segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
domingo, 30 de janeiro de 2011
sábado, 29 de janeiro de 2011
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
A Arte da Prece - Uma Antologia Ortodoxa. (Capítulo VI - vii) Humildade e Amor
A ARTE DA PRECE
Uma Antologia Ortodoxa
compilada pelo
Hegúmeno Chariton de Valamo
CAPÍTULO VI
GUERRA COM AS PAIXÕES
de vários autores
(vi) HUMILDADE E AMOR
Nossa Senhora e o Menino – Fra Angélico – Pós 1430.
Onde a humildade e o amor estão ausentes, tudo que é espiritual está ausente
Você diz que não tem humildade nem amor. Tanto quanto estes estejam ausentes, tudo o que é espiritual estará ausente. O que é espiritual nasce quando eles nascem e cresce na medida em que eles crescem. Para a alma, eles são o mesmo que o controle da carne é para o corpo. A humildade é obtida através de atos de humildade, o amor por atos de amor.
TEÓFANO, O RECLUSO
Where humility and love are absent, everything spiritual is absent (p.271)
You say that you have no humility or love. So long as these are absent, everything spiritual is absent. What is spiritual is born when they are born and grows as they grow. They are the same for the soul as mastery of the flesh is for the body. Humility is acquired by acts of humility, love by acts of love.
THEOPHAN THE RECLUSE
Chico Xavier – 1910 - 2002
A medida da humildade
Mantenha ambos os olhos abertos. Esta é a medida da humildade: se um homem é submisso ele nunca acha que foi tratado pior do que ele merece. Ele permanece tão baixo em sua própria estima que ninguém, por muito que tente, pode pensar mais pobremente dele que ele próprio. Este é todo o segredo do problema.
TEÓFANO, O RECLUSO
The measure of humility (p.271)
Keep both eyes open. This is the measure of humility: if a man is humble he never thinks that he has been treated worse than he deserves. He stands so low in his own estimation that no one, however hard they try, can think more poorly of him than he thinks himself. This is the whole secret of the matter.
THEOPHAN THE RECLUSE
Conversão de Agostinho de Hipona – (Tolle Legge)
Leitura da Epístola de São Paulo (Rom. xiii. 13-14) – Benozzo Gozzoli – 1465
Defeitos de caráter
O Senhor algumas vezes deixa em nós alguns defeitos de caráter para que aprendamos humildade. Pois sem eles nós imediatamente soaríamos acima das nuvens em nossa própria estima e colocaríamos nosso trono lá. E aqui reside toda a perdição.
TEÓFANO, O RECLUSO
Defects of character (p.271)
The Lord sometimes leaves in us some defects of character in order that we should learn humility. For without them we would immediately soar above the clouds in our own estimation and would place our throne there. And herein lies perdition.
THEOPHAN THE RECLUSE
Retrato de Agostinho de Hipona – Philippe de Champaigne – Séc. XVII.
O caminho para a humildade – obediência
Para mim, não há necessidade de repetir-lhe que a invencível arma contra todos nossos inimigos é a humildade. Não é facilmente obtida. Nós podemos achar que somos submissos sem ter um só traço de verdadeira humildade. E não podemos nos tornar despretensiosos meramente pensando sobre isso. O melhor, ou ainda, o único caminho seguro para a humildade é através da obediência e pela renúncia de nossa própria vontade. Sem isto é possível desenvolver em nós um orgulho satânico, enquanto somos modestos nas palavras e nas posturas corporais. Eu lhe imploro a prestar atenção a este ponto e, com todo receio, examine a condição da sua vida. Ela inclui obediência e renúncia da sua vontade? De todas as coisas que faz, quantas são feitas contrarias a sua própria vontade, suas idéias e reflexões? Você faz algo sem desejar, através da absoluta obediência, simplesmente porque foi ordenado? Por favor, examine-a inteiramente e diga-me. Se não há nada deste tipo de obediência, a espécie de vida que conduz não lhe trará humildade. Não importa o quanto você possa humilhar-se no pensamento, sem atos que lhe conduzam a auto-humilhação, a humildade não virá. Assim, você deve pensar cuidadosamente como providenciar isto.
TEÓFANO, O RECLUSO
The path to humility—obedience (p.271)
There is no need for me to repeat to you that the invincible weapon against all our enemies is humility. It is not easily ac¬quired. We can think ourselves humble without having a trace of true humility. And we cannot make ourselves humble merely by thinking about it. The best, or rather, the only sure way to humility is by obedience and the surrender of our own will. Without this it is possible to develop a satanic pride in ourselves, while being humble in words and in bodily postures. I beg you to pay attention to this point and, in all fear, examine the order of your life. Does it include obedience and surrender of your will? Out of all the things you do, how many are done contrary to your own will, your own ideas and reflections? Do you do anything unwillingly, simply because you are ordered, through sheer obedience? Please examine it all thoroughly and tell me. If there is nothing of this type of obedience, the kind of life you lead will not bring you to humility. No matter how much you may humble yourself in thought, without deeds leading to self-abasement humility will not come. So you must think carefully how to arrange for this.
THEOPHAN THE RECLUSE
Máscara de Teatro Nô (Efeito da Luz) – Japão
Presunção e censura
Humilhar-se ainda não é humildade, mas somente o desejo e a busca por humildade. Possa o Senhor ajudar-lhe a adquirir esta virtude. Há um espírito de ilusão que de algum modo desconhecido engana a alma por sua astúcia. Ele tanto confunde nossos pensamentos que a alma acha-se submissa, enquanto que ela oculta, internamente, uma arrogante e presunçosa opinião sobre seu próprio valor. Assim temos que seguir olhando cuidadosamente em nosso coração. Relações externas que nos conduzem a humildade são os melhores meios aqui.
Você tem sido de algum modo negligente. O temor a Deus lhe deixou, e logo em seguida aquela atenção também lhe deixou, e você recaiu no hábito de censurar as pessoas. Você diz que pecou internamente, e isto é verdadeiro. Arrependa-se rapidamente e implore o perdão de Deus. Tal falta como esta traz sua própria paga: a falta é interna, e assim é a punição. Nós podemos condenar os outros não apenas em palavras mas também com um movimento interno do coração. Se a alma, quando pensa sobre outros, os critica adversamente, então ela já os condenou.
TEÓFANO, O RECLUSO
Conceit and censoriousness (p. 272)
Humbling oneself is not yet humility, but only the desire and search for humility. May the Lord help you to acquire this virtue. There is a spirit of illusion which in some unknown way deceives the soul by its guile. It so confuses our thoughts that the soul thinks itself humble, whereas inwardly it conceals an arrogant and conceited opinion of its own worth. So we have to go on looking carefully into our heart. External relationships which lead us to humility are the best means here.
You have been somewhat negligent. The fear of God left you, and soon after that attention left you too, and you fell into the habit of censuring people. You say that you have sinned inwardly, and this is true. Repent quickly and beg God's forgiveness. Such a fault as that brings its own retribution: the fault is inward, and so is the punishment. We can condemn others not only in words but also with an inner movement of the heart. If the soul, when thinking of someone, criticizes them adversely, then it has already condemned them.
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo entre os Doutores – Albrecht Dürer - 1506
Tomando a ofensa, e virando a outra face
Você diz que está ofendido. Estar ofendido por falta de atenção é considerar a si mesmo merecedor de atenção e, consequentemente, dar um alto valor a si mesmo no coração; em outras palavras, ter um coração inchado com orgulho. É isto bom? Não é nossa tarefa suportar acusações errôneas? Certamente que é. Como, então, começaremos a praticar esta tarefa? Afinal de contas, quando estamos determinados a suportar, temos que suportar cada aborrecimento sem exceção, e suportar com alegria, sem perder nossa paz interior.
O Senhor disse-nos que quando fôssemos atingidos em uma face virássemos a outra também, mas nós somos tão sensitivos que assim que uma mosca nos roça, ao passar com suas asas, imediatamente já ficamos armados. Diga-me, você está preparado para obedecer àquele mandamento do Senhor que diz para virar a outra face? Você provavelmente dirá: Sim; estou preparado. Mas a ocorrência descrita em sua carta é exatamente uma ocasião onde este mandamento se aplica. Ser atingido na face não deveria ser tomado de modo literal. Deveríamos entendê-lo como sendo qualquer ação de nosso vizinho na qual, nos parece, não recebemos a devida atenção e respeito – qualquer ação pela qual nos sentimos degradados, e nossa honra, como as pessoas a chamam, sentiu-se ferida. Cada ação deste tipo, por mais trivial que seja – um olhar, uma expressão – é um tapa no rosto. Não somente deveríamos suportar isto, mas deveríamos também estar prontos para alguma degradação ainda maior que correspondesse ao oferecimento da outra face. O que aconteceu em seu caso foi uma levíssima palmada no rosto. E o que você fez? Virou a outra face? Não, muito longe de oferecê-la, você retaliou. Por ter retalhado, você fez a outra pessoa sentir que você é alguém, como se dissesse: “Mantenha suas mãos longe de mim!” O que há de bom para nós, você e eu, se fizermos isso? E como podemos ser considerados como discípulos de Cristo se não obedecemos ao seu mandamento? O que você deveria ter feito era considerar: mereço alguma atenção? Se você tivesse tido este sentimento de demérito em seu coração você não teria tomado a ofensa.
TEÓFANO, O RECLUSO
Taking offence, and turning the other cheek (p.273)
You say that you are offended. To be offended at lack of atten¬tion is to consider oneself worthy of attention, and consequently to set a high value upon oneself in the heart; in other words, to have a heart swollen with pride. Is this good? Is it not our duty to endure wrongful accusations? Certainly it is. How then shall we start practising this duty? After all, when we are com¬manded to endure, we have to endure every unpleasantness without exception, and endure gladly, without losing our inward peace. The Lord told us, when smitten on one cheek, to turn the other also, but we are so sensitive that if a fly so much as brushes us with its wing in passing we are immediately up in arms. Tell me, are you prepared to obey this commandment of the Lord about being smitten on the cheek? You will probably say, Yes, you are prepared. Yet the instance you describe in your letter is precisely an occasion where this commandment applies. Being smitten on the cheek should not be taken literally. We should understand by it any action of our neighbour in which, it seems to us, we did not receive due attention and respect— any action by which we feel degraded, and our honour, as people call it, wounded. Every deed of this kind, however trivial— a look, an expression—is a blow on the cheek. Not only should, we endure it, but we should also be ready for some greater degradation which would correspond to turning the other cheek. What happened in your case was a very light slap on one cheek. And what did you do? Did you turn the other? No; so far from turning it, you retaliated. For you have already retaliated; you have made the other person feel that you are somebody, as though saying, 'Keep your hands off me!' But what are we good for, you and I, if we do this ? And how can we be regarded as disciples of Christ if we do not obey His commandments? What you should have done is to consider: do I deserve any atten¬tion? If you had had this feeling of unworthiness in your heart you would not have taken offence.
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo com Cruz de pé sobre Leão e Serpente (Cruz invertida em Espada)
Mosaico Bizantino – Ravenna – Séc. V
Saque da espada da humildade
Agitação espiritual e as paixões danificam o sangue e efetivamente danificam nossa saúde. Jejum e uma geral abstinência em nossa vida diária são os melhores caminhos para conservar nossa saúde sã e vigorosa.
A oração introduz o espírito humano no reino de Deus onde habita a rocha da vida; e o corpo também, conduzido pelo espírito, compartilha aquela vida. Um espírito contrito, sentimentos de arrependimento e lágrimas – estes não diminuem nossa força física mas a aumentam, pois trazem a alma um estado de conforto.
Você deseja que a contrição e as lágrimas nunca lhe deixem, mas você faria melhor se desejasse que o espírito da profunda humildade sempre reinasse em você. Isto traz lágrimas e contrição, e também nos impede de ficar inchado de orgulho por tê-los. Pois o inimigo articula para introduzir veneno mesmo através de pensamentos como estes.
Existe hipocrisia espiritual que também pode acompanhar a contrição. A verdadeira contrição não interfere com a pura felicidade espiritual, mas pode existir em harmonia com ela, ¬oculta por detrás dela.
E o que fazer com o apreço de si mesmo? Saque da espada da humildade e da mansidão, mantenha-a sempre em sua mão, e impiedosamente corte a cabeça de nosso principal inimigo.
TEÓFANO, O RECLUSO
Take up the sword of humility (p.275)
Spiritual unrest and passions harm the blood and effectively damage our health. Fasting and a general abstinence in our daily life are the best way to preserve our health sound and vigorous.
Prayer introduces the human spirit into God's realm where the rock of life dwells; and the body also, led by the spirit, partakes of that life. A contrite spirit, feelings of repentance, and tears—these do not diminish our physical strength but add to it, for they bring the soul to a state of comfort.
You wish that contrition and tears would never leave you, but you had better wish that the spirit of deep humility should always reign in you. This brings tears and contrition, and it also pre¬vents us from being puffed up with pride at having them. For the enemy manages to introduce poison even through such things as these.
There is also spiritual hypocrisy which may accompany con¬trition. True contrition does not interfere with pure spiritual joy, but can exist in harmony with it, concealed behind it.
And what of self-appreciation? Take up the sword of humility and meekness, hold it always in your hand, and mercilessly cut off the head of our chief foe.
THEOPHAN THE RECLUSE
Uma Antologia Ortodoxa
compilada pelo
Hegúmeno Chariton de Valamo
CAPÍTULO VI
GUERRA COM AS PAIXÕES
de vários autores
(vi) HUMILDADE E AMOR
Nossa Senhora e o Menino – Fra Angélico – Pós 1430.
Onde a humildade e o amor estão ausentes, tudo que é espiritual está ausente
Você diz que não tem humildade nem amor. Tanto quanto estes estejam ausentes, tudo o que é espiritual estará ausente. O que é espiritual nasce quando eles nascem e cresce na medida em que eles crescem. Para a alma, eles são o mesmo que o controle da carne é para o corpo. A humildade é obtida através de atos de humildade, o amor por atos de amor.
TEÓFANO, O RECLUSO
Where humility and love are absent, everything spiritual is absent (p.271)
You say that you have no humility or love. So long as these are absent, everything spiritual is absent. What is spiritual is born when they are born and grows as they grow. They are the same for the soul as mastery of the flesh is for the body. Humility is acquired by acts of humility, love by acts of love.
THEOPHAN THE RECLUSE
Chico Xavier – 1910 - 2002
A medida da humildade
Mantenha ambos os olhos abertos. Esta é a medida da humildade: se um homem é submisso ele nunca acha que foi tratado pior do que ele merece. Ele permanece tão baixo em sua própria estima que ninguém, por muito que tente, pode pensar mais pobremente dele que ele próprio. Este é todo o segredo do problema.
TEÓFANO, O RECLUSO
The measure of humility (p.271)
Keep both eyes open. This is the measure of humility: if a man is humble he never thinks that he has been treated worse than he deserves. He stands so low in his own estimation that no one, however hard they try, can think more poorly of him than he thinks himself. This is the whole secret of the matter.
THEOPHAN THE RECLUSE
Conversão de Agostinho de Hipona – (Tolle Legge)
Leitura da Epístola de São Paulo (Rom. xiii. 13-14) – Benozzo Gozzoli – 1465
Defeitos de caráter
O Senhor algumas vezes deixa em nós alguns defeitos de caráter para que aprendamos humildade. Pois sem eles nós imediatamente soaríamos acima das nuvens em nossa própria estima e colocaríamos nosso trono lá. E aqui reside toda a perdição.
TEÓFANO, O RECLUSO
Defects of character (p.271)
The Lord sometimes leaves in us some defects of character in order that we should learn humility. For without them we would immediately soar above the clouds in our own estimation and would place our throne there. And herein lies perdition.
THEOPHAN THE RECLUSE
Retrato de Agostinho de Hipona – Philippe de Champaigne – Séc. XVII.
O caminho para a humildade – obediência
Para mim, não há necessidade de repetir-lhe que a invencível arma contra todos nossos inimigos é a humildade. Não é facilmente obtida. Nós podemos achar que somos submissos sem ter um só traço de verdadeira humildade. E não podemos nos tornar despretensiosos meramente pensando sobre isso. O melhor, ou ainda, o único caminho seguro para a humildade é através da obediência e pela renúncia de nossa própria vontade. Sem isto é possível desenvolver em nós um orgulho satânico, enquanto somos modestos nas palavras e nas posturas corporais. Eu lhe imploro a prestar atenção a este ponto e, com todo receio, examine a condição da sua vida. Ela inclui obediência e renúncia da sua vontade? De todas as coisas que faz, quantas são feitas contrarias a sua própria vontade, suas idéias e reflexões? Você faz algo sem desejar, através da absoluta obediência, simplesmente porque foi ordenado? Por favor, examine-a inteiramente e diga-me. Se não há nada deste tipo de obediência, a espécie de vida que conduz não lhe trará humildade. Não importa o quanto você possa humilhar-se no pensamento, sem atos que lhe conduzam a auto-humilhação, a humildade não virá. Assim, você deve pensar cuidadosamente como providenciar isto.
TEÓFANO, O RECLUSO
The path to humility—obedience (p.271)
There is no need for me to repeat to you that the invincible weapon against all our enemies is humility. It is not easily ac¬quired. We can think ourselves humble without having a trace of true humility. And we cannot make ourselves humble merely by thinking about it. The best, or rather, the only sure way to humility is by obedience and the surrender of our own will. Without this it is possible to develop a satanic pride in ourselves, while being humble in words and in bodily postures. I beg you to pay attention to this point and, in all fear, examine the order of your life. Does it include obedience and surrender of your will? Out of all the things you do, how many are done contrary to your own will, your own ideas and reflections? Do you do anything unwillingly, simply because you are ordered, through sheer obedience? Please examine it all thoroughly and tell me. If there is nothing of this type of obedience, the kind of life you lead will not bring you to humility. No matter how much you may humble yourself in thought, without deeds leading to self-abasement humility will not come. So you must think carefully how to arrange for this.
THEOPHAN THE RECLUSE
Máscara de Teatro Nô (Efeito da Luz) – Japão
Presunção e censura
Humilhar-se ainda não é humildade, mas somente o desejo e a busca por humildade. Possa o Senhor ajudar-lhe a adquirir esta virtude. Há um espírito de ilusão que de algum modo desconhecido engana a alma por sua astúcia. Ele tanto confunde nossos pensamentos que a alma acha-se submissa, enquanto que ela oculta, internamente, uma arrogante e presunçosa opinião sobre seu próprio valor. Assim temos que seguir olhando cuidadosamente em nosso coração. Relações externas que nos conduzem a humildade são os melhores meios aqui.
Você tem sido de algum modo negligente. O temor a Deus lhe deixou, e logo em seguida aquela atenção também lhe deixou, e você recaiu no hábito de censurar as pessoas. Você diz que pecou internamente, e isto é verdadeiro. Arrependa-se rapidamente e implore o perdão de Deus. Tal falta como esta traz sua própria paga: a falta é interna, e assim é a punição. Nós podemos condenar os outros não apenas em palavras mas também com um movimento interno do coração. Se a alma, quando pensa sobre outros, os critica adversamente, então ela já os condenou.
TEÓFANO, O RECLUSO
Conceit and censoriousness (p. 272)
Humbling oneself is not yet humility, but only the desire and search for humility. May the Lord help you to acquire this virtue. There is a spirit of illusion which in some unknown way deceives the soul by its guile. It so confuses our thoughts that the soul thinks itself humble, whereas inwardly it conceals an arrogant and conceited opinion of its own worth. So we have to go on looking carefully into our heart. External relationships which lead us to humility are the best means here.
You have been somewhat negligent. The fear of God left you, and soon after that attention left you too, and you fell into the habit of censuring people. You say that you have sinned inwardly, and this is true. Repent quickly and beg God's forgiveness. Such a fault as that brings its own retribution: the fault is inward, and so is the punishment. We can condemn others not only in words but also with an inner movement of the heart. If the soul, when thinking of someone, criticizes them adversely, then it has already condemned them.
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo entre os Doutores – Albrecht Dürer - 1506
Tomando a ofensa, e virando a outra face
Você diz que está ofendido. Estar ofendido por falta de atenção é considerar a si mesmo merecedor de atenção e, consequentemente, dar um alto valor a si mesmo no coração; em outras palavras, ter um coração inchado com orgulho. É isto bom? Não é nossa tarefa suportar acusações errôneas? Certamente que é. Como, então, começaremos a praticar esta tarefa? Afinal de contas, quando estamos determinados a suportar, temos que suportar cada aborrecimento sem exceção, e suportar com alegria, sem perder nossa paz interior.
O Senhor disse-nos que quando fôssemos atingidos em uma face virássemos a outra também, mas nós somos tão sensitivos que assim que uma mosca nos roça, ao passar com suas asas, imediatamente já ficamos armados. Diga-me, você está preparado para obedecer àquele mandamento do Senhor que diz para virar a outra face? Você provavelmente dirá: Sim; estou preparado. Mas a ocorrência descrita em sua carta é exatamente uma ocasião onde este mandamento se aplica. Ser atingido na face não deveria ser tomado de modo literal. Deveríamos entendê-lo como sendo qualquer ação de nosso vizinho na qual, nos parece, não recebemos a devida atenção e respeito – qualquer ação pela qual nos sentimos degradados, e nossa honra, como as pessoas a chamam, sentiu-se ferida. Cada ação deste tipo, por mais trivial que seja – um olhar, uma expressão – é um tapa no rosto. Não somente deveríamos suportar isto, mas deveríamos também estar prontos para alguma degradação ainda maior que correspondesse ao oferecimento da outra face. O que aconteceu em seu caso foi uma levíssima palmada no rosto. E o que você fez? Virou a outra face? Não, muito longe de oferecê-la, você retaliou. Por ter retalhado, você fez a outra pessoa sentir que você é alguém, como se dissesse: “Mantenha suas mãos longe de mim!” O que há de bom para nós, você e eu, se fizermos isso? E como podemos ser considerados como discípulos de Cristo se não obedecemos ao seu mandamento? O que você deveria ter feito era considerar: mereço alguma atenção? Se você tivesse tido este sentimento de demérito em seu coração você não teria tomado a ofensa.
TEÓFANO, O RECLUSO
Taking offence, and turning the other cheek (p.273)
You say that you are offended. To be offended at lack of atten¬tion is to consider oneself worthy of attention, and consequently to set a high value upon oneself in the heart; in other words, to have a heart swollen with pride. Is this good? Is it not our duty to endure wrongful accusations? Certainly it is. How then shall we start practising this duty? After all, when we are com¬manded to endure, we have to endure every unpleasantness without exception, and endure gladly, without losing our inward peace. The Lord told us, when smitten on one cheek, to turn the other also, but we are so sensitive that if a fly so much as brushes us with its wing in passing we are immediately up in arms. Tell me, are you prepared to obey this commandment of the Lord about being smitten on the cheek? You will probably say, Yes, you are prepared. Yet the instance you describe in your letter is precisely an occasion where this commandment applies. Being smitten on the cheek should not be taken literally. We should understand by it any action of our neighbour in which, it seems to us, we did not receive due attention and respect— any action by which we feel degraded, and our honour, as people call it, wounded. Every deed of this kind, however trivial— a look, an expression—is a blow on the cheek. Not only should, we endure it, but we should also be ready for some greater degradation which would correspond to turning the other cheek. What happened in your case was a very light slap on one cheek. And what did you do? Did you turn the other? No; so far from turning it, you retaliated. For you have already retaliated; you have made the other person feel that you are somebody, as though saying, 'Keep your hands off me!' But what are we good for, you and I, if we do this ? And how can we be regarded as disciples of Christ if we do not obey His commandments? What you should have done is to consider: do I deserve any atten¬tion? If you had had this feeling of unworthiness in your heart you would not have taken offence.
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo com Cruz de pé sobre Leão e Serpente (Cruz invertida em Espada)
Mosaico Bizantino – Ravenna – Séc. V
Saque da espada da humildade
Agitação espiritual e as paixões danificam o sangue e efetivamente danificam nossa saúde. Jejum e uma geral abstinência em nossa vida diária são os melhores caminhos para conservar nossa saúde sã e vigorosa.
A oração introduz o espírito humano no reino de Deus onde habita a rocha da vida; e o corpo também, conduzido pelo espírito, compartilha aquela vida. Um espírito contrito, sentimentos de arrependimento e lágrimas – estes não diminuem nossa força física mas a aumentam, pois trazem a alma um estado de conforto.
Você deseja que a contrição e as lágrimas nunca lhe deixem, mas você faria melhor se desejasse que o espírito da profunda humildade sempre reinasse em você. Isto traz lágrimas e contrição, e também nos impede de ficar inchado de orgulho por tê-los. Pois o inimigo articula para introduzir veneno mesmo através de pensamentos como estes.
Existe hipocrisia espiritual que também pode acompanhar a contrição. A verdadeira contrição não interfere com a pura felicidade espiritual, mas pode existir em harmonia com ela, ¬oculta por detrás dela.
E o que fazer com o apreço de si mesmo? Saque da espada da humildade e da mansidão, mantenha-a sempre em sua mão, e impiedosamente corte a cabeça de nosso principal inimigo.
TEÓFANO, O RECLUSO
Take up the sword of humility (p.275)
Spiritual unrest and passions harm the blood and effectively damage our health. Fasting and a general abstinence in our daily life are the best way to preserve our health sound and vigorous.
Prayer introduces the human spirit into God's realm where the rock of life dwells; and the body also, led by the spirit, partakes of that life. A contrite spirit, feelings of repentance, and tears—these do not diminish our physical strength but add to it, for they bring the soul to a state of comfort.
You wish that contrition and tears would never leave you, but you had better wish that the spirit of deep humility should always reign in you. This brings tears and contrition, and it also pre¬vents us from being puffed up with pride at having them. For the enemy manages to introduce poison even through such things as these.
There is also spiritual hypocrisy which may accompany con¬trition. True contrition does not interfere with pure spiritual joy, but can exist in harmony with it, concealed behind it.
And what of self-appreciation? Take up the sword of humility and meekness, hold it always in your hand, and mercilessly cut off the head of our chief foe.
THEOPHAN THE RECLUSE
A Arte da Prece - Uma Antologia Ortodoxa. (Capítulo VI - vii) Humildade e Amor
A ARTE DA PRECE
Uma Antologia Ortodoxa
compilada pelo
Hegúmeno Chariton de Valamo
CAPÍTULO VI
GUERRA COM AS PAIXÕES
de vários autores
(vi) HUMILDADE E AMOR
Nossa Senhora e o Menino – Fra Angélico – Pós 1430.
Onde a humildade e o amor estão ausentes, tudo que é espiritual está ausente
Você diz que não tem humildade nem amor. Tanto quanto estes estejam ausentes, tudo o que é espiritual estará ausente. O que é espiritual nasce quando eles nascem e cresce na medida em que eles crescem. Para a alma, eles são o mesmo que o controle da carne é para o corpo. A humildade é obtida através de atos de humildade, o amor por atos de amor.
TEÓFANO, O RECLUSO
Where humility and love are absent, everything spiritual is absent (p.271)
You say that you have no humility or love. So long as these are absent, everything spiritual is absent. What is spiritual is born when they are born and grows as they grow. They are the same for the soul as mastery of the flesh is for the body. Humility is acquired by acts of humility, love by acts of love.
THEOPHAN THE RECLUSE
Chico Xavier – 1910 - 2002
A medida da humildade
Mantenha ambos os olhos abertos. Esta é a medida da humildade: se um homem é submisso ele nunca acha que foi tratado pior do que ele merece. Ele permanece tão baixo em sua própria estima que ninguém, por muito que tente, pode pensar mais pobremente dele que ele próprio. Este é todo o segredo do problema.
TEÓFANO, O RECLUSO
The measure of humility (p.271)
Keep both eyes open. This is the measure of humility: if a man is humble he never thinks that he has been treated worse than he deserves. He stands so low in his own estimation that no one, however hard they try, can think more poorly of him than he thinks himself. This is the whole secret of the matter.
THEOPHAN THE RECLUSE
Conversão de Agostinho de Hipona – (Tolle Legge)
Leitura da Epístola de São Paulo (Rom. xiii. 13-14) – Benozzo Gozzoli – 1465
Defeitos de caráter
O Senhor algumas vezes deixa em nós alguns defeitos de caráter para que aprendamos humildade. Pois sem eles nós imediatamente soaríamos acima das nuvens em nossa própria estima e colocaríamos nosso trono lá. E aqui reside toda a perdição.
TEÓFANO, O RECLUSO
Defects of character (p.271)
The Lord sometimes leaves in us some defects of character in order that we should learn humility. For without them we would immediately soar above the clouds in our own estimation and would place our throne there. And herein lies perdition.
THEOPHAN THE RECLUSE
Retrato de Agostinho de Hipona – Philippe de Champaigne – Séc. XVII.
O caminho para a humildade – obediência
Para mim, não há necessidade de repetir-lhe que a invencível arma contra todos nossos inimigos é a humildade. Não é facilmente obtida. Nós podemos achar que somos submissos sem ter um só traço de verdadeira humildade. E não podemos nos tornar despretensiosos meramente pensando sobre isso. O melhor, ou ainda, o único caminho seguro para a humildade é através da obediência e pela renúncia de nossa própria vontade. Sem isto é possível desenvolver em nós um orgulho satânico, enquanto somos modestos nas palavras e nas posturas corporais. Eu lhe imploro a prestar atenção a este ponto e, com todo receio, examine a condição da sua vida. Ela inclui obediência e renúncia da sua vontade? De todas as coisas que faz, quantas são feitas contrarias a sua própria vontade, suas idéias e reflexões? Você faz algo sem desejar, através da absoluta obediência, simplesmente porque foi ordenado? Por favor, examine-a inteiramente e diga-me. Se não há nada deste tipo de obediência, a espécie de vida que conduz não lhe trará humildade. Não importa o quanto você possa humilhar-se no pensamento, sem atos que lhe conduzam a auto-humilhação, a humildade não virá. Assim, você deve pensar cuidadosamente como providenciar isto.
TEÓFANO, O RECLUSO
The path to humility—obedience (p.271)
There is no need for me to repeat to you that the invincible weapon against all our enemies is humility. It is not easily ac¬quired. We can think ourselves humble without having a trace of true humility. And we cannot make ourselves humble merely by thinking about it. The best, or rather, the only sure way to humility is by obedience and the surrender of our own will. Without this it is possible to develop a satanic pride in ourselves, while being humble in words and in bodily postures. I beg you to pay attention to this point and, in all fear, examine the order of your life. Does it include obedience and surrender of your will? Out of all the things you do, how many are done contrary to your own will, your own ideas and reflections? Do you do anything unwillingly, simply because you are ordered, through sheer obedience? Please examine it all thoroughly and tell me. If there is nothing of this type of obedience, the kind of life you lead will not bring you to humility. No matter how much you may humble yourself in thought, without deeds leading to self-abasement humility will not come. So you must think carefully how to arrange for this.
THEOPHAN THE RECLUSE
Máscara de Teatro Nô (Efeito da Luz) – Japão
Presunção e censura
Humilhar-se ainda não é humildade, mas somente o desejo e a busca por humildade. Possa o Senhor ajudar-lhe a adquirir esta virtude. Há um espírito de ilusão que de algum modo desconhecido engana a alma por sua astúcia. Ele tanto confunde nossos pensamentos que a alma acha-se submissa, enquanto que ela oculta, internamente, uma arrogante e presunçosa opinião sobre seu próprio valor. Assim temos que seguir olhando cuidadosamente em nosso coração. Relações externas que nos conduzem a humildade são os melhores meios aqui.
Você tem sido de algum modo negligente. O temor a Deus lhe deixou, e logo em seguida aquela atenção também lhe deixou, e você recaiu no hábito de censurar as pessoas. Você diz que pecou internamente, e isto é verdadeiro. Arrependa-se rapidamente e implore o perdão de Deus. Tal falta como esta traz sua própria paga: a falta é interna, e assim é a punição. Nós podemos condenar os outros não apenas em palavras mas também com um movimento interno do coração. Se a alma, quando pensa sobre outros, os critica adversamente, então ela já os condenou.
TEÓFANO, O RECLUSO
Conceit and censoriousness (p. 272)
Humbling oneself is not yet humility, but only the desire and search for humility. May the Lord help you to acquire this virtue. There is a spirit of illusion which in some unknown way deceives the soul by its guile. It so confuses our thoughts that the soul thinks itself humble, whereas inwardly it conceals an arrogant and conceited opinion of its own worth. So we have to go on looking carefully into our heart. External relationships which lead us to humility are the best means here.
You have been somewhat negligent. The fear of God left you, and soon after that attention left you too, and you fell into the habit of censuring people. You say that you have sinned inwardly, and this is true. Repent quickly and beg God's forgiveness. Such a fault as that brings its own retribution: the fault is inward, and so is the punishment. We can condemn others not only in words but also with an inner movement of the heart. If the soul, when thinking of someone, criticizes them adversely, then it has already condemned them.
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo entre os Doutores – Albrecht Dürer - 1506
Tomando a ofensa, e virando a outra face
Você diz que está ofendido. Estar ofendido por falta de atenção é considerar a si mesmo merecedor de atenção e, consequentemente, dar um alto valor a si mesmo no coração; em outras palavras, ter um coração inchado com orgulho. É isto bom? Não é nossa tarefa suportar acusações errôneas? Certamente que é. Como, então, começaremos a praticar esta tarefa? Afinal de contas, quando estamos determinados a suportar, temos que suportar cada aborrecimento sem exceção, e suportar com alegria, sem perder nossa paz interior.
O Senhor disse-nos que quando fôssemos atingidos em uma face virássemos a outra também, mas nós somos tão sensitivos que assim que uma mosca nos roça, ao passar com suas asas, imediatamente já ficamos armados. Diga-me, você está preparado para obedecer àquele mandamento do Senhor que diz para virar a outra face? Você provavelmente dirá: Sim; estou preparado. Mas a ocorrência descrita em sua carta é exatamente uma ocasião onde este mandamento se aplica. Ser atingido na face não deveria ser tomado de modo literal. Deveríamos entendê-lo como sendo qualquer ação de nosso vizinho na qual, nos parece, não recebemos a devida atenção e respeito – qualquer ação pela qual nos sentimos degradados, e nossa honra, como as pessoas a chamam, sentiu-se ferida. Cada ação deste tipo, por mais trivial que seja – um olhar, uma expressão – é um tapa no rosto. Não somente deveríamos suportar isto, mas deveríamos também estar prontos para alguma degradação ainda maior que correspondesse ao oferecimento da outra face. O que aconteceu em seu caso foi uma levíssima palmada no rosto. E o que você fez? Virou a outra face? Não, muito longe de oferecê-la, você retaliou. Por ter retalhado, você fez a outra pessoa sentir que você é alguém, como se dissesse: “Mantenha suas mãos longe de mim!” O que há de bom para nós, você e eu, se fizermos isso? E como podemos ser considerados como discípulos de Cristo se não obedecemos ao seu mandamento? O que você deveria ter feito era considerar: mereço alguma atenção? Se você tivesse tido este sentimento de demérito em seu coração você não teria tomado a ofensa.
TEÓFANO, O RECLUSO
Taking offence, and turning the other cheek (p.273)
You say that you are offended. To be offended at lack of atten¬tion is to consider oneself worthy of attention, and consequently to set a high value upon oneself in the heart; in other words, to have a heart swollen with pride. Is this good? Is it not our duty to endure wrongful accusations? Certainly it is. How then shall we start practising this duty? After all, when we are com¬manded to endure, we have to endure every unpleasantness without exception, and endure gladly, without losing our inward peace. The Lord told us, when smitten on one cheek, to turn the other also, but we are so sensitive that if a fly so much as brushes us with its wing in passing we are immediately up in arms. Tell me, are you prepared to obey this commandment of the Lord about being smitten on the cheek? You will probably say, Yes, you are prepared. Yet the instance you describe in your letter is precisely an occasion where this commandment applies. Being smitten on the cheek should not be taken literally. We should understand by it any action of our neighbour in which, it seems to us, we did not receive due attention and respect— any action by which we feel degraded, and our honour, as people call it, wounded. Every deed of this kind, however trivial— a look, an expression—is a blow on the cheek. Not only should, we endure it, but we should also be ready for some greater degradation which would correspond to turning the other cheek. What happened in your case was a very light slap on one cheek. And what did you do? Did you turn the other? No; so far from turning it, you retaliated. For you have already retaliated; you have made the other person feel that you are somebody, as though saying, 'Keep your hands off me!' But what are we good for, you and I, if we do this ? And how can we be regarded as disciples of Christ if we do not obey His commandments? What you should have done is to consider: do I deserve any atten¬tion? If you had had this feeling of unworthiness in your heart you would not have taken offence.
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo com Cruz de pé sobre Leão e Serpente (Cruz invertida em Espada)
Mosaico Bizantino – Ravenna – Séc. V
Saque da espada da humildade
Agitação espiritual e as paixões danificam o sangue e efetivamente danificam nossa saúde. Jejum e uma geral abstinência em nossa vida diária são os melhores caminhos para conservar nossa saúde sã e vigorosa.
A oração introduz o espírito humano no reino de Deus onde habita a rocha da vida; e o corpo também, conduzido pelo espírito, compartilha aquela vida. Um espírito contrito, sentimentos de arrependimento e lágrimas – estes não diminuem nossa força física mas a aumentam, pois trazem a alma um estado de conforto.
Você deseja que a contrição e as lágrimas nunca lhe deixem, mas você faria melhor se desejasse que o espírito da profunda humildade sempre reinasse em você. Isto traz lágrimas e contrição, e também nos impede de ficar inchado de orgulho por tê-los. Pois o inimigo articula para introduzir veneno mesmo através de pensamentos como estes.
Existe hipocrisia espiritual que também pode acompanhar a contrição. A verdadeira contrição não interfere com a pura felicidade espiritual, mas pode existir em harmonia com ela, ¬oculta por detrás dela.
E o que fazer com o apreço de si mesmo? Saque da espada da humildade e da mansidão, mantenha-a sempre em sua mão, e impiedosamente corte a cabeça de nosso principal inimigo.
TEÓFANO, O RECLUSO
Take up the sword of humility (p.275)
Spiritual unrest and passions harm the blood and effectively damage our health. Fasting and a general abstinence in our daily life are the best way to preserve our health sound and vigorous.
Prayer introduces the human spirit into God's realm where the rock of life dwells; and the body also, led by the spirit, partakes of that life. A contrite spirit, feelings of repentance, and tears—these do not diminish our physical strength but add to it, for they bring the soul to a state of comfort.
You wish that contrition and tears would never leave you, but you had better wish that the spirit of deep humility should always reign in you. This brings tears and contrition, and it also pre¬vents us from being puffed up with pride at having them. For the enemy manages to introduce poison even through such things as these.
There is also spiritual hypocrisy which may accompany con¬trition. True contrition does not interfere with pure spiritual joy, but can exist in harmony with it, concealed behind it.
And what of self-appreciation? Take up the sword of humility and meekness, hold it always in your hand, and mercilessly cut off the head of our chief foe.
THEOPHAN THE RECLUSE
Uma Antologia Ortodoxa
compilada pelo
Hegúmeno Chariton de Valamo
CAPÍTULO VI
GUERRA COM AS PAIXÕES
de vários autores
(vi) HUMILDADE E AMOR
Nossa Senhora e o Menino – Fra Angélico – Pós 1430.
Onde a humildade e o amor estão ausentes, tudo que é espiritual está ausente
Você diz que não tem humildade nem amor. Tanto quanto estes estejam ausentes, tudo o que é espiritual estará ausente. O que é espiritual nasce quando eles nascem e cresce na medida em que eles crescem. Para a alma, eles são o mesmo que o controle da carne é para o corpo. A humildade é obtida através de atos de humildade, o amor por atos de amor.
TEÓFANO, O RECLUSO
Where humility and love are absent, everything spiritual is absent (p.271)
You say that you have no humility or love. So long as these are absent, everything spiritual is absent. What is spiritual is born when they are born and grows as they grow. They are the same for the soul as mastery of the flesh is for the body. Humility is acquired by acts of humility, love by acts of love.
THEOPHAN THE RECLUSE
Chico Xavier – 1910 - 2002
A medida da humildade
Mantenha ambos os olhos abertos. Esta é a medida da humildade: se um homem é submisso ele nunca acha que foi tratado pior do que ele merece. Ele permanece tão baixo em sua própria estima que ninguém, por muito que tente, pode pensar mais pobremente dele que ele próprio. Este é todo o segredo do problema.
TEÓFANO, O RECLUSO
The measure of humility (p.271)
Keep both eyes open. This is the measure of humility: if a man is humble he never thinks that he has been treated worse than he deserves. He stands so low in his own estimation that no one, however hard they try, can think more poorly of him than he thinks himself. This is the whole secret of the matter.
THEOPHAN THE RECLUSE
Conversão de Agostinho de Hipona – (Tolle Legge)
Leitura da Epístola de São Paulo (Rom. xiii. 13-14) – Benozzo Gozzoli – 1465
Defeitos de caráter
O Senhor algumas vezes deixa em nós alguns defeitos de caráter para que aprendamos humildade. Pois sem eles nós imediatamente soaríamos acima das nuvens em nossa própria estima e colocaríamos nosso trono lá. E aqui reside toda a perdição.
TEÓFANO, O RECLUSO
Defects of character (p.271)
The Lord sometimes leaves in us some defects of character in order that we should learn humility. For without them we would immediately soar above the clouds in our own estimation and would place our throne there. And herein lies perdition.
THEOPHAN THE RECLUSE
Retrato de Agostinho de Hipona – Philippe de Champaigne – Séc. XVII.
O caminho para a humildade – obediência
Para mim, não há necessidade de repetir-lhe que a invencível arma contra todos nossos inimigos é a humildade. Não é facilmente obtida. Nós podemos achar que somos submissos sem ter um só traço de verdadeira humildade. E não podemos nos tornar despretensiosos meramente pensando sobre isso. O melhor, ou ainda, o único caminho seguro para a humildade é através da obediência e pela renúncia de nossa própria vontade. Sem isto é possível desenvolver em nós um orgulho satânico, enquanto somos modestos nas palavras e nas posturas corporais. Eu lhe imploro a prestar atenção a este ponto e, com todo receio, examine a condição da sua vida. Ela inclui obediência e renúncia da sua vontade? De todas as coisas que faz, quantas são feitas contrarias a sua própria vontade, suas idéias e reflexões? Você faz algo sem desejar, através da absoluta obediência, simplesmente porque foi ordenado? Por favor, examine-a inteiramente e diga-me. Se não há nada deste tipo de obediência, a espécie de vida que conduz não lhe trará humildade. Não importa o quanto você possa humilhar-se no pensamento, sem atos que lhe conduzam a auto-humilhação, a humildade não virá. Assim, você deve pensar cuidadosamente como providenciar isto.
TEÓFANO, O RECLUSO
The path to humility—obedience (p.271)
There is no need for me to repeat to you that the invincible weapon against all our enemies is humility. It is not easily ac¬quired. We can think ourselves humble without having a trace of true humility. And we cannot make ourselves humble merely by thinking about it. The best, or rather, the only sure way to humility is by obedience and the surrender of our own will. Without this it is possible to develop a satanic pride in ourselves, while being humble in words and in bodily postures. I beg you to pay attention to this point and, in all fear, examine the order of your life. Does it include obedience and surrender of your will? Out of all the things you do, how many are done contrary to your own will, your own ideas and reflections? Do you do anything unwillingly, simply because you are ordered, through sheer obedience? Please examine it all thoroughly and tell me. If there is nothing of this type of obedience, the kind of life you lead will not bring you to humility. No matter how much you may humble yourself in thought, without deeds leading to self-abasement humility will not come. So you must think carefully how to arrange for this.
THEOPHAN THE RECLUSE
Máscara de Teatro Nô (Efeito da Luz) – Japão
Presunção e censura
Humilhar-se ainda não é humildade, mas somente o desejo e a busca por humildade. Possa o Senhor ajudar-lhe a adquirir esta virtude. Há um espírito de ilusão que de algum modo desconhecido engana a alma por sua astúcia. Ele tanto confunde nossos pensamentos que a alma acha-se submissa, enquanto que ela oculta, internamente, uma arrogante e presunçosa opinião sobre seu próprio valor. Assim temos que seguir olhando cuidadosamente em nosso coração. Relações externas que nos conduzem a humildade são os melhores meios aqui.
Você tem sido de algum modo negligente. O temor a Deus lhe deixou, e logo em seguida aquela atenção também lhe deixou, e você recaiu no hábito de censurar as pessoas. Você diz que pecou internamente, e isto é verdadeiro. Arrependa-se rapidamente e implore o perdão de Deus. Tal falta como esta traz sua própria paga: a falta é interna, e assim é a punição. Nós podemos condenar os outros não apenas em palavras mas também com um movimento interno do coração. Se a alma, quando pensa sobre outros, os critica adversamente, então ela já os condenou.
TEÓFANO, O RECLUSO
Conceit and censoriousness (p. 272)
Humbling oneself is not yet humility, but only the desire and search for humility. May the Lord help you to acquire this virtue. There is a spirit of illusion which in some unknown way deceives the soul by its guile. It so confuses our thoughts that the soul thinks itself humble, whereas inwardly it conceals an arrogant and conceited opinion of its own worth. So we have to go on looking carefully into our heart. External relationships which lead us to humility are the best means here.
You have been somewhat negligent. The fear of God left you, and soon after that attention left you too, and you fell into the habit of censuring people. You say that you have sinned inwardly, and this is true. Repent quickly and beg God's forgiveness. Such a fault as that brings its own retribution: the fault is inward, and so is the punishment. We can condemn others not only in words but also with an inner movement of the heart. If the soul, when thinking of someone, criticizes them adversely, then it has already condemned them.
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo entre os Doutores – Albrecht Dürer - 1506
Tomando a ofensa, e virando a outra face
Você diz que está ofendido. Estar ofendido por falta de atenção é considerar a si mesmo merecedor de atenção e, consequentemente, dar um alto valor a si mesmo no coração; em outras palavras, ter um coração inchado com orgulho. É isto bom? Não é nossa tarefa suportar acusações errôneas? Certamente que é. Como, então, começaremos a praticar esta tarefa? Afinal de contas, quando estamos determinados a suportar, temos que suportar cada aborrecimento sem exceção, e suportar com alegria, sem perder nossa paz interior.
O Senhor disse-nos que quando fôssemos atingidos em uma face virássemos a outra também, mas nós somos tão sensitivos que assim que uma mosca nos roça, ao passar com suas asas, imediatamente já ficamos armados. Diga-me, você está preparado para obedecer àquele mandamento do Senhor que diz para virar a outra face? Você provavelmente dirá: Sim; estou preparado. Mas a ocorrência descrita em sua carta é exatamente uma ocasião onde este mandamento se aplica. Ser atingido na face não deveria ser tomado de modo literal. Deveríamos entendê-lo como sendo qualquer ação de nosso vizinho na qual, nos parece, não recebemos a devida atenção e respeito – qualquer ação pela qual nos sentimos degradados, e nossa honra, como as pessoas a chamam, sentiu-se ferida. Cada ação deste tipo, por mais trivial que seja – um olhar, uma expressão – é um tapa no rosto. Não somente deveríamos suportar isto, mas deveríamos também estar prontos para alguma degradação ainda maior que correspondesse ao oferecimento da outra face. O que aconteceu em seu caso foi uma levíssima palmada no rosto. E o que você fez? Virou a outra face? Não, muito longe de oferecê-la, você retaliou. Por ter retalhado, você fez a outra pessoa sentir que você é alguém, como se dissesse: “Mantenha suas mãos longe de mim!” O que há de bom para nós, você e eu, se fizermos isso? E como podemos ser considerados como discípulos de Cristo se não obedecemos ao seu mandamento? O que você deveria ter feito era considerar: mereço alguma atenção? Se você tivesse tido este sentimento de demérito em seu coração você não teria tomado a ofensa.
TEÓFANO, O RECLUSO
Taking offence, and turning the other cheek (p.273)
You say that you are offended. To be offended at lack of atten¬tion is to consider oneself worthy of attention, and consequently to set a high value upon oneself in the heart; in other words, to have a heart swollen with pride. Is this good? Is it not our duty to endure wrongful accusations? Certainly it is. How then shall we start practising this duty? After all, when we are com¬manded to endure, we have to endure every unpleasantness without exception, and endure gladly, without losing our inward peace. The Lord told us, when smitten on one cheek, to turn the other also, but we are so sensitive that if a fly so much as brushes us with its wing in passing we are immediately up in arms. Tell me, are you prepared to obey this commandment of the Lord about being smitten on the cheek? You will probably say, Yes, you are prepared. Yet the instance you describe in your letter is precisely an occasion where this commandment applies. Being smitten on the cheek should not be taken literally. We should understand by it any action of our neighbour in which, it seems to us, we did not receive due attention and respect— any action by which we feel degraded, and our honour, as people call it, wounded. Every deed of this kind, however trivial— a look, an expression—is a blow on the cheek. Not only should, we endure it, but we should also be ready for some greater degradation which would correspond to turning the other cheek. What happened in your case was a very light slap on one cheek. And what did you do? Did you turn the other? No; so far from turning it, you retaliated. For you have already retaliated; you have made the other person feel that you are somebody, as though saying, 'Keep your hands off me!' But what are we good for, you and I, if we do this ? And how can we be regarded as disciples of Christ if we do not obey His commandments? What you should have done is to consider: do I deserve any atten¬tion? If you had had this feeling of unworthiness in your heart you would not have taken offence.
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo com Cruz de pé sobre Leão e Serpente (Cruz invertida em Espada)
Mosaico Bizantino – Ravenna – Séc. V
Saque da espada da humildade
Agitação espiritual e as paixões danificam o sangue e efetivamente danificam nossa saúde. Jejum e uma geral abstinência em nossa vida diária são os melhores caminhos para conservar nossa saúde sã e vigorosa.
A oração introduz o espírito humano no reino de Deus onde habita a rocha da vida; e o corpo também, conduzido pelo espírito, compartilha aquela vida. Um espírito contrito, sentimentos de arrependimento e lágrimas – estes não diminuem nossa força física mas a aumentam, pois trazem a alma um estado de conforto.
Você deseja que a contrição e as lágrimas nunca lhe deixem, mas você faria melhor se desejasse que o espírito da profunda humildade sempre reinasse em você. Isto traz lágrimas e contrição, e também nos impede de ficar inchado de orgulho por tê-los. Pois o inimigo articula para introduzir veneno mesmo através de pensamentos como estes.
Existe hipocrisia espiritual que também pode acompanhar a contrição. A verdadeira contrição não interfere com a pura felicidade espiritual, mas pode existir em harmonia com ela, ¬oculta por detrás dela.
E o que fazer com o apreço de si mesmo? Saque da espada da humildade e da mansidão, mantenha-a sempre em sua mão, e impiedosamente corte a cabeça de nosso principal inimigo.
TEÓFANO, O RECLUSO
Take up the sword of humility (p.275)
Spiritual unrest and passions harm the blood and effectively damage our health. Fasting and a general abstinence in our daily life are the best way to preserve our health sound and vigorous.
Prayer introduces the human spirit into God's realm where the rock of life dwells; and the body also, led by the spirit, partakes of that life. A contrite spirit, feelings of repentance, and tears—these do not diminish our physical strength but add to it, for they bring the soul to a state of comfort.
You wish that contrition and tears would never leave you, but you had better wish that the spirit of deep humility should always reign in you. This brings tears and contrition, and it also pre¬vents us from being puffed up with pride at having them. For the enemy manages to introduce poison even through such things as these.
There is also spiritual hypocrisy which may accompany con¬trition. True contrition does not interfere with pure spiritual joy, but can exist in harmony with it, concealed behind it.
And what of self-appreciation? Take up the sword of humility and meekness, hold it always in your hand, and mercilessly cut off the head of our chief foe.
THEOPHAN THE RECLUSE
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
sábado, 22 de janeiro de 2011
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
A Arte da Prece - Uma Antologia Ortodoxa. (Capítulo IV - iii) Combustão do Espírito
A ARTE DA PRECE
Uma Antologia Ortodoxa
compilada pelo
Hegúmeno Chariton de Valamo
CAPÍTULO IV
OS FRUTOS DA ORAÇÃO
por Teófano, o Recluso.
(iii) A Combustão do Espírito
Não apague o Espírito
‘Não extingais o Espírito...’ (1 Tess. v. 19). O homem normalmente vive descuidado e despreocupado sobre o culto da Igreja e sua própria salvação. Então a graça desperta o adormecido pecador e o chama para a salvação. Escutando a este chamado com um senso de arrependimento, ele decide devotar o resto de sua vida a trabalhos que são agradáveis a Deus e, assim fazendo, obter a salvação. Esta resolução se revela no anseio e no zelo; e estes, por sua vez, tornam-se efetivos quando fortalecidos pela graça divina através dos sagrados sacramentos. A partir deste momento o Cristão começa a combustão no espírito – isto é, ele começa a ser incessantemente zeloso para realizar tudo aquilo que sua consciência lhe mostra ser a vontade de Deus.
Tanto é possível sustentar e fortalecer esta combustão do espírito, quanto extingui-la. Ela é aquecida sobretudo por atos de amor para com Deus e nossos vizinhos - isto, de fato, é a essência da vida espiritual – por uma geral fidelidade a todos os mandamentos de Deus com uma tranquila consciência, por ações que são impiedosas com nossa própria alma e corpo, e por oração e pensamentos de Deus. O espírito se apaga pela distração da atenção em Deus e aos trabalhos de Deus, por excessiva ansiedade a respeito de questões mundanas, por indulgência aos prazeres sensuais, por satisfação de desejos carnais, e por apaixonado afeto por coisas materiais. Se este espírito se extingue, então a vida Cristã também se extinguirá.
S. João Crisóstomo discute sobre esta combustão do espírito em alguns escritos. Segue um resumo daquilo que diz: ‘Uma espessa neblina, escuridão e nuvens são espalhadas sobre a terra. Referindo-se a isto o Apóstolo disse: “Pois, outrora, éreis trevas” (Efésios v. 8). Estamos circundados pela noite, sem nenhuma luz da lua para nos ajudar, e é através desta noite que devemos caminhar. Mas Deus nos deu um lampião fulgurante quando acendeu a graça do Espírito Santo em nossas almas. Mas, daqueles que receberam esta luz alguns a tornaram mais clara e brilhante, como Paulo, Pedro, e todos os santos; enquanto outros a apagaram, como as cinco virgens tolas ou aqueles que sofreram naufrágio na fé, o fornicador Coríntio ou os Gálatas decaídos. E assim Paulo diz: “Não extingais o Espírito”, isto é, o presente, pois ele geralmente fala do “presente” do Espírito Santo. E aquilo que o extingue é uma vida impura. Pois se qualquer um despejar água ou jogar terra sobre a luz de um lampião, ela se desvanece, e isto também ocorre se o óleo do lampião é despejado: do mesmo modo o presente da graça é extinto. Se você abarrotou sua mente com coisas mundanas, se você se entregou aos cuidados das questões cotidianas, você já apagou o Espírito. A chama também se desvanece quando não há óleo suficiente, isto é, quando não mostramos caridade. O Espírito chegou-lhe através da misericórdia de Deus; logo, se ele não encontra correspondentes frutos de misericórdia em você, ele se afasta para longe. Pois o Espírito não faz sua morada numa alma sem piedade.
‘Vamos, então, tomar cuidado para não apagar o Espírito. Todas as ações más extinguem esta luz: calúnias, ofensas e coisas do gênero. A natureza do fogo é tal que tudo aquilo que lhe é estranho o destrói, e tudo o que é semelhante lhe dá ulterior força. Esta luz do Espírito reage da mesma maneira’.
Este é o modo no qual o espírito da graça se manifesta nos Cristãos. Através do arrependimento e da fé ele desce à alma de cada homem no sacramento do batismo, ou ainda é devolvido a ele no sacramento da penitência. O fogo do zelo é sua essência. Mas ele pode tomar diferentes direções de acordo com o indivíduo. O espírito da graça conduz um homem a se concentrar inteiramente em sua própria santificação por severos feitos ascéticos, outro é guiado proeminentemente a trabalhos de caridade, outros são inspirados a devotar sua vida à boa organização da sociedade Cristã, e ainda outro é conduzido a disseminar o Evangelho pregando-o: um exemplo deste último é Apolo que, em combustão de espírito, falou e ensinou sobre nosso Senhor (Atos xviii. 25).
Quench not the Spirit (p. 149)
‘Quench not the Spirit . . .’ (1 Thess. v. 19). Man usually lives careless and unconcerned about the worship of the Church and his own salvation. Then grace awakes the sleeping sinner and calls him to salvation. Listening to this call with a sense of repen¬tance, he resolves to devote the rest of his life to works that are pleasing to God, and by so doing to achieve salvation. This resolution shows itself in eagerness and zeal: and these in their turn become effective when strengthened by divine grace through the holy sacraments. From this moment the Christian begins to burn in spirit—that is, he begins to be unremittingly zealous to fulfil all that his conscience shows him to be the will of God.
It is possible either to sustain and strengthen this burning of the spirit, or to quench it. It is warmed above all by acts of love towards God and our neighbour—this, indeed, is the essence of the spiritual life—by a general fidelity to all God's command¬ments, with a quiet conscience, by deeds that are pitiless to our own soul and body, and by prayer and thoughts of God. The spirit is quenched by distraction of the attention from God and God's works, by excessive anxiety about worldly matters, by indulgence in sensual pleasure, by pandering to carnal desires, and by in¬fatuation with material things. If this spirit is quenched, then the Christian life will be quenched too.
St. John Chrysostom discusses this burning of the spirit at some length. Here in brief is what he says. ‘A thick mist, darkness and clouds are spread over the earth. Referring to this the Apostle said: "For ye were sometimes darkness" (Eph. v. 8). We are surrounded by night, with no moonlight to help us, and it is through this night that we must walk. But God gave us a bright lamp when He kindled the grace of the Holy Spirit in our souls. But of those who have received this light, some have made it brighter and clearer, such as Paul, Peter, and all the saints; but others have quenched it, such as the five foolish virgins or those who suffered shipwreck in the faith, the Corinthian fornicator or the fallen Galatians. And so Paul says, "Quench not the Spirit", that is the gift, for he usually speaks of the "gift" of the Holy Spirit. And what quenches it is an impure life. For if anyone pours water or throws earth upon the light of a lamp, it goes out, and this also happens if they simply pour the oil out of it: in the same manner the gift of grace is extinguished. If you have filled your mind with earthly things, if you have given yourself up to the cares of daily business, you have already quenched the Spirit. The flame also goes out when there is not enough oil, that is, when we do not show charity. The Spirit came to you by God's mercy; and so if it does not find corresponding fruits of mercy in you, it will flee away from you. For the Spirit does not make its dwelling in the unmerciful soul.
'Let us, then, take care not to quench the Spirit. All evil actions extinguish this light: slander, offences and the like. The nature of fire is such that everything foreign to it destroys it, and everything akin to it gives it further strength. This light of the Spirit reacts in the same manner.'
This is the way in which the spirit of grace manifests itself in Christians. Through repentance and faith it descends into the soul of each man in the sacrament of baptism, or else is restored to him in the sacrament of repentance. The fire of zeal is its essence. But it can take different directions according to the individual. The spirit of grace leads one man to concentrate en¬tirely on his own sanctification by severe ascetic feats, another it guides pr-eminently to works of charity, another it inspires to devote his life to the good organization of Christian society, and again another it directs to spread the Gospel by preaching: as for example Apollos, who, burning in spirit, spoke and taught about our Lord (Acts xviii. 25).
Lúcia com a Chama - Perugino - 1505
Os sinais da combustão do espírito
‘Sejam alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração.’ (Rom. xii. 12).
Aí estão os sinais da combustão do espírito. ‘Aquele em quem o espírito queima trabalha com zelo para o Mestre, esperando regozijar-se nas boas coisas que anseia, e ele supera as tentações que encontra enfrentando seus ataques com paciência e invocando, incessantemente, o auxílio da divina graça’ (Abençoado Teodoreto). ‘Todas estas coisas servem para manter este fogo, a combustão do Espírito’ (S. João Crisóstomo)
‘Sejam alegres na esperança’. Desde o primeiro instante do despertar do espírito pela graça, a consciência e o anelo do homem passam da criação para o Criador, do terreno para o celeste, do temporário para o eterno. Neste reino está seu tesouro, ali está o seu coração. Ele não tem esperanças por qualquer coisa daqui, todas suas esperanças estão no mundo superior. Seu coração retrai-se de tudo aquilo que pertence a este mundo, nada nele o atrai, ele não põe sua expectativa em qualquer coisa daqui e não busca por felicidade imediata. São nas boas coisas a vir que ele se regozija, são estas que ele firmemente espera possuir. Neste transplante do tesouro de um homem e nas esperanças de seu coração está um traço essencial do despertar e da combustão do espírito. Essencialmente, faz do homem, na terra, um peregrino que busca sua pátria: a Jerusalém celeste. Tal deve ser o caráter de todos os Cristãos que receberam a graça. Portanto o apóstolo também prescreve em outro lugar: ‘Se vocês foram ressuscitados com Cristo (isto é, se foram inspirados no espírito pela graça de Cristo), procurem as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensem nas coisas do alto e não nas coisas da terra. Vocês estão mortos (isto é, morreram para tudo que é terreno, criado, temporário), e a vida de vocês está escondida com Cristo em Deus. (Col. iii. 1-3)
The signs of the burning of the spirit (p.151)
'Rejoicing in hope; patient in tribulation; continuing instant in prayer' (Rom. xii. 12).
Here are the signs of the burning of the spirit. ‘He who burns in spirit works zealously for the Master, waiting to delight in the good things for which he hopes, and he overcomes the temptations which he encounters, meeting their attacks with patience, and calling unceasingly for help from divine grace’ (Blessed Theodoret). ‘All these things serve to maintain this fire, the burning of the Spirit’ (St. John Chrysostom).
'Rejoicing in hope.' From the first moment of the awakening of the spirit by grace, man's consciousness and yearning pass from the creation to the Creator, from the earthly to the heavenly, from the temporary to the eternal. In this realm lies his treasure, and there is his heart. He does not expect anything here, all his hopes are in the world beyond. His heart withdraws from what¬ever belongs to this world, nothing in it attracts him, he does not set his expectation on anything here and does not look for present joy. It is in the good things to come that he rejoices, it is these that he firmly hopes to possess. This transplanting of a man's treasure and the hopes of his heart is an essential feature of the awakened and burning spirit. It makes man essentially a pilgrim on earth, seeking his fatherland, the heavenly Jerusalem. Such must be the character of all Christians who have received grace. Therefore the Apostle prescribes also in another place: 'If ye then be risen with Christ (that is, if you are quickened in spirit by the grace of Christ), seek those things which are above, where Christ sitteth on the right hand of God. Set your affection on things above, not on things on the earth. For ye are dead (that is, you have died to all that is earthly, created, temporary), and your life is hid with Christ in God' (Col. iii. 1-3).
Por quê fracassamos na combustão do espírito
‘Combustão no espírito…’ Todos nós recebemos a graça no batismo e na crisma. Portanto, deveríamos queimar em nosso espírito que está animado pela graça do Espírito Santo. Por que é, então, que não queimamos em espírito? Porque estamos largamente ou mesmo exclusivamente ocupados com nossos problemas pessoais, com negócios mundanos e com a vida pública, de modo que o espírito, muito embora ainda se faça sentir, está asfixiado. Para acender o espírito devemos estar cientes da insatisfatória direção de nossas atividades, especialmente da orientação às coisas mundanas e terrenas; e devemos entrar profundamente na contemplação daquilo que é divino, sagrado, celestial e eterno. A coisa mais importante é começar a agir de uma maneira que é verdadeiramente espiritual. E então o espírito começará a queimar: pois como resultado de tudo isto, o dom da graça que vive dentro de nós começará a aquecer-se.
Este é o ensinamento dos Santos Padres e de nossos guias espirituais. S. João Crisóstomo, depois de descrever as diferentes formas de atuar com firmeza e decisão, então continua: ‘Se você cumpriu tudo isto, você atrairá o espírito. E o Espírito habitará em você, então Ele o fará se tornar fervoroso em tudo aquilo que falei. E quando você se tornar inflamado pelo Espírito e pelo amor, então todas as coisas se tornarão fáceis para você. Você nunca viu quão terrível fica um boi quando fogo é aceso em suas costas? Do mesmo modo, você se tornará insuportável para o demônio se aferrar-se a estas duas tochas flamejantes’ – pelas quais está se denominando: a graça do Espírito e o amor. O Abençoado Teodoreto fala disto em pleno detalhe: ‘O Apóstolo chama o Espírito de um dom (isto é, um presente da graça que anima nosso espírito) e ele nos manda alimentar este dom com nosso zelo, como um fogo é alimentado com madeira: e isto significa meditação em coisas divinas e atos espirituais. Ele diz o mesmo em outro lugar: “Não extingais o Espírito” (i Tess. v. 19). O espírito é extinto por aqueles que não merecem a graça por não terem mantido purificado o olho de suas mentes, e assim eles não percebem os raios da graça. Do mesmo modo, a luz é escuridão para os fisicamente cegos, e em plena luz do dia eles trabalham na escuridão. Portanto, o Apóstolo nos ordena a queimar em espírito, e a ter um ardente amor pelas coisas divinas.’
Why we fail to burn in spirit (p. 151)
'Burning in spirit . . . ' We all received grace in baptism and chrismation. Therefore we should burn in our spirit, which is animated by the grace of the Holy Spirit. Why is it, then, that we do not burn in the spirit ? Because we are occupied largely or even exclusively with our own personal affairs, with worldly business and public life, so that the spirit, although it still makes itself felt, is choked. In order to kindle the spirit, we must be aware of the unsatisfactory direction of our activities, especially their orientation towards earthly and worldly things; and we must enter deeply into the contemplation of what is divine, holy, heavenly, and eternal. The most important thing is to begin to act in a manner that is truly spiritual. And then the spirit will start to burn: for as a result of all this, the gift of grace which lives within us will begin to grow in warmth.
This is the teaching of the Holy Fathers and our spiritual guides. St. John Chrysostom, after describing the different ways of act¬ing with firmness and decision, then continues: 'If you fulfil all this, you will attract the Spirit. And if the Spirit dwells in you, then He will make you fervent in all that I have spoken of. And when you become enflamed by the Spirit and by love, then everything will become easy for you. Have you never seen how terrible the bull is when fire is alight on his back ? In the same way, you will become unbearable to the devil if you take hold of these two flaming torches'—by which he means the grace of the Spirit and love. Blessed Theodoret speaks of this in fuller detail: 'The Apostle calls the Spirit a gift (that is to say, a gift of grace, animating our spirit) and he commands us to feed this gift with our zeal as a fire is fed with wood: and this means meditation on divine things and spiritual deeds. He says the same in another place: "Quench not the Spirit" (i Thess. v. 19). The spirit is quenched by those who are unworthy of grace, because they have not kept the eye of their mind pure, and so they do not perceive the rays of grace. In the same way, light is darkness for the physi¬cally blind, and in daylight they work in darkness. Therefore the Apostle commands us to burn in spirit, and to have a burning love for things divine.’
Solidão, oração, meditação
Ponha de lado tudo aquilo que pode extinguir esta pequena chama que está começando a queimar dentro de você, e circunde-se com tudo aquilo que pode alimentá-la e arejá-la em um forte fogo. Isole-se, ore, pense sobre aquilo que deve fazer. A ordem de vida, de ocupação e trabalho, que você se forçou por adotar quando estava buscando pela graça, é também a mais útil para prolongar dentro de você a ação da graça que agora começou. O que você mais precisa na sua atual situação é solidão, oração, e meditação. Sua solidão deve tornar-se mais unificada, sua oração mais profunda, e sua meditação mais enérgica.
Solitude, prayer, meditation (p. 153)
Cast aside everything that might extinguish this small flame which is beginning to burn within you, and surround yourself with everything which can feed and fan it into a strong fire. Isolate yourself, pray, think over for yourself what you should do. The order of life, of occupation and work, which you forced yourself to adopt when you were seeking for grace, is also the most helpful in prolonging within you the action of grace which has now begun. What you need most in your present position is solitude, prayer, and meditation. Your solitude must become more collected, your prayer deeper, and your meditation more forceful.
O Batismo de Cristo - El Greco - 1568
Um coração ardente
Como é que nossos ascetas, padres e professores aqueceram o espírito da prece interiormente e estabeleceram-se firmemente na oração? O grande objetivo deles foi fazer o coração arder incessantemente apenas em direção ao Senhor. Deus reivindica o coração porque dentro dele reside a fonte da vida. Onde está o coração há consciência, atenção, mente; há a plena alma. Quando o coração está em Deus, então a plena alma está em Deus, e um homem permanece em incessante adoração a Ele em espírito e em verdade.
Para alguns esta essencial conquista veio rápida e facilmente: tal é a misericórdia de Deus. Quão profundamente o temor a Deus os estremeceu, quão rapidamente a consciência deles se ativou com toda a sua força, quão velozmente o zelo se acendeu enviando-os para seus caminhos purificados e inocentes diante do Senhor, quão depressa o anseio deles em agradar a Deus ventilou a pequena centelha em chamas! Estas são almas seráficas, em combustão, ligeiras no movimento e muito ativas.
Mas com outros tudo se retarda. Talvez eles sejam indolentes por natureza, ou a intenção de Deus para eles seja diferente, porém seus corações não se aquecem rapidamente. Eles têm todos os hábitos da piedade e suas vidas parecem externamente honestas; mas tudo não vai bem, pois seus corações estão vazios daquilo que deveria estar lá. Isto acontece não somente no caso de homens leigos mas com pessoas vivendo em monastérios e mesmo com eremitas.
A burning heart (p.153)
How did our ascetics, fathers, and teachers warm the spirit of prayer inwardly, and establish themselves firmly in prayer? Their great object was to make the heart burn unceasingly to¬wards the Lord alone. God claims the heart because within it lies the source of life. Where the heart is, there is consciousness, attention, mind; there is the whole soul. When the heart is in God, then the whole soul is in God, and man remains in un¬ceasing worship of Him in spirit and in truth.
To some this essential achievement came quickly and easily: such is the mercy of God. How deeply the fear of God shook them, how swiftly was their conscience quickened in all its strength, how rapidly was zeal kindled, sending them on their way pure and blameless before the Lord, how quickly their eagerness in pleasing God fanned the small spark into flames! These are seraphic souls, burning, quick of movement, very active.
But with others everything lags. Perhaps they are indolent by nature, or God's intention for them is different, but their heart does not warm itself quickly. They have all the habits of piety and their life appears outwardly righteous; but all is not well, for their heart is empty of what should be there. This happens not only in the case of laymen but with people living in monas¬teries and even with hermits.
Como acender uma constante chama de fogo no coração.
Eu agora contarei a você o modo de acender uma constante e calorosa chama em seu coração. Lembre-se de como chegamos a produzir calor no mundo físico: nós friccionamos madeira contra madeira e o calor aparece seguido pelo fogo; ou nós deixamos uma coisa no sol e ela se torna quente, e se mais raios são concentrados nela, ela pega fogo. O método para dar nascimento ao calor espiritual é, simplesmente, o mesmo. A fricção necessária é a luta e a tensão da vida ascética; a oração interna a Deus é a exposição aos raios do sol.
O fogo no coração pode ser aceso pelo esforço ascético, mas só tal esforço não se combustará rapidamente em fogo. Existem muitos obstáculos no caminho. Assim, desde os tempos antigos aqueles que eram zelosos pela salvação e experimentados na vida espiritual – através da inspiração de Deus e sem renunciar a seus esforços ascéticos – descobriram outro método para aquecer o coração, o qual entregaram para o uso dos outros. Este método parece simples e fácil, mas na verdade não é menos difícil de ser realizado. Este atalho para a realização de nossa meta é a prática sincera da oração interior de nosso Senhor e Salvador. É assim que deveria ser realizada: esteja com a mente e a atenção no coração, estando seguro de que o Senhor está perto e ouvindo; chame-O com fervor: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tenha piedade de mim, um pecador”. Faça isto constantemente na igreja e em casa, trabalhando à mesa, e no leito: em uma palavra, do momento em que você abre seus olhos até o momento em que você os fecha. Isto será exatamente igual a manter um objeto no sol, porque isto é manter a si mesmo diante da face do Senhor, que é o Sol do mundo espiritual. No início, você deve abrir mão de uma parte reservada de tempo, noite e manhã, exclusivamente para esta prece. Então, você perceberá que a prece começa a dar fruto, no momento em que ela se apodera do coração e torna-se, profundamente, enraizada nele.
Quando tudo isto é executado com zelo, sem preguiça ou omissão, o Senhor olhará com misericórdia para você e acenderá uma chama em seu coração; e esta chama é o testemunho seguro para a intensificação da vida espiritual no íntimo do seu ser, para a entronização interna do Senhor.
A característica distintiva deste estado onde o Reino de Deus é revelado dentro de nós, ou (o que é a mesma coisa) quando o incessante fogo espiritual é aceso no coração, é que nosso ser passa a estar centrado sobre sua vida interior. O total de nossa consciência é reunido no coração e permanece diante da face do Senhor: nós despejamos diante Dele todos nossos sentimentos, caindo diante Dele em um humilde arrependimento, prontos para devotar toda nossa vida a Seu serviço. Tal padrão na alma é estabelecido todos os dias, do momento em que se acorda até o sono; ele continua por entre todas as nossas várias atividades e ocupações, e não nos deixa até que o sono, uma vez mais, feche nossos olhos. Com o estabelecimento de tal ordem, o desgoverno que prevaleceu na alma até este momento chega ao fim.
A sensação de incompletude e insatisfação que nos atormentava antes que o fogo espiritual fosse aceso em nossos corações, as irrefreáveis divagações de pensamentos com as quais sofríamos: tudo isso agora cessa. A atmosfera da alma torna-se clara e sem nuvens: ali permanece somente um pensamento e somente uma única lembrança, que é aquela de Deus. Há clareza dentro e por toda parte, e nesta nitidez cada momento é percebido e avaliado, de acordo com seus méritos, na luz espiritual que flui do Senhor ao qual contemplamos. Cada pensamento ruim e sentimento que assaltam o coração encontram oposição tão logo se aproximam e são postos para longe. Se algo contrário escorrega a despeito de nossa vontade, é de imediato confessado ao Senhor, e purificado tanto por arrependimento interno como por confissão externa, de modo que a consciência sempre é mantida limpa diante do Senhor. Como uma recompensa por toda esta luta interna, nos é concedida a ousadia de se aproximar de Deus com a oração que resplandece incessantemente no coração. Um calor constante da oração é a verdadeira respiração desta vida, de modo que o progresso em nossa jornada espiritual cessa quando este calor se extingue, do mesmo modo que a vida do corpo chega ao fim com a parada da nossa respiração natural.
TEÓFANO, O RECLUSO
How to kindle a constant flame of fire in the heart (p. 154)
I will now tell you the way to kindle a constant flame of warmth in your heart. Remember how we come by warmth in the physical world: we rub wood against wood and warmth comes, followed by fire; or we leave a thing in the sun and it becomes warm, and if more rays are concentrated on it, it bursts into flame. The method of bringing spiritual warmth to birth is just the same. The necessary friction is the struggle and tension of ascetic life; inner prayer to God is the exposure to the sun's rays.
Fire in the heart may be kindled by ascetic striving, but such effort alone will not quickly kindle it into flame. There are many obstacles on the path. Therefore from ancient times those who were zealous for salvation and experienced in the spiritual life— through God's inspiration and without relinquishing their ascetic struggle—discovered another way to warm the heart, which they have handed on for the use of others. This appears simpler and easier, but is in fact no less difficult to carry out. This short cut to the achievement of our aim is the whole-hearted practice of inner prayer to our Lord and Saviour. This is how it should be performed: stand with your mind and attention in the heart, being very sure that the Lord is near and listening, and call to Him with fervour: 'Lord Jesus Christ, Son of God, have mercy upon me a sinner'. Do this constantly in church and at home, travelling, working, at table, and in bed: in a word, from the time that you open your eyes till the time that you shut them. This will be exactly like holding an object in the sun, because this is to hold yourself before the face of the Lord, who is the Sun of the spiritual world. At the beginning you must give up an allotted part of your time, night and morning, exclusively to this prayer. Then you will find that the prayer begins to bear fruit, as it lays hold of the heart and becomes deeply rooted in it.
When all this is performed with zeal, without laziness or omission, the Lord will look mercifully upon you and kindle a flame in your heart; and this flame is a sure testimony to the quickening of spiritual life in the innermost parts of your being, to the enthronement of the Lord within.
The distinctive feature of this state when the Kingdom of God is revealed within us, or (which is the same thing) when the unceasing spiritual fire is kindled in the heart, is that our being comes to be centred upon its inner life. The whole of our con¬sciousness is gathered into the heart and stands before the face of the Lord: we pour out before Him all our feelings, falling down before Him in humble repentance, ready to devote all of our life to the service of Him alone. Such a pattern in the soul is established every day from the moment of waking from sleep; it continues amongst all our various activities and occupations, and does not leave us until sleep once again closes our eyes. With the formation of such an order, the misrule which prevailed in the soul until this moment comes to an end.
The sense of incompleteness and dissatisfaction that troubled us before the spiritual fire was kindled in our hearts, die unrestrainable wanderings of thought from which we suffered: all cease now. The atmosphere of the soul becomes clear and cloud¬less : there remains only one thought and only one remembrance, which is of God. There is clarity within and throughout, and in this clearness every movement is noticed and is valued according to its merits in the spiritual light that flows from the Lord whom we contemplate. Every evil thought and feeling assailing the heart meets with opposition as soon as it approaches and is driven away. If something contrary slips in despite our will, it is at once humbly confessed to the Lord, and cleansed either by inner repentance or outward confession, so that the conscience is always kept clean before the Lord. As a reward for all this inner struggle, we are granted boldness of approach to God in prayer which unceasingly glows in the heart. An unwavering warmth of prayer is the true breath of this life, so that progress in our spiritual journey ends when this warmth is extinguished, just as the life of the body ends with the cessation of our natural breath.
A transformação da alma e do corpo pelo fogo divino
Eu não digo que tudo é obtido de uma vez, tão logo alcançamos o estado de consciente comunhão com Deus. Esta é somente a fundação estabelecida para o próximo estágio, para um novo capítulo de nossa vida Cristã. De agora em diante a transfiguração ou espiritualização da alma e do corpo se iniciará na medida em que compartilhamos crescentemente com o espírito da vida que está em Jesus Cristo. Tendo dominado a si mesmo, o homem começará a instilar em si tudo o que é verdadeiro, sagrado e puro; expulsar tudo aquilo que é falso, pecaminoso e corpóreo. Até agora, fez extenuantes esforços para fazer isto, mas os frutos dos seus esforços eram roubados a cada momento do dia; de modo que qualquer coisa que ele conseguia obter era completamente destruída. Agora, o caso é diferente. Ele permanece firmemente sobre seus pés, sem ser condescendente diante das dificuldades, e conduz a si mesmo de acordo com a meta de sua vida.
De acordo com S. Barsanúfio quando recebemos em nosso coração o fogo que o Senhor veio lançar sobre a terra (Lucas xii. 49), todas as faculdades humanas começam a combustar dentro. Quando, através de longa fricção, o fogo é aceso e a lenha começa a queimar com ele, as madeiras incendiadas irão estalar e soltar fumaça até que elas estejam apropriadamente em chamas. Mas quando estiverem devidamente em chamas, elas parecem estar permeadas com fogo e produzem uma luz calorosa e agradável, sem fumaça ou estalos. Assim acontece com os homens. Eles recebem o fogo e começam a queimar – e quanta fumaça e estalidos ocorrem, apenas aqueles que experimentaram isto podem saber. Mas, quando o fogo está propriamente aceso a fumaça e os estalos cessam e dentro reina somente a luz. Esta condição é um estado de pureza; o caminho até ele é longo, mas o Senhor é muito misericordioso e onipotente. Assim, fica claro que quando um homem recebeu o fogo da comunhão consciente com Deus, o que espera diante dele não é paz mas grande trabalho. No entanto, deste ponto em diante, para ele, a tarefa parecerá doce e cheia de frutos, onde antes o trabalho era amargo e dava pouco ou nenhum fruto.
The transfiguration of soul and body by divine fire (p. 156)
I do not say that all is accomplished at once as soon as we attain the state of conscious communion with God. This is only the foundation laid for the next stage, for a new chapter in our Christian life. From now on the transfiguration or spiritualization of soul and body will begin as we share increasingly in the spirit of life that is in Jesus Christ. Having mastered himself, man will begin to instil into himself all that is true, holy, and pure, and to drive out all that is false, sinful, and corporeal. Until now he made strenuous efforts to do this, but was robbed of the fruits of his efforts every moment of the day; so that whatever he suc¬ceeded in achieving was at once all but destroyed. Now the case is different. He stands firmly on his feet, not yielding at all before difficulties, and conducts himself according to the aim of his life.
According to St. Barsanouphios, when we receive in our heart the fire which the Lord came to send on earth (Luke xii. 49), all our human faculties begin to burn within. When by long friction fire is ignited and logs begin to burn with it, the logs thus kindled will crackle and smoke until they are properly alight. But when they are properly alight they appear to be permeated with fire, and produce a pleasing light and warmth without smoke and crackling. So it happens within men. They receive the fire and begin to burn—and how much smoke and crackling there is only those who have experienced it can know. But when the fire is properly alight the smoke and crackling cease, and within reigns only light. This condition is a state of purity; the way to it is long, but the Lord is most merciful and all powerful. Thus it is clear that when a man has received the fire of conscious communion with God, what lies before him is not peace but great labour. But from this point onwards he will find the labour sweet and full of fruit, whereas before the work was bitter and bore little fruit or none.
Coração com Vaso e Chama (Detalhe) – Mosaico na Basílica de S. Clemente – Roma – Séc. XII
Desordem interna e luz interior
O problema que preocupa o buscador, mais do que qualquer outro, é a desordem interna em seus pensamentos e desejos; todo seu anseio está inclinado a encontrar alguma maneira de eliminar esta desordem. Há apenas um caminho para obter isto – adquirir o sentimento espiritual, ou calor do coração, junto com a lembrança de Deus.
Tão logo este calor seja estimulado, seus pensamentos irão ordenar-se, a atmosfera interna se tornará clara, a repentina aparição dos movimentos do bem e do mal se tornarão completamente aparentes para você, e lhe surgirá o poder para expulsar o mal. Esta luz interna também se estende para as coisas externas e torna clara a distinção entre certo e errado, dando-lhe a força para que você se estabeleça naquilo que é correto, a despeito de qualquer tipo de obstáculos. Em uma palavra, você agora iniciou a verdadeira vida espiritual ativa, pela qual até aqui você ainda estava buscando; e quando ela aparecia, aparecia-lhe apenas espasmodicamente.
Aquelas saudades por Deus das quais falei inicialmente também trarão calor, mas é um calor temporário que cessa quando a saudade cessa. Mas o calor agora concebido no coração permanece dentro incessantemente, e sustenta a atenção da mente sempre fixa sobre ele.
Quando a mente está no coração, este fato é, na verdade, aquela união da mente e do coração que representa a reintegração do nosso organismo espiritual.
Inner disorder and inner light (p.157)
The problem which concerns the seeker more than anything is the inner disorder in his thoughts and desires; all his eagerness is bent on finding some way to eliminate this disorder. There is only one way to achieve this—acquire spiritual feeling or warmth of heart, together with the remembrance of God.
As soon as this warmth is kindled, your thoughts will settle, the inner atmosphere will become clear, the first emergence of both good and bad movements in the soul will become plainly apparent to you, and you will acquire power to drive away the bad. This inner light also extends to outside things and makes clear the distinction between right and wrong, giving you the strength to establish yourself in what is right, despite any kind of obstacles. In a word, you now begin true, active spiritual life, for which hitherto you were still searching; and if it appeared, it appeared in you only fitfully.
Those longings for God of which I spoke earlier will also bring warmth, but it is a temporary warmth, ceasing when the long¬ings cease. But the warmth now conceived in the heart remains permanently within, and holds the attention of the mind always fixed upon it.
When the mind is in the heart, this is in fact that union of mind and heart which represents the reintegration of our spiritual organism.
O Princípio do Espanto – Espetaculo de Teatro de Bonecos
Criacao e Atuacao – Joao Araujo – Morpheus Teatro
Incessante combustão interna, e o advento do Senhor no coração
O Senhor virá para verter Sua luz em seu entendimento, para purificar suas emoções, para guiar suas ações. Você sentirá, em si mesmo, forças que até então lhe eram desconhecidas. Esta luz virá: não de forma aparente à visão e aos sentidos, mas chegando invisivelmente e espiritualmente – e, no entanto, não menos efetivamente. O sintoma do seu advento é a origem, neste ponto, de uma constante combustão do coração: na medida em que a mente permanece no coração, esta incessante combustão infunde nela a lembrança de Deus, você adquire o poder de habitar internamente e, consequentemente, todas as suas potencialidades internas são efetuadas. Você aceita o que é agradável a Deus, enquanto tudo aquilo que é pecaminoso você rejeita. Todas as suas ações são conduzidas com uma precisa percepção da vontade de Deus a respeito delas; é-lhe dado poder para governar o pleno curso de sua vida, tanto dentro como fora, e você adquire a maestria sobre si mesmo. Neste estado, o homem é, geralmente, mais influenciado do que ativo. Quando a chegada de Deus é conscientemente experimentada em seu coração, ele conquista a liberdade de ação. Então é cumprida a promessa: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. (João viii. 36) É isto e não algo inteiramente oculto aquilo que o Senhor lhe trará.
Ceaseless burning within, and the Lord's advent in the heart (p.157)
The Lord will come to shed His light on your understanding, to purify your emotions, to guide your actions. You will feel in yourself forces which until now were unknown to you. This light will come: not apparent to the sight and senses, but arriving invisibly and spiritually—yet none the less effectively. The symp¬tom of its advent is the engendering at this point of a constant burning of the heart: as the mind stands in the heart, this cease¬less burning infuses it with the remembrance of God, you acquire the power to dwell inwardly, and consequently all your inner potentialities are realized. You accept what is pleasing to God, while all that is sinful you reject. All your actions are conducted with a precise awareness of God's will regarding them; strength is given you to govern the whole course of your life, both within and without, and you acquire mastery over yourself. In this state man is usually more acted upon than active. When the coming of God is consciously experienced in his heart, he achieves freedom of action. Then is fulfilled the promise, "If the Son therefore shall make you free, ye shall be free indeed' (John viii. 36). It is this and not something wholly unknown that the Lord brings to you.
Argumentando com o Diabo – Letra ‘O’ - Iluminura em Bíblia Latina – Sec. XIII
Não tente medir o seu progresso
Calor do coração, sobre o qual você escreve, é uma boa condição que deveria ser protegida e mantida. Quando enfraquece, você deve continuar a estimulá-lo, recolhendo-se internamente com toda sua força e invocando por Deus. Para evitar que este calor lhe abandone, você deve evitar a distração do pensamento e as impressões que vêm através dos sentidos, que são incompatíveis com este estado. Evite o apego de seu coração a qualquer coisa visível, ou a absorção de sua atenção por qualquer cuidado mundano. Faça com que sua atenção em direção a Deus seja resoluta, e a firmeza de seu corpo plena, como uma corda, ou como um soldado na parada. Mas a coisa mais importante é orar a Deus e pedir-Lhe para prolongar esta misericórdia do calor no coração.
Quando surgir a questão: ‘É isto?’, estabeleça uma regra, de uma vez por todas, para afastar tais questões, impiedosamente, tão logo elas apareçam. Elas se originam do inimigo. Se você demorar sobre esta questão o inimigo irá pronunciar a decisão sem vacilo: ‘Oh sim, certamente que é – você fez tudo muito bem!’ Dai por diante, você sobe em pernas-de-pau e começa a abrigar ilusões sobre si e a achar que os outros não servem a nada. A graça diminuirá, mas o inimigo lhe fará pensar que a graça ainda está com você. Significará dizer que você imagina que possui algo quando na realidade não possui, de fato, nada. Os Santos Padres escreveram: “Não se meça” Se você acha que pode decidir qualquer questão a respeito do seu progresso, significa que você está começando a medir-se para ver o quanto você evoluiu. Por favor, evite isto como se evitasse o fogo.
Do not try to measure your progress (p.158)
Warmth of heart, about which you write, is a good condition, which should be guarded and maintained. When it weakens, you must continue to kindle it, gathering yourself together in¬wardly with all your strength and calling upon God. To prevent it leaving you, you must avoid distraction of thought and im¬pressions coming through the senses, which are incompatible with this state. Avoid the attachment of your heart to anything visible, or the absorption of your attention by any wordly care. Let your attention toward God be unwavering, and the tautness of your body unslackened, like a bowstring, or a soldier on parade. But the most important thing is to pray to God and ask Him to prolong this mercy of warmth in the heart.
When the query arises ‘Is this it?’, make it your rule once and for all mercilessly to drive away all such questions as soon as they appear. They originate from the enemy. If you linger over this question the enemy will pronounce the decision without delay, ‘Oh yes, certainly it is—you have done very well!’ From then on you stand on stilts and begin to harbour illusions about yourself and to think that others are good for nothing. Grace will vanish: but the enemy will make you think that grace is still with you. This will mean that you think you possess something, when really you have nothing at all. The Holy Fathers wrote, ‘Do not measure yourself.’ If you think you can decide any question about your progress, it means that you are beginning to measure yourself to see how much you have grown’. Please avoid this as you would avoid fire.
Cristo e Mulher com Hemorragia (Marcos v. 25-34)- Catacumbas Cristãs de Roma – Séc. II D.C.
Os dois tipos de calor
Calor real é um dom de Deus; mas existe também o calor natural que é o fruto dos seus próprios esforços e passageiros estados de espírito. Os dois são tão distantes um do outro como o céu da terra. Nos estágios iniciais não é claro qual tipo de calor você tem; mais tarde isto será revelado.
Você diz que seus pensamentos o cansam, que eles não lhe permitem que você permaneça firmemente diante de Deus. Este é um sinal de que o seu calor não vem de Deus mas de si mesmo. O primeiro fruto do calor de Deus é uma reunião dos pensamentos em um único, e uma incessante concentração deles sobre Deus. Pense na mulher cujo fluxo de sangue repentinamente secou. Do mesmo modo, quando recebemos o calor de Deus, o fluxo de pensamentos é estancado.
O que é necessário, então? Mantenha o seu calor natural mas não atribua nenhum valor a ele, e o considere apenas como uma espécie de preparação para o calor de Deus. E então, afligido com a fraqueza do eco do calor de Deus em seu coração, ore a Ele incessantemente e com pesar: ‘Seja misericordioso! Não vire Tua face de mim!’ Junto com isto acrescente privações corporais de comida, sono, trabalho e assim por diante. E coloque todas as coisas na mão de Deus.
The two kinds of warmth (p.159)
Real warmth is a gift of God; but there is also natural warmth which is the fruit of your own efforts and passing moods. The two are as far apart as heaven and earth. It is not clear in the early stages which kind of warmth you have; later on it will be revealed.
You say that your thoughts tire you out, that they do not allow you to stand firmly before God. This is a sign that your warmth comes not from God but from yourself. The first-fruit of the warmth of God is the gathering of thoughts into one, and their ceaseless concentration upon God. Think of the woman whose issue of blood suddenly dried up. In the same way, when we receive warmth from God, the flux of thoughts is halted.
What then is necessary? Keep your natural warmth but set no value on it, and consider it only as a kind of preparation for God's warmth. And then, grieved over the faintness of the echo of God's warmth in your heart, pray to Him unceasingly and with suffering: 'Be merciful! Turn not Thy face from me! Let Thy face shine on me!' Along with this, increase bodily privations in food, sleep, work and so on. And place everything in the hands of God.
Moça Nua diante do Espelho (Detalhe) Vaidade (Detalhe) O Mercado de Frutas (Detalhe)
Giovanni Bellini – 1515 Helio Seelinger – 1950 Alberto Rosatti – 1893-1971
Calor físico, calor luxurioso, calor espiritual
De acordo com Speransky , os zelosos na vida espiritual começam com ‘Senhor, tenha piedade’, mas logo passam além desse estágio. Assim também tem sido com a nossa experiência. A chama, uma vez acesa, queima por ela mesma e ninguém sabe como é alimentada. Aqui reside todo o mistério. Somente no momento da vinda a nós mesmos é que encontramos de novo: ‘Senhor, tenha piedade’ em nossos pensamentos.
As palavras desta oração são “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tenha piedade de mim” ou “Jesus, Filho de Deus, tenha piedade de mim”. A chama sobre a qual falamos não se acende imediatamente, mas apenas depois de trabalhos visíveis, quando ali no coração surge certo calor que cresce constantemente e que queima ainda mais brilhantemente durante a oração interna. Oração ao Senhor, oferecida das profundezas do nosso ser, faz com que o calor espiritual surja. Padres experimentados fazem uma estrita distinção entre três espécies de calor: calor físico, que é direto e chega como resultado da concentração de nossas forças na região do coração através da atenção e do empenho; o calor luxurioso, que é algumas vezes produzido pelo inimigo em nós; e o calor espiritual que é sóbrio e puro. Este último é de duas espécies: natural – o resultado da combinação da mente com o coração – e aquele dado pela graça. A experiência nos ensina como distinguir cada espécie. Este calor é cheio de doçura e assim esperamos mantê-lo, tanto pela própria doçura como também porque ele traz certa harmonia a todas as coisas internas. Mas qualquer um que se esforce por manter e aumentar este calor, somente por causa da própria doçura, desenvolverá em si uma espécie de hedonismo espiritual. Portanto, aqueles que praticam a sobriedade não prestam nenhuma atenção a esta doçura, mas tentam permanecer, simplesmente, firmemente enraizados diante do Senhor em completa entrega a Ele, deixando a si mesmos nas mãos de Deus. Eles não se importam com a doçura que vem deste calor, nem apegam sua atenção a ela. É possível, por outro lado, atar nossa plena atenção a este sentimento de doçura e calor, tendo prazer nele como se fosse um quarto quente ou um cobertor e, então, parar neste ponto, sem tentar subir nem mais um pouco. Alguns místicos não vão além disto mas consideram tal estado como o mais alto que um homem pode obter: ele os emerge numa espécie de nulidade, numa completa suspensão de pensamento. Este é o ‘estado de contemplação’ obtido por alguns místicos.
Physical warmth, lustful warmth, spiritual warmth (p.159)
According to Speransky, those zealous in the spiritual life begin with 'Lord have mercy', but soon they pass beyond this stage. Such has also been our own experience. The flame, once kindled, burns by itself and no one knows how it is fed. Herein lies the mystery. Only at the moment of coming to ourselves do we find 'Lord have mercy' again in our thoughts.
The words of this prayer are 'Lord Jesus Christ, Son of God, have mercy upon me" or 'Jesus, Son of God, have mercy upon me'. The flame of which we spoke does not kindle immediately, but only after visible labours, when there arises in the heart a certain warmth, constantly increasing and burning ever more brightly during inner prayer. Prayer to the Lord, offered from the depths of our being, arouses spiritual warmth. Experienced Fathers make a strict distinction between the three kinds of warmth: physical warmth, which is straightforward and comes as a result of concentrating our powers in the region of the heart by attention and exertion; lustful bodily warmth, which is sometimes produced in us by the enemy; and spiritual warmth, which is sober and pure. This last is of two kinds: natural— the result of combining the mind with the heart—and grace-given. Experience teaches how to distinguish each kind. This warmth is full of sweetness and so we long to keep it, both for the sake of the sweetness itself, and because it brings right harmony to everything within. But whoever strives to maintain and increase this warmth for the sake of its sweetness alone, will develop in himself a kind of spiritual hedonism. Therefore those who practise sobriety pay no attention to this sweetness, but try simply to stand firmly rooted before the Lord in complete sur¬render to Him, giving themselves up into His hands. They do not lean on the sweetness coming from this warmth, nor fasten their attention upon it. It is possible, on the other hand, to attach our whole attention to this feeling of sweetness and warmth, taking pleasure in it as in a warm room or garment, and to stop at this point, without trying to climb any higher. Some mystics go no further than this, but regard such a state as the highest that man can attain: it immerses them in a kind of noth¬ingness, in a complete suspension of all thought. This is the ‘state of contemplation’ attained by some mystics.
Interioridade e calor do coração
O mundo espiritual está aberto para aquele que vive dentro de si mesmo. Por permanecer dentro e por vislumbrar esta visão do outro mundo, origina-se um senso de calor em nossos sentimentos espirituais; e, inversamente, este mesmo senso de calor espiritual nos capacita a habitar no interior, e desperta nossa percepção do reino espiritual dentro. A vida espiritual amadurece pela ação mútua de ambas as coisas – interioridade e calor. Aquele que vive com sentimento espiritual e calor do coração tem seu espírito vinculado e subordinado, mas o espírito de um homem que carece deste calor irá extraviar-se. Portanto, para uma ulterior e constante interioridade empenhe-se pelo calor do coração; mas empenhe-se também, através de intensos esforços, para entrar e permanecer no interior de si. Esta é a razão pela qual aqueles que buscam permanecer focados somente com a mente – sem calor do coração – lutam em vão: de um momento a outro tudo se dispersa. E assim não é de se admirar que, apesar de toda educação, os cientistas constantemente percam a verdade – é porque eles trabalham apenas com a cabeça.
Inwardness and warmth of heart (p.161)
The spiritual world is open to him who lives within himself. By remaining within and gazing upon this vision of the other world, we arouse a sense of warmth in our spiritual feelings: and conversely, this same sense of spiritual warmth enables us to dwell within, and awakens our awareness of the inner spiritual realm. The spiritual life matures by the mutual action of both these things—inwardness and warmth. He who lives in spiritual feeling and warmth of heart has his spirit bound and tied, but the spirit of a man who lacks this warmth will wander. Therefore, so as to further constant inwardness, strive after warmth of heart; but strive also, through intense effort, to enter and remain within. That is why he who seeks to remain collected only in the mind— without warmth of heart—strives in vain: in a moment every¬thing is dispersed. And so it is no wonder that, in spite of all their education, scientists constantly miss the truth—it is because they work only with their head.
Calor interno e morada no coração
Experimentar algum sentimento de calor é muito importante na vida espiritual. Aquele que tem tal sentimento já está dentro de si e dentro de seu coração. Nossa atenção sempre é mantida pela parte em nós que é ativa, e se o coração está ativo – fazendo-se manifesto por este sentimento de calor – então estamos no coração.
Inward warmth and dwelling in the heart (p.161)
To experience some feeling of warmth is very important in the spiritual life. He who has such feeling is already within himself and within his heart. Our attention is always held by the part of us that is active, and if the heart is active—making itself manifest by this feeling of warmth—then we are in the heart.
Conservando o calor e o recolhimento
Tão logo você acorde de manhã, tenha o cuidado de recolher-se interiormente e estimular um sentimento de calor interno. Considere isto como sua condição normal. Tão logo deixe de ser assim, você pode estar certo que o seu ser interior não estará em ordem. Quando, de manhã, você levou-se a uma condição recolhida e calorosa, deve cumprir todas as suas obrigações de tal maneira que não destrua sua ordem interior, e, quando tiver a possibilidade, fazer aquilo que sustenta esta condição. Em nenhuma circunstância faça qualquer coisa que a destrua, pois isto significaria ser seu próprio inimigo. Apenas determine-se a uma regra de manter o recolhimento e o calor, permanecendo em sua mente diante de Deus. Isto em si mesmo lhe mostrará o que deve ser feito e o que deve ser negado a si próprio.
A todo-poderosa ajuda nisto é a Oração de Jesus. Sua prática deveria tornar-se tão habitual que ela seja repetida incessantemente no íntimo do coração. Este hábito não se estabelecerá sem um trabalho persistente. Se já não lhe é habitual, deve começar a fazê-lo agora. A mim pareceu que você a praticava somente quando cumprindo sua regra de oração. Ela tem seu lugar ali, mas você deve também praticá-la incessantemente – sentado ou caminhando, comendo ou no trabalho. Se a Oração de Jesus não está firmemente enraizada em seu coração, deixe todo o resto e pratique-a sozinha, até que ela se estabeleça ali. Esta meta é simples.
Fique de pé ou sente-se diante dos ícones numa atitude de oração, e traga sua atenção para baixo, ao lugar onde está o seu coração: então, sem pressa, pratique a Oração de Jesus ali, sempre mantendo na lembrança a presença de Deus. Faça isto por meia hora, uma hora, ou mais. É difícil no começo, mas quando o hábito for uma vez adquirido, será executada tão naturalmente como a respiração.
Quando você tiver estabelecido esta ordem interna, a vida espiritual (ou os trabalhos espirituais como eles a nomeiam) começará em você. Aqui a primeira exigência é a pureza da consciência, sua impecabilidade – não somente diante de Deus, mas diante dos homens e diante de si mesmo, até mesmo diante de objetos inanimados. Se algo minúsculo desliza em seus pensamentos ou em palavras que perturbam sua consciência, você deve imediatamente arrepender-se internamente diante de Deus, que vê todas as coisas e que dará paz à sua consciência.
Resta a luta com os pensamentos que frequentemente continuarão a zumbir como mosquitos inoportunos. Você deve aprender por si mesmo como superá-los: a experiência lhe ensinará. De uma coisa eu lhe aviso: é normal que os pensamentos girem ao redor de sua cabeça, e estes não são importantes; mas vigie aqueles que perfuram seu coração como uma flecha, deixando suas marcas como uma flecha abre e deixa uma cicatriz. Ponha-se imediatamente no trabalho e apague esta marca com a oração, restaurando um sentimento oposto em seu lugar. Saiba que quando o calor é conservado, tais casos são raros e triviais.
Preserving warmth and recollection (p. 161)
As soon as you wake up in the morning take care to collect yourself inwardly, and to kindle a feeling of warmth within. Con¬sider this as your normal condition. As soon as it ceases to be so, you may be sure that your inner self is not in order. When, in the morning, you have brought yourself to a warm and collected condition, you must fulfil all your obligations in such a way as not to destroy your inner order, and, when you have the choice, do what supports this condition. In no circumstance do anything that destroys it, for this would mean being your own enemy. Only make it a rule to maintain collectedness and warmth, standing in your mind before God. This in itself will then show you what you must do, and what you should deny yourself.
The all-powerful help in this is the Jesus Prayer. Its practice should become so habitual that it is repeated unceasingly in the innermost heart. This habit will not be established without persistent labour. If it is not already habitual with you, you must begin to do it now. It seemed to me that you practised it only when fulfilling your rule of prayer. It has its place there, but you must also practise it unceasingly—sitting or walking, at food and at work. If the Jesus Prayer is not firmly rooted in your heart, leave everything else and practise it alone, until it is established there. This task is simple.
Stand or sit before the icons in an attitude of prayer, and bring your attention down to the place where your heart is: then, without hurrying, practise the Jesus Prayer there, always keeping in remembrance the presence of God. Do this for half an hour, an hour, or more. It is hard at the beginning, but when the habit is once acquired, it will be accomplished as naturally as breathing.
When you have established this order within, spiritual life (or spiritual works as they are called) will begin in you. Here the first demand is purity of conscience, its irreproachability—not only before God, but before men and before yourself, even before inanimate objects. If something minute slips into your thoughts or words which disturbs your conscience, you must immediately repent inwardly before God, who sees everything and will give peace to your conscience.
There remains the struggle with thoughts which will often continue to buzz like importunate mosquitoes. You must learn for yourself how to overcome them: experience will teach you. Of one thing I will warn you. It is normal for thoughts to whirl round the head, and these are of no importance: but watch the ones which pierce your heart like an arrow, leaving their mark as an arrow might leave a scar. Set to work immediately and erase this mark with prayer, restoring the opposite feeling in its place. But when warmth is preserved, such cases are rare and slight.
Tudo está nas mãos de Deus
Onde existe o zelo, a graça do Espírito Santo, como uma chama, também estará presente. Uma chama é mantida flamejante pelo óleo, e o óleo espiritual é a oração. Tão logo a graça toca o coração, a semente da oração é ali semeada, e segue-se um imediato direcionamento da mente e do coração à Deus. Pensamentos de Deus seguem-se, então, no devido tempo.
A graça de Deus direciona a atenção da mente e do coração para Deus, e as mantém fixas sobre Ele. Já que a mente nunca fica sem atividade, quando é direcionada para Deus ela pensará a respeito Dele. Esta é a razão da lembrança de Deus ser uma constante companhia do estado da graça. A lembrança de Deus nunca é preguiçosa mas, invariavelmente, nos leva a meditar na perfeição de Deus e na Sua bondade, verdade, criação, providência, redenção, julgamento, e retribuição. Todos estes juntos compreendem o universo de Deus ou o reino do espírito. Aquele que é zeloso vive sempre neste reino. Reciprocamente, habitar neste reino sustenta e anima o zelo. Se você quer permanecer zeloso, mantenha-se no estado descrito acima. Cada parte deste reino é como se fosse uma tora de combustível espiritual. Sempre tenha esse combustível à mão, e tão logo você perceba que o fogo do zelo esta se esvaindo, peque uma tora da sua pilha de lenha espiritual e renove o fogo, e tudo seguirá bem. Do resultado da soma de todos estes movimentos espirituais emergirá o temor a Deus, a reverente permanência diante de Deus no coração. Este temor é o guardião e o defensor do estado da graça. Impregne-se de divino temor, reflita profundamente sobre ele, e o imprima firmemente em sua consciência e coração. Revivifique-o constantemente dentro de si e por sua vez ele lhe preencherá com vida.
Seu sótão é exatamente como uma cela no deserto. É possível que você não veja ou escute nada. Você pode ler um pouco e pensar; você pode orar um pouco e pensar novamente. E isto é tudo. Se só Deus poderia nos dar calor do coração e o estabelecê-lo em nós! Consciência purificada e incessante direcionamento a Deus em oração, normalmente, produzirão este calor. Mas tudo está nas mãos de Deus.
All is in the hands of God (p.163)
Where there is zeal, the grace of the Holy Spirit, like a flame, will also be present. A flame is kept ablaze by fuel, and spiritual fuel is prayer. As soon as grace touches the heart, the seed of prayer is sown there, and there straightway follows the turning of mind and heart towards God. Thoughts of God then follow in due course.
The grace of God turns the attention of the mind and heart to¬wards God, and keeps them fixed upon Him. Since the mind is never without activity, when it is turned towards God it will think about Him. That is why the remembrance of God is the constant companion of the state of grace. Remembrance of God is never idle but invariably leads us to meditate on the perfection of God and on His goodness, truth, creation, providence, redemp¬tion, judgement, and reward. All these together comprise God's universe or the realm of the spirit. He who is zealous lives always in this realm. Conversely, dwelling in this realm supports and animates zeal. If you want to remain zealous, keep yourself in the state described above. Each part of this realm is as it were a log of spiritual fuel. Always have such fuel within reach, and as soon as you notice that the fire of zeal is waning, take a log from your spiritual woodpile and renew the fire, and all will go well. Out of the sum of all these spiritual movements there will emerge the fear of God, the standing in awe before God in the heart. This fear is the guardian and defender of the state of grace. Steep your¬self in this godly fear, reflect deeply upon it, and impress it firmly upon your conscience and heart. Revivify it constantly within yourself, and in its turn it will fill you with life.
Your garret is exactly like a cell in the desert. It is possible for you not to see or hear anything. You can read a little and think; you can pray a little and again think. And that is all. If only God would give us warmth of heart and establish it in us! Pure conscience and unceasing turning to God in prayer will normally produce this warmth. But all is in the hands of God.
Uma Antologia Ortodoxa
compilada pelo
Hegúmeno Chariton de Valamo
CAPÍTULO IV
OS FRUTOS DA ORAÇÃO
por Teófano, o Recluso.
(iii) A Combustão do Espírito
Não apague o Espírito
‘Não extingais o Espírito...’ (1 Tess. v. 19). O homem normalmente vive descuidado e despreocupado sobre o culto da Igreja e sua própria salvação. Então a graça desperta o adormecido pecador e o chama para a salvação. Escutando a este chamado com um senso de arrependimento, ele decide devotar o resto de sua vida a trabalhos que são agradáveis a Deus e, assim fazendo, obter a salvação. Esta resolução se revela no anseio e no zelo; e estes, por sua vez, tornam-se efetivos quando fortalecidos pela graça divina através dos sagrados sacramentos. A partir deste momento o Cristão começa a combustão no espírito – isto é, ele começa a ser incessantemente zeloso para realizar tudo aquilo que sua consciência lhe mostra ser a vontade de Deus.
Tanto é possível sustentar e fortalecer esta combustão do espírito, quanto extingui-la. Ela é aquecida sobretudo por atos de amor para com Deus e nossos vizinhos - isto, de fato, é a essência da vida espiritual – por uma geral fidelidade a todos os mandamentos de Deus com uma tranquila consciência, por ações que são impiedosas com nossa própria alma e corpo, e por oração e pensamentos de Deus. O espírito se apaga pela distração da atenção em Deus e aos trabalhos de Deus, por excessiva ansiedade a respeito de questões mundanas, por indulgência aos prazeres sensuais, por satisfação de desejos carnais, e por apaixonado afeto por coisas materiais. Se este espírito se extingue, então a vida Cristã também se extinguirá.
S. João Crisóstomo discute sobre esta combustão do espírito em alguns escritos. Segue um resumo daquilo que diz: ‘Uma espessa neblina, escuridão e nuvens são espalhadas sobre a terra. Referindo-se a isto o Apóstolo disse: “Pois, outrora, éreis trevas” (Efésios v. 8). Estamos circundados pela noite, sem nenhuma luz da lua para nos ajudar, e é através desta noite que devemos caminhar. Mas Deus nos deu um lampião fulgurante quando acendeu a graça do Espírito Santo em nossas almas. Mas, daqueles que receberam esta luz alguns a tornaram mais clara e brilhante, como Paulo, Pedro, e todos os santos; enquanto outros a apagaram, como as cinco virgens tolas ou aqueles que sofreram naufrágio na fé, o fornicador Coríntio ou os Gálatas decaídos. E assim Paulo diz: “Não extingais o Espírito”, isto é, o presente, pois ele geralmente fala do “presente” do Espírito Santo. E aquilo que o extingue é uma vida impura. Pois se qualquer um despejar água ou jogar terra sobre a luz de um lampião, ela se desvanece, e isto também ocorre se o óleo do lampião é despejado: do mesmo modo o presente da graça é extinto. Se você abarrotou sua mente com coisas mundanas, se você se entregou aos cuidados das questões cotidianas, você já apagou o Espírito. A chama também se desvanece quando não há óleo suficiente, isto é, quando não mostramos caridade. O Espírito chegou-lhe através da misericórdia de Deus; logo, se ele não encontra correspondentes frutos de misericórdia em você, ele se afasta para longe. Pois o Espírito não faz sua morada numa alma sem piedade.
‘Vamos, então, tomar cuidado para não apagar o Espírito. Todas as ações más extinguem esta luz: calúnias, ofensas e coisas do gênero. A natureza do fogo é tal que tudo aquilo que lhe é estranho o destrói, e tudo o que é semelhante lhe dá ulterior força. Esta luz do Espírito reage da mesma maneira’.
Este é o modo no qual o espírito da graça se manifesta nos Cristãos. Através do arrependimento e da fé ele desce à alma de cada homem no sacramento do batismo, ou ainda é devolvido a ele no sacramento da penitência. O fogo do zelo é sua essência. Mas ele pode tomar diferentes direções de acordo com o indivíduo. O espírito da graça conduz um homem a se concentrar inteiramente em sua própria santificação por severos feitos ascéticos, outro é guiado proeminentemente a trabalhos de caridade, outros são inspirados a devotar sua vida à boa organização da sociedade Cristã, e ainda outro é conduzido a disseminar o Evangelho pregando-o: um exemplo deste último é Apolo que, em combustão de espírito, falou e ensinou sobre nosso Senhor (Atos xviii. 25).
Quench not the Spirit (p. 149)
‘Quench not the Spirit . . .’ (1 Thess. v. 19). Man usually lives careless and unconcerned about the worship of the Church and his own salvation. Then grace awakes the sleeping sinner and calls him to salvation. Listening to this call with a sense of repen¬tance, he resolves to devote the rest of his life to works that are pleasing to God, and by so doing to achieve salvation. This resolution shows itself in eagerness and zeal: and these in their turn become effective when strengthened by divine grace through the holy sacraments. From this moment the Christian begins to burn in spirit—that is, he begins to be unremittingly zealous to fulfil all that his conscience shows him to be the will of God.
It is possible either to sustain and strengthen this burning of the spirit, or to quench it. It is warmed above all by acts of love towards God and our neighbour—this, indeed, is the essence of the spiritual life—by a general fidelity to all God's command¬ments, with a quiet conscience, by deeds that are pitiless to our own soul and body, and by prayer and thoughts of God. The spirit is quenched by distraction of the attention from God and God's works, by excessive anxiety about worldly matters, by indulgence in sensual pleasure, by pandering to carnal desires, and by in¬fatuation with material things. If this spirit is quenched, then the Christian life will be quenched too.
St. John Chrysostom discusses this burning of the spirit at some length. Here in brief is what he says. ‘A thick mist, darkness and clouds are spread over the earth. Referring to this the Apostle said: "For ye were sometimes darkness" (Eph. v. 8). We are surrounded by night, with no moonlight to help us, and it is through this night that we must walk. But God gave us a bright lamp when He kindled the grace of the Holy Spirit in our souls. But of those who have received this light, some have made it brighter and clearer, such as Paul, Peter, and all the saints; but others have quenched it, such as the five foolish virgins or those who suffered shipwreck in the faith, the Corinthian fornicator or the fallen Galatians. And so Paul says, "Quench not the Spirit", that is the gift, for he usually speaks of the "gift" of the Holy Spirit. And what quenches it is an impure life. For if anyone pours water or throws earth upon the light of a lamp, it goes out, and this also happens if they simply pour the oil out of it: in the same manner the gift of grace is extinguished. If you have filled your mind with earthly things, if you have given yourself up to the cares of daily business, you have already quenched the Spirit. The flame also goes out when there is not enough oil, that is, when we do not show charity. The Spirit came to you by God's mercy; and so if it does not find corresponding fruits of mercy in you, it will flee away from you. For the Spirit does not make its dwelling in the unmerciful soul.
'Let us, then, take care not to quench the Spirit. All evil actions extinguish this light: slander, offences and the like. The nature of fire is such that everything foreign to it destroys it, and everything akin to it gives it further strength. This light of the Spirit reacts in the same manner.'
This is the way in which the spirit of grace manifests itself in Christians. Through repentance and faith it descends into the soul of each man in the sacrament of baptism, or else is restored to him in the sacrament of repentance. The fire of zeal is its essence. But it can take different directions according to the individual. The spirit of grace leads one man to concentrate en¬tirely on his own sanctification by severe ascetic feats, another it guides pr-eminently to works of charity, another it inspires to devote his life to the good organization of Christian society, and again another it directs to spread the Gospel by preaching: as for example Apollos, who, burning in spirit, spoke and taught about our Lord (Acts xviii. 25).
Lúcia com a Chama - Perugino - 1505
Os sinais da combustão do espírito
‘Sejam alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração.’ (Rom. xii. 12).
Aí estão os sinais da combustão do espírito. ‘Aquele em quem o espírito queima trabalha com zelo para o Mestre, esperando regozijar-se nas boas coisas que anseia, e ele supera as tentações que encontra enfrentando seus ataques com paciência e invocando, incessantemente, o auxílio da divina graça’ (Abençoado Teodoreto). ‘Todas estas coisas servem para manter este fogo, a combustão do Espírito’ (S. João Crisóstomo)
‘Sejam alegres na esperança’. Desde o primeiro instante do despertar do espírito pela graça, a consciência e o anelo do homem passam da criação para o Criador, do terreno para o celeste, do temporário para o eterno. Neste reino está seu tesouro, ali está o seu coração. Ele não tem esperanças por qualquer coisa daqui, todas suas esperanças estão no mundo superior. Seu coração retrai-se de tudo aquilo que pertence a este mundo, nada nele o atrai, ele não põe sua expectativa em qualquer coisa daqui e não busca por felicidade imediata. São nas boas coisas a vir que ele se regozija, são estas que ele firmemente espera possuir. Neste transplante do tesouro de um homem e nas esperanças de seu coração está um traço essencial do despertar e da combustão do espírito. Essencialmente, faz do homem, na terra, um peregrino que busca sua pátria: a Jerusalém celeste. Tal deve ser o caráter de todos os Cristãos que receberam a graça. Portanto o apóstolo também prescreve em outro lugar: ‘Se vocês foram ressuscitados com Cristo (isto é, se foram inspirados no espírito pela graça de Cristo), procurem as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensem nas coisas do alto e não nas coisas da terra. Vocês estão mortos (isto é, morreram para tudo que é terreno, criado, temporário), e a vida de vocês está escondida com Cristo em Deus. (Col. iii. 1-3)
The signs of the burning of the spirit (p.151)
'Rejoicing in hope; patient in tribulation; continuing instant in prayer' (Rom. xii. 12).
Here are the signs of the burning of the spirit. ‘He who burns in spirit works zealously for the Master, waiting to delight in the good things for which he hopes, and he overcomes the temptations which he encounters, meeting their attacks with patience, and calling unceasingly for help from divine grace’ (Blessed Theodoret). ‘All these things serve to maintain this fire, the burning of the Spirit’ (St. John Chrysostom).
'Rejoicing in hope.' From the first moment of the awakening of the spirit by grace, man's consciousness and yearning pass from the creation to the Creator, from the earthly to the heavenly, from the temporary to the eternal. In this realm lies his treasure, and there is his heart. He does not expect anything here, all his hopes are in the world beyond. His heart withdraws from what¬ever belongs to this world, nothing in it attracts him, he does not set his expectation on anything here and does not look for present joy. It is in the good things to come that he rejoices, it is these that he firmly hopes to possess. This transplanting of a man's treasure and the hopes of his heart is an essential feature of the awakened and burning spirit. It makes man essentially a pilgrim on earth, seeking his fatherland, the heavenly Jerusalem. Such must be the character of all Christians who have received grace. Therefore the Apostle prescribes also in another place: 'If ye then be risen with Christ (that is, if you are quickened in spirit by the grace of Christ), seek those things which are above, where Christ sitteth on the right hand of God. Set your affection on things above, not on things on the earth. For ye are dead (that is, you have died to all that is earthly, created, temporary), and your life is hid with Christ in God' (Col. iii. 1-3).
Por quê fracassamos na combustão do espírito
‘Combustão no espírito…’ Todos nós recebemos a graça no batismo e na crisma. Portanto, deveríamos queimar em nosso espírito que está animado pela graça do Espírito Santo. Por que é, então, que não queimamos em espírito? Porque estamos largamente ou mesmo exclusivamente ocupados com nossos problemas pessoais, com negócios mundanos e com a vida pública, de modo que o espírito, muito embora ainda se faça sentir, está asfixiado. Para acender o espírito devemos estar cientes da insatisfatória direção de nossas atividades, especialmente da orientação às coisas mundanas e terrenas; e devemos entrar profundamente na contemplação daquilo que é divino, sagrado, celestial e eterno. A coisa mais importante é começar a agir de uma maneira que é verdadeiramente espiritual. E então o espírito começará a queimar: pois como resultado de tudo isto, o dom da graça que vive dentro de nós começará a aquecer-se.
Este é o ensinamento dos Santos Padres e de nossos guias espirituais. S. João Crisóstomo, depois de descrever as diferentes formas de atuar com firmeza e decisão, então continua: ‘Se você cumpriu tudo isto, você atrairá o espírito. E o Espírito habitará em você, então Ele o fará se tornar fervoroso em tudo aquilo que falei. E quando você se tornar inflamado pelo Espírito e pelo amor, então todas as coisas se tornarão fáceis para você. Você nunca viu quão terrível fica um boi quando fogo é aceso em suas costas? Do mesmo modo, você se tornará insuportável para o demônio se aferrar-se a estas duas tochas flamejantes’ – pelas quais está se denominando: a graça do Espírito e o amor. O Abençoado Teodoreto fala disto em pleno detalhe: ‘O Apóstolo chama o Espírito de um dom (isto é, um presente da graça que anima nosso espírito) e ele nos manda alimentar este dom com nosso zelo, como um fogo é alimentado com madeira: e isto significa meditação em coisas divinas e atos espirituais. Ele diz o mesmo em outro lugar: “Não extingais o Espírito” (i Tess. v. 19). O espírito é extinto por aqueles que não merecem a graça por não terem mantido purificado o olho de suas mentes, e assim eles não percebem os raios da graça. Do mesmo modo, a luz é escuridão para os fisicamente cegos, e em plena luz do dia eles trabalham na escuridão. Portanto, o Apóstolo nos ordena a queimar em espírito, e a ter um ardente amor pelas coisas divinas.’
Why we fail to burn in spirit (p. 151)
'Burning in spirit . . . ' We all received grace in baptism and chrismation. Therefore we should burn in our spirit, which is animated by the grace of the Holy Spirit. Why is it, then, that we do not burn in the spirit ? Because we are occupied largely or even exclusively with our own personal affairs, with worldly business and public life, so that the spirit, although it still makes itself felt, is choked. In order to kindle the spirit, we must be aware of the unsatisfactory direction of our activities, especially their orientation towards earthly and worldly things; and we must enter deeply into the contemplation of what is divine, holy, heavenly, and eternal. The most important thing is to begin to act in a manner that is truly spiritual. And then the spirit will start to burn: for as a result of all this, the gift of grace which lives within us will begin to grow in warmth.
This is the teaching of the Holy Fathers and our spiritual guides. St. John Chrysostom, after describing the different ways of act¬ing with firmness and decision, then continues: 'If you fulfil all this, you will attract the Spirit. And if the Spirit dwells in you, then He will make you fervent in all that I have spoken of. And when you become enflamed by the Spirit and by love, then everything will become easy for you. Have you never seen how terrible the bull is when fire is alight on his back ? In the same way, you will become unbearable to the devil if you take hold of these two flaming torches'—by which he means the grace of the Spirit and love. Blessed Theodoret speaks of this in fuller detail: 'The Apostle calls the Spirit a gift (that is to say, a gift of grace, animating our spirit) and he commands us to feed this gift with our zeal as a fire is fed with wood: and this means meditation on divine things and spiritual deeds. He says the same in another place: "Quench not the Spirit" (i Thess. v. 19). The spirit is quenched by those who are unworthy of grace, because they have not kept the eye of their mind pure, and so they do not perceive the rays of grace. In the same way, light is darkness for the physi¬cally blind, and in daylight they work in darkness. Therefore the Apostle commands us to burn in spirit, and to have a burning love for things divine.’
Solidão, oração, meditação
Ponha de lado tudo aquilo que pode extinguir esta pequena chama que está começando a queimar dentro de você, e circunde-se com tudo aquilo que pode alimentá-la e arejá-la em um forte fogo. Isole-se, ore, pense sobre aquilo que deve fazer. A ordem de vida, de ocupação e trabalho, que você se forçou por adotar quando estava buscando pela graça, é também a mais útil para prolongar dentro de você a ação da graça que agora começou. O que você mais precisa na sua atual situação é solidão, oração, e meditação. Sua solidão deve tornar-se mais unificada, sua oração mais profunda, e sua meditação mais enérgica.
Solitude, prayer, meditation (p. 153)
Cast aside everything that might extinguish this small flame which is beginning to burn within you, and surround yourself with everything which can feed and fan it into a strong fire. Isolate yourself, pray, think over for yourself what you should do. The order of life, of occupation and work, which you forced yourself to adopt when you were seeking for grace, is also the most helpful in prolonging within you the action of grace which has now begun. What you need most in your present position is solitude, prayer, and meditation. Your solitude must become more collected, your prayer deeper, and your meditation more forceful.
O Batismo de Cristo - El Greco - 1568
Um coração ardente
Como é que nossos ascetas, padres e professores aqueceram o espírito da prece interiormente e estabeleceram-se firmemente na oração? O grande objetivo deles foi fazer o coração arder incessantemente apenas em direção ao Senhor. Deus reivindica o coração porque dentro dele reside a fonte da vida. Onde está o coração há consciência, atenção, mente; há a plena alma. Quando o coração está em Deus, então a plena alma está em Deus, e um homem permanece em incessante adoração a Ele em espírito e em verdade.
Para alguns esta essencial conquista veio rápida e facilmente: tal é a misericórdia de Deus. Quão profundamente o temor a Deus os estremeceu, quão rapidamente a consciência deles se ativou com toda a sua força, quão velozmente o zelo se acendeu enviando-os para seus caminhos purificados e inocentes diante do Senhor, quão depressa o anseio deles em agradar a Deus ventilou a pequena centelha em chamas! Estas são almas seráficas, em combustão, ligeiras no movimento e muito ativas.
Mas com outros tudo se retarda. Talvez eles sejam indolentes por natureza, ou a intenção de Deus para eles seja diferente, porém seus corações não se aquecem rapidamente. Eles têm todos os hábitos da piedade e suas vidas parecem externamente honestas; mas tudo não vai bem, pois seus corações estão vazios daquilo que deveria estar lá. Isto acontece não somente no caso de homens leigos mas com pessoas vivendo em monastérios e mesmo com eremitas.
A burning heart (p.153)
How did our ascetics, fathers, and teachers warm the spirit of prayer inwardly, and establish themselves firmly in prayer? Their great object was to make the heart burn unceasingly to¬wards the Lord alone. God claims the heart because within it lies the source of life. Where the heart is, there is consciousness, attention, mind; there is the whole soul. When the heart is in God, then the whole soul is in God, and man remains in un¬ceasing worship of Him in spirit and in truth.
To some this essential achievement came quickly and easily: such is the mercy of God. How deeply the fear of God shook them, how swiftly was their conscience quickened in all its strength, how rapidly was zeal kindled, sending them on their way pure and blameless before the Lord, how quickly their eagerness in pleasing God fanned the small spark into flames! These are seraphic souls, burning, quick of movement, very active.
But with others everything lags. Perhaps they are indolent by nature, or God's intention for them is different, but their heart does not warm itself quickly. They have all the habits of piety and their life appears outwardly righteous; but all is not well, for their heart is empty of what should be there. This happens not only in the case of laymen but with people living in monas¬teries and even with hermits.
Como acender uma constante chama de fogo no coração.
Eu agora contarei a você o modo de acender uma constante e calorosa chama em seu coração. Lembre-se de como chegamos a produzir calor no mundo físico: nós friccionamos madeira contra madeira e o calor aparece seguido pelo fogo; ou nós deixamos uma coisa no sol e ela se torna quente, e se mais raios são concentrados nela, ela pega fogo. O método para dar nascimento ao calor espiritual é, simplesmente, o mesmo. A fricção necessária é a luta e a tensão da vida ascética; a oração interna a Deus é a exposição aos raios do sol.
O fogo no coração pode ser aceso pelo esforço ascético, mas só tal esforço não se combustará rapidamente em fogo. Existem muitos obstáculos no caminho. Assim, desde os tempos antigos aqueles que eram zelosos pela salvação e experimentados na vida espiritual – através da inspiração de Deus e sem renunciar a seus esforços ascéticos – descobriram outro método para aquecer o coração, o qual entregaram para o uso dos outros. Este método parece simples e fácil, mas na verdade não é menos difícil de ser realizado. Este atalho para a realização de nossa meta é a prática sincera da oração interior de nosso Senhor e Salvador. É assim que deveria ser realizada: esteja com a mente e a atenção no coração, estando seguro de que o Senhor está perto e ouvindo; chame-O com fervor: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tenha piedade de mim, um pecador”. Faça isto constantemente na igreja e em casa, trabalhando à mesa, e no leito: em uma palavra, do momento em que você abre seus olhos até o momento em que você os fecha. Isto será exatamente igual a manter um objeto no sol, porque isto é manter a si mesmo diante da face do Senhor, que é o Sol do mundo espiritual. No início, você deve abrir mão de uma parte reservada de tempo, noite e manhã, exclusivamente para esta prece. Então, você perceberá que a prece começa a dar fruto, no momento em que ela se apodera do coração e torna-se, profundamente, enraizada nele.
Quando tudo isto é executado com zelo, sem preguiça ou omissão, o Senhor olhará com misericórdia para você e acenderá uma chama em seu coração; e esta chama é o testemunho seguro para a intensificação da vida espiritual no íntimo do seu ser, para a entronização interna do Senhor.
A característica distintiva deste estado onde o Reino de Deus é revelado dentro de nós, ou (o que é a mesma coisa) quando o incessante fogo espiritual é aceso no coração, é que nosso ser passa a estar centrado sobre sua vida interior. O total de nossa consciência é reunido no coração e permanece diante da face do Senhor: nós despejamos diante Dele todos nossos sentimentos, caindo diante Dele em um humilde arrependimento, prontos para devotar toda nossa vida a Seu serviço. Tal padrão na alma é estabelecido todos os dias, do momento em que se acorda até o sono; ele continua por entre todas as nossas várias atividades e ocupações, e não nos deixa até que o sono, uma vez mais, feche nossos olhos. Com o estabelecimento de tal ordem, o desgoverno que prevaleceu na alma até este momento chega ao fim.
A sensação de incompletude e insatisfação que nos atormentava antes que o fogo espiritual fosse aceso em nossos corações, as irrefreáveis divagações de pensamentos com as quais sofríamos: tudo isso agora cessa. A atmosfera da alma torna-se clara e sem nuvens: ali permanece somente um pensamento e somente uma única lembrança, que é aquela de Deus. Há clareza dentro e por toda parte, e nesta nitidez cada momento é percebido e avaliado, de acordo com seus méritos, na luz espiritual que flui do Senhor ao qual contemplamos. Cada pensamento ruim e sentimento que assaltam o coração encontram oposição tão logo se aproximam e são postos para longe. Se algo contrário escorrega a despeito de nossa vontade, é de imediato confessado ao Senhor, e purificado tanto por arrependimento interno como por confissão externa, de modo que a consciência sempre é mantida limpa diante do Senhor. Como uma recompensa por toda esta luta interna, nos é concedida a ousadia de se aproximar de Deus com a oração que resplandece incessantemente no coração. Um calor constante da oração é a verdadeira respiração desta vida, de modo que o progresso em nossa jornada espiritual cessa quando este calor se extingue, do mesmo modo que a vida do corpo chega ao fim com a parada da nossa respiração natural.
TEÓFANO, O RECLUSO
How to kindle a constant flame of fire in the heart (p. 154)
I will now tell you the way to kindle a constant flame of warmth in your heart. Remember how we come by warmth in the physical world: we rub wood against wood and warmth comes, followed by fire; or we leave a thing in the sun and it becomes warm, and if more rays are concentrated on it, it bursts into flame. The method of bringing spiritual warmth to birth is just the same. The necessary friction is the struggle and tension of ascetic life; inner prayer to God is the exposure to the sun's rays.
Fire in the heart may be kindled by ascetic striving, but such effort alone will not quickly kindle it into flame. There are many obstacles on the path. Therefore from ancient times those who were zealous for salvation and experienced in the spiritual life— through God's inspiration and without relinquishing their ascetic struggle—discovered another way to warm the heart, which they have handed on for the use of others. This appears simpler and easier, but is in fact no less difficult to carry out. This short cut to the achievement of our aim is the whole-hearted practice of inner prayer to our Lord and Saviour. This is how it should be performed: stand with your mind and attention in the heart, being very sure that the Lord is near and listening, and call to Him with fervour: 'Lord Jesus Christ, Son of God, have mercy upon me a sinner'. Do this constantly in church and at home, travelling, working, at table, and in bed: in a word, from the time that you open your eyes till the time that you shut them. This will be exactly like holding an object in the sun, because this is to hold yourself before the face of the Lord, who is the Sun of the spiritual world. At the beginning you must give up an allotted part of your time, night and morning, exclusively to this prayer. Then you will find that the prayer begins to bear fruit, as it lays hold of the heart and becomes deeply rooted in it.
When all this is performed with zeal, without laziness or omission, the Lord will look mercifully upon you and kindle a flame in your heart; and this flame is a sure testimony to the quickening of spiritual life in the innermost parts of your being, to the enthronement of the Lord within.
The distinctive feature of this state when the Kingdom of God is revealed within us, or (which is the same thing) when the unceasing spiritual fire is kindled in the heart, is that our being comes to be centred upon its inner life. The whole of our con¬sciousness is gathered into the heart and stands before the face of the Lord: we pour out before Him all our feelings, falling down before Him in humble repentance, ready to devote all of our life to the service of Him alone. Such a pattern in the soul is established every day from the moment of waking from sleep; it continues amongst all our various activities and occupations, and does not leave us until sleep once again closes our eyes. With the formation of such an order, the misrule which prevailed in the soul until this moment comes to an end.
The sense of incompleteness and dissatisfaction that troubled us before the spiritual fire was kindled in our hearts, die unrestrainable wanderings of thought from which we suffered: all cease now. The atmosphere of the soul becomes clear and cloud¬less : there remains only one thought and only one remembrance, which is of God. There is clarity within and throughout, and in this clearness every movement is noticed and is valued according to its merits in the spiritual light that flows from the Lord whom we contemplate. Every evil thought and feeling assailing the heart meets with opposition as soon as it approaches and is driven away. If something contrary slips in despite our will, it is at once humbly confessed to the Lord, and cleansed either by inner repentance or outward confession, so that the conscience is always kept clean before the Lord. As a reward for all this inner struggle, we are granted boldness of approach to God in prayer which unceasingly glows in the heart. An unwavering warmth of prayer is the true breath of this life, so that progress in our spiritual journey ends when this warmth is extinguished, just as the life of the body ends with the cessation of our natural breath.
A transformação da alma e do corpo pelo fogo divino
Eu não digo que tudo é obtido de uma vez, tão logo alcançamos o estado de consciente comunhão com Deus. Esta é somente a fundação estabelecida para o próximo estágio, para um novo capítulo de nossa vida Cristã. De agora em diante a transfiguração ou espiritualização da alma e do corpo se iniciará na medida em que compartilhamos crescentemente com o espírito da vida que está em Jesus Cristo. Tendo dominado a si mesmo, o homem começará a instilar em si tudo o que é verdadeiro, sagrado e puro; expulsar tudo aquilo que é falso, pecaminoso e corpóreo. Até agora, fez extenuantes esforços para fazer isto, mas os frutos dos seus esforços eram roubados a cada momento do dia; de modo que qualquer coisa que ele conseguia obter era completamente destruída. Agora, o caso é diferente. Ele permanece firmemente sobre seus pés, sem ser condescendente diante das dificuldades, e conduz a si mesmo de acordo com a meta de sua vida.
De acordo com S. Barsanúfio quando recebemos em nosso coração o fogo que o Senhor veio lançar sobre a terra (Lucas xii. 49), todas as faculdades humanas começam a combustar dentro. Quando, através de longa fricção, o fogo é aceso e a lenha começa a queimar com ele, as madeiras incendiadas irão estalar e soltar fumaça até que elas estejam apropriadamente em chamas. Mas quando estiverem devidamente em chamas, elas parecem estar permeadas com fogo e produzem uma luz calorosa e agradável, sem fumaça ou estalos. Assim acontece com os homens. Eles recebem o fogo e começam a queimar – e quanta fumaça e estalidos ocorrem, apenas aqueles que experimentaram isto podem saber. Mas, quando o fogo está propriamente aceso a fumaça e os estalos cessam e dentro reina somente a luz. Esta condição é um estado de pureza; o caminho até ele é longo, mas o Senhor é muito misericordioso e onipotente. Assim, fica claro que quando um homem recebeu o fogo da comunhão consciente com Deus, o que espera diante dele não é paz mas grande trabalho. No entanto, deste ponto em diante, para ele, a tarefa parecerá doce e cheia de frutos, onde antes o trabalho era amargo e dava pouco ou nenhum fruto.
The transfiguration of soul and body by divine fire (p. 156)
I do not say that all is accomplished at once as soon as we attain the state of conscious communion with God. This is only the foundation laid for the next stage, for a new chapter in our Christian life. From now on the transfiguration or spiritualization of soul and body will begin as we share increasingly in the spirit of life that is in Jesus Christ. Having mastered himself, man will begin to instil into himself all that is true, holy, and pure, and to drive out all that is false, sinful, and corporeal. Until now he made strenuous efforts to do this, but was robbed of the fruits of his efforts every moment of the day; so that whatever he suc¬ceeded in achieving was at once all but destroyed. Now the case is different. He stands firmly on his feet, not yielding at all before difficulties, and conducts himself according to the aim of his life.
According to St. Barsanouphios, when we receive in our heart the fire which the Lord came to send on earth (Luke xii. 49), all our human faculties begin to burn within. When by long friction fire is ignited and logs begin to burn with it, the logs thus kindled will crackle and smoke until they are properly alight. But when they are properly alight they appear to be permeated with fire, and produce a pleasing light and warmth without smoke and crackling. So it happens within men. They receive the fire and begin to burn—and how much smoke and crackling there is only those who have experienced it can know. But when the fire is properly alight the smoke and crackling cease, and within reigns only light. This condition is a state of purity; the way to it is long, but the Lord is most merciful and all powerful. Thus it is clear that when a man has received the fire of conscious communion with God, what lies before him is not peace but great labour. But from this point onwards he will find the labour sweet and full of fruit, whereas before the work was bitter and bore little fruit or none.
Coração com Vaso e Chama (Detalhe) – Mosaico na Basílica de S. Clemente – Roma – Séc. XII
Desordem interna e luz interior
O problema que preocupa o buscador, mais do que qualquer outro, é a desordem interna em seus pensamentos e desejos; todo seu anseio está inclinado a encontrar alguma maneira de eliminar esta desordem. Há apenas um caminho para obter isto – adquirir o sentimento espiritual, ou calor do coração, junto com a lembrança de Deus.
Tão logo este calor seja estimulado, seus pensamentos irão ordenar-se, a atmosfera interna se tornará clara, a repentina aparição dos movimentos do bem e do mal se tornarão completamente aparentes para você, e lhe surgirá o poder para expulsar o mal. Esta luz interna também se estende para as coisas externas e torna clara a distinção entre certo e errado, dando-lhe a força para que você se estabeleça naquilo que é correto, a despeito de qualquer tipo de obstáculos. Em uma palavra, você agora iniciou a verdadeira vida espiritual ativa, pela qual até aqui você ainda estava buscando; e quando ela aparecia, aparecia-lhe apenas espasmodicamente.
Aquelas saudades por Deus das quais falei inicialmente também trarão calor, mas é um calor temporário que cessa quando a saudade cessa. Mas o calor agora concebido no coração permanece dentro incessantemente, e sustenta a atenção da mente sempre fixa sobre ele.
Quando a mente está no coração, este fato é, na verdade, aquela união da mente e do coração que representa a reintegração do nosso organismo espiritual.
Inner disorder and inner light (p.157)
The problem which concerns the seeker more than anything is the inner disorder in his thoughts and desires; all his eagerness is bent on finding some way to eliminate this disorder. There is only one way to achieve this—acquire spiritual feeling or warmth of heart, together with the remembrance of God.
As soon as this warmth is kindled, your thoughts will settle, the inner atmosphere will become clear, the first emergence of both good and bad movements in the soul will become plainly apparent to you, and you will acquire power to drive away the bad. This inner light also extends to outside things and makes clear the distinction between right and wrong, giving you the strength to establish yourself in what is right, despite any kind of obstacles. In a word, you now begin true, active spiritual life, for which hitherto you were still searching; and if it appeared, it appeared in you only fitfully.
Those longings for God of which I spoke earlier will also bring warmth, but it is a temporary warmth, ceasing when the long¬ings cease. But the warmth now conceived in the heart remains permanently within, and holds the attention of the mind always fixed upon it.
When the mind is in the heart, this is in fact that union of mind and heart which represents the reintegration of our spiritual organism.
O Princípio do Espanto – Espetaculo de Teatro de Bonecos
Criacao e Atuacao – Joao Araujo – Morpheus Teatro
Incessante combustão interna, e o advento do Senhor no coração
O Senhor virá para verter Sua luz em seu entendimento, para purificar suas emoções, para guiar suas ações. Você sentirá, em si mesmo, forças que até então lhe eram desconhecidas. Esta luz virá: não de forma aparente à visão e aos sentidos, mas chegando invisivelmente e espiritualmente – e, no entanto, não menos efetivamente. O sintoma do seu advento é a origem, neste ponto, de uma constante combustão do coração: na medida em que a mente permanece no coração, esta incessante combustão infunde nela a lembrança de Deus, você adquire o poder de habitar internamente e, consequentemente, todas as suas potencialidades internas são efetuadas. Você aceita o que é agradável a Deus, enquanto tudo aquilo que é pecaminoso você rejeita. Todas as suas ações são conduzidas com uma precisa percepção da vontade de Deus a respeito delas; é-lhe dado poder para governar o pleno curso de sua vida, tanto dentro como fora, e você adquire a maestria sobre si mesmo. Neste estado, o homem é, geralmente, mais influenciado do que ativo. Quando a chegada de Deus é conscientemente experimentada em seu coração, ele conquista a liberdade de ação. Então é cumprida a promessa: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres. (João viii. 36) É isto e não algo inteiramente oculto aquilo que o Senhor lhe trará.
Ceaseless burning within, and the Lord's advent in the heart (p.157)
The Lord will come to shed His light on your understanding, to purify your emotions, to guide your actions. You will feel in yourself forces which until now were unknown to you. This light will come: not apparent to the sight and senses, but arriving invisibly and spiritually—yet none the less effectively. The symp¬tom of its advent is the engendering at this point of a constant burning of the heart: as the mind stands in the heart, this cease¬less burning infuses it with the remembrance of God, you acquire the power to dwell inwardly, and consequently all your inner potentialities are realized. You accept what is pleasing to God, while all that is sinful you reject. All your actions are conducted with a precise awareness of God's will regarding them; strength is given you to govern the whole course of your life, both within and without, and you acquire mastery over yourself. In this state man is usually more acted upon than active. When the coming of God is consciously experienced in his heart, he achieves freedom of action. Then is fulfilled the promise, "If the Son therefore shall make you free, ye shall be free indeed' (John viii. 36). It is this and not something wholly unknown that the Lord brings to you.
Argumentando com o Diabo – Letra ‘O’ - Iluminura em Bíblia Latina – Sec. XIII
Não tente medir o seu progresso
Calor do coração, sobre o qual você escreve, é uma boa condição que deveria ser protegida e mantida. Quando enfraquece, você deve continuar a estimulá-lo, recolhendo-se internamente com toda sua força e invocando por Deus. Para evitar que este calor lhe abandone, você deve evitar a distração do pensamento e as impressões que vêm através dos sentidos, que são incompatíveis com este estado. Evite o apego de seu coração a qualquer coisa visível, ou a absorção de sua atenção por qualquer cuidado mundano. Faça com que sua atenção em direção a Deus seja resoluta, e a firmeza de seu corpo plena, como uma corda, ou como um soldado na parada. Mas a coisa mais importante é orar a Deus e pedir-Lhe para prolongar esta misericórdia do calor no coração.
Quando surgir a questão: ‘É isto?’, estabeleça uma regra, de uma vez por todas, para afastar tais questões, impiedosamente, tão logo elas apareçam. Elas se originam do inimigo. Se você demorar sobre esta questão o inimigo irá pronunciar a decisão sem vacilo: ‘Oh sim, certamente que é – você fez tudo muito bem!’ Dai por diante, você sobe em pernas-de-pau e começa a abrigar ilusões sobre si e a achar que os outros não servem a nada. A graça diminuirá, mas o inimigo lhe fará pensar que a graça ainda está com você. Significará dizer que você imagina que possui algo quando na realidade não possui, de fato, nada. Os Santos Padres escreveram: “Não se meça” Se você acha que pode decidir qualquer questão a respeito do seu progresso, significa que você está começando a medir-se para ver o quanto você evoluiu. Por favor, evite isto como se evitasse o fogo.
Do not try to measure your progress (p.158)
Warmth of heart, about which you write, is a good condition, which should be guarded and maintained. When it weakens, you must continue to kindle it, gathering yourself together in¬wardly with all your strength and calling upon God. To prevent it leaving you, you must avoid distraction of thought and im¬pressions coming through the senses, which are incompatible with this state. Avoid the attachment of your heart to anything visible, or the absorption of your attention by any wordly care. Let your attention toward God be unwavering, and the tautness of your body unslackened, like a bowstring, or a soldier on parade. But the most important thing is to pray to God and ask Him to prolong this mercy of warmth in the heart.
When the query arises ‘Is this it?’, make it your rule once and for all mercilessly to drive away all such questions as soon as they appear. They originate from the enemy. If you linger over this question the enemy will pronounce the decision without delay, ‘Oh yes, certainly it is—you have done very well!’ From then on you stand on stilts and begin to harbour illusions about yourself and to think that others are good for nothing. Grace will vanish: but the enemy will make you think that grace is still with you. This will mean that you think you possess something, when really you have nothing at all. The Holy Fathers wrote, ‘Do not measure yourself.’ If you think you can decide any question about your progress, it means that you are beginning to measure yourself to see how much you have grown’. Please avoid this as you would avoid fire.
Cristo e Mulher com Hemorragia (Marcos v. 25-34)- Catacumbas Cristãs de Roma – Séc. II D.C.
Os dois tipos de calor
Calor real é um dom de Deus; mas existe também o calor natural que é o fruto dos seus próprios esforços e passageiros estados de espírito. Os dois são tão distantes um do outro como o céu da terra. Nos estágios iniciais não é claro qual tipo de calor você tem; mais tarde isto será revelado.
Você diz que seus pensamentos o cansam, que eles não lhe permitem que você permaneça firmemente diante de Deus. Este é um sinal de que o seu calor não vem de Deus mas de si mesmo. O primeiro fruto do calor de Deus é uma reunião dos pensamentos em um único, e uma incessante concentração deles sobre Deus. Pense na mulher cujo fluxo de sangue repentinamente secou. Do mesmo modo, quando recebemos o calor de Deus, o fluxo de pensamentos é estancado.
O que é necessário, então? Mantenha o seu calor natural mas não atribua nenhum valor a ele, e o considere apenas como uma espécie de preparação para o calor de Deus. E então, afligido com a fraqueza do eco do calor de Deus em seu coração, ore a Ele incessantemente e com pesar: ‘Seja misericordioso! Não vire Tua face de mim!’ Junto com isto acrescente privações corporais de comida, sono, trabalho e assim por diante. E coloque todas as coisas na mão de Deus.
The two kinds of warmth (p.159)
Real warmth is a gift of God; but there is also natural warmth which is the fruit of your own efforts and passing moods. The two are as far apart as heaven and earth. It is not clear in the early stages which kind of warmth you have; later on it will be revealed.
You say that your thoughts tire you out, that they do not allow you to stand firmly before God. This is a sign that your warmth comes not from God but from yourself. The first-fruit of the warmth of God is the gathering of thoughts into one, and their ceaseless concentration upon God. Think of the woman whose issue of blood suddenly dried up. In the same way, when we receive warmth from God, the flux of thoughts is halted.
What then is necessary? Keep your natural warmth but set no value on it, and consider it only as a kind of preparation for God's warmth. And then, grieved over the faintness of the echo of God's warmth in your heart, pray to Him unceasingly and with suffering: 'Be merciful! Turn not Thy face from me! Let Thy face shine on me!' Along with this, increase bodily privations in food, sleep, work and so on. And place everything in the hands of God.
Moça Nua diante do Espelho (Detalhe) Vaidade (Detalhe) O Mercado de Frutas (Detalhe)
Giovanni Bellini – 1515 Helio Seelinger – 1950 Alberto Rosatti – 1893-1971
Calor físico, calor luxurioso, calor espiritual
De acordo com Speransky , os zelosos na vida espiritual começam com ‘Senhor, tenha piedade’, mas logo passam além desse estágio. Assim também tem sido com a nossa experiência. A chama, uma vez acesa, queima por ela mesma e ninguém sabe como é alimentada. Aqui reside todo o mistério. Somente no momento da vinda a nós mesmos é que encontramos de novo: ‘Senhor, tenha piedade’ em nossos pensamentos.
As palavras desta oração são “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tenha piedade de mim” ou “Jesus, Filho de Deus, tenha piedade de mim”. A chama sobre a qual falamos não se acende imediatamente, mas apenas depois de trabalhos visíveis, quando ali no coração surge certo calor que cresce constantemente e que queima ainda mais brilhantemente durante a oração interna. Oração ao Senhor, oferecida das profundezas do nosso ser, faz com que o calor espiritual surja. Padres experimentados fazem uma estrita distinção entre três espécies de calor: calor físico, que é direto e chega como resultado da concentração de nossas forças na região do coração através da atenção e do empenho; o calor luxurioso, que é algumas vezes produzido pelo inimigo em nós; e o calor espiritual que é sóbrio e puro. Este último é de duas espécies: natural – o resultado da combinação da mente com o coração – e aquele dado pela graça. A experiência nos ensina como distinguir cada espécie. Este calor é cheio de doçura e assim esperamos mantê-lo, tanto pela própria doçura como também porque ele traz certa harmonia a todas as coisas internas. Mas qualquer um que se esforce por manter e aumentar este calor, somente por causa da própria doçura, desenvolverá em si uma espécie de hedonismo espiritual. Portanto, aqueles que praticam a sobriedade não prestam nenhuma atenção a esta doçura, mas tentam permanecer, simplesmente, firmemente enraizados diante do Senhor em completa entrega a Ele, deixando a si mesmos nas mãos de Deus. Eles não se importam com a doçura que vem deste calor, nem apegam sua atenção a ela. É possível, por outro lado, atar nossa plena atenção a este sentimento de doçura e calor, tendo prazer nele como se fosse um quarto quente ou um cobertor e, então, parar neste ponto, sem tentar subir nem mais um pouco. Alguns místicos não vão além disto mas consideram tal estado como o mais alto que um homem pode obter: ele os emerge numa espécie de nulidade, numa completa suspensão de pensamento. Este é o ‘estado de contemplação’ obtido por alguns místicos.
Physical warmth, lustful warmth, spiritual warmth (p.159)
According to Speransky, those zealous in the spiritual life begin with 'Lord have mercy', but soon they pass beyond this stage. Such has also been our own experience. The flame, once kindled, burns by itself and no one knows how it is fed. Herein lies the mystery. Only at the moment of coming to ourselves do we find 'Lord have mercy' again in our thoughts.
The words of this prayer are 'Lord Jesus Christ, Son of God, have mercy upon me" or 'Jesus, Son of God, have mercy upon me'. The flame of which we spoke does not kindle immediately, but only after visible labours, when there arises in the heart a certain warmth, constantly increasing and burning ever more brightly during inner prayer. Prayer to the Lord, offered from the depths of our being, arouses spiritual warmth. Experienced Fathers make a strict distinction between the three kinds of warmth: physical warmth, which is straightforward and comes as a result of concentrating our powers in the region of the heart by attention and exertion; lustful bodily warmth, which is sometimes produced in us by the enemy; and spiritual warmth, which is sober and pure. This last is of two kinds: natural— the result of combining the mind with the heart—and grace-given. Experience teaches how to distinguish each kind. This warmth is full of sweetness and so we long to keep it, both for the sake of the sweetness itself, and because it brings right harmony to everything within. But whoever strives to maintain and increase this warmth for the sake of its sweetness alone, will develop in himself a kind of spiritual hedonism. Therefore those who practise sobriety pay no attention to this sweetness, but try simply to stand firmly rooted before the Lord in complete sur¬render to Him, giving themselves up into His hands. They do not lean on the sweetness coming from this warmth, nor fasten their attention upon it. It is possible, on the other hand, to attach our whole attention to this feeling of sweetness and warmth, taking pleasure in it as in a warm room or garment, and to stop at this point, without trying to climb any higher. Some mystics go no further than this, but regard such a state as the highest that man can attain: it immerses them in a kind of noth¬ingness, in a complete suspension of all thought. This is the ‘state of contemplation’ attained by some mystics.
Interioridade e calor do coração
O mundo espiritual está aberto para aquele que vive dentro de si mesmo. Por permanecer dentro e por vislumbrar esta visão do outro mundo, origina-se um senso de calor em nossos sentimentos espirituais; e, inversamente, este mesmo senso de calor espiritual nos capacita a habitar no interior, e desperta nossa percepção do reino espiritual dentro. A vida espiritual amadurece pela ação mútua de ambas as coisas – interioridade e calor. Aquele que vive com sentimento espiritual e calor do coração tem seu espírito vinculado e subordinado, mas o espírito de um homem que carece deste calor irá extraviar-se. Portanto, para uma ulterior e constante interioridade empenhe-se pelo calor do coração; mas empenhe-se também, através de intensos esforços, para entrar e permanecer no interior de si. Esta é a razão pela qual aqueles que buscam permanecer focados somente com a mente – sem calor do coração – lutam em vão: de um momento a outro tudo se dispersa. E assim não é de se admirar que, apesar de toda educação, os cientistas constantemente percam a verdade – é porque eles trabalham apenas com a cabeça.
Inwardness and warmth of heart (p.161)
The spiritual world is open to him who lives within himself. By remaining within and gazing upon this vision of the other world, we arouse a sense of warmth in our spiritual feelings: and conversely, this same sense of spiritual warmth enables us to dwell within, and awakens our awareness of the inner spiritual realm. The spiritual life matures by the mutual action of both these things—inwardness and warmth. He who lives in spiritual feeling and warmth of heart has his spirit bound and tied, but the spirit of a man who lacks this warmth will wander. Therefore, so as to further constant inwardness, strive after warmth of heart; but strive also, through intense effort, to enter and remain within. That is why he who seeks to remain collected only in the mind— without warmth of heart—strives in vain: in a moment every¬thing is dispersed. And so it is no wonder that, in spite of all their education, scientists constantly miss the truth—it is because they work only with their head.
Calor interno e morada no coração
Experimentar algum sentimento de calor é muito importante na vida espiritual. Aquele que tem tal sentimento já está dentro de si e dentro de seu coração. Nossa atenção sempre é mantida pela parte em nós que é ativa, e se o coração está ativo – fazendo-se manifesto por este sentimento de calor – então estamos no coração.
Inward warmth and dwelling in the heart (p.161)
To experience some feeling of warmth is very important in the spiritual life. He who has such feeling is already within himself and within his heart. Our attention is always held by the part of us that is active, and if the heart is active—making itself manifest by this feeling of warmth—then we are in the heart.
Conservando o calor e o recolhimento
Tão logo você acorde de manhã, tenha o cuidado de recolher-se interiormente e estimular um sentimento de calor interno. Considere isto como sua condição normal. Tão logo deixe de ser assim, você pode estar certo que o seu ser interior não estará em ordem. Quando, de manhã, você levou-se a uma condição recolhida e calorosa, deve cumprir todas as suas obrigações de tal maneira que não destrua sua ordem interior, e, quando tiver a possibilidade, fazer aquilo que sustenta esta condição. Em nenhuma circunstância faça qualquer coisa que a destrua, pois isto significaria ser seu próprio inimigo. Apenas determine-se a uma regra de manter o recolhimento e o calor, permanecendo em sua mente diante de Deus. Isto em si mesmo lhe mostrará o que deve ser feito e o que deve ser negado a si próprio.
A todo-poderosa ajuda nisto é a Oração de Jesus. Sua prática deveria tornar-se tão habitual que ela seja repetida incessantemente no íntimo do coração. Este hábito não se estabelecerá sem um trabalho persistente. Se já não lhe é habitual, deve começar a fazê-lo agora. A mim pareceu que você a praticava somente quando cumprindo sua regra de oração. Ela tem seu lugar ali, mas você deve também praticá-la incessantemente – sentado ou caminhando, comendo ou no trabalho. Se a Oração de Jesus não está firmemente enraizada em seu coração, deixe todo o resto e pratique-a sozinha, até que ela se estabeleça ali. Esta meta é simples.
Fique de pé ou sente-se diante dos ícones numa atitude de oração, e traga sua atenção para baixo, ao lugar onde está o seu coração: então, sem pressa, pratique a Oração de Jesus ali, sempre mantendo na lembrança a presença de Deus. Faça isto por meia hora, uma hora, ou mais. É difícil no começo, mas quando o hábito for uma vez adquirido, será executada tão naturalmente como a respiração.
Quando você tiver estabelecido esta ordem interna, a vida espiritual (ou os trabalhos espirituais como eles a nomeiam) começará em você. Aqui a primeira exigência é a pureza da consciência, sua impecabilidade – não somente diante de Deus, mas diante dos homens e diante de si mesmo, até mesmo diante de objetos inanimados. Se algo minúsculo desliza em seus pensamentos ou em palavras que perturbam sua consciência, você deve imediatamente arrepender-se internamente diante de Deus, que vê todas as coisas e que dará paz à sua consciência.
Resta a luta com os pensamentos que frequentemente continuarão a zumbir como mosquitos inoportunos. Você deve aprender por si mesmo como superá-los: a experiência lhe ensinará. De uma coisa eu lhe aviso: é normal que os pensamentos girem ao redor de sua cabeça, e estes não são importantes; mas vigie aqueles que perfuram seu coração como uma flecha, deixando suas marcas como uma flecha abre e deixa uma cicatriz. Ponha-se imediatamente no trabalho e apague esta marca com a oração, restaurando um sentimento oposto em seu lugar. Saiba que quando o calor é conservado, tais casos são raros e triviais.
Preserving warmth and recollection (p. 161)
As soon as you wake up in the morning take care to collect yourself inwardly, and to kindle a feeling of warmth within. Con¬sider this as your normal condition. As soon as it ceases to be so, you may be sure that your inner self is not in order. When, in the morning, you have brought yourself to a warm and collected condition, you must fulfil all your obligations in such a way as not to destroy your inner order, and, when you have the choice, do what supports this condition. In no circumstance do anything that destroys it, for this would mean being your own enemy. Only make it a rule to maintain collectedness and warmth, standing in your mind before God. This in itself will then show you what you must do, and what you should deny yourself.
The all-powerful help in this is the Jesus Prayer. Its practice should become so habitual that it is repeated unceasingly in the innermost heart. This habit will not be established without persistent labour. If it is not already habitual with you, you must begin to do it now. It seemed to me that you practised it only when fulfilling your rule of prayer. It has its place there, but you must also practise it unceasingly—sitting or walking, at food and at work. If the Jesus Prayer is not firmly rooted in your heart, leave everything else and practise it alone, until it is established there. This task is simple.
Stand or sit before the icons in an attitude of prayer, and bring your attention down to the place where your heart is: then, without hurrying, practise the Jesus Prayer there, always keeping in remembrance the presence of God. Do this for half an hour, an hour, or more. It is hard at the beginning, but when the habit is once acquired, it will be accomplished as naturally as breathing.
When you have established this order within, spiritual life (or spiritual works as they are called) will begin in you. Here the first demand is purity of conscience, its irreproachability—not only before God, but before men and before yourself, even before inanimate objects. If something minute slips into your thoughts or words which disturbs your conscience, you must immediately repent inwardly before God, who sees everything and will give peace to your conscience.
There remains the struggle with thoughts which will often continue to buzz like importunate mosquitoes. You must learn for yourself how to overcome them: experience will teach you. Of one thing I will warn you. It is normal for thoughts to whirl round the head, and these are of no importance: but watch the ones which pierce your heart like an arrow, leaving their mark as an arrow might leave a scar. Set to work immediately and erase this mark with prayer, restoring the opposite feeling in its place. But when warmth is preserved, such cases are rare and slight.
Tudo está nas mãos de Deus
Onde existe o zelo, a graça do Espírito Santo, como uma chama, também estará presente. Uma chama é mantida flamejante pelo óleo, e o óleo espiritual é a oração. Tão logo a graça toca o coração, a semente da oração é ali semeada, e segue-se um imediato direcionamento da mente e do coração à Deus. Pensamentos de Deus seguem-se, então, no devido tempo.
A graça de Deus direciona a atenção da mente e do coração para Deus, e as mantém fixas sobre Ele. Já que a mente nunca fica sem atividade, quando é direcionada para Deus ela pensará a respeito Dele. Esta é a razão da lembrança de Deus ser uma constante companhia do estado da graça. A lembrança de Deus nunca é preguiçosa mas, invariavelmente, nos leva a meditar na perfeição de Deus e na Sua bondade, verdade, criação, providência, redenção, julgamento, e retribuição. Todos estes juntos compreendem o universo de Deus ou o reino do espírito. Aquele que é zeloso vive sempre neste reino. Reciprocamente, habitar neste reino sustenta e anima o zelo. Se você quer permanecer zeloso, mantenha-se no estado descrito acima. Cada parte deste reino é como se fosse uma tora de combustível espiritual. Sempre tenha esse combustível à mão, e tão logo você perceba que o fogo do zelo esta se esvaindo, peque uma tora da sua pilha de lenha espiritual e renove o fogo, e tudo seguirá bem. Do resultado da soma de todos estes movimentos espirituais emergirá o temor a Deus, a reverente permanência diante de Deus no coração. Este temor é o guardião e o defensor do estado da graça. Impregne-se de divino temor, reflita profundamente sobre ele, e o imprima firmemente em sua consciência e coração. Revivifique-o constantemente dentro de si e por sua vez ele lhe preencherá com vida.
Seu sótão é exatamente como uma cela no deserto. É possível que você não veja ou escute nada. Você pode ler um pouco e pensar; você pode orar um pouco e pensar novamente. E isto é tudo. Se só Deus poderia nos dar calor do coração e o estabelecê-lo em nós! Consciência purificada e incessante direcionamento a Deus em oração, normalmente, produzirão este calor. Mas tudo está nas mãos de Deus.
All is in the hands of God (p.163)
Where there is zeal, the grace of the Holy Spirit, like a flame, will also be present. A flame is kept ablaze by fuel, and spiritual fuel is prayer. As soon as grace touches the heart, the seed of prayer is sown there, and there straightway follows the turning of mind and heart towards God. Thoughts of God then follow in due course.
The grace of God turns the attention of the mind and heart to¬wards God, and keeps them fixed upon Him. Since the mind is never without activity, when it is turned towards God it will think about Him. That is why the remembrance of God is the constant companion of the state of grace. Remembrance of God is never idle but invariably leads us to meditate on the perfection of God and on His goodness, truth, creation, providence, redemp¬tion, judgement, and reward. All these together comprise God's universe or the realm of the spirit. He who is zealous lives always in this realm. Conversely, dwelling in this realm supports and animates zeal. If you want to remain zealous, keep yourself in the state described above. Each part of this realm is as it were a log of spiritual fuel. Always have such fuel within reach, and as soon as you notice that the fire of zeal is waning, take a log from your spiritual woodpile and renew the fire, and all will go well. Out of the sum of all these spiritual movements there will emerge the fear of God, the standing in awe before God in the heart. This fear is the guardian and defender of the state of grace. Steep your¬self in this godly fear, reflect deeply upon it, and impress it firmly upon your conscience and heart. Revivify it constantly within yourself, and in its turn it will fill you with life.
Your garret is exactly like a cell in the desert. It is possible for you not to see or hear anything. You can read a little and think; you can pray a little and again think. And that is all. If only God would give us warmth of heart and establish it in us! Pure conscience and unceasing turning to God in prayer will normally produce this warmth. But all is in the hands of God.
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