. We recognize that God permits troubles to come in order to try us and thus demonstrate the strength of our virtue; and this helps us to preserve our temper in such cases, for we believe that God Himself is watching us at such a moment.

Your idea that people who bring trouble may be tools of the enemy is right. So whenever anyone causes you trouble, always assume that the devil stands behind them, inciting them and suggesting offending words and deeds to their minds.

THEOPHAN THE RECLUSE



Como as tentações do inimigo agem



Lembremo-nos da maneira pela qual as tentações do inimigo agem. O alcance da espada do inimigo está na introdução de um pensamento no coração: o demônio espera que o coração responderá a ele, e a partir desta suposição passa a elaborar uma forte tentação. Por exemplo, você pensa numa pessoa que lhe ofendeu: aí está o alcance da espada do inimigo. Quando o coração responde a este pensamento acolhendo um sentimento desagradável em relação ao ofensor, isto significa que a espada penetrou até a alma e a feriu. Imediatamente o inimigo envolve-se com a alma e atiça ali uma tempestade de inimizade e vingança. Mas quando o coração sempre estiver pronto para perdoar as ofensas, mantendo a si mesmo num estado de serena mansidão e paz em relação a qualquer pessoa, então não importa quão vividamente o inimigo apresenta uma idéia do ofensor à alma, não haverá resposta no coração; e assim o inimigo não terá nenhum vão através do qual possa introduzir sua tentação. O alcance da sua espada irá recuar do coração tanto quanto diante de um guerreiro vestido em armadura.

TEÓFAN, O RECLUSO



How the temptations of the enemy act (p.213)



Let us remind ourselves of the manner in which the temptations of the enemy act. The sweep of the enemy's sword is the intro¬duction of a thought into the heart: the devil expects that the heart will respond to it, and on this assumption proceeds to build up a strong temptation. For example, you think of a person who has offended you: that is the sweep of the enemy's sword. When the heart responds to this thought by harbouring an unpleasant feeling towards the offender, this means the sword has penetrated as far as the soul and has wounded it. Immediately the enemy closes with the soul and stirs up there a storm of enmity and revengefulness. But when the heart is always ready to forgive offences, keeping itself in a state of serene meekness and peace towards everyone, then no matter how vividly the enemy presents an idea of the offender to the soul, there is no response in the heart; and so the enemy will have no opening through which to introduce his temptation. The sweep of his sword will rebound from the heart as from a warrior clad in armour.

THEOPHAN THE RECLUSE





O traidor interno



Há um método que, se praticado com plena atenção, raramente permitirá que qualquer coisa apaixonada deslize furtivamente no coração. É examinar nossos pensamentos e sentimentos, de modo a descobrir para onde eles tendem: para satisfazer Deus ou satisfazer a nós mesmos. É muito fácil determinar isso. Tudo que você tem a fazer é vigiar a si mesmo. Saiba que na medida em que você não dê satisfação a si mesmo naquilo que faz, não há falta. Um dos guias espirituais disse a seu discípulo: “Vigie, para que você não acolha um traidor dentro de si mesmo.” “Quem é o traidor?” perguntou o discípulo. “Auto-satisfação”, respondeu o stárets. E, de fato, isso é assim. Se você examinar todas as coisas ruins que fez, verá que em cada um dos casos elas se originaram na satisfação de si mesmo.



TEÓFAN, O RECLUSO



The inner traitor (p.213)



There is one method which, if practised with full attention, will seldom allow anything passionate to slip unnoticed into the heart. This is to examine our thoughts and feelings, so as to dis¬cover which way they tend: towards pleasing God or towards pleasing ourselves. It is quite easy to determine this. All you have to do is to watch yourself. Know that so long as you do not pander to yourself in what you do, there is no fault in it. One of the startsi said to his disciple, 'Watch, lest you harbour a traitor in yourself.' 'Who is the traitor?' asked the disciple. 'Self-gratification,' answered the staretz. And this is indeed so. Self-gratification is the cause of all evils. If you examine all the bad things that you have done, you will see that in each case they originated from pandering to yourself.



THEOPHAN THE RECLUSE



Um copo de veneno



Como regra geral, decida se algo é permissível pelo efeito que produz dentro. Permita a si mesmo aquilo que é construtivo, mas nunca o que é destrutivo. Algum homem no seu perfeito juízo estenderia suas mãos para um copo no qual soubesse ter sido enchido com veneno?



TEÓFAN, O RECLUSO



A glass of poison (p.214)



As a general rule, decide whether a thing is permissible by the effect it produces within. Permit yourself what is constructive, but never what is destructive. Would any man in his right senses stretch out his hand for a glass into which he knows that poison has been poured?



THEOPHAN THE RECLUSE



Um lugar calmo em seu coração aos pés do Senhor



Quando maus pensamentos vêm você deve desviar o olho mental deles. Vire-se ao Senhor e expulse-os em Seu Nome. Se um pensamento já motivou o coração e, pouco a pouco, o induziu a um miserável deleite nele, você deveria culpar-se, pedir o perdão do Senhor, e censurar-se até que o sentimento oposto nasça em seu coração. Por exemplo: ao invés de censurar alguém, você deveria ter em seu coração um sentimento de louvor ou ao menos de respeito por aquela pessoa.

Prepara de antemão um calmo lugar no seu coração que está aos pés do Senhor. Tão logo os problemas surgem, apresse-se até ali e invoque, incessantemente, por Ele, como se exorcizasse uma peste miserável. E Deus ajudará – tudo mais irá se acalmar.



TEÓFAN, O RECLUSO



A calm place in your heart at the feet of the Lord (p.214)



When bad thoughts come you should avert your mind's eye from them. Turn to the Lord and cast them out in His Name. If a thought has already moved the heart and, little by little, induced you to take an evil pleasure in it, you should blame yourself, beg the Lord's forgiveness, and chastise yourself until the opposite feeling is born in your heart. For instance, instead of censuring somebody, you should have in your heart a feeling of praise or at least of respect for that person.

Prepare beforehand a calm place in your heart where you are at the feet of the Lord. As soon as trouble comes, hasten there and call ceaselessly upon Him, as though exorcising some evil pest. And God will help—everything will quieten down.



THEOPHAN THE RECLUSE



Em aliança com as paixões



Um homem que está em aliança com as paixões na sua consciência e no seu coração é passional por completo: tal estado é ofensivo a Deus. Mas quando um homem deseja sinceramente a impassibilidade, muito embora emoções violentas surjam e o ataquem, ainda assim seu estado não é ofensivo a Deus, pois ele odeia as paixões e anseia agir de acordo com a vontade de Deus ao invés de ser escravizado por elas.

TEÓFAN, O RECLUSO



In league with the passions (p.215)



A man who is in league with the passions in his consciousness and heart is passionate through and through: such a state is abhorrent to God. But when a man sincerely desires passionlessness, even though violent emotions surge up in him and attack him, yet his state is not abhorrent to God, for he hates the pas¬sions and longs to act according to God's will instead of being enslaved by them.



THEOPHAN THE RECLUSE



Sempre em casa



Você deve discriminar entre sentimentos que são parte de sua constituição e emoções fugazes que vem e vão. Na medida em que as paixões não estão completamente destruídas, pensamentos e sentimentos errados, intenções e impulsos equivocados não cessarão. Eles diminuem com a diminuição das paixões, sendo o lado apaixonado da nossa natureza a fonte delas; assim devemos dirigir toda nossa atenção a esta guerra contra as paixões. Existe um método para nos treinar nisto – que é a constante lembrança do Senhor e a oração a Ele. Os startsi sabiam como expulsar todo o mal por este meio, estabelecendo em seu lugar um estado aceitável a Deus. Adquirir o hábito da Oração de Jesus é o aspecto exterior desta arma. Na sua realidade interna, pode ser mais bem descrita como ‘estar sempre em casa’. Devemos sempre estar em nosso coração com o Senhor, invocando-o; e isto bane todo mal. Leia S. Hesíquio sobre sobriedade. Nesta tarefa constância e persistência sempre se provam vitoriosos.



TEÓFAN, O RECLUSO



Always at home (p.215)



You have to discriminate between feelings which are part of your make-up and fleeting emotions which come and go. So long as the passions are not completely destroyed, wrong thoughts and feelings, wrong impulses and intentions will not cease. They lessen with the lessening of the passions, their source being the passionate side of our nature; so we must direct all our attention to this warfare against the passions. There exists one method to train us—and that is constant remembrance of the Lord and prayer to Him. The startsi knew how to drive out everything evil by this means, establishing in its place a state acceptable to God. Acquiring the habit of the Jesus Prayer is the external aspect of this weapon. In its inner reality, it may best be described as 'be¬ing always at home'. We must stay always in our heart with the Lord, calling to Him; and this banishes everything evil. Read St. Hesychios on sobriety. In this task constancy and persistence always prove victorious.



THEOPHAN THE RECLUSE



Jesus present and absent (p.215)

Quando a Oração de Jesus está ausente, toda sorte de coisas prejudiciais nos assaltam, não deixando espaço para nada de bom na alma. Mas quando o nosso Senhor está presente na oração, tudo que alheio é banido.



S. GREGÓRIO PÁLAMAS



When the Jesus Prayer is absent, all manner of harmful things assail us, leaving no room for anything good in the soul. But when our Lord is present in the prayer, everything alien is banished.

ST. GREGORY PALAMAS



Como os demônios entram



Os demônios não têm meios de tomar posse do corpo ou do espírito do homem, nenhum poder para entrar por força na sua alma, a menos que eles o despojem de todos os pensamentos sagrados, e o tornem vazio e carente de contemplação espiritual.

S. JOÃO CASSIANO



How the demons enter (p.216)



The demons have no means of taking possession of a man's spirit or body, no power forcibly to enter his soul, unless they first deprive him of all holy thoughts, and make him empty and devoid of spiritual contemplation.

ST. JOHN CASSIAN



A hora do martírio oculto



É da natureza da oração interna revelar as paixões ocultas escondidas no coração humano e domá-las. A oração interna revela nossa escravidão aos espíritos decaídos, fazendo-nos perceber nosso aprisionamento e nos livrando dele.

Não há necessidade, então, de se inquietar e se desorientar quando as paixões surgem da nossa natureza decaída ou quando elas são esporeadas pelos maus espíritos. Já que as paixões são subjugadas pela prece, assim que surjam devemos praticar a Oração de Jesus internamente, muito calmamente e sem pressa: pouco a pouco isto acalmará as paixões emergentes. Às vezes o assalto das paixões e a invasão de pensamentos hostis é tão forte que se segue uma grande batalha na alma. Esta é a hora do martírio oculto. Quando atacados pelas paixões e pelos demônios, devemos proclamar nossa fé no Senhor através da nossa devoção à mais persistente oração. Invariavelmente isto nos leva a vitória.



BISPO IGNATII



The time of hidden martyrdom (p.216)



It is of the nature of inner prayer to reveal the hidden passions concealed in the human heart and to tame them. Inner prayer shows us our captivity to the fallen spirits, making us realize our imprisonment and freeing us from it.

There is no need, then, to be disturbed and perplexed when passions rise up from our fallen nature or when they are spurred on by evil spirits. Since passions are tamed by prayer, when they arise we should practise the Jesus Prayer inwardly, very quietly and without haste: little by little this will allay the upsurging passions. At times the onset of passions and the invasion of hostile thoughts is so powerful that it leads to a great struggle in the soul. This is the time of hidden martyrdom. When assailed by passions and devils, we should proclaim our faith in the Lord by devoting ourselves with the utmost persistence to prayer. This will invariably bring us victory.



BISHOP IGNATII



A prática do jejum



A prática do jejum é esta: permanecer em Deus com a mente e o coração, abandonando tudo mais, cortando toda satisfação ensimesmada, tanto no sentido espiritual como físico. Devemos fazer tudo pela glória de Deus e pelo bem dos nossos próximos, suportando voluntariamente e com amor as tarefas do jejum e as privações na comida, sono, e descanso, e renunciando a consolar-se com a companhia de outras pessoas. Todas estas privações deveriam ser moderadas de modo a não atrair a atenção e não nos desprover da força para cumprir a prática da oração.



TEÓFAN, O RECLUSO



The rule of fasting (p.217)



The rule of fasting is this: to remain in God with mind and heart, relinquishing all else, cutting off all pandering to self, in the spiritual as well as in the physical sense. We must do every¬thing for the glory of God and for the good of our neighbour, bearing willingly and with love the labours of the fast and priva¬tions in food, sleep, and relaxation, and foregoing the solace of other people's company. All these privations should be moderate so as not to attract attention and not to deprive us of strength to fulfil the rule of prayer.



THEOPHAN THE RECLUSE





Um momento para falar e um momento para manter silêncio



Você pergunta se deveria conversar com outros sobre a vida espiritual. Faça-o, somente não fale a eles sobre sua própria experiência pessoal. Discuta a questão genericamente, mas adaptando seus comentários ao estado daqueles que fizeram a questão. Algumas vezes as pessoas levantam questões espirituais somente como assunto para conversar. Mesmo isso é melhor do que falar sobre assuntos mundanos ou se entreter com conversa mole. Manter silêncio, como você disse preferir, é possível quando se está sozinho, ou quando a conversa não nos diz respeito. Se orar ao Senhor para vigiar sua língua quando estiver a caminho de visitar alguém, isto é boa coisa. A melhor coisa é estar sempre com o Senhor. É possível, entretanto, falar e ainda assim permanecer com o Senhor. Tente se habituar a isto.

Quando falar a alguém, abstenha-se sobretudo de contrariá-la com agressividade, ou expressando uma opinião diretamente oposta a ela, vinda de um claro desejo de seguir seu próprio modo. É o inimigo que o inspira a assim fazê-lo, para iniciar uma discussão e desse modo levantar uma discórdia. Igualmente evite falar de coisas espirituais para demonstrar sua própria sabedoria. Isto também é uma sugestão do inimigo, e se você a seguir irá ser motivo de risada entre os homens e ganhará o desgosto de Deus.



TEÓFAN, O RECLUSO



A time to speak and a time to keep silence (p.217)



You ask whether you should talk with others about the spiritual life. Do so, only do not talk to them about your own personal experience. Discuss the question generally, but adapting your remarks to the state of those who have asked the question. Sometimes people bring up spiritual questions only as a subject of conversation. Even this is better than talking about worldly matters or having an idle chat. To keep silence, as you say you would prefer, is possible when you are alone, or when the conversation does not concern you. As to praying to the Lord to guard your tongue when you have to visit someone and are on your way there, that is a good thing. The best thing is to be always with the Lord. It is possible, however, to talk and yet still to remain with the Lord. Try to accustom yourself to that.

When you talk to someone, above all refrain from upsetting him by aggressiveness, or by expressing an opinion directly opposed to his, from an obvious desire to have your own way. It is the enemy who inspires you to do this, in order to start an argument and by this means to bring about discord. Avoid equally speaking of spiritual things in order to display your own wisdom. This too is a suggestion of the enemy, and if you follow it you will be laughed at by men and will gain God's displeasure.



THEOPHAN THE RECLUSE



A batalha ascética. A vitória vem somente pela graça.



A primeira vitória sobre si mesmo – a condição e base de todas as outras vitórias internas, que sozinha torna as outras possíveis – reside em quebrar nossa própria vontade e em render-se a Deus, rejeitando e nos desapegando de todas as coisas pecaminosas. Este ato de auto-rendição nos leva a desviar-nos com repugnância e aversão das paixões. Com este recurso espiritual para lutar conosco na batalha, somos tão fortes quanto um exército inteiro. Onde não há redenção a Deus, a vitória já está nas mãos do inimigo antes que qualquer batalha seja articulada. Mas quando este ato de rendição está presente, a vitória nos é freqüentemente concedida sem uma luta. Disto podemos ver que já que o nosso estado mais interno é o ponto de partida para qualquer atividade positiva, este será também o ponto contra o qual a campanha do inimigo é lançada. Consciência e vontade, se atraídas para o lado do bem, cortam todo mal e todas as paixões, especialmente aquelas que estão dentro de nós mesmos. O momento decisivo é, precisamente, esta atração da vontade para o lado do bem. Aqui, como sempre, a força que promove a guerra sobre as paixões é a mente ou o espírito no qual assenta consciência e liberdade – o espírito, isto é, sustentado e fortalecido pela graça. É a graça que cura nossas faculdades, coroando todas as nossas lutas ascéticas. É também a graça que dota nossa mente e espírito com força para atacar as paixões e derrubá-las. E, inversamente, quando as paixões tornam-se fortes, elas visam diretamente à mente ou o espírito – em outras palavras elas se esforçam para subjugar nossa consciência e liberdade. Contra este santuário interno onde a consciência e a liberdade habitam, o inimigo direciona seus dardos flamejantes, atacando-nos através das paixões e usando nosso corpo e alma como um lugar para emboscadas. Mas na medida em que nossa consciência e liberdade permanecem intactas, de pé ao lado do bem, a vitória é nossa, não importando quão forte seja a investida.

Isto, entretanto, não significa que o pleno poder de conquista venha de nós e não de Deus – indica somente o ponto através do qual este poder de conquista opera. O imediato combatente nesta guerra é nosso regenerado espírito. Mas é a graça que é a vitoriosa e destruidora força contra as paixões. Ela cria uma coisa em nós e destrói outra – agindo sempre através do espírito, em outras palavras, através da consciência e da vontade. O homem que luta prostra-se diante de Deus e clama por ajuda, pleno de repugnância e aversão contra os inimigos. Agindo através dele, Deus então os põe em debandada e os derruba.



TEÓFAN, O RECLUSO



The ascetic battle. Victory comes by grace alone (p.218)



The first victory over oneself—the condition and basis of all other inner victories, which alone makes them possible—lies in breaking our own will and in surrender to God, rejecting and detaching ourselves from everything sinful. This act of self-surrender leads us to turn aside in loathing and aversion from the passions. With this spiritual resource to fight for us in the battle, we are as strong as a whole army. Where there is no such sur¬render to God, victory is already in the hands of the enemy before any battle is joined. But when this act of surrender is present, victory is often conceded to us without a fight. From this we can see that, since the point of departure in any positive activity is our innermost state, this is also the point against which the enemy's campaign is launched. Consciousness and will, if attracted to the side of good, in their hatred strike out at all evil and all passions, especially those that are within ourselves. The decisive moment is precisely this attraction of the will to the side of good. Here, as always, the force which wages war on the passions is the mind or spirit in which lie consciousness and freedom—the spirit, that is to say, supported and strengthened by grace. It is grace which heals our faculties, crowning all our ascetic struggles. Again it is grace that endues our mind and spirit with strength to attack the passions and strike them down. And conversely, when the passions grow stronger, they aim directly at the mind or spirit—in other words they strive to subjugate our consciousness and freedom. Against this inner sanctuary where consciousness and freedom dwell, the enemy directs his flaming arrows, attacking us through the passions and using our body and soul as a place of ambush. But as long as our consciousness and freedom remain unimpaired, standing on the side of good, the victory is ours, no matter how strong the assault.

This, however, does not mean that the whole power to con¬quer comes from us and not from God—it only indicates the point through which this power to conquer operates. The im¬mediate combatant in the warfare is our regenerated spirit. But it is grace that is the victorious and destroying force against the passions. It creates one thing in us and destroys another — acting always through the spirit, in other words, through the consciousness and will. The man who struggles prostrates him¬self before God with a cry for help, full of loathing and hatred against the enemies. Acting through him, God then puts them to rout and strikes them down.

THEOPHAN THE RECLUSE



Vire-se para a ajuda de Deus



O que fazemos quando somos atacados por algum criminoso? Nós o atacamos e gritamos por socorro. Nossos gritos são respondidos pela polícia que, então, nos salva do perigo. Devemos fazer o mesmo na batalha interna com as paixões. Cheio de raiva contra elas, chamamos por auxílio: Socorra-me, Oh Senhor! Jesus Cristo, Filho de Deus, salve-me! Oh Deus, salva-me depressa! Oh Senhor apresse-se a socorrer-me! Tendo chamado assim ao Senhor, não permita que sua atenção se afaste Dele, não deixe que ela volte-se para aquilo que está acontecendo dentro de você, mas prossiga de pé diante do Senhor implorando Sua ajuda. Isto fará o inimigo fugir como se estivesse sendo perseguido por chamas.

Sem entrar em veemente discussão com os pensamentos apaixonados, vamos nos virar diretamente a Deus, com temor, devoção, e confiança, rendendo-nos a Sua influência. Ao fazer isso já empurramos todas as coisas apaixonadas para longe do nosso olho mental, e olhamos somente para o Senhor. Porque não prestamos atenção a ele, o pensamento apaixonado é arrancado da alma: ele retira-se por acordo próprio como se tivesse sido incitado por alguma causa natural. Mas se o inimigo também está presente nele, ele é derrubado pelo raio da luz interna que vem da contemplação do Senhor. Assim tão logo a alma se vira a Deus e a Ele suplica, liberta-se do ataque das paixões.

TEÓFAN, O RECLUSO



Turn for help to God (p.219)



What do we do when attacked by some criminal? We strike out at him and shout for help. Our cries are answered by the police, who then rescue us from danger. We must do the same in inner warfare with the passions. Filled with anger against them, call for assistance: Help me, O Lord! Jesus Christ, Son of God, save me! O God, make speed to save me! O Lord make haste to help me! Having thus called on the Lord, do not allow your attention to wander from Him, do not let it turn to what is happening within you, but go on standing before the Lord and imploring His help. This will make the enemy run away as though pursued by flames.

Without entering into altercation with passionate thoughts, let us turn directly to God, with fear, devotion, and trust, sur¬rendering ourselves to His influence. By doing this we already push everything passionate away from our mind's eye, and look only at the Lord. Because we pay no attention to it, the passionate thought is cut off from the soul: it withdraws of its own accord if it has been aroused by some natural cause. But if the enemy is also present in it, he is struck down by the ray of inner light which comes from contemplation of the Lord. Thus as soon as the soul turns to God and appeals to Him, it is freed from the onslaught of passions.



THEOPHAN THE RECLUSE



Trabalho sem pressa



Nós deveríamos trabalhar sem pressa, aumentando gradualmente nossos esforços de modo a não exigir demais de nossa energia. De outro modo nosso trabalho parecerá um remendo novo em uma roupa velha. A decisão de adotar algum esforço ascético deve vir de dentro. No mesmo modo um homem doente, às vezes, encontra um remédio ou antídoto por intuição, por uma espécie de espontâneo anseio por ele.



TEÓFAN, O RECLUSO



Work without haste (p.220)



We should work without haste, increasing our efforts gradually so as not to overtax our strength. Otherwise our work will re¬semble a new patch on an old garment. The decision to adopt some ascetic endeavour should come from within. In the same way a sick man sometimes finds a remedy or antidote by intuition, by a kind of spontaneous craving for it.



THEOPHAN THE RECLUSE



War of the mind and war of action (p.220)



The war with the passions that is required of us is essentially a war of the mind. We succeed in it by denying all sustenance to the passions and so starving them out. But there is also the war of action, which consists in deliberately undertaking and per¬forming what is diametrically opposed to our passions. For instance, to conquer avarice we should give money away freely; to fight pride we should choose some degrading occupations; to overcome a craving for amusements we should stay at home, and so on. It is true that this method used by itself does not lead directly to the aim; for when suppressed the passion may force its way inwards, or retire only to give place to some other passion. But when this active struggle is united with the inner one, the two together are quickly enabled to overcome any kind of passionate attack.



THEOPHAN THE RECLUSE



Guerra interna e oposição ativa



Se a guerra é conduzida somente internamente ela expulsa a paixão da consciência do homem; mas a paixão ainda permanece viva, embora não em evidência. Mas uma oposição ativa apunhala esta serpente diretamente na cabeça. Isto não significa que a guerra interna deva ser abandonada. Deve permanecer constante; de outro modo todo o esforço pode não produzir fruto e nossa inclinação em direção as paixões pode até crescer ao invés de decrescer. Se abandonarmos a guerra interior, veremos que, na medida em que lutamos com uma paixão, uma outra chega e nos fere: por exemplo: expelimos a gulodice através do jejum, e então a vaidade ocupa o lugar. Se falharmos em dar a devida atenção à guerra interna, nenhum esforço, por mais extenuante, produzirá qualquer fruto. Guerra interna acoplada com oposição ativa às paixões ataca tanto de dentro como de fora, e assim as destrói tão rapidamente quanto um exército inimigo é destruído quando cercado e atacado pela frente e pela retaguarda.



TEÓFAN, O RECLUSO





Inner warfare and active opposition (p.220)



If warfare is conducted only inwardly it drives the passion out of man's consciousness; but the passion still remains alive, although not in evidence. But active opposition stabs this snake straight through its head. This does not mean that inner warfare should be abandoned. It should remain constant; otherwise the whole struggle may bear no fruit and our inclination towards the passions may even increase rather than decrease. If we abandon inner warfare, we shall find, as we struggle with one passion, that another comes and cleaves to us: for example, we expel gluttony by fasting, and then vainglory takes it place. If we fail to give due attention to inner warfare, no effort, however strenuous, will bear any fruit. Inner warfare coupled with active opposition to the passions strikes at them alike from within and without, and so destroys them as quickly as an enemy is destroyed when he is surrounded and attacked both in front and from the rear.



THEOPHAN THE RECLUSE



Impureza e inocência



Tome como regra nunca, voluntariamente, encorajar qualquer pensamento, sentimento ou desejo apaixonado; mas afastá-los com aversão no momento em que você os notar. Então você sempre estará inocente diante de Deus e de sua consciência. Você ainda terá a impureza das paixões em si, mas você também terá a inocência.



THEOPHAN THE RECLUSE



Impurity and innocence (p.221)



Make it a rule never willingly to encourage any passionate thought, feeling, or desire, but to drive them away with hatred the moment you notice them. Then you will always be innocent before God and your conscience. You will still have the impurity of passions in you, but you will also have innocence.



THEOPHAN THE RECLUSE





As duas forças opostas



Duas forças completamente opostas me influenciam: a força do bem e a força do mal, a força da vida e a força da morte. Sendo poderes espirituais, ambos são invisíveis. Despertada pela minha oração livre e sincera, a força do bem sempre afasta a do mal, pois a força do mal movimenta sua vitalidade somente pelo mal que se dissimula em mim. Para evitar a deprimente influência do mau espírito, sempre deveríamos ter em nosso coração a Oração de Jesus: “Jesus, Filho de Deus, tem piedade de mim.” Contra o invisível demônio põe-se de pé o invisível Deus, contra aquele que é poderoso põe-se de pé Aquele que é o mais Poderoso de todos.



S. JOÃO DE KRONSTADT





The two opposing forces (p.221)



Two completely opposing forces influence me: the force of good and force of evil, the force of life and the force of death. Being spiritual powers, both are invisible. Aroused by my free and sincere prayer, the good force always chases away the evil one, for the evil force drives its strength only from the evil concealed in me. To avoid the chilling influence of the evil spirit, we should always have in our heart the Jesus Prayer: 'Jesus, Son of God, have mercy upon me.' Against the invisible devil stands the invisible God, against him who is powerful stands He who is the most Powerful of all.



ST. JOHN OF KRONSTADT


Ps. l.15 (B.C.P.)


S. Marco o Monge ou Asceta (também conhecido como Marco o Heremita): Autor grego asceta do início do século V, que viveu como heremita no Egito ou Palestina.



St. Mark the Monk or Ascetic (also known as Mark the Hermit): Greek ascetic author of the early 5th century, who lived as a hermit in Egypt or Palestine.



Provérbio Russo.



A Russian proverb. 14—A.O.P.



‘Ilusão’: É usado aqui um termo técnico em teologia ascética, prelest, uma tradução do termo grego πλάνη. Isto significa literalmente ‘vagar’ ou ‘ir a deriva’. Bishop Ignatii define prelest como a corrupção da natureza humana através da aceitação, pelo homem, de miragens tomadas como verdade. Estar em prelest é estar em um estado de sedução e ilusão, aceitando uma ilusão como realidade.



prelest (see p. 40, n. 2).



Plural de ‘Stárets’.

Grande parte deste texto de S. Hesíquio sobre a sobriedade está, em português, na ‘Pequena Filocalia’. (Paulus, 1995)

S. João Cassiano (c.360-435) foi originalmente professado como monge em Belém. Depois de passar mais de sete anos em Scetis no Egito, viajou primeiro a Constantinopla (onde esteve sob a influência de S. João Crisóstomo) e então para o ocidente. Por volta de 415 fundou dois monastérios na França perto de Marseilles, em no fim da vida compôs vários trabalhos em Latin. Uma figura que foi como uma ponte entre o oriente e o ocidente, um instrumento na divulgação do conhecimento espiritual monástico do Egito no mundo latino.

St. John Casslan (c. 360-455) was originally professed as a monk in Beth¬lehem. After spending more than seven years at Scetis in Egypt, he travelled first to Constantinople (where he came under the influence of St. John Chrysostom) and then to the west. Around 415 he founded two monasteries in France near Marseilles, and in later life composed various works in Latin. A bridge figure between east and west, he was instrumental in spreading a know¬ledge of Egyptian monastic spirituality in the Latin world.



S. João de Kronstadt (1819-1908), sacerdote russo, um membro do clérigo paroquial casado: celebrado por suas obras de caridade e dons de cura, e também como orador e diretor spiritual. Seu notável diário My Life in Christ apareceu em muitas línguas, inclusive o inglês (traduzido por E.E. Goulaeff, Londres,1897). Foi proclamado um santo em 1964 pelo Sínodo Sagrado da Igreja Ortodoxa Russa no Exílio, e foi a única pessoa a ser canonizada pela Igreja Russa desde a Revolução de 1917.



St. John of Kronstadt (1819-1908), Russian priest, a member of the married parish clergy: celebrated for his charitable work and gifts of healing, and also as a preacher and spiritual director. His remarkable diary My Life in Christ, has appeared in many languages, including English (translated by E. E. Goulaeff, London, 1897). He was proclaimed a saint in 1964 by the Holy Synod of the Russian Orthodox Church in Exile, and is the only person to have been canon¬ized by the Russian Church since the Revolution of 1917.



By Bishop Ignatii.

Por Bishop Ignatii.

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Por Bishop Ignatii.