A ARTE DA PRECE
Uma Antologia Ortodoxa
compilada pelo
Hegúmeno Chariton de Valamo
CAPÍTULO VI
GUERRA COM AS PAIXÕES
de vários autores
(v) TEMPOS DE DESOLAÇÃO
Sansão sendo Cegado – (Juízes cap. xiii-xvi)
Rembrandt - 1636
Duas espécies de afastamento
A permanência de nossa alma com o Senhor, que é a plena essência do trabalho interno, não é algo que depende de nós. O Senhor visita a alma, e a alma vive com Ele; a alma regozija diante Dele e Ele a preenche com calor espiritual. Então o Senhor se afasta e imediatamente a alma fica vazia, e não reside, de fato, dentro de seu poder fazer com que o Bom Visitante de almas retorne. O Senhor se afasta para colocar a alma à prova, ou às vezes para puni-la, não tanto por algum equívoco externo, mas por algum mal interno que a alma permitiu-se admitir. Quando o Senhor se afasta para colocar a alma à prova, Ele rapidamente retorna uma vez mais quando esta começa a clamar por Ele. Mas quando Ele se afasta como punição, Ele não retorna logo – não até que a alma tenha percebido o pecado cometido, tenha se arrependido, tenha chorado sobre ele e feito penitência.
TEÓFANO, O RECLUSO
Two kinds of withdrawal (p. 257)
The abiding of our soul with the Lord, which is the whole essence of inner work, is not something that depends upon us. The Lord visits the soul, and the soul dwells with Him; the soul rejoices before Him and He fills it with spiritual warmth. Then the Lord withdraws and at once the soul is empty, nor does it lie at all within its power to make the Good Visitor of souls return. The Lord withdraws to put the soul to the test, or sometimes to punish it, not so much for external trespasses but for some inner evil to which the soul has granted admission. When the Lord withdraws to put the soul to the test, He quickly returns once more when it begins to call out to Him. But when He withdraws as a punishment, He does not soon return—not until the soul has realized the sin it has committed, has repented, has wept over it and done penance.
THEOPHAN THE RECLUSE
Sansão e Dalila – Gerrit van Honthorsth – 1615
Por que a alma se esfria?
Acima de tudo, vigie cuidadosamente quando a alma se esfria. Este é um estado perigoso e amargo. O Senhor usa isto como um dos seus meios de orientação, instrução, e correção. Mas pode ser também uma espécie de punição. A razão é, normalmente, um pecado desvelado, mas já que no seu caso nenhum pecado assim é evidente, a causa deve ser buscada em sentimentos e disposições internas. Será que uma alta opinião de si mesmo não o teria assaltado e você pense que não é como os outros? Será que você não está planejando trilhar o caminho da salvação por si mesmo e ascender ao alto através dos seus próprios esforços?
TEÓFANO, O RECLUSO
Why does the soul grow cool? (p. 257)
Above all, watch carefully when the soul grows cool. This is a bitter and dangerous state. The Lord uses it as one of His means of guidance, instruction, and correction. But it can also be a kind of punishment. The reason is usually an open sin, but since in your case no such sin is in evidence, the cause should be sought in inner feelings and dispositions. It may be that a high opinion of yourself has stolen into you, and you think that you are not like the others? Maybe you are planning to tread the path of salvation by yourself and to ascend on high by your own efforts?
THEOPHAN THE RECLUSE
Cristo Adormecido no Mar da Galiléia – ( Mateus viii 23-27, Lucas viii 22-25)
Rembrandt – 1633
Escravos Inacabados Despertando – Michelangelo Buonarroti – Florença - 1519/1536
Períodos de aridez e insensibilidade são inevitáveis
Você empreende diferentes tarefas, assim me conta, ‘na maioria dos casos de má vontade e sem qualquer empenho – tenho de me forçar a fazer’.
Mas isto, afinal, é um princípio básico na vida espiritual – colocar-se em oposição àquilo que é mal e forçar-se a fazer o que é bom. Este é o significado das palavras do Senhor: “o Reino dos Céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele.” (Mateus xi. 12). Eis porque seguir o Senhor é um jugo. Se tudo fosse feito com empenho, onde estaria o jugo? No entanto, no final, sucede que tudo é feito de bom grado e facilmente.
Você diz: ‘Uma pesada insensibilidade toma conta de mim; eu me torno como um autômato – sem pensamentos ou sentimentos. ’
Tais estados surgem algumas vezes como uma punição porque nos predispomos em pensamento ou sentimento para algo mal; e algumas vezes eles vêm como uma educação – principalmente para nos ensinar a humildade, habituar-nos a não esperar por nada que venha de nós mesmos, mas esperar apenas por Deus. Umas poucas experiências como esta minam a confiança em si mesmo; e assim, quando somos libertos do abatimento, sabemos de onde a ajuda veio e percebemos em quem podemos confiar sobre todas as coisas. Este é um estado depressivo, mas ele deve ser suportado com o pensamento de que não temos direito a nada melhor, que nós o merecemos. Não existem remédios contra ele e libertar-se dele depende da vontade de Deus. Tudo o que podemos fazer é clamar ao Senhor: Seja feita tua vontade! Tenha piedade! Ajuda-me! Mas de modo algum deveríamos nos permitir ficar indolentes, pois isto é nocivo e destrutivo. Os Santos Padres descrevem tais estados como arrefecimento ou aridez; e eles concordam em considerá-los como algo inevitável para qualquer um que esteja tentando viver de acordo com a vontade de Deus, pois sem eles nós rapidamente nos tornaríamos presunçosos.
TEÓFANO, O RECLUSO
Periods of dryness and insensitivity are inevitable (p. 257)
You undertake different tasks, so you tell me, ‘in most cases unwillingly and without any eagerness—I have to force myself’.
But this, after all, is a basic principle in the spiritual life—to set yourself in opposition to what is bad and to force yourself to do what is good. This is the meaning of the Lord's words, “The kingdom of heaven suffereth violence, and the violent take it by force' (Matt. xi. 12). This is why following the Lord is a yoke. If all were done eagerly, where would be the yoke? Yet in the end it so comes about that everything is done easily and willingly.
You say, ‘A dull insensitivity holds me fast; I become like an automaton—without thoughts or feelings.’
Such states come sometimes as a punishment because we have inclined in thought or feeling to something evil; and sometimes they come as an education—chiefly to teach us humility, to accustom us not to expect anything from our own powers, but to wait on God alone. A few such experiences undermine con¬fidence in self; and so, when we are delivered from heaviness we know where the help comes from, and we realize on whom to rely in everything. This is a depressing state, but it must be endured with the thought that we do not deserve anything better, that we have earned it. There are no remedies against it and deliverance from it depends on God's will. All we can do is to cry to the Lord: Thy will be done! Have mercy! Help me! But on no account should we allow ourselves to grow slack, for this is harmful and destructive. The Holy Fathers describe such states as cooling off or dryness; and they agree in regarding them as something inevitable for anyone trying to live according to God's will, for without them we quickly become presumptuous.
THEOPHAN THE RECLUSE
Um castigo pela raiva
Durante tempos de aridez deveríamos olhar e ver se tivemos algum sentimento vaidoso ou de auto-presunção na alma; e o tendo encontrado, deveríamos arrepender-nos diante do Senhor e decidir-nos ser mais cautelosos no futuro.
Esta aridez é mais frequentemente uma punição pela raiva, mentira, malícia, crítica excessiva, ou orgulho. A cura é retornar ao estado de graça. Já que a graça chega pela vontade de Deus, tudo que podemos fazer é orar para que Ele nos liberte desta aridez e insensibilidade de pedra.
TEÓFANO, O RECLUSO
A punishment for anger (p. 258)
During times of dryness we should look to see whether there has been any feeling of conceit or self-presumption in the soul; and having found it, we should repent before the Lord and resolve to be more cautious in future.
This dryness is most often a punishment for anger, lying, spitefulness, censoriousness, or pride. The cure is to return to the state of grace. Since grace comes by the will of God, all we can do is to pray that He will free us from this dryness and stone-like insensitivity.
THEOPHAN THE RECLUSE
Queda e Expulsão de Adão e Eva do Paraíso – Michelangelo Buonarroti – Capela Sistina – Roma – 1509
Fracasso na confiança de Deus
Tão logo você dê as costas – não importa quão levemente – a Deus, e não mais coloque sua confiança Nele, as coisas se entortam; pois então o Senhor se afasta, como se dissesse: “Você pôs sua confiança em outra coisa – muito bem, confie nela então.” E qualquer coisa que isto possa vir a ser prova-se ulteriormente sem valor.
TEÓFANO, O RECLUSO
Failure to trust in God (p. 259)
As soon as you turn away—however slightly—from God, and no longer place your trust in Him, things go awry; for then the Lord withdraws, as though saying: 'You have put your trust in something else—very well, rely on that instead.' And whatever it may be it proves utterly worthless.
THEOPHAN THE RECLUSE
Menino Agachado – Michelangelo Buonarroti – 1530-1534
Quão frio é sem a graça!
Você vê quão frio é sem a graça e quão apática e inerte fica a alma em relação a qualquer coisa espiritual. Este é o estado dos bons pagãos, dos Judeus fiéis a Lei, e dos Cristãos que conduzem vidas irreprováveis mas não pensam a respeito de suas vidas interiores e sua relação com Deus. E, no entanto, eles não sentem uma dor como a sua porque (diferentemente de você) eles nada sabem dos efeitos da graça. Já que acontece, circunstancialmente, deles experimentarem uma espécie de consolação espiritual – natural, não concedida pela graça – eles permanecem em paz.
O que mantém a graça na alma mais do que qualquer coisa? Humildade. O que faz com que ela se afaste mais do que qualquer outra coisa? Sentimentos de orgulho, uma elevada opinião de si próprio, e auto-suficiência. A graça vai se embora tão logo sente este mau cheiro de orgulho interno.
TEÓFANO, O RECLUSO
How cold it is without grace! (p. 259)
You see how cold it is without grace, and how listless and inert the soul is towards anything spiritual. This is the state of good pagans, of Jews faithful to the Law, and of Christians who lead blameless lives but do not think about their inner life and its relation to God. Yet they do not feel an ache like yours, because (unlike you) they know nothing of the effects of grace. Since from time to time it falls to their lot to experience a kind of spiritual consolation—natural, not grace-given—they remain at peace.
What keep grace in the soul more than anything else? Humility. What makes it withdraw more than anything else? Feelings of pride, a high opinion of oneself, self-reliance. Grace departs as soon as it senses this evil stench of inner pride.
THEOPHAN THE RECLUSE
Nossa Senhora do Rosário
As razões para a nossa frieza
Nós nos esfriamos internamente quando nosso coração fica distraído, quando ele se apega a alguma coisa diferente de Deus, preocupando-se sobre coisas diferentes, ficando com raiva ou culpando outros – quando estamos descontentes e nos entregamos à carne, chafurdando na luxúria e em pensamentos errantes. Proteja-se contra estas coisas, e a frieza diminuirá.
Quanto ao coração – onde mais está a vida se não no coração?
TEÓFANO, O RECLUSO
The reasons for our coldness (p.259)
We grow cold within when our heart is distracted, when it cleaves to something other than God, worrying about different things, getting angry and blaming someone—when we are dis¬contented and pander to the flesh, wallowing in luxury and wandering thoughts. Guard against these things, and the coldness will diminish.
As to the heart—where else is life if not in the heart?
THEOPHAN THE RECLUSE
Nem auto-indulgência e nem auto-piedade.
Você diz que não é bem sucedido. De fato, não haverá sucesso enquanto você estiver cheio de auto-indulgência e auto-piedade. Estas duas coisas mostram, de uma só vez, que aquilo que é predominante em seu coração é ‘eu’ e não o Senhor. É o pecado do amor próprio, vivendo dentro de nós, que dá nascimento a todos os nossos pecados, tornando o homem inteiro um pecador da cabeça aos pés; na medida em que permitimos que o amor próprio habite nossa alma. E quando o homem inteiro é um pecador, como pode a graça vir até ele? Não virá, do mesmo modo que uma abelha não chega perto de onde há fumaça.
Há dois elementos na decisão de trabalhar para o Senhor: primeiramente um homem deve negar ele próprio, e em segundo lugar deve seguir a Cristo (Marcos, 8,34). O primeiro requer uma completa extinção de egoísmo e amor-próprio, e consequentemente uma recusa em permitir qualquer auto-indulgência ou auto-piedade – tanto em pequenos como em grandes assuntos.
No self-indulgence and no self-pity (p.260)
You say that you have no success. Indeed, there will be no success so long as you are full of self-indulgence and self-pity. These two things show at once that what is uppermost in your heart is ‘I’ and not the Lord. It is the sin of self-love, living within us, that gives birth to all our sinfulness, making the whole man a sinner from head to foot, so long as we allow it to dwell in the soul. And when the whole man is a sinner, how can grace come to him? It will not come, just as a bee will not come where there is smoke.
There are two elements in the decision to work for the Lord: first a man must deny himself, and secondly he must follow Christ (Mark viii. 34). The first demands a complete stamping out of egoism or self-love, and consequently a refusal to allow any self-indulgence or self-pity—whether in great matters or small.
THEOPHAN THE RECLUSE
Sempre espere por repentinas mudanças
Tome coragem! Quando o calor do espírito se tornar fraco, você deveria esforçar-se de todos os modos para restaurá-lo, unindo-se ao Senhor com temor e tremor. Todas as coisas vêm Dele. Desânimo, tédio, preguiça do espírito e do corpo podem, ocasionalmente, oprimi-lo e permanecer por um longo tempo. Você não deveria perder o coração, mas permanecer firme, trabalhando com zelo de acordo com as regras que você assumiu. E não espere que a alma se livre rapidamente de sua atração pelo estado equivocado; não espere que ela sempre conserve um mesmo calor e doçura. Isto nunca acontece.
Por outro lado, sempre espere por repentinas mudanças. Quando a lassidão e o embotamento chegam, perceba que isto é você, o verdadeiro você; como você é; quanto à doçura espiritual, aceite-a como um imerecido bônus.
TEÓFANO, O RECLUSO
Always expect sudden changes (p.260)
Take courage! When the warmth of the spirit grows weak, we should strive in every way to restore it, cleaving to the Lord with fear and trembling. Everything comes from Him. Despondency, boredom, heaviness of spirit and body may occasionally oppress us and remain for a long time. You should not lose heart, but should stand firm, zealously working according to the rules you have undertaken. And do not expect the soul to be freed quickly from its attraction towards the wrong state; do not expect it always to preserve an equal warmth and sweetness. This never happens.
On the contrary, always expect sudden changes. When dullness and heaviness come, realize that this is you, the true you, as you are; as to spiritual sweetness, accept it as an undeserved bonus.
THEOPHAN THE RECLUSE
Luz e escuridão na alma
Quantas vezes você já se fez ciente do dever que sua consciência lhe dita – o dever de permanecer com o Senhor, não preferindo nada mais além Dele? Talvez sua consciência deste dever nunca mais lhe deixe. Possa a real prática dele prevalecer, outrossim, constantemente dentro de você; pois isto, afinal, é a nossa verdadeira meta. Quando estamos com o Senhor, o Senhor também está conosco; e todas as coisas brilham. Quando as cortinas da janela estão abertas em uma sala e o sol brilha, a sala fica plena de luz. Se você fechar as cortinas de uma das janelas ela se tornará mais escura, e quando você fechar todas, a sala inteira ficará numa total escuridão. É o mesmo com a alma. Quando ela está voltada para Deus com todas as suas forças e sentimentos, tudo nela é brilhante, alegre, e calmo. Mas quando ela volta sua atenção e sentimento para alguma outra coisa, este brilho diminui. Maior o número de coisas que ocupam a alma, maior a escuridão que a invade; e então pode se chegar à completa escuridão. Não são tanto os pensamentos que trazem esta escuridão quanto os sentimentos; enquanto que o simples exemplo de ser levado por sentimentos provoca, quase sempre, menos escuridão do que um continuado e apaixonado apego por algum objeto. A maior escuridão de todas é causada por atos pecaminosos externos.
TEÓFANO, O RECLUSO
Light and darkness in the soul (p. 261)
How many times already have you been made aware of the duty which your conscience dictates to you—the duty to remain with the Lord, not preferring anything else to Him? Perhaps your awareness of this duty no longer ever leaves you. May the actual practice of it likewise prevail constantly within you; for this, after all, is our true aim. When we are with the Lord, the Lord too is with us; and everything is bright. When the window curtains are drawn apart in a room and the sun shines, the room is full of light. If you draw the curtain over one window it will be darker, and when you draw them all the room will be in total darkness. It is the same with the soul. When it is turned towards God with all its powers and feelings, everything in it is bright, joyful, and calm. But when it turns its attention and feeling to something else this brightness diminishes. The greater the num¬ber of things that occupy the soul, the greater the darkness that invades it; and then complete darkness may result. It is not so much thoughts that bring this darkness, as feelings; while a single instance of being carried away by the feelings is less likely to bring darkness than is a continued passionate attachment to some object. The greatest darkness of all comes from external acts of sin.
THEOPHAN THE RECLUSE
Alegria e temor. A preservação e o afastamento da Graça
No conjunto da sua carta você manifesta o rejubilante estado de sua alma. Você se alegra pela misericórdia de Deus para consigo e, ao mesmo tempo, você está temeroso. Parece que você aprendeu, por experiência, a verdade que se deve ‘Servir o Senhor com temor, e regozijar-se Nele tremendo’ (Sl. ii. 11). Você deve manter estas duas coisas e sustentá-las juntas, inseparavelmente, para não deixar que a alegria conduza à negligência, nem o temor extinga sua felicidade. Segue-se que você deve sustentar-se em extrema reverência diante de Deus, considerando-O como o Pai mais misericordioso que nos observa com adorável atenção, mas que é ao mesmo tempo rigoroso e sem qualquer indulgência.
É simplesmente natural que você deva sentir-se temeroso de que toda esta felicidade possa abandoná-lo novamente. Sob a influência deste temor, você está desejoso e pronto para encontrar um modo de manter seu júbilo. Mas, você carrega a expectativa de ser bem sucedido nisto por si mesmo? Por causa deste único pensamento, tudo o que você ganhou pode lhe ser tomado novamente. Da sua parte, faça todo esforço possível para conservar esta felicidade, mas confie a verdadeira tarefa de protegê-la às mãos do Senhor. Se você não se esforçar Deus não irá protegê-la para você. Por outro lado, se você colocar suas esperanças apenas em seus próprios esforços e empenhos, Deus irá afastar-se vendo que você considera Seu auxílio como supérfluo; e você se deparará com as mesmas dificuldades encontradas no início. Trabalhe até que você esteja a ponto de cair, force-se até o último grau, mas ainda espere que a verdadeira proteção venha apenas das mãos de Deus. Deixe que uma fortaleça a outra – e então, juntas, ambas formarão uma forte defesa.
O Senhor sempre quer que tenhamos tudo aquilo que mais nos auxilia para a salvação, e Ele está pronto para nos dar isto a todo o momento: Ele apenas espera por nossa prontidão ou capacidade para recebê-lo. Portanto, a questão sobre aquilo que devemos fazer para proteger este auxílio é transformada em outra: o que devemos fazer para nos manter em prontidão para receber o poder protetor de Deus, que está esperando para entrar em nós? E como, de fato, este poder entra em nós? É essencial nos reconhecer como vazios, um recipiente vazio que nada contém; adicionar a isto a consciência de nossa própria impotência em preencher este vazio por qualquer dos nossos próprios esforços; coroar isto com a certeza de que apenas o Senhor pode fazê-lo, e não somente pode como quer e sabe como fazê-lo; e então, permanecendo com a mente no coração, clamamos: “Conduza-me à boa ordem pelos meios que Tu conheces, Oh Senhor”. Faça tudo isto com esperança inabalável, confiante de que Ele lhe guiará nos caminhos da justiça e não permitirá que seus pés se desviem.
Você está feliz pelo sentimento de alegria e consolação que lhe retornaram. Isto é natural. Mas apesar disto, esteja atento para não se permitir a fantasiosas conjecturas: ‘Ah! Aí está! Isso é o que é! É assim que é, e eu não sabia!’ Tais idéias são pensamentos do inimigo, deixando atrás de si o vazio, ou nos conduzindo a um beco sem saída. Todo o tempo, apenas devemos repetir: “Glória a Ti, Oh Senhor’, acrescentando: ‘Deus, seja misericordioso!’ Se você demorar nestas vãs conjecturas, junto com elas, imediatamente surgirão memórias de como você trabalhou e se esforçou, daquilo que fez e de como você se absteve, em quais de seus estados o sentido de alegria e bem-estar apareceu, em quais o deixou e em quais ele durou e foi firmemente estabelecido. E depois disso, você tomará a decisão de sempre atuar de algum modo particular. Assim você cairá em uma fantasiosa vaidade, acreditando que finalmente o segredo do progresso espiritual lhe foi revelado e está ao seu alcance. Mas, na próxima vez que você orar, toda a falsidade de tais sonhos se fará evidente, a oração se tornará vazia, inconstante, e pouco confortável. O conforto residirá apenas na memória do seu antigo bom estado e não na sua posse atual. E você terá que suspirar e condenar a si mesmo. Mas se a alma não pode induzir-se a suspirar, então, o falso estado de espírito durará e a graça novamente se afastará. Pois um tal estado fantasioso revela que a alma deslizou novamente para os seus próprios esforços e não mais para a misericórdia de Deus. Graça sempre é graça, e é independente de todo o trabalho. Aquele que a confunde com trabalho pode ficar privado dela por este motivo. Lembre-se bem disto. Os afastamentos da graça, enviados pela providência de Deus para nos corrigir, são especialmente destinados para nos ajudar a aprender esta salvadora lição.
TEÓFANO, O RECLUSO
Joy and fear. The preservation and the withdrawal of Grace (p. 261)
The whole of your letter manifests the joyful state of your soul. You rejoice in God's mercy towards you, and at the same time you are afraid. It would appear that you have learnt from experience the truth that one must ‘Serve the Lord with fear, and rejoice in him with trembling’ (Ps. ii. 11). You must keep both these two things and hold them together inseparably, in order not to allow joy to lead to negligence, nor fear to quench your joy. It follows that you must hold yourself in extreme reverence before God, regarding Him as the Father who is most merciful and watches over us with loving care, but who is at the same time strict without any indulgence.
It is only natural that you should feel a sense of fear that all this joy may leave you again. Under the influence of this fear, you are anxious and ready to find a way of keeping your joy. But do you expect to succeed in this by yourself? Because of this one thought alone, all that you have gained may be taken away again. Make every effort on your own side to preserve this joy, but entrust the actual task of safeguarding it into the hands of the Lord. If you do not strive, God will not safeguard it for you. But if you put your hopes on your own efforts and struggles, God will withdraw, seeing that you regard His aid as superfluous, and you will be met by the same difficulties as you encountered originally. Work until you are ready to fall, force yourself to the utmost degree, but still expect the actual safeguarding to be in the hands of God alone. You must not relax either your work and efforts, or your hopes in God alone. Let one strengthen the other —and then both together will form a strong defence.
The Lord always wants us to have whatever will help us most towards salvation, and He is ready to give it to us at all times: He only waits for our readiness or capacity to receive it. Therefore the question of what we must do to safeguard this help is trans¬formed into another: what must we do to keep ourselves in readiness to receive the protecting power of God, which is wait¬ing to enter into us? And how in fact does this power enter into us? It is essential to recognize ourselves as empty, an empty vessel containing nothing; to add to this the consciousness of our own powerlessness to fill this emptiness by any effort of our own; to crown this by the certitude that the Lord alone can do it, and not only can but wants to and knows how; and then, standing with the mind in the heart, to cry out: ‘Bring me into good order by the means that Thou knowest, O Lord’. Do all this with unshakeable hope, confident that He will guide you into the paths of righteousness and will not let your feet stray.
You are delighted because the feeling of joy and consolation returned to you. That is natural. But with this, be careful not to allow yourself fanciful conjectures: ‘Ah! here it is! This is what it is! This is what it is like, and I did not know it!’ Such ideas are thoughts from the enemy, leaving emptiness behind them, or leading up a blind alley. All the time you must repeat only: ‘Glory to Thee, O Lord’, adding ‘God, be merciful!’ If you dwell on these vain conjectures, immediately along with them there will come memories as to how you worked and struggled, what you did and from what you abstained, in which of your states the sense of joy and well-being appeared and in which it left you, and in which it endured and was firmly established. And afterwards you will make a decision always to act in some particular way. Thus you will fall into fanciful self-conceit, believing that at last the secret of spiritual progress has been revealed to you and lies in your grasp. But the very next time you pray, all the falsity of such dreams will be made evident, the prayer will be empty, inconstant, and of little comfort. The comfort will lie only in the memory of your former good state, and not in its present possession. And you will have to sigh and condemn yourself. But if the soul cannot induce itself to sigh, then the false mood will last and grace will withdraw again. For such a mood of fantasy shows that the soul has leaned again on its own efforts and not on God's mercy. Grace is always grace, and is independent of all work. He who confuses it with work may be deprived of it for this reason. Remember this well. Withdrawals of grace, sent by God's providence to chasten us, are especially intended to help us in learning this saving lesson.
THEOPHAN THE RECLUSE
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