A ARTE DA PRECE
Uma Antologia Ortodoxa
compilada pelo
Hegúmeno Chariton de Valamo
CAPÍTULO V
O REINO DO CORAÇÃO
por vários autores.
(i) O Reino Dentro de Nós.
Escada Celestial – Monasterio de Santa Catarina – Monte Sinai –Sec. XIV.
A escada para o Reino
Entre ardentemente na casa do tesouro que está dentro de você, e verá a casa do tesouro do céu; pois os dois são o mesmo, e há apenas uma única entrada para ambos. A escada que conduz ao Reino está escondida dentro de você, e se encontra em sua própria alma. Mergulhe em si mesmo e você descobrirá os degraus pelos quais subir.
S. ISAAC, O SÍRIO
The ladder to the Kingdom (p. 164)
Enter eagerly into the treasure-house that lies within you, and so you will see the treasure-house of heaven: for the two are the same, and there is but one single entry to them both. The ladder that leads to the Kingdom is hidden within you, and is found in your own soul. Dive into yourself and in your soul you will discover the rungs by which to ascend.
ST. ISAAC THE SYRIAN
A essência da vida Cristã
As pessoas preocupam-se com a formação Cristã mas a deixam incompleta; elas negligenciam o mais essencial e o lado mais difícil da vida Cristã, e habitam naquilo que é mais fácil: o externo e o visível.
Esta formação imperfeita e má orientada produz pessoas que observam com a máxima retidão todas as regras formais e exteriores para uma conduta devota, mas que prestam pouca ou nenhuma atenção aos movimentos interiores do coração e ao real aperfeiçoamento da vida espiritual interior. Eles são desconhecedores dos pecados mortais, mas não se preocupam com o jogo de pensamentos no coração. Assim, às vezes, deslizam em julgamentos, dão vazão a vanglória ou orgulho, às vezes tornam-se irados (como se este sentimento fosse justificado pela justeza de sua causa), ficam algumas vezes distraídos pela beleza e pelo prazer, algumas vezes até ofendem os outros em ataques de irritação, outras vezes ficam preguiçosos demais para orar, ou perdem a si mesmos durante a oração em pensamentos inúteis. Eles não se entristecem por fazer estas coisas, mas as consideram sem importância. Eles já estiveram na igreja, oraram em casa de acordo com a regra estabelecida, e cumpriram com seus negócios cotidianos, e assim estão bem contentes e em paz. Porém, eles pouco se preocupam com aquilo que está acontecendo no coração. Neste entretempo, o coração pode estar forjando o mal, e assim todo o valor das suas vidas corretas e piedosas lhes são retirado.
Vamos, agora, tomar o caso de alguém que no trabalho de salvação teve uma queda relativamente curta; ele fica ciente de sua incompletude, e vê a imperfeição do seu modo de vida e da instabilidade de seus esforços. E assim de atos de piedade externos ele se dirige àqueles internos. Ele é levado a isto pela leitura de livros sobre a vida espiritual, ou por conversas com aqueles que conhecem qual é a essência da vida Cristã, ou pela insatisfação com seus próprios esforços, por certa intuição de que algo está faltando, e que tudo não está caminhando como deveria.
Apesar de toda sua retidão ele não tem paz interior; a ele falta aquilo que foi prometido aos verdadeiros Cristãos: “paz e alegria no Espírito Santo” (Rom. xiv. 17). Uma vez que esse perturbador pensamento nasce nele, então através de conversas com pessoas que têm conhecimento ele virá a perceber qual é o problema, ou ele pode ler a respeito em um livro. Uma ou outra dessas coisas lhe capacitará a ver o defeito essencial na ordem de sua vida, ou seja, sua falta de atenção aos movimentos dentro de si, e sua falta de autodomínio.
Ele entende então que a essência da vida Cristã consiste em estabelecer-se com a mente no coração diante de Deus, no Senhor Jesus Cristo, pela graça do Espírito Santo. Neste modo ele fica habilitado a controlar todos os movimentos internos e todas as ações externas, transformando tudo em si mesmo, seja grande ou pequeno, num serviço ao Deus da Trindade, oferecendo-se inteiramente a Deus, livre e conscientemente.
TEÓFANO, O RECLUSO
The essence of Christian life (p.164)
People concern themselves with Christian upbringing but leave it incomplete: they neglect the most essential and most difficult side of the Christian life, and dwell on what is easiest, the visible and external.
This imperfect or misdirected upbringing produces people who observe with the utmost correctness all the formal and outward rules for devout conduct, but who pay little or no attention to the inward movements of the heart and to true improvement of the inner spiritual life. They are strangers to mortal sins, but they do not heed the play of thoughts in the heart. Accordingly they sometimes pass judgements, give way to boastfulness or pride, sometimes get angry (as if this feeling were justified by the rightness of their cause), are sometimes distracted by beauty and pleasure, sometimes even offend others in fits of irritation, are sometimes too lazy to pray, or lose themselves in useless thoughts while at prayer. They are not upset about doing these things, but regard them as without significance. They have been to church, or prayed at home according to the established rule, and carried out their usual business, and so they are quite content and at peace. But they have little concern for what is happening in the heart. In the meantime it may be forging evil, thereby taking away the whole value of their correct and pious life.
Let us now take the case of one who has been falling somewhat short in the work of salvation; he becomes aware of this incom¬pleteness, and sees the incorrectness of his way of life and the instability of his efforts. And so he turns from outward to inward piety. He is led into this either by reading books about spiritual life, or by talking with those who know what the essence of Christian life is, or by dissatisfaction with his own efforts, by a certain intuition that something is lacking, and that all is not going as it should.
Despite all his correctness he has no inner peace; he lacks what was promised to true Christians, “peace and joy in the Holy Spirit” (Rom. xiv. 17). Once this troubling thought is born in him, then by talking with people who have knowledge he will come to realize what the matter is, or he may read about it in a book. Either of these things will enable him to see the essential defect in the order of his life, namely his lack of attention to the movements within himself, and his lack of self-mastery.
He understands then that the essence of the Christian life con¬sists in establishing himself with the mind in the heart before God, in the Lord Jesus Christ, by the grace of the Holy Spirit: in this way he is enabled to control all inward movements and all outward actions, so as to transform everything in himself, whether great or small, into the service of God the Trinity, consciously and freely offering himself wholly to God.
THEOPHAN THE RECLUSE
O Pensador – Auguste Rodin – 1902
Mente, coração e sentimento
Uma vez que um homem tenha se tornado consciente do que é a essência da vida Cristã, e descobriu que é algo que ele ainda não possui, ele se põe a trabalhar com sua mente de modo a obtê-la. Ele lê, pensa e conversa. E assim ele chega a perceber que a vida Cristã depende da união com o Senhor. Mas embora ele reflita sobre esta verdade com sua mente, ela ainda permanece distante de seu coração e ainda não é sentida. E assim, ela não dá fruto.
TEÓFANO, O RECLUSO
Mind, heart, and feeling (p.166)
Once a man has become conscious of what the essence of the Christian life is, and has found that it is something that he does not yet possess, he sets to work with his mind in order to achieve it. He reads, thinks, and talks. And so he comes to realise that the Christian life depends on union with the Lord. But though he reflects on this truth with his mind, it still remains far from his heart, and still is not felt. And so it bears no fruit.
THEOPHAN THE RECLUSE
Vício da Natureza Humana – Holanda – Séc XV.
Olhe internamente, o que você encontra?
Neste ponto o homem zeloso olha para dentro, e o que você acha que ele encontra lá? Um incessante vagar dos pensamentos, constantes assaltos das paixões, frieza e rigidez de coração, obstinação e desobediência, desejo de fazer tudo de acordo com sua própria vontade. Em uma palavra, ele acha todas as coisas dentro de si num péssimo estado. E vendo isto seu zelo é inflamado e, agora, direciona árduos esforços para o desenvolvimento de sua vida interior, para controlar seus pensamentos e as disposições de seu coração. A partir de alguns conselhos sobre a vida espiritual interior ele descobre a necessidade de prestar atenção sobre si mesmo, de vigiar sobre os movimentos do coração. Para que nada ruim seja admitido, é necessário conservar a lembrança de Deus.
E assim ele se põe a trabalhar na aquisição desta lembrança. No entanto, seus pensamentos não podem ser detidos mais do que o vento; seus maus sentimentos e impulsos indignos não podem ser evitados mais do que o fedor de um cadáver; sua mente, como um pássaro encharcado e congelado, não pode alçar-se à lembrança de Deus.
O que deve ser feito? Seja paciente, eles dizem, e siga trabalhando. Paciência e trabalho são exercitados, mas tudo continua o mesmo. Finalmente, alguém com experiência é encontrado e este explica que tudo está internamente desordenado porque as forças internas estão divididas: mente e coração, cada um segue seu próprio rumo. A mente e o coração devem estar unidos; então o devaneio dos pensamentos terminará, e você ganhará um leme para orientar o barco da sua alma, uma alavanca com a qual pôr em movimento todo seu mundo interior. Mas como alguém pode unir a mente e o coração? Adquire o hábito de rezar estas palavras com a mente no coração: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tenha piedade de mim”. E esta oração, quando você aprender a executá-la apropriadamente, ou melhor, quando ela tiver sido enxertada no coração, lhe conduzirá para o fim que almeja. Ela unirá sua mente com seu coração, ela cortará seus pensamentos errantes e lhe dará poder para governar os movimentos de sua alma.
TEÓFANO, O RECLUSO
Look inward: what do you find? (p.166)
At this point the zealous man looks inward, and what do you think he finds there? Ceaseless wandering of thoughts, constant onslaughts from the passions, hardness and coldness of heart, obstinacy and disobedience, desire to do everything according to his own will. In a word, he finds everything within himself in a very bad state. And seeing this, his zeal is inflamed, and he now directs strenuous efforts to the development of his inner life, to controlling his thoughts and the dispositions of his heart.
From directions on inner spiritual life he discovers the neces¬sity of paying attention to oneself, of watching over the move¬ments of the heart. In order not to admit anything bad, it is necessary to preserve the remembrance of God.
And so he sets to work to achieve this remembrance. But his thoughts can no more be arrested than the wind; his bad feelings and worthless impulses can no more be evaded than the stench of a corpse; his mind, like a wet and frozen bird, cannot rise to the remembrance of God.
What is to be done? Be patient, they say, and go on working. Patience and labour are exercised, but all within remains the same. At last someone of experience is found who explains that all is inwardly in disorder because the forces within are divided: mind and heart each go their own way. Mind and heart must be united; then wandering of thoughts will cease, and you will gain a rudder to steer the ship of your soul, a lever by which to set in movement all your inner world. But how can one unite mind and heart ? Acquire the habit of praying these words with the mind in the heart, “Lord Jesus Christ, Son of God, have mercy upon me”. And this prayer, when you learn to perform it properly, or rather when it becomes grafted to the heart, will lead you to the end which you desire. It will unite your mind with your heart, it will cut off your wandering thoughts, and give you the power to govern the movements of your soul.
THEOPHAN THE RECLUSE
Rainha Elizabeth I – Atribuído a Issac Oliver - 1600-1602
Da impotência à força. Um autocrata no trono do coração
Se tudo vai bem, um homem que busque a vontade de Deus, após reflexão, decide desfazer-se das distrações e vive em abnegação, inspirado pelo temor a Deus e por sua consciência. Em resposta a esta decisão, a graça de Deus, que até então agia de fora, entra através dos sacramentos; e o espírito do homem, previamente impotente, torna-se agora pleno de força.
O homem, agora, adquire ciência de si e liberdade interna, e começa uma vida interior diante de Deus; uma vida verdadeiramente livre, sensata e auto-governada. As importunações da alma e do corpo e a pressão dos eventos externos não mais o distraem; ao contrário, ele começa a governá-las de acordo com a orientação do Espírito Santo. Ele senta como um autocrata no trono do coração e, de lá, ordena como as coisas devem ser orientadas e executadas. Tal autocracia começa desde o primeiro momento da transformação interna e da entrada da graça, mas ela não se mostra em sua plena perfeição logo de uma vez. Antigos mestres frequentemente forçam a entrada e não só produzem distúrbios na cidade interna, mas frequentemente levam embora o governador da cidade, como um prisioneiro. No início, tais ocasiões ocorrem com frequência; mas a força do zelo vigoroso, junto com a constância da atenção a nós mesmos e ao nosso trabalho, e a sábia paciência em nossos esforços para executá-lo, auxiliado pela graça divina, gradualmente tornam estas ocasiões mais e mais raras. Finalmente o espírito faz-se tão forte que os ataques daqueles que antigamente tinham influência sobre ele ficam como um grão de pó lançado contra um muro de granito. O espírito habita sempre dentro de si próprio, permanecendo diante de Deus; e pelo poder de Deus reina firme e imperturbável.
TEÓFANO, O RECLUSO
From impotence to strength. An autocrat on the throne of the heart (p.167)
If all goes well, a man who seeks after God will, upon reflec¬tion, decide to give up distractions and live in self-denial, inspired by fear of God and by his conscience. In answer to this decision the grace of God, which until now has acted from with¬out, enters within through the sacraments; and the spirit of man, previously impotent, now becomes full of strength.
The man now acquires self-awareness and freedom within, and begins an inner life before God—a life truly free, reasonable and self-directed. The importunities of the soul and body and the pressure of outward events no longer distract him; on the contrary he begins to control them in accordance with the guidance of the Holy Spirit. He sits as an autocrat on the throne of the heart and from there he ordains how things should be directed and carried out. Such autocracy begins from the first moment of the inner transformation and entrance of grace, but it does not show itself at once in its full perfection. Former masters often force their way through and not only produce disturbance in the inner city, but frequently lead away the ruler of the city as a prisoner. At the beginning such occasions often occur; but the strength of vigorous zeal, together with constancy of attention to our¬selves and to our work, and wise patience in our efforts to per¬form it, assisted by divine grace, gradually make these occasions more and more rare. Finally the spirit becomes so strong that the attacks of those who formerly had influence over it become like a speck of dust driven against a granite wall. The spirit dwells ever within itself, standing before God; and by the power of God it reigns firm and untroubled.
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo entre os Doutores do Templo – Jusepe de Ribera – Sec. XVII
Teoria e prática. Os perigos de muita leitura e fala.
Aquele que busca o reino interno de Deus e uma comunhão viva com Ele buscará, naturalmente, permanecer continuamente no pensamento de Deus. Direcionando sua mente para Ele com toda sua força, seu único desejo será ler apenas Dele. Mas apenas estas ocupações não conduzirão até aquilo que é buscado, a menos que sejam acompanhadas por outras atividades mais práticas. Certo tipo de místico fala apenas destas ocupações: a razão é que tais professores são pessoas de teoria e não de prática. Há algum exagero a esse respeito nas instruções Católicas Romanas sobre a vida espiritual, e isto não é desacompanhado de perigo.
Esta prática da leitura e da conversa sobre Deus, utilizada por si mesma, cria um fácil hábito para as seguintes coisas: é mais fácil filosofar do que orar ou prestar atenção sobre si. E desde que é um trabalho da mente, que cai tão facilmente no orgulho, ela predispõe um homem a auto-estima. Pode, ao mesmo tempo, esfriar o desejo por esforço prático e, consequentemente, entravar um sadio progresso por um bajulador sucesso nesta atividade mental.
Por esta razão, professores de mentes saudáveis advertem seus pupilos do perigo, e os aconselham a não preocuparem-se demasiadamente com tais leituras e conversas em detrimento de outras coisas.
TEÓFANO, O RECLUSO
Theory and practice. The dangers of too much reading and talk (p.168)
He who seeks the inner kingdom of God and a living com¬munion with Him, will naturally seek to remain continually in the thought of God. Turning his mind towards Him with all his might, his one desire will be to read only of Him, to speak only of Him. But these occupations alone will not lead to what is sought, unless accompanied by other, more practical activities. A certain type of mystic talks only of these occupations: the reason is that such teachers are people of theory and not of practice. There is some exaggeration on this subject in Roman Catholic instructions concerning spiritual life, and this is not without danger.
This practice of reading and speaking of God will, used on its own, create a facile habit for such things: it is easier to philoso¬phize than to pray or pay attention to oneself. But since it is a work of the mind, which falls so easily into pride, it predisposes a man to self-esteem. It may altogether cool the desire for prac¬tical effort, and consequently hinder sound progress by a flattering successfulness in this mental activity.
For this reason sound-minded teachers warn their pupils of the danger, and advise them not to concern themselves too much with such reading and talk to the detriment of other things.
THEOPHAN THE RECLUSE
Não fique muito apegado a leitura
É errado tornar-se demasiadamente apegado à leitura. Não leva a nenhum bem e constrói um muro entre o coração e Deus. Leva ao desenvolvimento de uma danosa curiosidade e ao sofisma.
TEÓFANO, O RECLUSO
Do not be too much attached to reading (p.168)
It is wrong to become too much attached to reading. It leads to no good and builds a wall between the heart and God. It leads to the development of a harmful curiosity and sophistry.
THEOPHAN THE RECLUSE
Encontrando o lugar do coração
Por fim o período de busca enfadonha se vai; o afortunado buscador recebe por aquilo que procurava. Ele encontra o coração e se estabelece nele com sua mente diante de Deus, e permanece diante Dele sem desviar-se, como faz um leal súdito diante do Rei, recebendo Dele o poder e a força para governar toda sua vida interior e exterior, de acordo com a boa vontade de Deus. Este é o momento quando o reino de Deus entra nele e começa a manifestar-se em seu natural vigor.
TEÓFANO, O RECLUSO
Finding the place of the heart (p.169)
At last the period of vexatious searching passes; the fortunate seeker receives what he has sought. He finds the heart and estab¬lishes himself in it with his mind before God, and stands before Him unswervingly like a faithful subject before the King, receiv¬ing from Him the power and strength to rule over all his inner and outer life, according to God’s good pleasure. This is the moment when the kingdom of God enters within and begins to manifest itself in its natural strength.
THEOPHAN THE RECLUSE
O reino de Deus dentro de nós; e a espiritualização da alma e do corpo
Agora começa a tarefa de nos acostumarmos à oração espiritual ao Senhor. Os primeiros frutos desta oração despertam nossa fé, a fé reforça nossos esforços e multiplica seus frutos; e assim o trabalho segue de forma bem sucedida.
Se obtivermos este hábito de oração espiritual ao Senhor, descobriremos que pela misericórdia de Deus o anseio interior por Ele nos vem mais frequentemente. E, posteriormente, ficará claro que este envolvimento interior será confirmado para sempre, e o homem habitará interiormente diante de Deus sem cessar. Este é o estabelecimento do reino de Deus dentro de nós. Mas permita-nos acrescentar que com isto chega também o início de um novo ciclo de mudanças em nossa vida interior, que pode ser chamado de espiritualização da alma e do corpo.
Do ponto de vista psicológico, sobre o reino de Deus deve ser dito isto: nasce em nós quando a mente se une com o coração, ambos aderindo iguais e resolutamente à lembrança de Deus.
O homem entrega ao Senhor sua consciência e liberdade como um sacrifício que Lhe agrada, e recebe de Deus poder sobre si mesmo e, através desta força recebida Dele, governa toda sua vida interna e externa como um vice-gerente de Deus.
TEÓFANO, O RECLUSO
The kingdom of God within us; and the spiritualization of soul and body (p. 169)
Now begins the task of accustoming ourselves to spiritual prayer to the Lord. The first-fruits of this prayer quicken our faith, faith reinforces our efforts and multiplies their fruits; and so the work proceeds successfully.
If we attain this habit of spiritual prayer to the Lord, we shall find that, by God’s mercy, the inward longing for Him comes more frequently. And subsequently it comes about that this interior involvement is confirmed for ever, and the man dwells inwardly before God without ceasing. This is the establishing of the kingdom of God within us. But let us add that with this comes also the start of a new cycle of changes in our inner life, which may be called the spiritualization of soul and body.
From the psychological point of view, this must be said of the kingdom of God: it is born in us when the mind is united with the heart, both alike adhering steadfastly to the remembrance of God.
Then man surrenders to the Lord his consciousness and free¬dom as a sacrifice pleasing to Him, and receives from God power over himself; and by strength received from Him he rules over all his inner and outer life as God’s vicegerent.
THEOPHAN THE RECLUSE
Jesus de Nazaré (Franco Zeffirelli) – Robert Powell – 1977
Um Professor dentro de você
Em vez de concentrarem-se sobre comportamentos externos, todos aqueles que trabalham sobre si devem ter como suas metas serem atenciosos e vigilantes, e caminhar na presença de Deus. Se Deus assim concede, aparecerá uma dor em seu coração; então aquilo que deseja, ou mesmo algo ainda mais alto, virá por si mesmo. Certo ritmo entrará em movimento por si próprio, em virtude do qual tudo progredirá corretamente, coerentemente e na maneira apropriada, sem que se pense a respeito. Então, você carregará um professor dentro de você, muito mais sábio do que qualquer professor terreno.
TEÓFANO, O RECLUSO
A Teacher within you (p.170)
Instead of concentrating upon external behaviour, all those who work on themselves must have as their aim to be attentive and vigilant, and to walk in the presence of God. If God grants it, a soreness will appear in your heart; then what you desire, or even something higher still, will come of itself. A certain rhythm will set itself in motion, in virtue of which everything will progress aright, coherently and in the proper way, without your thinking about it. Then you will carry a Teacher within you, wiser far than any earthly teacher.
THEOPHAN THE RECLUSE
Jesus Cristo – Pantocrator do Sinai
Monastério de Santa Catarina – Séc. VI
O novo paraíso do coração
Muito trabalho e tempo são necessários na oração para, dolorosamente, adquirir-se um estado de mente livre de toda perturbação – aquele novo paraíso do coração no qual habita Cristo, como diz o Apóstolo: “Será que vocês não reconhecem que Jesus Cristo está em vocês?” (2 Cor. xiii. 5).
JOÃO DE CÁRPATOS
The new heaven of the heart (p. 170)
Much labour and time is needed in prayer, in order painfully to achieve a state of mind free from all disturbance—that new heaven of the heart in which Christ dwells, as the Apostle says: ‘Know ye not your own selves, how that Jesus Christ dwell in you ?’ (2 Cor. xiii. 5).
JOHN OF KARPATHOS
Batismo de Cristo – El Greco – 1597/1600
Três espécies de comunhão com Deus
Pode parecer estranho que a comunhão com Deus ainda tenha que ser obtida quando ela já nos foi dada no sacramento do batismo e renovada através do sacramento da confissão, já que está dito: “Pois todos vocês, que foram batizados em Cristo, se revestiram de Cristo.” (Gal. Iii. 27); “Vocês estão mortos (isto é, mortos para o pecado através do batismo ou confissão), e a vida de vocês está escondida com Cristo em Deus” (Col. iii. 3). E também sabemos que Deus está em toda parte, que ele não está longe de cada um de nós, “...se, por ventura, tateando, o possam achar” (Atos xvii. 27), e Ele está pronto para habitar em qualquer um que esteja desejoso de aceitá-Lo. É somente por falta de vontade, descuido e pecado que nos separamos Dele. Agora, se uma pessoa se arrependeu e repudiou tudo, e assim entrega-se a Deus, qual é, então, o obstáculo para que Deus venha a habitar nela? .
Para remover desentendimentos é necessário discriminar entre diferentes tipos de comunhão com Deus. A comunhão começa no momento em que a esperança é estimulada, e ela mostra-se ao lado do homem em um anseio e aspiração verso a Deus, e por estar ao lado da boa vontade, auxílio e proteção de Deus. Mas Deus ainda está do lado de fora do homem, e o homem do lado de fora de Deus; eles não se interpenetram, nem entram um no outro. Nos sacramentos do batismo e da confissão, o Senhor entra em um homem por Sua graça, vividamente estabelece comunhão com ele e lhe dá um sabor de toda a doçura do Divino, tão abundante e intensamente como aqueles que obtiveram perfeita experiência dela; mas em seguida Ele novamente esconde esta manifestação de Sua comunhão, renovando-a apenas de tempos em tempos – e então mais ligeiramente, meramente como um reflexo, não mais como o original. Isto deixa o homem em ignorância a respeito de Deus e a respeito de Sua morada no homem, até que certa medida de maturidade ou educação tenha sido obtida, de acordo com a sabedoria de Sua direção. Depois disto o Senhor revela perceptivamente sua morada no espírito de um homem, que então se torna um templo preenchido pelas Três Pessoas da Divindade.
Existem, de fato, três espécies de comunhão com Deus: uma primeira em pensamento e intenção, que ocorre na época da conversão; e duas outras que são atuais, das quais uma está oculta, invisível para os outros e desconhecida para si, e a outra é evidente tanto para si como para os outros.
Toda nossa vida espiritual se consiste na transição da primeira espécie de comunhão com Deus – em pensamento e intenção – para a terceira espécie – uma comunhão real, viva e consciente.
TEÓFANO, O RECLUSO
Three kinds of communion with God (p. 170)
It may seem strange that communion with God still has to be attained when it has already been given to us in the sacrament of baptism and renewed through the sacrament of confession, since it is said: ‘For as many of you as have been baptized into Christ have put on Christ” (Gal. iii. 27); ‘Ye are dead (that is, dead to sin through baptism or confession), and your life is hid with Christ in God’ (Col. iii, 3). And we also know that God is everywhere, not far from each one of us, ‘... if haply they might feel after him ‘ (Acts xvii. 27), and He is ready to dwell in everyone who is willing to accept Him. It is only unwillingness, carelessness, and sinfulness that separate us from Him. Now if a person has repented and repudiated everything, and so gives himself to God, what then is the obstacle to the coming of God to dwell in him?
In order to remove misunderstanding it is necessary to dis¬criminate between different kinds of communion with God. Communion begins from the moment when hope of it is stimu¬lated, and it shows itself on man’s side in a yearning and aspira¬tion towards God, and on God’s side in good-will, help, and protection. But God is still outside man, and man is outside God; they do not penetrate nor enter into one another. In the sacraments of baptism and confession the Lord enters into man by His grace, vividly establishes communion with him, and gives him to taste of all the sweetness of the Divine, as abundantly and intensely as those who have achieved perfection experience it; but afterwards He again conceals this manifestation of His communion, renewing it only from time to time—and then but slightly, merely as a reflection, not as the original. This leaves man in ignorance about God, and about His dwelling in man, until a certain measure of maturity or education has been attained, according to the wisdom of His direction. After this the Lord perceptibly reveals His abode in a man’s spirit, which then be¬comes a temple filled by the Three Persons of the Godhead.
There are, in fact, three kinds of communion with God: a first in thought and intention, which happens at the time of conversion; and two others which are actual, of which one is hidden, invisible to others and unknown to oneself, and the other is evident both to oneself and to others.
The whole of our spiritual life consists in the transition from the first kind of communion with God—in thought and intention —to the third kind—a real, living, and conscious communion.
THEOPHAN THE RECLUSE
Dois Vasos de Jade Branco Unidos – China
Comunhão com Deus deveria ser nosso constante estado
Seria errado pensar que já que a comunhão com Deus é a suprema meta do homem, ela lhe seria concedida apenas nos últimos tempos, por exemplo, no fim dos nossos trabalhos. Não, aqui e agora ela deve ser nosso constante e incessante estado. Quando não temos a comunhão com Deus, e não O sentimos dentro de nós, devemos reconhecer que fugimos de nossa meta e do caminho escolhido para nós.
TEÓFANO, O RECLUSO
Communion with God should be our constant state (p. 171)
It would be wrong to think that since communion with God is the supreme aim of man, it will be granted only at some later time, for instance at the end of all our labours. No, here and now it must be our constant and unceasing state. When we have no communion with God, and do not feel Him within us, we must recognize that we have turned away from our aim and from the way chosen for us.
THEOPHAN THE RECLUSE
A graça entra através dos sacramentos da iniciação
Uma comunhão mística com nosso Senhor Jesus Cristo é concedida aos fiéis no santo sacramento do batismo. No batismo e na crisma a graça entra no coração do Cristão, e depois disso permanece constantemente dentro dele, ajudando-o a viver de um modo Cristão e a ir de esforço a esforço na vida espiritual.
Todos nós que fomos batizados e crismados recebemos o dom do Espírito Santo. Ele está em todos nós, mas Ele não está ativo em todos nós.
TEÓFANO, O RECLUSO
Grace enters within through the sacraments of initiation (p. 172)
A mystical communion with our Lord Jesus Christ is granted to believers in the holy sacrament of baptism. At baptism and chrismation grace enters into the heart of the Christian, and thereafter remains constantly within him, helping him to live in a Christian way and to go from strength to strength in the spiritual life.
All of us who have been baptized and chrismated, have re¬ceived the gift of the Holy Spirit. He is in all of us, but He is not active in all of us.
THEOPHAN THE RECLUSE
A graça e o pecado não moram juntos
O pecado é agora expulso da sua fortaleza e a bondade toma seu lugar, enquanto que a força do pecado é fragmentada e dispersa.
‘A graça e o pecado não moram juntos na mente’, diz S. Diádocos, ‘no entanto, diante do batismo a graça estimula a alma à bondade, de fora, enquanto que Satã espreita em suas profundezas, empenhando-se para bloquear todos os acessos da honestidade na mente; mas no exato momento em que renascemos o demônio permanece fora e a graça habita dentro.’
TEÓFANO, O RECLUSO
Grace and sin do not dwell together (p.172)
Sin is now driven out from its stronghold and goodness takes its place, while the strength of sin is shattered and dispersed.
‘Grace and sin do not dwell together in the mind,’ says St. Diadochos, ‘but before baptism grace incites the soul to goodness from without, while Satan lurks in its depths, endeavouring to bar all the doors of righteousness in the mind; but from the very moment that we are reborn the devil remains outside and grace dwells within.’
THEOPHAN THE RECLUSE
A Mãe de Deus “Oranta” – cone Russo – Sec. XIII.
Cristo vive dentro de nós através dos sacramentos
Você está fazendo árduos esforços para obter o hábito da Oração de Jesus. Possa o Senhor abençoá-lo! Você deve acreditar que o Senhor Jesus Cristo está dentro de nós – pelo poder do batismo e da sagrada comunhão, de acordo com Sua promessa; pois Ele está unido conosco através destes sacramentos. Pois aqueles que são batizados estão vestidos em Cristo, e aqueles que fazem a sagrada comunhão recebem o Senhor: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue vive em mim e eu vivo nele’ (João vi. 56), diz o Senhor. Apenas os pecados mortais nos despojam desta grande misericórdia; e mesmo assim ela pode ser recuperada por aqueles que se arrependem e vão à confissão, e depois recebem a sagrada comunhão. Você deve acreditar nisto. Se sua fé é insuficiente, ore para que Deus possa aumentá-la e estabelecê-la em você, firme e imperturbável.
TEÓFANO, O RECLUSO
Christ lives within us through the sacraments (p.173)
You are making strenuous efforts to attain the habit of the Jesus Prayer. May the Lord bless you! You must believe that the Lord Jesus Christ is within us—by the power of baptism and holy communion, according to His own promise; for He is united with us through these sacraments. For those who are bap¬tised are clothed in Christ, and those who take holy communion receive the Lord. ‘He that eateth my flesh and drinketh my blood, dwelleth in me, and I in him’ (John vi. 56), says the Lord. Only mortal sins deprive us of this great mercy: and even then it can be regained by those who repent and go to confession, and after receive holy communion. You must believe this. If your faith is insufficient, pray that God may increase it and establish it in you, firm and unshakeable.
THEOPHAN THE RECLUSE
Strings (Marionetes) – Filme de Teatro de Marionetes – 2004
Dirigido por Anders Rønnow Klarlund - Dinamarca
Busquem a plenitude do Espírito
O Espírito da graça vive nos Cristãos desde a época do batismo e da crisma. E a participação nos sacramentos de arrependimento e comunhão – não seria isto a recepção do mais abundante fluxo de graça?
Para aqueles que já têm o Espírito é obviamente apropriado dizer: ‘Não extingais o Espírito’ (I Tess. V. 19). Mas como se pode dizer para tais pessoas: ‘Busquem a plenitude do Espírito’ (Efésios. v. 18)? A graça do Espírito Santo é realmente dada para todos os Cristãos, porque tal é o poder da fé Cristã. Mas o Espírito Santo, que vive nos Cristãos, não efetua a salvação deles por Si Mesmo, mas trabalha junto com o livre arbítrio de cada indivíduo. Neste sentido o Cristão pode ofender ou extinguir o Espírito – ou ainda pode contribuir para a perceptível manifestação da ação do Espírito dentro dele. Quando isto acontece, o Cristão sente que está em um extraordinário estado que expressa a si mesmo em profundidade, doçura, calma alegria e algumas vezes ascendendo ao regozijo do espírito: isto é o júbilo espiritual. Em contraste com a embriaguez pelo vinho, o Apóstolo diz que não devemos buscar o entusiasmo através do vinho, mas o regozijo que ele chama: ‘a plenitude do Espírito’. Portanto, o mandamento de ‘buscar a plenitude do Espírito’ é simplesmente uma prescrição para comportar-se e agir de tal modo para cooperar com o Espírito Santo ou dar-Lhe livre espaço, tornar possível que o Espírito Santo manifeste-Se por perceptíveis toques no coração.
Nos escritos dos homens de Deus, que foram honrados com esta graça do Espírito e que até viveram permanentemente sob sua influência, encontramos que duas coisas, em particular, são requeridas de um homem para obter isto: ele deve purificar seu coração das paixões, e dirigir-se a Deus em oração. O Apóstolo Paulo sublinha estas duas coisas, como faz S. João Crisóstomo. A oração, diz ele, permite que o Espírito Santo aja livremente no coração: ‘Aqueles que cantam salmos, se plenificam com o Espírito.’ E ele fala, a seguir, da purificação das paixões que conduz ao mesmo fim: ‘Está em nosso poder ser plenificado com o Espírito?’ ele pergunta, ‘Sim, está em nosso poder. Quando purificamos nossa alma da mentira, crueldade, fornicação, impurezas e cobiça, quando nos tornamos bondosos de coração, compassivos, auto-disciplinados, quando não há blasfêmia ou gracejos mal colocados em nós – quando nos tornamos merecedores disto, então o que irá impedir o Espírito Santo de aproximar-se e pousar dentro de nós? E Ele não só se aproximará, mas trará plenitude ao coração.’
TEÓFANO, O RECLUSO
Be filed with the Spirit (p.173)
The Spirit of grace lives in Christians from the time of bap¬tism and chrismation. And to participate in the sacraments of repentance and communion—is not this to receive the most abundant floods of grace?
To those who already have the Spirit it is obviously appropriate to say: ‘Quench not the Spirit’ (I Thess. V. 19). But how can one say to such people: ‘Be filled with the Spirit’ (Eph. V. 18)? The grace of the Holy Spirit is indeed given to all Christians, because such is the power of the Christian faith. But the Holy Spirit, living in Christians, does not effect their salvation by Himself, but works together with the free actions of each individual. In this sense the Christian can offend or extinguish the Spirit—or else he may contribute to the perceptible mani¬festation of the Spirit’s action within him. When this happens, the Christian feels himself to be in an extraordinary state which expresses itself in deep, sweet, and quiet joy, sometimes rising to the rejoicing of the spirit: this is spiritual exultation. Contrasting it with intoxication from wine, the Apostle says that we must not seek the exultation of wine, but the exultation which he calls ‘being filled with the Spirit’. Therefore the commandment to ‘be filled with the Spirit’ is simply an injunction to behave and act in such a manner as to cooperate with or allow free scope to the Holy Spirit, to make it possible for the Holy Spirit to mani¬fest Himself by perceptibly touching the heart.
In the writings of the men of God, who were honoured with this grace of the Spirit and even lived permanently under its influence, we find that two things in particular are required if a man is to achieve this: he must cleanse his heart from passions, and turn to God in prayer. The Apostle Paul stressed these two things, as does St. John Chrysostom. Prayer, he says, allows the Holy Spirit to act freely on the heart: ‘Those who sing psalms, fill themselves with the Spirit.’ And he speaks later of the cleans¬ing from the passions which leads to the same end: ‘Is it in our power to be filled with the Spirit ?’ he asks, ‘Yes, it is in our power. When we purify our soul from lies, cruelty, fornication, impurity and cupidity, when we become kind hearted, com¬passionate, self-disciplined, when there is no blasphemy or mis¬placed jesting in us—when we become worthy of it, then what will prevent the Holy Spirit from drawing near and alighting within us? And He will not only draw near, but will fill our heart.’
THEOPHAN THE RECLUSE
Escada da Ascensão Divina – Novgorod – S. Petersburgo – Séc. XVI
Tudo deve ser feito no seu devido tempo. Uma ascensão ordenada
O Senhor, tendo entrado em união com o espírito do homem, não imediatamente o preenche completamente ou habita nele plenamente. Isto não por qualquer relutância de Sua parte – pois Ele está pronto para preencher tudo – mas por nossa causa: é porque as paixões ainda estão misturadas com os poderes da nossa natureza, não ainda separadas deles e ainda não substituídas pelas virtudes opostas.
Ao lutar com zelo contra as paixões devemos ter os olhos da mente direcionados para Deus. Este é o primeiro princípio a ser mantido ao se construir um modo de vida agradável a Deus. Através dele deveríamos testar a retidão, ou a tortuosidade, das regras e dos feitos ascéticos que temos em mente e empreendemos.
Esta necessidade de estar direcionado internamente a Deus deve ser plenamente reconhecida, porque todos os erros na vida ativa parecem vir da ignorância deste princípio. Não vendo sua relevância, algumas pessoas logo param no estágio exterior dos exercícios devotos e esforços ascéticos, outros logo param na prática habitual das boas ações, sem erguerem-se nada além. Outros ainda tentam passar diretamente à contemplação. Todas estas coisas nos são requeridas mas tudo deve ser feito no seu próprio tempo. No início, há apenas uma semente, que em seguida se desenvolve – não exclusivamente, mas em sua tendência geral – em uma forma de vida ou outra. É necessário gradualidade – uma ordenada ascensão dos feitos externos aos internos e, então, de ambos para a contemplação. Tal é sempre a sequência – e nunca ao contrário.
TEÓFANO, O RECLUSO
Everything must be done in its own time. An orderly ascent (p.174)
The Lord, having entered into union with the spirit of man, does not immediately fill him completely or dwell in him wholly. This is not because of any reluctance on His part—for He is ready to fill everything—but because of us: it is because the passions are still mixed with the powers of our nature, not yet separated from them and not yet replaced by their opposite virtues.
While fighting the passions with all zeal we must have the eyes of the mind turned towards God. This is the first principle to be maintained in building a way of life pleasing to God. By it we should test the straightness or crookedness of the rules and the ascetic feats which we may have in mind and undertake.
This necessity of being turned inwardly towards God must be fully recognized, because all the errors in the active life seem to come from ignorance of this principle. Not seeing its signifi¬cance, some people stop short at the exterior stage of devout exercises and ascetic efforts, others stop short at the habitual practice of good deeds, without rising any higher. Others again attempt to pass directly to contemplation. All these things are required of us but everything must be done in its own time. At the beginning there is only a seed, which afterwards develops —not exclusively, but in its general tendency—into one form of life or another. Gradualness is necessary—the orderly ascent from exterior to interior deeds, and then from both to contempla¬tion. Such is always the sequence—never vice versa.
THEOPHAN THE RECLUSE
A Parábola do Fermento – Mateus – xiii – 33
A parábola do fermento
Lembre-se da parábola sobre o fermento escondido em três medidas de farinha. O fermento não se faz notável de uma vez, mas permanece oculto por certo tempo, então mais tarde sua ação torna-se manifesta, e finalmente ele penetra toda a massa. Assim também o Reino dentro de nós é inicialmente mantido em segredo, mais tarde ele se revela, e finalmente abre-se e aparece em sua plena força. Ele se revela, como vimos anteriormente, através do involuntário anseio por recolher-se e permanecer diante de Deus. Aqui a alma não tem poder próprio, mas é movida por uma influência externa. Alguém a toma e a conduz para dentro. É Deus, a graça do Espírito Santo, o Senhor e Salvador: não importa qual você nomeie, o significado é um e o mesmo. Deus mostra com isso que Ele aceita a alma e deseja tornar-se mestre dela, e ao mesmo tempo Ele faz com que a alma se habitue à Sua maestria, revelando sua verdadeira natureza. Até que este anseio apareça – e ele não aparece de uma vez – o homem parece agir aparentemente por si mesmo; e embora ele, de fato, esteja sendo auxiliado pela graça, esta ação permanece oculta para ele. Ele eleva sua atenção e concebe boas intenções de estar dentro de si, de lembrar-se de Deus, de expulsar maus e vãos pensamentos, e de completar todas as tarefas de um modo que seja agradável a Deus; ele se esforça e luta até cansar, mas não tem nenhum sucesso nesta empreitada. Seus pensamentos ficam distraídos, movimentos da paixão o dominam por completo, há desordem e erro em seu trabalho. Tudo isto é porque Deus ainda não revelou Sua maestria sobre a alma. Mas tão logo isto aconteça (e acontece quando somos subjugados por este mesmo anseio involuntário de recolher-se e permanecer diante de Deus), imediatamente todas as coisas internas ficam em ordem – um sinal de que o Rei está presente lá.
TEÓFANO, O RECLUSO
The parable of the leaven (p. 175)
Remember the Lord’s parable about the leaven hidden in the three measures of meal. The leaven does not become noticeable at once, but remains hidden for a certain time, then later on its action becomes manifest, and finally it penetrates all the dough. So also the Kingdom within us is first kept secret, later it reveals itself, and finally opens out and appears in its full strength. It reveals itself, as we saw earlier, by the involuntary longing to withdraw within and stand before God. Here the soul has no power of its own, but is moved by an outside influence. Someone takes it and leads it within. It is God, the grace of the Holy Spirit, the Lord and Saviour: no matter which you say, the meaning is one and the same. God shows by this that He accepts the soul and wishes to be master of it, and at the same time He makes the soul accustomed to His mastery, revealing its true nature. Until this longing appears—and it does not appear at once—man seems to act apparently by himself; and though he is in fact being helped by grace, its action remains hidden from him. He arouses his attention and forms good intentions to be within himself, to remember God, to drive away vain and evil thoughts, and to fulfil all tasks in a way that is pleasing to God; he exerts himself and strives until he is tired, but has no success at all in this undertaking. His thoughts are distracted, movements of passion overwhelm him, there is disorder and error in his work. All this is because God has not yet revealed His mastery over the soul. But as soon as this happens (and it happens when we are overcome by this same involuntary longing to withdraw within and stand before God), immediately everything within comes into order—a sign that the King is present there.
THEOPHAN THE RECLUSE
Sala dos Antigos Monges – Monastério de Meteora – Grécia
O habitar de Cristo e a morte da paixão carnal
S. João Crisóstomo escreve: ‘Você perguntará: “O que acontecerá se Cristo está em nós?” “Se Cristo está em vocês, o corpo de vocês está morto para o pecado, mas o espírito vive na retidão.” (Rom. viii 10). Você vê quanto mal surge por não ter o Espírito Santo em si: morte, inimizade em relação a Deus, a impossibilidade de Lhe agradar por submissão à Sua Lei, ou impossibilidade de pertencer a Cristo e tê-Lo habitando em você. Veja também como é bom ter o Espírito em si: realmente pertencer a Cristo, ter o Próprio Cristo dentro de si, competir com os anjos! Pois ter um corpo que está morto para o pecado, significa começar a viver na vida eterna, carregar dentro de si – mesmo aqui na terra – a promessa da ressurreição e o poder que garante o avanço sobre o caminho da virtude. Note que o Apóstolo não apenas disse que “o corpo está morto”, mas acrescentou: “para o pecado”, de modo que se deveria entender que são os pecados da carne e não o próprio corpo que está mortificado. Não é do corpo como tal que fala o Apóstolo; ao contrário ele quer que o corpo, embora morto, ainda permaneça vivo. Quando nossos corpos, na medida do interesse pelas reações carnais, não se diferenciam daqueles que jazem nas tumbas, este é um sinal de que temos o Filho dentro de nós, e que em nós habita o Espírito.’
Como a escuridão não pode permanecer diante da luz, assim tudo que é carnal, apaixonado, ou pecaminoso, não pode permanecer diante de nosso Senhor Cristo e Seu Espírito. Mas como a existência do sol não exclui o fenômeno da escuridão, assim a presença do Filho e do Espírito dentro de nós não exclui a existência de algo que é apaixonado e pecaminoso em nós, mas somente afasta a sua força. Tão logo surge uma ocasião, os elementos apaixonados e pecaminosos dão um passo à frente e se oferecem à nossa consciência e vontade. Se nossa consciência presta atenção e se ocupa com eles, então nossa vontade também dirigir-se-á a eles. Mas se, naquele momento, nossa consciência e vontade atravessam para o lado do espírito e dirigem-se para nosso Senhor Cristo e Seu Espírito, então tudo que é carnal e apaixonado desaparecerá imediatamente como fumaça diante de um sopro de vento. Isto significa que a carne está morta, impotente. Tal é a regra de vida geral para os verdadeiros Cristãos; mas eles estão em estágios diferentes. Quando alguém permanece resolutamente com sua consciência e vontade ao lado do Espírito, em uma visível e tangível união com Cristo nosso Senhor em Seu Espírito, então, naquele momento, nada que seja carnal ou apaixonado pode mostrar-se tanto, nenhum tanto a mais do que a escuridão diante do sol ou o frio diante das chamas. Num tal caso, a carne está bem morta e imóvel. É deste estágio que São Paulo está falando no texto citado por S. João Crisóstomo. S. Macário do Egito descreve este estágio frequentemente.
O curso geral a ser seguido na vida espiritual está bem descrito por S. Hesíquio. A essência do seu ensinamento é este: quando a carne e a paixão surgem, afaste-se deles com desdém, com desprezo, com inimizade; e dirija-se com oração para nosso Senhor Cristo que está dentro de você – então o desejo carnal e apaixonado imediatamente lhe deixará.
TEÓFANO, O RECLUSO
The indwelling of Christ and the death of carnal passion (p.176)
St. John Chrysostom writes, ‘You will ask, “What will happen if Christ is within us ?” “If Christ is in you, your body is dead to sin, but your spirit lives unto righteousness” (Rom. Viii. 10). You see how much evil comes from not having the Holy Spirit within you: death, enmity towards God, the impossibility of pleasing Him by submission to His Law, or of belonging to Christ and having Him dwelling in you. Look also how good it is to have the Spirit within you: really to belong to Christ, to have Christ Himself within you, to compete with the angels! For to have a body that is dead to sin, means to begin to live in eternal life, to carry within you—even here on earth—the pledge of the resurrection and the reassuring power to advance upon the path of virtue. Note that the Apostle said not only, “the body is dead”, but added, “to sin”, so that you should understand that it is the sins of the flesh, and not the body itself, that is mortified. It is not of the body as such that the Apostle speaks; on the con¬trary he wants the body, although dead, still to remain alive. When our bodies, in so far as carnal reactions are concerned, do not differ from those that lie in the grave, this is a sign that we have the Son within us, and that in us dwells the Spirit.’
As darkness cannot stand before the light, so all that is carnal, passionate, or sinful, cannot stand before our Lord Christ and His Spirit. But as the existence of the sun does not abolish the fact of darkness, so the presence within us of the Son and Spirit does not abolish the existence within us of some¬thing that is sinful and passionate, but only takes away its power. As soon as an occasion arises, the passionate and sinful elements step forward and offer themselves to our consciousness and will. If our consciousness pays attention and occupies itself with them, then our will may also turn towards them. But if, at that moment, our consciousness and will pass over to the side of the spirit and turn to our Lord Christ and His Spirit, then all that is carnal and passionate will disappear immediately like smoke before a breath of wind. This means that the flesh is dead, powerless. Such is the general rule of life for true Christians; but they are at different stages. When someone remains steadfastly with his consciousness and will on the side of the Spirit, in living and tangible union with Christ our Lord in His Spirit, then at that time nothing carnal or passionate can so much as show itself, any more than darkness before the sun or cold before flames. In such a case the flesh is quite dead and immobile. It is of this stage that St. Paul is speaking in the text quoted by St. John Chrysostom. St. Makarios of Egypt often describes this stage.
The general course to be followed in the spiritual life is well described by St. Hesychios. The essence of his teaching is this: when the flesh and passions arise, turn away from them with disregard, with contempt, with enmity; and turn with prayer to our Lord Christ who is within you—then the carnal and passion¬ate will depart immediately.
THEOPHAN THE RECLUSE
Santo Lendo e Demônio Rastejante Santa Maria e Menino Jesus Maria Madalena Penitente
Ghent – Séc. XVI Caravaggio – 1606 Tiziano - 1576
Três espécies de atividade: do intelecto, da vontade, do coração
Existem três espécies de atividade exercida pelos poderes da alma. Cada espécie é, ao mesmo tempo, adaptada aos movimentos do espírito, e conduzem a um tipo particular de sentimento espiritual. Cada uma conduz também ao fortalecimento das condições iniciais para a constante interiorização. Estas atividades são: a atividade intelectual que conduz a concentração da atenção; a atividade da vontade que conduz à vigilância; a atividade do coração que conduz à sobriedade. A oração abraça todas estas atividades de uma vez e as unem todas, como explicamos antes. Estas atividades, penetrada por elementos espirituais, conectam a alma com o espírito e fundem os dois juntos. Fica manifesto, por isto, quão fundamentalmente necessário elas são, e quão equivocados estão aqueles que as desconsideram. Tais pessoas são, elas próprias, a causa do por que seus trabalhos permanecem infrutíferos; e então elas rapidamente esfriam e isto é o fim de tudo.
TEÓFANO, O RECLUSO
Three kinds of activity: of the intellect, of the will, of the heart (p. 177)
There are three kinds of activity exercised by the powers of the soul. Each kind is adapted at the same time to the movements of the spirit, and leads to a particular type of spiritual feeling. Each leads also to the strengthening of the initial conditions for constant inwardness. These activities are: intellectual activity leading to concentration of attention; activity of the will leading to vigilance; and activity of the heart leading to sobriety. Prayer embraces all these activities at once and unites them all, for prayer in its execution is nothing other than inner activity, as we explained before. These activities, penetrated by spiritual elements, link the soul with the spirit and weld the two together. It is manifest from this how fundamentally necessary they are, and how wrong are those who disregard them. Such people are themselves the cause why their work remains fruitless: they sweat, but see no fruit; and then they quickly cool and it is the end of everything.
THEOPHAN THE RECLUSE
Afresco do Antigo Monastério de Valamo
Habitando no mundo de Deus
Se obtivermos uma constante interiorização, então também estaremos capacitados a habitar no mundo de Deus. O reverso é igualmente verdadeiro: quando esta morada em outro mundo torna-se habitual, somente então, uma constante interiorização é assegurada.
TEÓFANO, O RECLUSO
Dwelling in the world of God (p. 178)
When we achieve constant inwardness, then we are also en¬abled to dwell in the world of God. The reverse is equally true: when this dwelling in another world becomes habitual, only then is constant inwardness secured.
THEOPHAN THE RECLUSE
Duas pré-condições essenciais – interioridade e visão
Se nossa mente e coração estão para ser conduzidos corretamente ao caminho da salvação, existem duas pré-condições essenciais e inevitáveis – interioridade e visão do mundo espiritual. A primeira condição introduz o homem numa certa atmosfera espiritual e a segunda o planta lá mais firmemente, num clima favorável à chama da vida. Portanto, pode ser dito que nós apenas temos que produzir estes dois estados preparatórios, e o que segue virá por sua própria conta. As pessoas frequentemente reclamam que o coração está endurecido, e isto não é surpreendente. O homem não se recolhe internamente, e assim fica desacostumado à ciência interna de si mesmo; ele fracassa em estabelecer-se onde deveria, e não conhece o lugar do coração – assim, como sua vida e suas atividades podem ser dirigidas corretamente? É como se alguém removesse o coração do seu lugar e então exigisse que a vida continuasse.
TEÓFANO, O RECLUSO
Two essential preconditions—inwardness and vision (p.178)
If our mind and heart are to be rightly guided on the path to salvation, there are two essential and unavoidable preconditions —inwardness and the vision of the spiritual world. The first condition introduces man into a certain spiritual atmosphere and the second plants him there more firmly, in a climate favourable to the flame of life. Therefore it may be said that we have but to produce these two preparatory states, and what follows will come of its own accord. People often complain that the heart is hardened, and this is not surprising. Man does not collect himself within, and so is unaccustomed to inward self-awareness; he fails to establish himself where he should, and does not know the place of the heart—so how can his life and its activities be directed aright? It is as if one removed the heart from its place and then demanded that life should continue.
THEOPHAN THE RECLUSE
O olho do espírito
O propósito do espírito, como suas manifestações mostram, é manter o homem em contato com Deus e com a ordem divina das coisas, independentemente de todos os fenômenos visíveis que o cercam e fluem fora dele. Para ser capaz de cumprir tal propósito apropriadamente, o espírito deve estar naturalmente dotado com conhecimento de Deus e da ordem divina, junto com o sentido de uma forma de existência mais abençoada, que mostra a si mesma em uma falta de contentamento com todas as coisas materiais. Esta visão espiritual existiu, deve-se supor, no primeiro homem até a Queda. Seu espírito claramente viu Deus e todas as coisas divinas – tão nitidamente quanto com olhos normais vemos hoje um objeto diante de nós. Mas depois da Queda os olhos do espírito foram fechados, e o homem não mais viu o que era natural para ele ver. O próprio espírito permanece e tem olhos – mas estão fechados. Sua condição é como aquela de um homem cujas pálpebras ficaram grudadas juntas. O olho está intacto, ele tem sede de luz, ele anseia por ver a luz, sente que a luz existe; mas as pálpebras, estando coladas, não permitem que o olho abra e entre em direto contato com a luz. Obviamente, essa é a condição do espírito em um homem desde a Queda. O homem tentou substituir a visão do espírito pela visão da mente, por construções mentais abstratas, por ideologias; mas isto sempre careceu de resultados, como podemos ver por todas as teorias metafísicas dos filósofos.
TEÓFANO, O RECLUSO
The eye of the spirit (p. 179)
The purpose of the spirit, as its manifestations show, is to keep man in contact with God and with the divine order of things, independently of all the visible phenomena that surround and flow past him. To be able properly to fulfil such a purpose, the spirit must be naturally endowed with knowledge of God and of the divine order, together with the sense of a more blessed form of existence, which shows itself in a lack of contentment with all things material. This spiritual vision existed, one must suppose, in the first man until the Fall. His spirit clearly saw God and all things divine—as clearly as with normal eyes we today see an object before us. But after the Fall the eyes of the spirit were closed, and man no longer saw what it was natural for him to see. The spirit itself remains and has eyes—but they are closed. Its condition is like that of a man whose eyelids have become stuck together. The eye is intact, it thirsts for light, it longs to see the light, feeling that the light exists; but the eyelids, being stuck together, do not allow the eye to open and to enter into direct contact with the light. Such is obviously the condi¬tion of the spirit in man since the Fall. Man has tried to replace the sight of the spirit by the sight of the mind, by abstract mental constructions, by ideologies; but this has always been without results, as we can see from all the metaphysical theories of the philosophers.
THEOPHAN THE RECLUSE
O Caminho ao Paraíso – Dieric Bouts, o Ancião - 1470
Paraíso perdido e Paraíso recuperado
Então você começou a perceber o que significa a paz real. Glória a Deus! Então, qual é o problema? Agora, você deve avançar no reino onde esta paz é encontrada. Busque o Paraíso perdido, para cantar louvores ao Paraíso recuperado. Isto é tudo o que importa. Todas as coisas externas e separadas desta paz são vãs. E esta paz não está longe, está quase dentro do seu alcance, embora você deva desejá-la, e desejar não é tão fácil. Possa a Mãe de Deus e seu Anjo Guardião ajudarem você!
TEÓFANO O RECLUSO
Paradise lost and Paradise regained (p.179)
So you have begun to realize what real peace means. Glory be to God! Then what is the matter ? Now you must advance into the realm where this peace is to be found. Seek Paradise lost, in order to sing the praise of Paradise regained. That is all that matters. Everything outside and apart from this peace is empti¬ness. And this peace is not far, it is almost within your grasp, although you must desire it, and to desire is not so easy. May the Mother of God and your Guardian Angel help you!
THEOPHAN THE RECLUSE
O Jardim do Éden – Lucas Cranach, o Ancião - 1536
Cultivando e guardando o jardim do Éden
O Senhor tomou o homem que Ele criou e ‘o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar’ (Gen. ii. 15). Este mandamento para cultivar e guardar o Paraíso deve ser entendido não apenas no sentido físico direto, mas também no seu significado espiritual superior. Por ‘Paraíso’ os Santos Padres querem significar a alma dos primeiros seres humanos, o lugar onde a mais abundante graça divina habita e onde um grande número de variadas virtudes dão seus frutos. Por ‘cultivar’ este jardim espiritual eles querem se referir àquilo que mais tarde foi chamado ‘trabalho espiritual’, e pela ‘guarda’ desta atividade interna referem-se à conservação da pureza já adquirida pela alma.
BISPO PEDRO
Dressing and keeping the garden of Eden (p. 180)
The Lord took the man He created and ‘put him into the garden of Eden to dress it and keep it’ (Gen. ii. 15). This com¬mand to dress and keep Paradise must be understood not only in the direct physical sense, but also in its higher spiritual meaning. By ‘Paradise’ the Holy Fathers mean the soul of the first human beings, the place where the most abundant divine grace dwelt and where a great number of varied virtues bore their fruit. By ‘dressing’ this spiritual garden they meant what was later called ‘spiritual work’, and by the ‘keeping’ of this inner activity they meant the preservation of the purity already gained by the soul.
BISHOP PETER
Anunciação – Monastério de Santa Catarina – Monte Sinai – Séc. XII
A regra interna de Cristo, o Rei
O reino de Deus está dentro de nós quando Deus reina em nós, quando a alma em suas profundezas confessa Deus como seu Mestre, e é obediente a Ele em todos os seus poderes. Então Deus age dentro dela como mestre ‘tanto da vontade como da ação, conforme sua benevolência’ (Filipenses ii. 13). Este reino começa tão logo decidamos servir a Deus em nosso Senhor Jesus Cristo, pela graça do Espírito Santo. Então o Cristão oferece a Deus sua consciência e liberdade, que compreende a substância essencial de nossa vida humana, e Deus aceita o sacrifício; e deste modo a aliança do homem com Deus e Deus com o homem é obtida, e o pacto com Deus, que foi rompido pela Queda e continua sendo rompido por nossos obstinados pecados, é restabelecido. Esta aliança interna é selada, confirmada, concedendo a força para manter-se através do poder da graça no divino sacramento do batismo e para aqueles que caíram após o batismo, no sacramento do arrependimento; e depois disso é constantemente fortalecida pela sagrada comunhão.
Todos os Cristãos vivem assim; e consequentemente todos eles carregam o reino de Deus dentro deles próprios, o que significa dizer que eles obedecem a Deus como um Rei e são governados por Deus como Rei.
Falando sobre o reino de Deus dentro de nós, deve-se sempre acrescentar: no Senhor Jesus Cristo, pela graça do Espírito Santo. Esta é a marca do Cristão – o reino de Deus dentro de nós. Deus é o Rei sobre todos, Ele é o Criador de todas as coisas e em Sua Providência assiste sobre todas elas: mas Ele verdadeiramente reina na alma e verdadeiramente é ali declarado como Rei, somente depois do restabelecimento daquela união da alma com Ele, aquela que foi rompida pela Queda. E esta união é efetuada pelo Espírito Santo no Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador.
TEÓFANO, O RECLUSO
The inward rule of Christ the King (p.180)
The kingdom of God is within us when God reigns in us, when the soul in its depths confesses God as its Master, and is obedient to Him in all its powers. Then God acts within it as master ‘both to will and to do of his good pleasure’ (Phil. ii. 13). This reign begins as soon as we resolve to serve God in our Lord Jesus Christ, by the grace of the Holy Spirit. Then the Christian hands over to God his consciousness and freedom, which comprises the essential substance of our human life, and God accepts the sacrifice; and in this way the alliance of man with God and God with man is achieved, and the covenant with God, which was severed by the Fall and continues to be severed by our wilful sins, is re-established. This inner alliance is sealed, confirmed, and given the strength to maintain itself by the power of grace in the divine sacrament of baptism, and for those who have fallen after baptism, in the sacrament of repentance: and afterwards it is constantly strengthened by holy communion.
All Christians live thus; and consequently they all bear the kingdom of God within themselves, that is to say they obey God as King and are ruled by God as King.
Speaking about the kingdom of God within us, one must always add: in the Lord Jesus Christ, by the grace of the Holy Spirit. This is the mark of the Christian—the kingdom of God within us. God is the King over all, He is the Creator of all things and in His Providence watches over them all: but He truly reigns in the soul and is truly professed there as King only after the re-establishment of that union of the soul with Him which was broken by the Fall. And this union is effected by the Holy Spirit in the Lord Jesus Christ, our Saviour.
THEOPHAN THE RECLUSE
Nenhum comentário:
Postar um comentário